REFLEXÃO DO DOMINGO DA PÁSCOA DO SENHOR
A Páscoa celebra o reconhecimento de Jesus como Filho de Deus. Proclama
que, nele e nos que o seguem, Deus vence todas as formas de morte, desde a
morte física até a morte progressiva e massiva que resulta das estruturas
iníquas e dos poderes despóticos. Anuncia que Jesus, considerado uma pedra sem
utilidade na manutenção do mundo, é por Deus reconhecido e apresentado como pedra
fundamental da construção de um mundo novo. Afirma que nossa esperança, embora
ainda dance na corda bamba, é teimosa e tem futuro.
A Páscoa de Jesus de Nazaré e dos cristãos celebra as possibilidades
escondidas na vida de cada pessoa e da humanidade. Afirma que a última palavra
não é o discurso frio daqueles que impõem sua injusta ordem, lincham
midiaticamente os líderes populares e mandam calar os profetas. Proclama que a
ação realmente eficaz e grávida de futuro é aquela que estabelece a absoluta superioridade
das vítimas. Evidencia que a direção certa e o sentido da vida está no cuidado
da terra, no fazer-se semente de um mundo outro e de uma vida outra, tão
possível quanto urgente.
Ademais, a ressurreição não é algo que acontece apenas depois da morte.
Paulo nos surpreende afirmando que já ressuscitamos. Ele se refere ao dinamismo
pascal do nosso batismo, que possibilita e pede a passagem de uma vida
individualista a uma vida plena e solidária. “Procurem as coisas do alto”. E
isso significa assumir um estilo de vida centrado no amor, no serviço e na
partilha, na busca de uma segurança que tenha a justiça como mãe. O pecado
ainda não perdeu totalmente sua influência, mas está mortalmente ferido, e não
domina mais sobre nós.
É verdade que a ressurreição de Jesus não é algo que se impõe com força
de evidência. O dia já havia amanhecido, mas, na cabeça de Maria Madalena e dos
apóstolos, a experiência do fracasso pairava como escuridão. Só muito
lentamente eles foram percebendo que os lençóis estendidos não estavam lá para
cobrir um morto mas para acolher as núpcias de uma nova aliança de Deus com a
humanidade. O sudário sim, depois de ter coberto a cabeça de Jesus, agora
estava à parte e envolvia totalmente o templo, o lugar onde a
morte fora tramada e decretada.
A Páscoa de Jesus de Nazaré inaugura uma Nova Criação. Ressuscitando e
trazendo no corpo as feridas dos pregos e da lança, ele é o Homem Novo, o Novo
Adão, o Irmão primogênito e solidário de todos os homens e mulheres. Os
discípulos e discípulas se reúnem em torno da sua memória e organizam
comunidades que continuam seu sonho e seu caminho. E as pessoas acolhidas
nestas comunidades estabelecem vínculos que formam um Novo Povo de Deus, a
comunhão dos grupos e movimentos de cuidadores e servidores, de gente que luta
por vida abundante para todos.
Pedro diz que Jesus andou por toda parte fazendo o bem e agindo sem
medo, apesar da violência. Enfatiza que Deus estava com ele, inclusive no vazio
escuro da cruz, quando parecia havê-lo abandonado. Ensina que Deus o
ressuscitou dos mortos, e transformou em juiz aquele que fora réu. E lembra que
os discípulos e discípulas, apesar da dificuldade de acreditar nele, e apesar
da permanente tentação de abandoná-lo, são constituídos como testemunhas dessa
Boa Notícia.
Jesus de Nazaré, filho amado de Deus, irmão querido da humanidade! Aqui
estamos reunidos para celebrar contigo a festa dos pequenos, daqueles que se
desvelam no cuidado de todas as vítimas. O mistério da vida ressuscitada se
dissemina discretamente em tantas pessoas e grupos, inclusive naqueles que não
te reconhecem explicitamente. Por isso, celebramos nossa páscoa na tua páscoa,
e saímos apressados a testemunhar que a vida é mais forte que a morte e que o
amor é imortal. Eis a lição que, como bom mestre, nos ensinar com amor ferido.
Assim seja! Amém!
Texto: Itacir Brassiani msf
Fonte: cebi.org.br
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