Claro, este é um caminho que requer perseverança. É como se se reaprendesse a orar. E a (o) catequista apaixonada (o) pela Palavra, guardará profundas afeições à pessoa de Jesus. E transmitirá esta experiência. É necessário método. Existem vários. É preciso também disciplina. O que vem a seguir é um método bastante acessível, possível a todo o catequista que pretende tornar intérprete fiel do modo de Jesus amar os seus. Eis os passos a praticar.
Pacificação interior:
Este primeiro passo ainda não é Leitura Orante. Mas sem ele
não é possível, ao catequista, preparar-se para a oração. Uma das mais
frequentes dificuldades que se ouve, por parte de quem está em busca de
experiências pessoais de oração, refere-se ao problema da falta de concentração
para poder orar. De fato, quando alguém quer se recolher, em busca do
necessário silêncio interior, afloram à mente muitas questões do quotidiano:
inquietações, conflitos, temores, compromissos, necessidades, contas a pagar...
Ao final parece que a oração ficou sem aquele fundamental “encontro
pessoal com Jesus Cristo”.
Com a expressão “pacificação interior” se quer falar daquela
indispensável ambientação da interioridade para o “encontro com o Senhor”.
Trata-se de exercícios muito simples, de fácil execução. Mas sem eles não é
possível “ouvir” o Senhor que quer falar pela sua Palavra. Estes exercícios de
pacificação ainda não são propriamente oração, mas predispõem o coração e o
espírito do orante.
Como fazer? Eis uma sequência bem simples, mas efetiva, que muito
ajuda na arte de se concentrar: a) Buscar uma posição confortável,
que favoreça o relaxamento do corpo. b) Com os olhos fechados,
sem pressa, tentar sentir os principais órgãos do próprio corpo. Pode-se
começar pela cabeça (cabelos, olhos, ouvidos, garganta, nuca...). Depois
passa-se a “sentir” os braços. Vale o mesmo para o peito, as costas, o abdômen,
a coluna, os órgãos sexuais, as pernas... Este ato de “sentir” as principais
partes do corpo, sem tocar nelas, é um poderoso meio para facilitar a
concentração. Este primeiro exercício requer alguns minutos. Vale repetir, uma
posição relaxada e os olhos fechados ajudam muito.
Invocação ao Espírito Santo:
Após a “pacificação”, passa-se imediatamente para o primeiro
momento pessoal de oração. Não é preciso muitas palavras ou muitas demoras. O
mais importante é a sinceridade do que vou pedir a Deus. É um pedido até
simples, porque o Pai também é simples. É um Pai Amoroso. Eis o pedido a
formular neste momento de oração silenciosa: trata-se pedir que o Espírito
Santo venha iluminar a mente, os afetos e todas as disposições interiores. O
Espírito de Deus, que inspirou o autor sagrado a escrever, direcionará também o
catequista orante, que agora vai orar com a Palavra.
Pedir perdão a Deus; também perdoa:
Para falar com intimidade a alguém é indispensável estar em paz.
Quem não está em paz com Deus, tampouco estará em paz consigo mesmo. Nem
com os outros. E estando em conflito não é possível um encontro sereno; não é
possível profundidade no diálogo. Também neste momento não há necessidade de
multiplicar as palavras. E da parte de Deus há sempre um desejo permanente de
comunhão. Daí a grandeza do perdão que Ele nos oferece. Então, em um primeiro
momento o catequista manifesta o desejo de receber seu perdão. Em seguida, no
segredo do coração, fala ao Senhor da disposição em perdoar. Este ato é o
melhor caminho para encontrar a paz. Se não consigo perdoar em meu coração, se
faltam as forças, então se pede ao Senhor que venha Ele a dar o perdão que, por
enquanto, ainda não é possível ao orante. O catequista, talvez não
consiga. Ele, o Senhor, consegue sempre. Ele pode “perdoar no coração de quem
ora”. Vale repetir, não é preciso longo tempo. Bastam alguns minutos.
Ler atentamente, lentamente, o texto escolhido do
Evangelho:
Agora, tendo preparado a
interioridade, já pode o orante ler o texto da Palavra. Para quem
ainda é iniciante neste modo de orar, é melhor começar por algum dos evangelhos
sinóticos, ou seja, Mateus, ou Marcos, ou Lucas. Não deve ser uma leitura
apressada. É preciso ler várias vezes, sem pressa. Este é um modo de “deixar o
Senhor falar”. Na oração de muitos, é quase só o orante que fala. E
fala, fala e fala. Mas chegou a hora e a graça de aprender a “ouvir” o Senhor.
Aqui, muito ajuda fixar a atenção nos gestos dos personagens, nas palavras, ou
frases de maior ressonância. Vale muito observar cuidadosamente os sinais e as
palavras de Jesus.
Imaginar o cenário apresentado pelo texto:
Após a leitura atenta com nossos olhos e com a inteligência,
chegou a hora de “ler com a imaginação” a mesma Palavra. O que isso significa?
Trata-se de criar na mente as “imagens” do que fora lido. Não é o mesmo que
fantasiar. Fantasiar equivale a buscar no texto o que agrada. Imaginar é rever
tudo o que foi lido segundo imagens. Mas somente aquelas imagens que o texto
propõe. Aqui é preciso muita fidelidade ao texto. Eis um exemplo: a cura do
Paralítico (Mt 9,1-8). É possível “ver a imagem” de Jesus dentro uma casa.
E esta estava lotada de pessoas. Pode-se “ver” alguns homens em um tremendo
esforço para colocar um paralítico diante de Jesus, descendo-o pelo teto. Jesus
pode ser “visto”, com olhar compadecido, falando ao paralítico.... Cada gesto
de todas aquelas cenas pode ser imaginado. O texto lido, visto em imagens,
favorece em muito a afinidade entre a Palavra o catequista orante.
Inserir-se no cenário, tornando-se um dos protagonistas.
Este é um momento extraordinário para o encontro pessoal com
Jesus. Após ler e reler o texto. Após tê-lo lido também com a imaginação, o
catequista orante já dispõe de boa familiaridade com essa forma a sua
leitura. Então já lhe é possível inserir-se naquelas cenas como um dos
participantes. Ele passa a ser um dos personagens do que acabara de ler. As
palavras pronunciadas por Jesus valem para ele: sua ordem, seu pedido, sua
recomendação, sua exigência. Mas, especialmente, sua amizade e sua pessoa.
Novamente, eis um exemplo: a cura de um leproso (Mc 2,1-12). O
catequista orante pode identificar-se com aquele homem que tinha
lepra. Não se trata, para o catequista, da doença física. Mas valem todas
aquelas outras “lepras”, ou “paralisias”, ou “cegueiras”, que o impedem de se
aproximar de Jesus, ou dos outros discípulos, ou dos irmãos. Para quem está
orando com a Palavra, o falar e os gestos de
Jesus têm mesma força e significação de quando foram
pronunciadas ao homem sofredor que o procurara. Para o orante, este é um
momento de grande intimidade cm seu Senhor.
Minhas palavras de adesão/propósito:
Somente agora o catequista orante fala. A Palavra do
Senhor fora já lida com a inteligência e com a imaginação. Ele, o orante,
já entrou no cenário do evangelho. Tornou-se um dos personagens. É como se
tivesse “entrado” no texto e ouvido o Senhor lhe falar. Chegou, pois, o momento
da resposta. Será uma palavra de gratidão, uma súplica, ou a manifestação de
uma esperança. O mais importante é que não sejam palavras marcadas por interesses
subjetivos, de natureza egocêntrica. As melhores palavras são as de adesão e
seguimento a Jesus Cristo. Também aqui não é preciso multiplicar as
palavras. Afinal “vosso Pai sabe do que tendes necessidade ante
de lho pedirdes” (Mt 6,8) Não pode faltar, igualmente, o
propósito e a disposição de um novo comportamento a assumir. Sem um compromisso
prático a Leitura Orante seria apenas uma psicologia religiosa. E sem
propósito de conversão, até mesmo a oração se torna apenas um falso consolo.
Ao final, pode-se terminar com um salmo ou outra forma de oração
conclusiva.
D. Antônio Jose Peruzzo
Arcebispo de Curitiba – PR.
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