REFLEXÃO DO
EVANGELHO DO DOMINGO: OUVIDOS QUE ESCUTAM, OLHOS QUE VIGIAM, CORAÇÃO
ARDENTE, MÃOS QUE CUIDAM
PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO – 2022 - Mateus 24, 36-44
Com este domingo iniciamos, além do
Advento, um novo ano litúrgico, no qual somos convidados e convidadas por
nossas igrejas a refletir principalmente sobre o Evangelho de Mateus.
Por isso, antes de mergulhar nos
versículos de hoje, vale a pena apresentar o Evangelho, para isso vamos nos
deter em três elementos presentes no último capítulo (cap. 28), que é onde
podemos entender a dinâmica de todo o Evangelho… já que a comunidade narra o
que significava dar testemunho de Jesus vivo no meio deles, no meio da
realidade que viviam.
Mateus no último capítulo apresenta-nos
a “ressurreição de Jesus”, através da experiência de “duas mulheres” a
quem aparece primeiro o “anjo do Senhor” e depois o próprio
Jesus.
A primeira coisa a observar é a
dinâmica presença-ausência do Crucificado, que as mulheres procuram, aquele que
deveria estar no sepulcro, mas não está porque ressuscitou (28,6). Jesus está
vivo e vai ao encontro delas (28,9)
O segundo elemento a sublinhar é o “anjo
do Senhor! (28,2), no discurso bíblico é Javé que se faz presente, que
se manifesta no meio do seu povo. Mateus, também no início do Evangelho (1,20)
fala do “anjo do Senhor”, que aparece a José em sonho. Em ambos
casos, o “anjo do Senhor” anuncia algo impossível: no início:
uma jovem grávida do Espírito Santo; no final, um crucificado que ressuscitou.
Em ambos casos o impossível que se torna vida: Encarnação e Ressurreição.
O terceiro elemento são “as
duas mulheres”, que, indo ver à sepultura do crucificado (28,1), são
encontradas pelo “anjo do Senhor”, que as manda ir depressa
anunciar aos discípulos que Jesus ressuscitou (28,7) … e elas correm “com
grande alegria para dar a notícia aos discípulos” (28,8), nesse
momento é quando Jesus sai ao seu encontro e depois de exortá-las à alegria as
envia para anunciar-lo. Por que duas mulheres? Por que Mateus coloca duas
mulheres co-protagonistas nesta história, sendo que eram totalmente invisíveis
para a sociedade? A resposta é simples: porque Mateus quer revelar a sua
preocupação pelos “pequeninos”, porque quer deixar claro que são os pequeninos
que encontram Jesus os portadores do anúncio da alegria e da vida para todos,
que é no mais pequeno onde Jesus se manifesta e se faz presente.
Refletiremos, na perspectiva destes
três elementos, o Evangelho deste Domingo Mateus 24, 37-44. Diz assim:
Naquele tempo, Jesus
disse aos seus discípulos: “A vinda do Filho do Homem será como no tempo de
Noé. Pois nos dias, antes do dilúvio, todos comiam e bebiam, casavam-se e
davam- se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. E eles nada
perceberam até que veio o dilúvio e arrastou a todos. Assim acontecerá também
na vinda do Filho do Homem. Dois homens estarão trabalhando no campo: um será
levado e o outro será deixado. Duas mulheres estarão moendo no moinho: uma será
levada e a outra será deixada. Portanto, ficai atentos! Ficai vigiando! Porque
não sabeis em que dia virá o Senhor. Compreendei bem isso: se o dono da casa
soubesse a que horas viria o ladrão, certamente vigiaria e não deixaria que a
sua casa fosse arrombada. Por isso, também vós ficai acordados! ficai
preparados! Porque na hora em que menos pensais, o Filho do Homem
virá”.
Nesse trechinho do Evangelho, Mateus
coloca na boca de Jesus uma comparação entre a vinda do Filho do homem e a
época de Noé, onde todos levavam a vida pra frente, no comum do dia a dia….
comiam, bebiam se casavam… e como diz o texto: “nada perceberam”. Também
nós, em tempos convulsos como os que vivemos, onde abundam todo tipo de
informações, podemos viver na correría do dia-a-dia sem perceber o que passa à
nossa volta. Neste contexto acolhemos a exortação de Jesus: «Fiquem atentos…
vigiando»… «Fiquem acordados… preparados».
Perante este insistente convite de
Jesus à vigilância, é onde ganham sentido os três elementos sublinhados no
início da reflexão:
“Fiquem atentos” é o convite a
vivermos mais atentos à Sua misteriosa Presença que veio na plenitude dos
tempos, que vem todos os dias e que virá no fim dos tempos; é abrir nossos
OUVIDOS de discípulos e discipulas para acolher o anúncio “do anjo do
Senhor” que vem ao nosso encontro de múltiplas maneiras nos túmulos
que frequentamos, para nos dizer que aquilo que acreditamos ser impossível, por
obra de Deus, torna-se Vida…
“Fiquem vigiando” é o convite
para abrir nossos OLHOS e treinar nosso olhar de testemunhas para reconhecer
que Aquele que aparentemente está morto está realmente vivo; que Aquele que
aparentemente está ausente vem a nosso encontro no caminho e nos convida a não
ter medo e a nos alegrar (Mt. 28,9)
“Fiquem acordados.” É o convite a
sacudir nosso CORAÇÃO de cristãos e cristãs para deixá-lo arder de indignação
diante da violência, da injustiça, da degradação; e acender de compaixão para
poder manter desperta a resistência e a rebeldia e reagir com compromisso
diante de todas as vidas ameaçadas
“Fiquem preparados” é um apelo à
atenção para mantermos as nossas MÃOS como servidores e servidoras dedicados ao
cuidado dos mais pequeninos e invisíveis, porque com os pequeninos, entre os
pequeninos e através dos pequeninos Jesus está no meio de nós, “todos os dias
até o fim do mundo” (Mt 28,20). É através das “duas mulheres”, as pequeninas e
invisíveis do tempo de Jesus, é que Ele nos indica o caminho…
Para cantar juntos com o salmista a
alegria de ir ao encontro do Senhor que vem (Sl 122), juntamente com Paulo e o
profeta Isaias proclamamos: “Ja é hora de acordar!” (Rom
13,11) “… e deixemo-nos guiar pela luz do Senhor!” (Is 2,5), “despojando-nos
das ações das trevas y vestindo-nos das armas da luz. (Rm 13,12)
Amém
Autora
Sou Elizabeth, pertenço à Congregação
das Irmãs Dominicanas de Sta. Catarina de Sena, moro em um bairro na periferia
da região noroeste da grande Goiânia. Sou nascida na Argentina, numa família da
classe trabalhadora; descendentes de migrantes, de vários países, que em busca
de vida, deixaram suas próprias raízes para fugir da fome e da violência da 1ª
Guerra Mundial.
Assim, o meu sangue e a cultura
familiar em que cresci são constituídos por componentes marcados por uma grande
diversidade. Também minha aparência física: altura, tipo e cor de cabelo, cor
de pele e olhos… expressam a diversidade que levo no sangue e nos costumes.
Gosto de me definir como uma mulher
itinerante, em busca… Busca do Reino, definido por Paulo como “paz, justiça e
alegria” (Rom. 14,17)
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