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quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

RECUPERE O SENTIDO DA CEIA DE NATAL


* Içami Tiba

Nós, seres humanos, somos gregários. Gostamos de viver em bandos, no meio das pessoas. Somos instintivos, com dois instintos básicos: de sobrevivência e de perpetuação da espécie, e afetivos, resultado de uma apuração das emoções básicas de relacionamento. 

Viver todos queremos. É nosso instinto de vida. Amar todos amamos. É a nossa qualidade de vida afetiva proporcionada pela nossa inteligência que nos destaca dos outros seres vivos. Assim vivemos e assim amamos. Assim construímos a civilização, característica da humanidade. 

Não existiríamos hoje se nossos ancestrais não conseguissem sobreviver nas cavernas. Nenhum homem ou mulher, que vivesse absolutamente solitário, teria perpetuado a espécie humana.

Nós, humanos, nascemos de reprodução sexuada. Da formação do zigoto (ovo, célula ovo) formado pela fusão de dois gametas, o masculino e o feminino. Portanto, um ser humano totalmente solitário não teria como deixar descendentes. Com ele morreria também a sua espécie. Pelos estudos antropológicos, hoje sabemos que nossos ancestrais da caverna podiam nem ter família própria, mas tinham os seus bandos para sobrevivência.

Cada humano sozinho seria alimento fácil a qualquer fera de qualquer ambiente dotada naturalmente de garras e dentes, velocidade e força física. Não existiriam os adultos nas cavernas se eles não tivessem recebido proteção de outros adultos do bando quando eram criancinhas ainda totalmente indefesas e tenrinhas.

Pelos estudos, sabemos que os homens das cavernas, viviam em bandos. E quando traziam uma caça para o grupo, imagino eu, que deveriam acontecer as comilanças festivas. Ou comiam ou perdiam porque não sabiam como conservar alimentos. Festiva porque era uma alegria de mais um dia (ou mais) poderem viver e passar os saberes de um para outro.

Hoje, nosso menor grupo de sobrevivência é a família, cuja vida começa quando chega o primeiro filho. O final de uma unidade de vida (trabalho, escola, promoções, acontecimentos sociais), tem que ser avaliado, não só do ponto de vista de resultados, mas também do compartilhar das emoções, sensações e afetos envolvidos, do saber a passar para o outro. 

Uma refeição familiar deveria ser mais que uma comilança. É uma excelente oportunidade para alimentar também os relacionamentos, acompanhar a empreitada de cada um, estimular quem está desanimando, acolher num abraço apertado quem está exagerando, ajudar quem está necessitado, para alguém precisado ou carente se manifestar, para um feedback que venha do coração e não da crítica.

Hoje não só a família está ficando menor, cada um se isolando mais dentro dela, como trazendo rapidamente um mundo para dentro de si, pelo virtual, pelas relações distanciadas.

Nada como uma Ceia de Natal, quando a maioria dos humanos comemora, para reunirmos a grande família. Para todos atualizarem tudo, regada a presentes, carinho e afeto. Hoje, sabemos o quanto é importante o networking, isto é, a rede de relacionamentos dos conhecimentos e dos afetos. 

Comecemos no dia-a-dia dentro da própria família, para ampliarmos à grande família e chegarmos ao social, o qual mantemos numa sociedade sem saber nem agradecer o que para quem, e ajudar nossos irmãos sociais mais necessitados. 

O que é impossível de se fazer todos os dias, que façamos pelo menos na Ceia de Natal.
 

 (* psiquiatra, educador e conferencista)

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