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sexta-feira, 28 de setembro de 2018

POR QUE O LIVRO DE ESTER E DANIEL TEM DIFERENTE NÚMERO DE CAPÍTULOS EM ALGUMAS BÍBLIAS?


Uma curiosidade a respeito dos livros bíblicos: Por que a diferença, não só entre a Bíblia protestante e a católica, mas, também, entre as católicas.

Primeiro vamos lembrar que que as bíblias protestantes, não tem livros e trechos que foram escritos originalmente em grego. Isso porque a versão protestante só aceita os originais escritos em hebraico. Assim sendo, nestas bíblias, o livro de Ester não tem no capítulo 10, os versículos 4 a 16 e o livro de Daniel não tem no capítulo 3, os versículos 24 a 90 e os capítulos 13 e14.

O livro de Ester

Observamos que em algumas bíblias, mesmo as católicas, o livro de Ester tem um número diferente de capítulos. O problema da numeração dos capítulos do livro de Ester é oriundo da tradução bíblica de São Jerônimo (+420), a “Vulgata” latina.

No séc. IV d.C. existiam diversas versões latinas da Bíblia, cujos textos discordavam entre si em vários pontos. Considerando esse problema, o papa São Dâmaso atribuiu a São Jerônimo a tarefa de produzir uma nova tradução bíblica para a Igreja ocidental, de língua latina. A Igreja como um todo adotava, desde o princípio, o cânon alexandrino para o Antigo Testamento (Septuaginta ou LXX), oriundo dos judeus da Dispersão, o que resultava em 46 livros (contra 39 do cânon palestinense, definido por volta do ano 90 d.C.) e mais alguns textos adicionais nos livros de Ester e Daniel.

Com efeito, existiam duas versões para o livro de Ester: o texto curto da Palestina (em hebraico) e o texto longo de Alexandria (em grego). Até então, os textos bíblicos não eram divididos em capítulos e versículos (a divisão em capítulos só ocorreu no séc. XIII d.C.).

Como São Jerônimo foi a Belém, na Palestina, realizar sua tarefa de tradução, passou a usar o cânon restrito dos judeus palestinenses – pois queria traduzir os textos diretamente do hebraico – de modo que traduziu o texto curto de Ester, que na prática, fez com que se removesse alguns textos, encontrados no livro de Ester da Septuaginta.

Mas, sabendo que a Igreja cristã adotava o cânon longo, São Jerônimo acabou por acrescentar ao final da sua tradução de Ester, como que em um “apêndice” ou anexo, os demais textos que não encontrou no hebraico. Em outras palavras: ele disponibilizou primeiro o texto hebraico e, a seguir, o texto complementar grego.

Tendo a Vulgata sido adotada como texto bíblico oficial para a Igreja latina, todas as versões em língua vernácula baseadas na Vulgata de São Jerônimo acabaram por disponibilizar também, em Ester, a tradução do texto hebraico seguido da tradução dos complementos gregos.

Assim, quando o arcebispo de Cantuária, Estêvão Langton, em 1214, dividiu a Bíblia em capítulos, dividiu a parte hebraica inicial em 10 capítulos e a parte complementar grega em outros 6 capítulos. Daí encontrarmos algumas Bíblias hoje com 16 capítulos para o livro de Ester, como é o caso da Bíblia Ave-Maria (Ave Maria), da Bíblia de Matos Soares (Paulinas) e da Bíblia de Pereira de Figueiredo (Mirador), pois todas elas seguem diretamente a divisão feita para a Vulgata.

Por outro lado, o preferível e ideal é não deslocar tais textos complementares para o final, mas, deixá-los em seus respectivos contextos, possibilitando uma melhor compreensão da narrativa. Assim considerando, outras Bíblias mantêm apenas 10 capítulos (correspondentes ao texto hebraico), e inserem os complementos gregos nos pontos devidos, renumerando os versículos ou atribuindo a cada “capítulo grego” uma letra do alfabeto; este é o caso da Bíblia de Jerusalém (Paulus), da Bíblia Mensagem de Deus (Loyola), da Bíblia Sagrada Vozes (Vozes) e da Bíblia da CNBB.

Logo, todas as Bíblias católicas ou ortodoxas – seja qual for a forma de numeração adotada para os capítulos – reproduzem o texto completo do livro de Ester, de forma que não é preciso se preocupar quanto a esse detalhe de numeração. Já as Bíblias protestantes, por adotarem o cânon palestinense – definido pelos judeus cerca de 50 anos após a morte de Cristo – reproduzem apenas o texto hebraico e, por essa razão, encontram-se incompletas. Algumas Bíblias ecumênicas (como a TEB da Loyola), visando atender simultaneamente católicos, ortodoxos, protestantes e judeus, reproduzem duas traduções de Ester: o texto curto (hebraico – para judeus palestinenses e protestantes) e o texto longo (grego – para católicos, ortodoxos e judeus etíopes), ambos com 10 capítulos! 

O livro de Daniel

O livro de Daniel na Bíblia cristã é inserido na sessão dos profetas e na Bíblia hebraica se encontra entre os “escritos”. O livro é muito particular, pois o texto original é em 3 línguas diferentes: os capítulos 1 e 8 a 12 são escritos em hebraico; os capítulos 2,4 a 7 e 28 são em aramaico e os capítulos 2, 24-90 e 13 a 14 chegaram até nós em grego.

Os textos em grego são considerados canônicos somente pelos católicos e não existem nas bíblias dos protestantes. Em 2, 24-90 temos o cântico de Azarias, excluído das bíblias protestantes. Nos dois últimos capítulos, também esses não presentes nas bíblias protestantes, temos a história de Susana, acusada injustamente e salva pelo Senhor por meio de Daniel. E ainda Daniel desmascara os sacerdotes de Bel e mata o dragão adorado pelos babiloneses. Por isso é jogado na cova dos leões, de onde é finalmente salvo. Esses dois capítulos do livro chegaram até nós, somente em grego e por isso não foram incluídos nas bíblias dos judeus e, por consequência, na igreja reformada, dos protestantes. Por isso, podemos concluir que os capítulos de Daniel são 12 nas bíblias protestantes, mas 14 nas católicas.


FONTES:
Bíblia de Jerusalém – Paulus 2008.
Luiz da Rosa - http://www.abiblia.org

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

QUAL É A MELHOR BÍBLIA EM PORTUGUÊS?



Para começo de conversa é importante ter em mente que não há uma única tradução perfeita da Bíblia. Todas as versões (católicas e protestantes) em sua maioria, são boas. Só há uma exceção na Tradução do Novo Mundo, das Testemunhas de Jeová, uma versão que não recomendo. A maioria das pessoas procuram uma versão da Bíblia que se adeque às suas necessidades, mas é bom ter uma orientação sobre isso.

Todas as versões bíblicas (em português ou em qualquer língua) tem suas falhas e pontos positivos. O que vai importar é PARA QUÊ você quer usar a Bíblia: se para estudo, evangelização, pregação, grupo de refelxão, etc. Dependendo disso, você pode ter uma direção maior.

VAMOS LÁ! Vamos às dicas de Frei Ildo Perondi*:

a) BÍBLIA DE JERUSALÉM:

É o melhor e mais seguro texto bíblico que temos para estudo. É uma tradução bastante fiel, a partir dos textos originais, feita por bons biblistas. Não é um texto popular, porque procura traduzir de acordo com aquilo que está nos textos originais. É muito usada nos Seminários (inclusive protestantes) e cursos de teologia. Traz boas notas de rodapé e informações sobre os textos paralelos. Possui também uma boa linha do tempo e da história no final, e boas introduções a cada Livro da Bíblia. Em 2002 foi feita uma revisão geral, melhorando ainda mais o texto.



b) BÍBLIA SAGRADA – EDIÇÃO PASTORAL:

É um bom texto, traduzido também por bons e sérios biblistas. A linguagem é bem popular. Isto é, um texto fácil e gostoso de ler. Foi traduzida há pouco tempo e é a Bíblia recomendada para o povo. Tem boas introduções a cada livro, porém as notas de rodapé nem sempre são boas.






c) BÍBLIA DA CNBB:

É uma tradução que acabou de ser editada. O texto é bom, numa linguagem boa e bem fácil. Seu objetivo é litúrgico. Ou seja, um texto para a liturgia em toda a Igreja do Brasil. Exemplo de um texto traduzido: 2Tm 3,17 “... a fim de que toda pessoa seja útil para a boa obra” (o termo grego no original é antropos, isto é, “homem”. Mas a maioria das pessoas nas celebrações são mulheres. Uma Bíblia para estudo deve traduzir “homem”; uma Bíblia litúrgica, traduz corretamente também quando interpreta e traduz “pessoa”).

d) TEB (TRADUÇÃO ECUMÊNICA DA BÍBLIA):

Foi feita a tradução por Católicos, Protestantes e Hebreus. Por isso, o texto procura ser conciliatório, às vezes, difícil. Também a ordem de colocação dos livros da Bíblia, não é sempre como nós conhecemos. Mas tem boas introduções e também notas de rodapé muito boas.





e) BÍBLIA AVE MARIA: 

É uma das mais antigas versões populares da Bíblia. Mas a tradução para o português não foi feita dos textos originais. E parece que nem todos os tradutores eram biblistas. Por isso, contém muitos erros, expressões confusas, palavras mal traduzidas... A maioria dos biblistas não gosta desta tradução.




f) BÍBLIA MENSAGEM DE DEUS (EDIÇÕES LOYOLA): 

Possui um texto bom, uma tradução fiel, apesar de não ser uma Bíblia muito conhecida.









g) BÍBLIA “O PÃO NOSSO” (VOZES):

 Também tem um bom texto, com poucas notas de rodapé e também não é muito conhecida.









h) BÍBLIA DO PEREGRINO:

É uma tradução feita há pouco pelo biblista L. Alonso-Schökel e sua equipe. O texto é bom, mas às vezes um pouco confuso. Tem muitas notas de rodapé. Porém custa muito caro. Indicada para quem quer fazer estudos sobre os textos.







i) BÍBLIAS PROTESTANTES:

Quase todas as Bíblias Protestantes seguem a tradução feita por João Ferreira de Almeida, editadas pela Sociedade Bíblica do Brasil. Foram traduzidas dos originais. São bons, pois a tradução é fiel, mas possuem poucas notas de rodapé e sem introduções aos livros. Para nós Católicos não possuem os sete livros da Bíblia “grande” do AT (que nós consideramos também inspirados). As outras traduções protestantes são muito fracas. A Bíblia das Testemunhas de Jeová, manipula e traduz mal os textos.




DICA: se você pensa em comprar uma Bíblia pondere o seguinte para a aquisição:
  • Se você quer um texto bom para acompanhar a liturgia, para rezar, e com uma linguagem mais fácil (e fiel ao original), compre a BÍBLIA DA CNBB (não é cara e o texto é bom);
  • Se você quer uma Bíblia para catequese, grupos de reflexão, e que tenha um rodapé que lhe dê algumas pistas para a reflexão, adquira a BÍBLIA EDIÇÃO PASTORAL;
  • Se você precisa de um texto para estudo, que lhe dê suporte de textos paralelos e dicas sobre tradução de algumas palavras, adquira a BÍBLIA DE JERUSALÉM (é bem mais cara, mas ótima!)

*Frei Ildo Perondi: é Frei Capuchinho da Província São Lourenço de Brindes, do Paraná, Santa Catarina e Paraguai. Formado em Teologia Bíblica em Roma, com Mestrado em Teologia Bíblica pela Universidade Urbaniana de Roma. Doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro; Professor e Coordenador do Curso de Teologia da PUCPR (Campus Londrina).

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

QUAL É A MINHA BÍBLIA?



BÍBLIA TRISTE:
Sou a Bíblia triste, meu dono até que me lê, mas não interpreta corretamente minhas Palavras e não pratica meus ensinamentos.


BÍBLIA RASGADA:
Sou a Bíblia rasgada, dentro de mim estão escritas palavras doce como o mel, mas meu dono muito desligado, me deixa em qualquer lugar e nas mãos de quem não tem cuidado!


BÍBLIA SUJA:
Sou a Bíblia Suja, sou colocada na estante como objeto de decoração. Fico lá no mesmo lugar, pegando poeira. Ninguém me tira dali para ler e meditar meu conteúdo! E quando me pegam é só para me rabiscar e servir de brinquedo.


BÍBLIA DESANIMADA E ESQUECIDA:
Sou a Bíblia esquecida e desanimada. Meu dono não me usa, não me leva para o grupo de oração, para os encontros de catequese. Às vezes, até me leva, mas depois não me procura mais. Fico lá no canto até a próxima semana.


BÍBLIA FELIZ:
Sou a Bíblia Feliz, sirvo sempre que sou desejada. Meu dono me carrega com orgulho, lê, acredita em minhas Palavras, pois sabe que sou para os cristãos a esperança.

Que tipo de Bíblia você tem em casa?



FONTE: Texto da Internet sem autor; arte Catequistas em Formação; Capa da Bíblia da CNBB.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

HOMILIA DO DOMINGO - SEGUIR JESUS: AMBIÇÃO OU HUMILDADE?


       HOMILIA DO 25° DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B       
Políticos em campanha eleitoral levantam crianças diante das câmeras da televisão… Mas qual deles se importa realmente com o futuro das crianças abandonadas, com os meninos de rua, com a educação popular? O que conta não é a criança, e sim, o voto.

Jesus faz da pouca importância das crianças uma lição para seus seguidores. Os discípulos não compreendiam quando Jesus falava de seu sofrimento; pelo contrário, ficavam discutindo quem era o maior dentre eles. Por causa disso, Jesus chamou uma criança, colocou-a no meio deles e disse que a criança estava aí como se fosse ele mesmo – e até mais do que isso: “Quem acolher em meu nome uma destas crianças estará acolhendo a mim mesmo. E quem me acolher, estará acolhendo não a mim, mas Àquele que me enviou” (evangelho).

A liturgia de hoje nos ajuda a cavoucar mais a fundo o mistério que está por trás dessas palavras. Enquanto os discípulos não levaram muito a sério as crianças, Jesus se identifica com uma criança, porque tem uma profunda consciência do amor paterno de Deus. Na 1ª leitura, o justo que chama Deus de pai é considerado insuportável pelos poderosos, que só dão importância à força e à arrogância. E a 2ª leitura nos mostra quanto mal faz a ambição dentro da comunidade cristã. Na lógica o mundo, o que importa é a prepotência, a ambição. Mas Deus é o pai do justo, sobretudo do justo oprimido. Na criança desprotegida, ele mesmo se torna presente.

O justo humilde, perseguido pelos prepotentes, e que chama Deus de pai, é a prefiguração do próprio Jesus. A grandeza mundana não importa. Uma criança sem importância pode ser representante de Jesus e, portanto, de seu Pai, Deus mesmo. E se não for uma criança, pode ser um mendigo, um desempregado, um aidético…. No aspecto de não terem poder, esses sem-poder parecem-se com Jesus. Nossa “ambição”deve ser: servir Jesus neles. Então, seremos grandes.

Alguém talvez chame isso de falsa modéstia: dizer-se humilde julgando-se superior aos outros. Já os empresários o chamarão de desperdício, pois quem se refugia na humildade nunca vai realizar as grandes coisas de que nossa sociedade tanto precisa… O raciocínio de Jesus vai no sentido oposto: as ambições deste mundo facilmente encontram satisfação, se há quem delas pode tirar proveito. Todo mundo colabora. Mas quem não tem poder só pode contar com Deus e com os “filhos de Deus”, os que querem ser semelhantes a ele. Então, de repente, não é a ambição que move o mundo, mas a força do amor que Deus implantou em nós. Não o orgulhoso ou o ambicioso, mas o humilde consegue despertar a força do amor que dorme no coração do ser humano. A criança desperta em nós o que nos torna semelhantes a Deus, nosso Pai.

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

FONTE: franciscanos.org


sexta-feira, 14 de setembro de 2018

HOMILIA DO DOMINGO: SEGUIR UM MESSIAS DIFERENTE


                   HOMILIA DO 24° DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B
Dizem que o povo não gosta de jogar voto fora. Vota em quem pensa que vai ganhar. Assim, quem representa os deserdados não tem ibope, enquanto os políticos corruptos são reeleitos e a situação não muda nunca. Parece que também Simão Pedro não gostava de torcer pelo time perdedor. Queria estar do lado do poder. Tinha chegado à conclusão de que Jesus era o Messias (8,29). Mas quando Jesus começou a explicar que o Messias e Filho do Homem devia sofrer e morrer, Pedro quis fazer-lhe a lição: sofrer, nunca! (8,31-32). Então, Jesus lhe dirige dura advertência: “Vai, satanás, para trás de mim, pois não tens em mente as coisas de Deus e sim as dos homens” (8,33). Pedro é chamado de satanás, não de diabo, porque o satanás é uma figura folclórica na literatura bíblica, exercendo o papel de tentador, de sedutor (cf. Jô 2,1-2). Jesus associa Pedro ao “sedutor”, porque tentou desviá-lo do caminho do sofrimento. Então, Jesus o manda para o lugar do discípulo obediente, atrás do mestre, para segui-lo carregando a cruz (Mc 8,34-35).

Jesus é Messias, mas à maneira do Servo Sofredor de que fala Isaías (1ª leitura). Este oferece as faces a quem lhe arranca a barba, não teme o fracasso, pois Deus está com ele. O Servo Sofredor é como um herói que desce na cova dos leões: desce nas profundezas do ódio para vencê-lo, por dentro, assumindo o sofrimento injustamente infligido. Seu poder não é como os poderes deste mundo; é a força de Deus que vence o poder pelo amor. Mas para isso, ele tem de escutar a voz de Deus: “O Senhor abriu meu ouvido” (Is 50,5).

Acreditar em Jesus é aderir ao Servo, o líder rejeitado e morto, mas que é também ressuscitado por Deus, como está em Mc 8,31 (Pedro parece não ter percebido esse “detalhe”). Ser cristão é seguir Jesus pelo caminho do sofrimento. Não existe fé cristã sem via sacra. E isso não pelo prazer de sofrer, mas porque é preciso enfrentar a injustiça e tudo quanto se opõe a Deus no próprio campo de batalha. Ser cristão não é compatível com sempre ter sucesso no mundo; quem não é perseguido provavelmente não está trilhando os passos de Jesus.
A Igreja não é para torcedores que pagam para ver o time ganhar; é para jogadores dispostos a enfrentar sacrifícios. Mas esta comparação esportiva é perigosa: pode sugerir auto-afirmação, e então estaríamos novamente pensando nas coisas dos homens e não nas de Deus. Não se trata de auto-afirmação, nem de heroísmo para glória própria, mas antes, de ter um ouvido aberto à voz de Deus, que nos mostra um caminho que por nós mesmos não suspeitávamos ser o caminho de Deus. Trata-se de ter um coração de discípulo, que saiba escutar Deus nos seus planos mais misteriosos. Será que Deus não está mostrando um caminho de “mais vida” quando sugere cuidar de uma criança doente, de pessoas excluídas, do silêncio de quem não pode falar, do esquecimento de si?… Tenhamos o ouvido aberto!

Cristo nos deu o exemplo. Nele confiamos. Tendo em vista sua “vitória”, não importa que “perdemos nossa vida” segundo os critérios deste mundo. Ganharemos Deus.

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

FONTE: Franciscanos.org

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

DICAS LITÚRGICAS - MÊS DA BÍBLIA



O mês de setembro é tradicionalmente conhecido como o Mês da Bíblia, uma homenagem a São Jerônimo, cuja festa celebramos no dia 30. É uma grande oportunidade que temos para reforçar a importância da Palavra de Deus em nossas vidas, e também em nossas celebrações.

Como podemos aproveitar essa motivação? O que fazer para valorizar a liturgia e as celebrações da Palavra? Certamente não será fazendo um altar ou estante concorrente à Mesa da Palavra (ambão) para expor à assembleia uma Bíblia bonita! Muito menos congestionando a celebração de cantos que “falam” da Bíblia, mas desconexos da própria liturgia da Palavra ou fazendo entradas "criativas" com a bíblia com dancinhas, elementos alegóricos (bíblia dentro de um coco, por exemplo) ou quaisquer coisas do gênero. Tende-se às vezes a transformar o mês da Bíblia em mês de "entrada da Bíblia". Com essa pedagogia velha e ultrapassada se esvazia o rito e condicionamos nossas celebrações a entradas temáticas.

A importância da mesa da Palavra

A Igreja sempre venerou as Escrituras Sagradas, como venerou o próprio Corpo do Senhor, porque, de fato, principalmente na Sagrada Liturgia, não cessa de tomar e entregar aos fiéis o Pão da Vida, da mesa tanto da Palavra de Deus como do Corpo de Cristo. (cf. DV 21).

A Palavra de Deus não vale menos que o Corpo de Cristo. E por isso, todo o cuidado que tomamos quando nos é dado o Corpo de Cristo, para que nenhuma parte escape de nossas mãos e caia por terra, tomemos esse mesmo cuidado, para que a Palavra de Deus que nos é entregue, não morra em nosso coração enquanto ficamos pensando em outras coisas ou falando de outras coisas... Pois aquela pessoa que escuta de maneira negligente a Palavra de Deus, não será menos culpada do que aquela que, por negligência, permitir que caia por terra o corpo de Cristo”(Cesário de Arles, Monge. 470-543).
Quando Deus fala à comunidade reunida, algo grandioso acontece: libertação, salvação, comunhão... “A Palavra na celebração se converte em SACRAMENTO por intervenção do Espírito Santo...” (ILM, 41).

A comunidade se reúne para fazer a memória de Jesus, lendo e atualizando as Sagradas Escrituras. Ela lê, ao mesmo tempo, a Bíblia e a vida. Busca discernir nos acontecimentos da vida pessoal, comunitária e social, os passos do Senhor que salva e transforma com o dinamismo do Espírito.

A celebração da Palavra é uma verdadeira ação litúrgica: é parte integrante do Mistério Pascal de Jesus e da nova Aliança realizada por Ele. É uma palavra eficaz: faz acontecer a Páscoa, porque passamos da morte para a vida, do egoísmo para a fraternidade. Por isso falamos que ela é sacramento! É anúncio e manifestação do Reino de Deus. É denúncia das forças da morte que procuram impedir a vinda do Reino de Deus. É apelo de conversão, mudança de vida, santificação, solidariedade. É comunhão com o Pai por Jesus, Palavra Viva, no Espírito Santo; é comunhão também entre nós, na medida em que ouvimos a mesma Palavra do Senhor. É Jesus que fala quando se leem as Sagradas Escrituras na celebração da comunidade. A Palavra é o próprio Cristo, Verbo de Deus feito carne, realidade humana, em nossa história.

O Espírito Santo está presente e atuante; orienta a comunidade, os ministros e cada fiel para que compreendam e aceitem a Palavra de Jesus, as promessas de Deus, a vida nova que recebemos de Cristo.

A comunidade é chamada a ouvir, receber a Palavra no coração, deixar-se atingir e converter, responder à Palavra de Deus com a profissão de fé, a oração e a intercessão, o louvor e a ação de graças, o compromisso, a comunhão de vida. Também isso é obra do Espírito Santo em nós!


Dicas para valorizar a liturgia da Palavra
  • Que em todo espaço celebrativo (igrejas, salões, etc.) haja uma mesa da Palavra (ou ambão) com toda a dignidade que ela merece. Haja proporção de harmonia entre o ambão e o altar (cf. ILM, 32), isto é, que se procure salvaguardar a unidade das duas mesas, sendo a mesa da Palavra do mesmo material e estilo da mesa do altar, e que não haja uma estante que lhe seja concorrente. Sendo assim, não há sentido alguém em duplicar a mesa da Palavra, fazendo um altar paralelo para expor a Bíblia. A Palavra não é para ser exposta, e sim lida e guardada no coração;
  • Proclamam-se da Mesa da Palavra as leituras, Salmos, Evangelho, homilia, oração dos fiéis (podendo esta ser feita o meio da assembleia, em se tratando de grupos pequenos). 
  • Que haja um esmero ainda maior na qualidade da proclamação da palavra, de modo que, além de audível, o proclamador anuncie a Palavra do modo como requer o ministério: com boa comunicação e profunda espiritualidade; 
  • “Não é conveniente que subam ao ambão outras pessoas, como o comentarista, o cantor, o animador” (ILR, 33), e muito menos que se façam discursos ou se deem avisos nesse local reservado à Palavra e a seus ministros; 
  • É de fundamental importância que as leituras sejam proclamadas dos Lecionários, e nunca de folhetos ou livretos IGL 37). Ênfase seja dada sempre ao Evangeliário; 
  • Jamais se coloquem no data show os textos bíblicos do dia, nem mesmo imagens apelativas que distraiam a assembleia do ministro da Palavra, postado no ambão; 
  • Salmo também é Palavra de Deus. Responde à Palavra anunciada com a Palavra rezada e cantada pelo povo. Nunca deve ser substituído por um canto ou texto qualquer. Salmista exerce ministério específico. Portanto, quem canta salmo, na celebração em que exerce esse ministério, não canta no coral, mas permanece junto dos outros proclamadores; 
  • Recomenda-se, para maior proveito litúrgico, que se evitem comentários de qualquer espécie antes das leituras; 
  • Após a oração da coleta (primeiro “oremos”), é de bom senso e utilidade litúrgica cantar um canto de escuta, convidando a assembleia a uma escuta atenta e frutuosa da Palavra de Deus; 
  • Sendo o Evangeliário o livro da Palavra por Excelência, sempre que possível que ele seja entronizado na procissão de entrada da celebração, depositado sobre a mesa do altar até a aclamação ao Evangelho e levado solenemente em procissão até a mesa da Palavra, para a proclamação do Evangelho. Seja ladeado por castiçais durante a procissão, recomendando-se, ainda, o uso de incenso. Já o Lecionário permanece desde o início na mesa da palavra, não sendo necessária sua entronização; 
  • A Palavra também é valorizada por momentos de silêncio após as leituras, o salmo e a homilia, fortalecendo a atitude de escuta e acolhida. (Guia Litúrgico Pastoral, p. 32) 
  • Os cantos da celebração, mesmo em se tratando de meses temáticos (como o mês da Bíblia), devem ser escolhidos a partir da Liturgia da Palavra de cada celebração. Portanto, não se cantam cantos que “falam” da Bíblia, só por ser mês de setembro; 
  • Sugere-se à equipe de celebração, especialmente os ministros da Palavra, que se preparem dignamente para o anúncio da Palavra, fazendo uma leitura orante, durante a semana, do texto a ser proclamado na celebração litúrgica.

Pe. Vanildo de Paiva
Especialista em Catequese e Liturgia.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

LEITURA ORANTE DA BÍBLIA: ORIENTAÇÕES


Um excelente material sobre Leitura Orante para passar aos catequistas:


I. A IGREJA RECOMENDA A LEITURA ORANTE DA BÍBLIA

“Fala Senhor, que teu servo escuta”. (1Sm 3,10)

O Concílio Vaticano II recomenda, com grande insistência, a leitura Orante da Bíblia, que pela piedosa leitura, quer por cursos apropriados (DV 25). O Documento de Aparecida (247;249) e as Diretrizes Gerais da CNBB (2015-2019 nº 98) destacam a Leitura Orante com os seus quatro passos: Leitura, Meditação, Oração e Contemplação., como um meio privilegiado de encontro pessoa com jesus Cristo. Os documentos ainda incentivam a prática dos Grupos Bíblico de reflexão, dos Círculos Bíblicos e das reuniões de grupos.  A Pontifícia Comissão Bíblica ensina que “a Leitura Orante (...), corresponde a uma prática antiga da Igreja” (A Interpretação da Bíblia na Igreja, p. 81). E por fim, ensina o Sínodo da Palavra de 2008, que p “método mais prático de acesso |à Bíblia é a Leitura Orante” (Lectio Divina).


“Maria meditava em seu coração”. (Lc 2, 19.51)


II. PREPARAÇÃO PARA A PRÁTICA DA LEITURA ORANTE

- Escolher um texto com antecedência.
- Pode ser a Palavra da Liturgia do dia; ter hora e lugar marcados.
- Ser fiel ao plano proposto; tomar posição tranquila e agradável.
- Cuidar da boa posição do corpo; fazer um pequeno relax, acalmar-se.
- Construir o seu santuário interior; estar na presença de deus e viver em comunhão fraterna para poder silenciar e escutar; ter paz interior; colocar-se na presença de Deus com fé.
- Desejar rezar; invocar as luzes do Espírito Santo; ter paciência, não desistir; perseverar; abrir o texto e realizar os quatro passos: leitura, meditação, oração e contemplação.

“O Senhor deu-me um ouvido de discípulo”. (Is 50,4)

III. QUATRO EXIGÊNCIAS PARA A LEITURA ORANTE

1. Ler o texto na unidade da Bíblia: respeitar o princípio da unidade da Escritura, não tirar o texto fora do contexto. Não se pode isolar o texto fora do conjunto da bíblia. Cada texto é um tijolo dentro de uma grande construção. Não “ficar ao pé da letra”, mas, ler e interpretar o texto na vida de hoje. Leitura Orante não é estudar o texto sagrado, mas, sob a luz da Palavra, compreender, iluminar e transformar a realidade, converter-se ao deus Vivo e Verdadeiro e aos irmãos.

2. Ligar o texto com a realidade: com os olhos na vida, nos acontecimentos, na situação concreta. A leitura orante não faz de nós professores da Escritura, mas, transformadores da realidade. Não separar a Leitura Orante dos acontecimentos e dos sinais dos tempos, mas, iluminar a vida com a palavra, eis o objetivo da Leitura Orante.

3. Ler a partir da fé em Jesus Cristo: Tudo na Bíblia converge para Jesus, Ele é a chave da compreensão e interpretação das escrituras. Jesus é a última e definitiva revelação de deus. “Ignorar as Escrituras é ignorar a Jesus Cristo”. A leitura orante é uma escola bíblica para sermos discípulos missionários de Jesus.

4. Ler o texto em comunhão com a Igreja: Com a comunidade de fé. O leitor não é “dono” do texto. A Palavra de Deus foi confiada à Igreja que, por sua vez, é serva da Palavra. A leitura Orante deve ser feita em comunhão com a Tradição, o Ensino e a Fé da Igreja (Magistério). Ler usando os resultados dos estudos bíblicos.

“Faça-se em mim segundo a Tua palavra”. (Lc 1,38)

IV. OS QUATRO PASSOS DA LEITURA ORANTE

1º Passo – LEITURA:

Ler, ler, ler...
“O que p texto diz em si mesmo? ”

Conhecer, respeitar, situar o texto. Leitura lenta e atenta; reler, repetir, recordar de memória, relembrar em voz alta; ver o que o texto diz; perceber os verbos, as palavras chaves, as ideias centrais; averiguar a geografia, o contexto, as circunstâncias, as passagens do texto, os personagens com suas atitudes, seus gestos; ler com atenção, respeito, amizade, interesse, dedicação, como se faz em um encontro com um amigo; ler não é estudar, discutir, pesquisar, nem aumentar conhecimentos e teorias. É acolher, escutar, interiorizar a Palavra.



2º Passo – MEDITAÇÃO

Ruminar, mastigar, revolver na memória.
“Oque o texto me (nos) diz hoje? ”

Meditar é guardar no coração e deixar-se amar; meditar é aplicar o texto em nossa vida e realidade; ver o que a Palavra diz para mim; procurar atualizar a Palavra hoje; perceber as inspirações, os apelos, os afetos, as revelações, as iluminações do texto lido; interiorizar, internalizar, ingerir a mensagem; acolher outros significados do texto; aplicar na realidade pessoal, comunitária, social; deixar-se afetar pela Palavra; acolher o toque da graça.



3º Passo – ORAÇÃO

Louvar, agradecer, pedir.
“O que o texto me (nos) faz dizer a Deus”?

É o momento da resposta, do diálogo, do encontro mais pessoa, do relacionamento com Deus. É expressar os sentimentos de perdão, louvor, intercessão, súplicas. Abrir o coração, envolver-se na presença de Deus, acolhendo a realidade e os apelos dos irmãos; fazer atos de perdão e reconciliação; rezar salmos, fazer preces, hinos com o texto meditado.




4º Passo – CONTEMPLAÇÃO

Levar para a vida.
“O que o texto me (nos) leva a viver”?

É saborear, degustar, deixar-se envolver pela Palavra. É silenciar, estar quieto, em descanso sob o olhar amoroso de Deus. Sentir-se tocado, envolvido, aceito, amado, acolhido, perdoado, pacificado. Permanecer na presença, em receptividade, nos braços do Pai; dar espaço para Deus, para o irmão e a realidade da vida, afetivamente. Toda contemplação é para ser comunicada e vivida, em vista da transformação pessoal, comunitária e social. A contemplação leva a viver a própria Palavra.



“Buscai na Leitura, encontrareis pela Meditação. Batei a porta da Oração, vós encontrareis na Contemplação. ” (Guido II)

V. LEITURA ORANTE E VIDA DE DISCÍPULOS MISSIONÁRIOS

A Leitura Orante da Bíblia deve incendiar o coração do orante e motivá-lo para a ação apostólica, para a missão, para a evangelização. A palavra de Deus nos impele à caridade e à ação social: atenção aos pobres, acolhimento das pessoas, perdão às ofensas, partilha do pão, solidariedade. Pela prática da Leitura Orante, todos se colocam à disposição para trabalhar nas pastorais, nas comunidades, no dízimo, na catequese, assumindo grupos de reflexão, a visitação nas casas, etc. Quem medita as Escrituras encontra Cristo, sua Igreja e Seu Reino; cresce na dimensão profética e social da fé, assumindo responsabilidades e trabalhos na comunidade e na sociedade. A leitura orante move o coração e abre os olhos para o irmão, para os necessitados, para a comunidade, para a implantação do Reino de Deus.

Fonte: Secretariado de Pastoral – Arquidiocese de Londrina Pr.