imagem : ACI digital
Advento (do
latim ad, para, e venio, vir, chegar), é o tempo
litúrgico destinado à espera da segunda vinda de Cristo Jesus (Parusia), por
meio do qual se atualiza a memória do sagrado mistério da Encarnação da Palavra
de Deus: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós; e nós vimos a sua glória,
como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1,14).
O Advento é o tempo propício de
preparação para celebrar o Natal do Senhor.
Começa no domingo mais próximo à festa
de santo André (30 de novembro) e se estende até o dia 24 de dezembro. Há
quatro domingos de Advento. A cor litúrgica própria é o roxo, porque o Advento
é também é um tempo penitencial de preparação para acolher o dom de Deus na
pessoa de Jesus.
(DOTRO; HELDER, 2006, verbete
“Advento”, p. 15).
Percorrendo o itinerário litúrgico das
Igrejas que seguem o lecionário ecumênico, no período do Advento-Natal-Epifania
revive-se um evento de graça e beleza que tem renovado, ao longo dos séculos, a
dimensão religiosa no coração das pessoas. Cristãs e cristãos somos
imersos num clima de escuta, de acolhida, de adoração e de encantamento.
A Leitura Orante da
Bíblia (Lectio Divina) é o meio pelo qual as pessoas adentram ao
mistério da Manifestação do Senhor Deus numa humilde criança, que nasce na
periferia do Império Romano.
Desse modo, a Palavra divina e a
experiência de Deus são continuamente retomadas e reelaboradas no coração da
pessoa que crê.
A celebração litúrgica própria do
Advento é o lugar da experiência do mistério de Cristo e, ao mesmo tempo,
pedagogia eficaz para o aprofundamento da fé e da espiritualidade cristã
(BARGELLINI; FRADE, 2011, p. 124).
Sem dúvida, viver intensamente o tempo
do Advento, expectativa da vinda do Natal e da plena manifestação (epifania) do
Senhor, é literalmente esperançar, verbo que significa “dar esperança”,
“animar”, “estimular” (DICIONÁRIO AURÉLIO DA LÍNGUA PORTUGUESA, verbete
“esperançar”, p. 852).
Paulo Freire, em sua obra Pedagogia da
Esperança (1992, p. 97), proclamou:
Não sou esperançoso por pura teimosia
mas por imperativo existencial e histórico.
Pensar que a esperança sozinha
transforma o mundo e atuar movido por tal ingenuidade é um modo excelente de
tombar na desesperança, no pessimismo, no fatalismo. Mas, prescindir da esperança
na luta para melhorar o mundo, como se a luta se pudesse reduzir a atos
calculados apenas, à pura cientificidade, é frívola ilusão.
O essencial, como
digo mais adiante no corpo desta Pedagogia da Esperança, é que ela, enquanto
necessidade ontológica (do grego ontos, ente, ser) que
constitui o humano, precisa de ancorar-se na prática para tornar-se concretude
histórica. É por isso que não há esperança na pura espera, que vira, assim,
espera vã, consequência e razão de ser da inação ou do imobilismo (FREIRE,
1997, p. 5-6)
Fica claro nas palavras de Paulo Freire
que é preciso ter esperança, o que não é uma simples espera, do verbo
“esperar”. A esperança, a que ser refere o pedagogo, vem do verbo “esperançar”,
estímulo à prática para tornar-se concretude histórica.
Esperançar é, portanto, estimular-se,
soerguer-se, levantar-se e ir atrás do que se deseja alcançar, construir.
Esperançar é ir à luta e juntar-se com
outras pessoas para fazer de outro modo, construindo um outro mundo possível
que Jesus, ao iniciar sua missão, proclamou como “Reino de Deus”, em meio ao
conflito, perseguição, prisão e morte dos profetas do seu contexto histórico:
Depois que João foi preso, veio Jesus
para a Galileia proclamando o Evangelho de Deus: O tempo está realizado e o
Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho (Mc 1,14-15).
Advento é, na perspectiva do verbo
“esperançar”, fazer a experiência atenta, vigilante e ativa da construção do
Reino de Deus em pleno contexto ameaçador dos reinos deste mundo.
Advento é aprender a acolher as
novidades de um Deus que se doa e se revela na história, no tempo que se chama
“hoje”, por meio de uma autêntica Espiritualidade Política, animada pelo
Espírito Santo de Deus para agir politicamente em meio aos conflitos da
convivência comunitária.
TEXTO: João Luiz Correia Júnior
FONTE: cebi.org.br
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