O Tempo do Advento
Introdução
A palavra “advento” quer dizer “que está para vir”. O tempo do
Advento é para toda a Igreja, momento de forte mergulho na liturgia e na
mística cristã. É tempo de espera e esperança, de estarmos atentos e
vigilantes, preparando-nos alegremente para a vinda do Senhor, como uma noiva
que se enfeita, se prepara para a chegada de seu noivo, seu amado.
O
Advento começa às vésperas do Domingo mais próximo do dia 30 de Novembro e vai
até as primeiras vésperas do Natal de Jesus contando quatro domingos.
Esse
Tempo possui duas características: As duas últimas semanas, dos dias 17 a 24 de dezembro, visam em
especial, a preparação para a celebração do Natal, a primeira vinda de Jesus
entre nós. Nas duas primeiras semanas, a nossa expectativa se volta para a
segunda vinda definitiva e gloriosa de Jesus Cristo, Salvador e Senhor da
história, no final dos tempos. Por isto, o Tempo do Advento é um tempo de
piedosa e alegre expectativa.
Origem
Há
relatos de que o Advento começou a ser vivido entre os séculos IV e VII em vários
lugares do mundo, como preparação para a festa do Natal. No final do século IV
na Gália (atual França) e na Espanha tinha caráter ascético com jejum
abstinência e duração de 6 semanas como na Quaresma (quaresma de S. Martinho).
Este caráter ascético para a preparação do Natal se devia à preparação dos
catecúmenos para o batismo na festa da Epifania. Somente no final do século
VII, em Roma, é acrescentado o aspecto escatológico do Advento, recordando a
segunda vinda do Senhor e passou a ser celebrado durante 5 domingos.
Só
após a reforma litúrgica é que o Advento passou a ser celebrado nos seus dois
aspectos: a vinda definitiva do Senhor e a preparação para o Natal, mantendo a
tradição das 4 semanas. A Igreja entendeu que não podia celebrar a liturgia,
sem levar em consideração a sua essencial dimensão escatológica.
Teologia do Advento
O
Advento recorda a dimensão histórica da salvação, evidencia a dimensão
escatológica do mistério cristão e nos insere no caráter missionário da vinda
de Cristo. Ao serem aprofundados os textos litúrgicos desse tempo, constata-se
na história da humanidade o mistério da vinda do Senhor. Jesus que de fato se
encarna e se torna presença salvífica na história, confirmando a promessa e a
aliança feita ao povo de Israel. Deus que, ao se fazer carne, plenifica o tempo
(Gl 4,4) e torna próximo o Reino (Mc 1,15) . O Advento recorda também o Deus da
revelação, Aquele que é, que era e que vem (Ap 1, 4-8), que está sempre
realizando a salvação mas cuja consumação se cumprirá no “dia do Senhor”, no
final dos tempos. O caráter missionário do Advento se manifesta na Igreja pelo
anúncio do Reino e a sua acolhida pelo coração do homem até a manifestação
gloriosa de Cristo. As figuras de João Batista e Maria são exemplos concretos
da missionariedade de cada cristão, quer preparando o caminho do Senhor, quer
levando o Cristo ao irmão para o santificar. Não se pode esquecer que toda a
humanidade e a criação vivem em clima de advento, de ansiosa espera da
manifestação cada vez mais visível do Reino de Deus.
A
celebração do Advento é, portanto, um meio precioso e indispensável para nos
ensinar sobre o mistério da salvação e assim termos a Jesus como referencia e
fundamento, dispondo-nos a “perder” a vida em favor do anúncio e instalação do
Reino.
Espiritualidade do advento
A
liturgia do Advento nos impulsiona a reviver alguns dos valores essenciais
cristãos, como a alegria expectante e vigilante, a esperança, a pobreza, a
conversão.
Deus
é fiel a suas promessas: o Salvador virá; daí a alegre expectativa, que deve
nesse tempo, não só ser lembrada, mas vivida, pois aquilo que se espera
acontecerá com certeza. Portanto, não se está diante de algo irreal, fictício,
passado, mas diante de uma realidade concreta e atual. A esperança da Igreja é
a esperança de Israel já realizada em Cristo mas que só se consumará
definitivamente na parusia do Senhor. Por isso, o brado da Igreja
característico nesse tempo é “Marana tha”! Vem Senhor Jesus!
O
tempo do Advento é tempo de esperança porque Cristo é a nossa esperança (I Tm
1, 1); esperança na renovação de todas as coisas, na libertação das nossas
misérias, pecados, fraquezas, na vida eterna, esperança que nos forma na
paciência diante das dificuldades e tribulações da vida, diante das
perseguições, etc.
O
Advento também é tempo propício à conversão. Sem um retorno de todo o ser a
Cristo não há como viver a alegria e a esperança na expectativa da Sua vinda. É
necessário que “preparemos o caminho do Senhor” nas nossas próprias vidas,
“lutando até o sangue” contra o pecado, através de uma maior disposição para a
oração e mergulho na Palavra.
No
Advento, precisamos nos questionar e aprofundar a vivência da pobreza. Não
pobreza econômica, mas principalmente aquela que leva a confiar, se abandonar e
depender inteiramente de Deus (e não dos bens terrenos), que tem n’Ele a única
riqueza, a única esperança e que conduz à verdadeira humildade, mansidão e
posse do Reino.
As Figuras do Advento:
ISAIAS
É
o profeta que, durante os tempos difíceis do exílio do povo eleito, levava a
consolação e a esperança. Na segunda parte do seu livro, dos capítulos 40 – 55
(Livro da Consolação), anuncia a libertação, fala de um novo e glorioso êxodo e
da criação de uma nova Jerusalém, reanimando assim, os exilados.
As
principais passagens deste livro são proclamadas durante o tempo do Advento num
anúncio perene de esperança para os homens de todos os tempos.
JOÃO BATISTA
É
o último dos profetas e segundo o próprio Jesus, “mais que um profeta”, “o
maior entre os que nasceram de mulher”, o mensageiro que veio diante d’Ele a
fim de lhe preparar o caminho, anunciando a sua vinda (conf. Lc 7, 26 – 28),
pregando aos povos a conversão, pelo conhecimento da salvação e perdão dos
pecados (Lc 1, 76s).
A
figura de João Batista ao ser o precursor do Senhor e aponta-lO como presença
já estabelecida no meio do povo, encarna todo o espírito do Advento; por isso
ele ocupa um grande espaço na liturgia desse tempo, em especial no segundo e no
terceiro domingo.
João
Batista é o modelo dos que são consagrados a Deus e que, no mundo de hoje, são
chamados a também ser profetas e profecias do reino, vozes no deserto e caminho
que sinaliza para o Senhor, permitindo, na própria vida, o crescimento de Jesus
e a diminuição de si mesmo, levando, por sua vez os homens a despertar do
torpor do pecado.
MARIA
Não
há melhor maneira de se viver o Advento que unindo-se a Maria como mãe, grávida
de Jesus, esperando o seu nascimento. Assim como Deus precisou do sim de Maria,
hoje, Ele também precisa do nosso sim para poder nascer e se manifestar no
mundo; assim como Maria se “preparou” para o nascimento de Jesus, a começar
pele renúncia e mudança de seus planos pessoais para sua vida inteira, nós
precisamos nos preparar para vivenciar o Seu nascimento em nós mesmos e no
mundo, também numa disposição de “Faça-se em mim segundo a sua Palavra” (Lc 1,
38), permitindo uma conversão do nosso modo de pensar, da nossa mentalidade, do
nosso modo de viver, agir etc.
Em
Maria encontramos se realizando, a expectativa messiânica de todo o Antigo
Testamento.
JOSÉ
Nos
textos bíblicos do Advento, se destaca José, esposo de Maria, o homem justo e
humilde que aceita a missão de ser o pai adotivo de Jesus. Ao ser da
descendência de Davi e pai legal de Jesus, José tem um lugar especial na
encarnação, permitindo que se cumpra em Jesus o título messiânico de “Filho de
Davi”.
José
é justo por causa de sua fé, modelo de fé dos que querem entrar em diálogo e
comunhão com Deus.
A Celebração do Advento
O
Advento deve ser celebrado com sobriedade e com discreta alegria. Não se canta
o Glória, para que na festa do Natal, nos unamos aos anjos e entoemos este hino
como algo novo, dando glória a Deus pela salvação que realiza no meio de nós.
Pelo mesmo motivo, o diretório litúrgico da CNBB orienta que flores e
instrumentos sejam usados com moderação, para que não seja antecipada a plena
alegria do Natal de Jesus.
As
vestes litúrgicas (casula, estola etc) são de cor roxa, bem como o pano que
recobre o ambão, como sinal de conversão em preparação para a festa do Natal
com exceção do terceiro domingo do Advento, Domingo da Alegria ou Domingo
Gaudete, cuja cor tradicionalmente usada é a rósea, em substituição ao roxo,
para revelar a alegria da vinda do libertador que está bem próxima e se refere
a segunda leitura que diz: Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito, alegrai-vos,
pois o Senhor está perto.(Fl 4, 4).
Vários
símbolos do Advento nos ajudam a mergulhar no mistério da encarnação e a
vivenciar melhor este tempo. Entre eles há a coroa ou grinalda do Advento. Ela
é feita de galhos sempre verdes entrelaçados, formando um círculo, no qual são
colocadas 4 grandes velas representando as 4 semanas do Advento. A coroa pode
ser pendurada no prebistério, colocada no canto do altar ou em qualquer outro
lugar visível. A cada domingo uma vela é acesa; no 1° domingo uma, no segundo
duas e assim por diante até serem acesas as 4 velas no 4° domingo. A luz
nascente indica a proximidade do Natal, quando Cristo salvador e luz do mundo
brilhará para toda a humanidade, e representa também, nossa fé e nossa alegria
pelo Deus que vem. O círculo sem começo e sem fim simboliza a eternidade; os
ramos sempre verdes são sinais de esperança e da vida nova que Cristo trará e
que não passa. A fita vermelha que enfeita a coroa representa o amor de Deus
que nos envolve e a manifestação do nosso amor que espera ansioso o nascimento
do Filho de Deus. A cor roxa das velas nos convida a purificar nossos corações
em preparação para acolher o Cristo que vem. A vela de cor rosa, nos chama a
alegria, pois o Senhor está próximo. Os detalhes dourados prefiguram a glória
do Reino que virá.
Podemos
também, em nossas casas, com as nossas famílias, mergulhar no espírito do
Advento celebrando-o com a ajuda da coroa do Advento que pode ser colocada ao
lado da mesa de refeição.
A coroa do Advento
Desde
a sua origem a Coroa de Advento possui um sentido especificamente religioso e
cristão: anunciar a chegada do Natal sobretudo às crianças, preparar-se para a
celebração do Santo Natal, suscitar a oração em comum, mostrar que Jesus Cristo
é a verdadeira luz, o Deus da Vida que nasce para a vida do mundo. O lugar mais
natural para o seu uso é família.
Além
da coroa como tal com as velas, é uso antigo pendurar uma coroa (guirlanda),
neste caso sem velas, na porta da casa. Em geral laços vermelhos substituem as
velas indicando os quatro pontos cardeais. Entrou também nas igrejas em formas
e lugares diferentes, em geral junto ao ambão. Cada domingo do Advento se
acende uma vela. Hoje está presente em escolas, hotéis, casas de comércio, nas
ruas e nas praças. Tornou-se mesmo enfeite natalino. Já não se pode pensar em
tempo de Advento sem a coroa com suas quatro velas.
Simbolismo da Coroa de Advento
Pelo
fato de se tratar de uma linguagem simbólica, a Coroa de Advento e seus
elementos podem ser interpretados de diversas formas. Desde a sua origem ela
possui um forte apelo de compromisso social, de promoção das pessoas pobres e
marginalizadas. Trata-se de acolher e cuidar da vida onde quer que ela esteja
ameaçada. Podemos dizer que a Coroa de Advento constitui um hino à natureza que
se renova, à luz que vence as trevas, um hino a Cristo, a verdadeira luz, que
vem para vencer as trevas do mal e da morte. É, sobretudo, um hino à vida que
brota da verdadeira Vida.
A
mensagem da Coroa de Advento é percebida a partir do simbolismo de cada um de
seus elementos.
O Círculo
A
coroa tem a forma de círculo, símbolo da eternidade, da unidade, do tempo que
não tem início nem fim, de Cristo, Senhor do tempo e da história. O círculo
indica o sol no seu ciclo anual, sua plenitude sem jamais se esgotar, gerando a
vida. Para os cristãos este sol é símbolo de Cristo.
Desde
a Antigüidade, a coroa é símbolo de vitória e do prêmio pela vitória. Lembremos
a coroa de louros, a coroa de ramos de oliveira, com a qual são coroados os
atletas vitoriosos nos jogos olímpicos.
Os ramos verdes
Os
ramos verdes que enfeitam o círculo constumam ser de abeto ou de pinus, de
ciprestes. É símbolo nórdico. Não perdem as folhas no inverno. É, pois, sinal
de persistência, de esperança, de imortalidade, de vitória sobre a morte.
Para
nós, no Brasil, este elemento é um tanto artificial e, por isso, problemático,
menos significativo, visto que celebramos o Natal no início do verão e com isso
não vivenciamos esta mudança da renovação da natureza. Por isso, a tendência de
se substituir o verde por outros elementos ornamentais do círculo: frutos da
terra, sementes, flores, raízes, nozes, espigas de trigo.
Para
ornar a coroa usam-se também laços de fitas vermelhas ou rosas, símbolo do amor
de Jesus Cristo que se torna homem, símbolo da sua vitória sobre a morte
através da sua entrega por amor.
Deste
modo, nas guirlandas penduradas nas portas das casas, os laços ocupam o lugar
das velas.
Lembram
os pontos cardeais, a cruz de Cristo, que irradia a luz da salvação ao mundo
inteiro.
As velas
As
quatro velas indicam as quatro semanas do Tempo do Advento, as quatro fases da
História da Salvação preparando a vinda do Salvador, os quatro pontos cardeais,
a Cruz de Cristo, o Sol da salvação, que ilumina o mundo envolto em trevas. O ato de
ascender gradativamente as velas significa a progressiva aproximação do
Nascimento de Jesus, a progressiva vitória da luz sobre as trevas.
Originariamente,
a velas eram três de cor roxa e uma de cor rosa, as cores dos domingos do
Advento.
O
roxo, para indicar a penitência, a conversão a Deus e o rosa como sinal de
alegria pelo próximo nascimento de Jesus, usada no 3º domingo do Advento,
chamado de Domingo “Gaudete” (Alegrai-vos).
Mas
existem também outras tradições acerca das cores das velas, podendo-se usar
velas brancas, vermelhas, ou até mesmo uma de cada cor (branca, verde, vermelha
e roxa ou rosa).
Existem
diferentes tradições sobre os significados das velas. Uma bastante difundida:
§
a
primeira vela é do profeta;
§
a
segunda vela é de Belém;
§
a
terceira vela é dos pastores;
§
a
quarta vela é dos anjos.
Outra
tradição vê nas quatro velas as grandes fases da História da Salvação até a
chegada de Cristo. Assim:
§
a
primeira é a vela do perdão concedido a Adão e Eva, que de mortais se
tornarão seres viventes em Deus;
§
a
segunda é a vela da fé dos patriarcas que crêem na promessa da
Terra Prometida;
§
a
terceira é a vela da alegria de Davi pela sua descendência;
§
a
quarta é a vela do ensinamento dos profetas que anunciam a justiça e
a paz.
Nesta
perspectiva podemos ver nas quatro velas as vindas ou visitas de Deus na
história, preparando sua visita ou vinda definitiva no seu Filho Encarnado,
nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo:
§
o
tempo da criação: de Adão e Eva até Noé;
§
o
tempo dos patriarcas;
§
o
tempo dos reis;
§
o
tempo dos profetas.
15 comentários:
Muito bom, exclarecedor!
Acho que em vez da vermelha devia ser a roxa, na Coroa, ou as três roxas e por último a branca.
Muito bom agora termos esse Blog, um lugar fixo, e assim não é preciso ficar copiando tudo.
Bom saber! Obrigado pelo comentário!
Obrigado pelo comentário Margarete!
Adorei a explicação...
Obrigado Andrea!
AMEI A EXPLICAÇÃO EU DEI MAS NÃO TÃO EXPLICADO ASSIM VOU PASSAR NOVAMENTE OBRIGADA
Muito bom Ângela, aprendi bastante com este artigo. Parabéns!!!
Excelente . Sempre é bom mais e mais conhecimentos para fortalecer nossos catequistas. Parabéns pela postagem. Abraços Angela.
Obrigado pleo comentário!
Obrigado Givanilda!
Obrigado pelo comentário!
nossa adorei era isso que eu precisava amei
Acredito que as cores das velas da coroa do advento quer simbolizar as cores liturgias utilizadas ao decorrer do ano liturgico
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