Outro dia, em nosso
grupo de catequistas no Facebook, um catequista fez
um questionamento a respeito de um comentário meu numa postagem sobre as os
RITOS DE ENTREGA NA MISSA: "Colocando
"ritos" demais na liturgia, corremos o risco de banalizá-la...".
Me perdoe, não compreendi seu ponto de vista, poderia esclarecer? Obg. Sou
catequista do crisma na comunidade São Francisco de Assis e novo nessa
caminhada."
Eu até
demorei um pouquinho a responder, porque queria dar uma resposta mais
“elaborada” a ele. E esta, com certeza é uma questão interessante.
A
catequese de INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ, que costumamos chamar de IVC
simplesmente, pede que se faça um "retorno" aos primeiros tempos da
nossa Igreja, à Igreja construída pelos apóstolos de Cristo nos primeiros
séculos.
Obviamente
que este "retorno", carece de atualização aos tempos atuais. Então, temos
orientação da Igreja e de vários padres estudiosos do tema, para que se faça
uma catequese de "inspiração catecumenal", lembrando alguns preceitos
do CATECUMENATO, como era chamada a catequese naquele tempo. Estas orientações
estão no DNC – Diretório Nacional de Catequese, no Documento da Conferencia de
Aparecida e pode ser estudado nas publicações da CNBB, principalmente no Estudo
97 e na 3ª Semana Brasileira de catequese. Vários autores também se dedicam ao
tema: Pe. Antonio Lelo, Pe. Luiz Lima, Pe. Lucio Zorzi, Ir. Israel Nery, Pe. Leomar Brustolin, Pe. Almeida e vários
outros.
O que
eu considero (pessoalmente), o grande "entrave", para nós
catequistas, a respeito da IVC, é que ela é destinada principalmente a
catequese de adultos e ao "resgate" dos adultos que foram
catequizados, receberam os sacramentos e, no entanto, a gente percebe que não
foram devidamente evangelizados. Estão afastados da Igreja e da comunidade, e
só retornam mesmo para receber algum sacramento. Não existe mais pertença
alguma à comunidade.
E nós,
tão acostumados a catequese com crianças (e no máximo, adolescentes e jovens
até os 15, 16 anos), nos vimos, de repente, no "olho do furacão". A
máxima de que: "criança se acolhe e
se evangeliza adultos", tem dado um nó na nossa cabeça. Preocupadas
com esta nova evangelização, as pastorais catequéticas assumiram, sozinhas
praticamente, a tal IVC... que é para adultos mas a gente quer adaptar à
catequese das crianças...
E aí
vem o: Como? Onde? De que forma?
Isso
tem sido uma confusão só e temos vários casos acontecendo:
1 -
Algumas dioceses e algumas paróquias, isoladas até, tem tomado "pé da
coisa" e entendido que, para se voltar à Catequese Catecumenal ou para se
implantar uma IVC de verdade, é preciso uma "reviravolta" inteira da
Igreja: CPP, presbíteros, todas as pastorais, grupos e movimentos; precisam se
envolver para que isso funcione, não só a catequese como uma pastoral
"isolada". E devagar estão fazendo a IVC acontecer.
2 -
Encontramos também algumas "implantações" da IVC aos moldes das
próprias dioceses. Adaptações desta ou daquela orientação às características
locais, com nomes os mais diversificados possíveis.
3 -
Outras, no entanto, tem se voltado exclusivamente para a "implantação dos
ritos" descritos no RICA (Ritual de Iniciação Cristã de Adultos), livro
litúrgico da Santa Sé que disciplina a liturgia da Iniciação Cristã
Catecumenal.
4 - E a
grande maioria nem sequer sabe do que estou falando.
Bom,
por aí se vê, o quanto é difícil falar de uma realidade tão equidistante uma da
outra. Mas, a minha fala de que "excesso de rito banaliza a liturgia"
se deve principalmente ao 2º e 3º casos que citei.
Tem se
cometido alguns equívocos misturando um pouco a utilização do RICA e a
implantação de uma catequese mais "mistagógica". Vamos
"separar" um pouco os dois:
O RICA,
Ritual de Iniciação Cristã de Adultos, disciplina os ritos da Iniciação cristã
e os sacramentos que fazem parte dela: batismo, crisma e eucaristia. E tem
também, para se adequar a realidade de hoje na Igreja, um capítulo destinado à
iniciação de crianças em idade de catequese. Estes ritos fazem parte da
catequese mistagógica. Mas, não é só isso que faz uma catequese mistagógica.
A "catequese mistagógica" pede que se volte a "conduzir" os catequizandos ao mistério da fé. Mistério este que prescinde de simbologia, ritos e uma volta ao sentido do "sagrado". Para isso encontramos várias orientações de celebrações catequéticas. Celebrações, ritos e momentos orantes, que podem ser feitos nos encontros de catequese e não só na celebração da missa com a comunidade.
A "catequese mistagógica" pede que se volte a "conduzir" os catequizandos ao mistério da fé. Mistério este que prescinde de simbologia, ritos e uma volta ao sentido do "sagrado". Para isso encontramos várias orientações de celebrações catequéticas. Celebrações, ritos e momentos orantes, que podem ser feitos nos encontros de catequese e não só na celebração da missa com a comunidade.
Precisamos
pensar que a Liturgia da nossa Igreja - e aqui vou simplificar para "missa"
- tem suas orientações e sentidos. Ela é sagrada, milenar e regida por
orientações específicas. Nem todos os "ritos" e "entregas"
da catequese, "cabem" nela. O que cabe, está descrito no RICA. Mas, o
que vemos em alguns casos é entrega de tudo que se possa imaginar, feitos na
missa: mandamentos, sacramentos, dons do Espírito Santo, Bem Aventuranças,
mandamento do amor... etc., etc.
E aqui
cabe um pequena explicação: a IVC prevê o catecumenato em quatro tempos: Pré-Catecumenato ou primeiro anúncio; Catecumenato (catequese e tempo mais
longo); Purificação ou Iluminação
(Quaresma) e; Mistagogia (tempo
pascal onde se inicia o serviço pastoral/missionário). Entre estes
"tempos", temos as três grandes passagens de etapa.
E cada um destes tempos, prevê
etapas a serem cumpridas. Depois
do pré-catecumenato (conversão), o candidato é acolhido na comunidade e se faz
o Rito da Admissão (acolhida) - 1ª ETAPA;
ao se passar do Catecumenato (catequese) para a Purificação, é feita outra
"eleição" aos sacramentos - 2ª
ETAPA; e na purificação é feita uma preparação especial nos domingos da
quaresma para que no sábado santo se receba os sacramentos da iniciação. Vejam
só, os SACRAMENTOS recebidos aqui é o marco da passagem ao último tempo - 3ª ETAPA, chamado de mistagogia, onde
se aprofunda e se mergulha no mistério cristão, no mistério pascal, na vida
nova e onde se faz uma vivência na comunidade cristã para, então, adaptar-se a
ela e ser um verdadeiro discípulo missionário de Cristo.
Durante
o tempo do catecumenato (Catequese) o RICA prevê algumas entregas de símbolos:
- NA
ADESÃO (passagem do pré-catecumenato ao catecumenato): entrega da Palavra (Bíblia), aqui, no rito da acolhida (descrito
também do RICA), pode ser entregue uma cruz ao candidatos;
- NO
CATECUMENATO: entrega do SÍMBOLO
(Credo), entrega da ORAÇÃO DO SENHOR
(Pai Nosso), precedidos de uma catequese adequada sobre isso.
Pronto.
Não existem mais "entregas" de símbolos previstos no RICA.
Existem
sim, vários RITOS que podem ser feitos: Rito do Éfeta, Rito da Unção,
Exorcismos (orações), Bênçãos, rito penitencial, Escrutínios (são feitos três a
partir do 3º domingo da Quaresma).
Vale
uma orientação para que todos procurem o RICA para conhecer a beleza dos ritos
de iniciação cristã de nossa Igreja. Lembrando sempre que o RICA é um LIVRO
LITÚRGICO de apoio à catequese de Iniciação a Vida Cristã, com orientações
preciosas de catequese, mas, não disciplina o que é a catequese. E não se pode
seguir um "ritual" sem que se faça catequese antes. E nem se pode
"inventar" entregas de símbolos nas celebrações litúrgicas (missa).
É claro que podemos enriquecer muito nossa catequese valorizando as grandes colunas da nossa fé: Mandamentos, Sacramentos, Bem Aventuranças; fazendo celebrações CATEQUÉTICAS, ou seja, celebrações nos encontros de catequese: com o grupo, com a presença de um diácono ou até do padre, com a presença da família, padrinhos; sem que estas envolvam necessariamente toda a comunidade e mude a liturgia da Missa. O catecumenato há muito foi abandonado pela nossa Igreja, nem mesmo nossos pais e avós conhecem os ritos usados pela Igreja da antiguidade. Sempre que possível, fazer uma catequese com a família sobre a simbologia e os ritos que pretendemos resgatar.
Enfim, é isso que eu quis dizer com "excessos de ritos e entregas banalizam a missa e a liturgia". As entregas dos símbolos e os ritos da iniciação, são especiais demais para que se faça "por fazer", somente porque é "bonito". A comunidade precisa sentir o quão especial são os ritos e entregas e não achar que é um ritualismo desnecessário e "demorado" que algum catequista "inventou". Infelizmente muita gente vai á missa com o tempo "cronometrado" no relógio. A nós, cabe fazer com que eles se "apaixonem" pela nossa Igreja e queiram voltar sempre e não, se aborrecer com a demora em acabar a celebração.
É claro que podemos enriquecer muito nossa catequese valorizando as grandes colunas da nossa fé: Mandamentos, Sacramentos, Bem Aventuranças; fazendo celebrações CATEQUÉTICAS, ou seja, celebrações nos encontros de catequese: com o grupo, com a presença de um diácono ou até do padre, com a presença da família, padrinhos; sem que estas envolvam necessariamente toda a comunidade e mude a liturgia da Missa. O catecumenato há muito foi abandonado pela nossa Igreja, nem mesmo nossos pais e avós conhecem os ritos usados pela Igreja da antiguidade. Sempre que possível, fazer uma catequese com a família sobre a simbologia e os ritos que pretendemos resgatar.
Enfim, é isso que eu quis dizer com "excessos de ritos e entregas banalizam a missa e a liturgia". As entregas dos símbolos e os ritos da iniciação, são especiais demais para que se faça "por fazer", somente porque é "bonito". A comunidade precisa sentir o quão especial são os ritos e entregas e não achar que é um ritualismo desnecessário e "demorado" que algum catequista "inventou". Infelizmente muita gente vai á missa com o tempo "cronometrado" no relógio. A nós, cabe fazer com que eles se "apaixonem" pela nossa Igreja e queiram voltar sempre e não, se aborrecer com a demora em acabar a celebração.
Outra
coisa: os ritos do catecumenato foram pensados, em princípio, PARA ADULTOS,
maduros, conscientes do que querem para si. Nós fazemos catequese com crianças
que, muitas vezes, ainda não tem capacidade e maturidade para entender o
mistério da fé e não sabem exatamente, que "escolha" estão fazendo
agora. Cabe aqui, nossas orações para que estes ritos e entregas sejam momentos
"marcantes" o bastante em suas vidas para que eles busquem sempre
conhecer e aprofundar a sua fé.
Catequista
8 comentários:
Parabéns Ângela Rocha, por esse trabalho tão lindo, aprendemos muito contigo!
Obrigado Margarete! Você já está no nosso grupo do Facebook? Nosso endereço:
https://www.facebook.com/groups/catequistasemformacao/
Que riqueza de texto!
Angela veja se isso esta certo: em uma catequese de 3 fases em preparação para a Eucaristia, na primeira se faz a acohida e entrega da Palavra, na segunda a entrega do Pai-Nosso e na terceira o Creio. Essas celebrações devem ser feitas nos encontros e não nas missas, aproveitando o momento para a interação com a família.
Andréia, é isso mesmo, estas entregas são feitas por etapas, a medida que se vá trabalhando estes conteúdos com os catequizandos e eles estejam devidamente "preparados" para receber estes símbolos. O Rito da Acolhida e a entrega da Palavra, é claro, deve ser feito no início da catequese. Mas, estas três celebrações de entrega devem ser feitos PREFERENCIALMENTE NA MISSA, pelo padre e com a presença da comunidade. Outras entregas e celebrações, tipo: Mandamentos, Bem Aventuranças, mandamento do Amor, Penitencial; essas sim, não precisam acontecer numa missa.
Parabéns pela bela explicação, estava com um nó na cabeça kkkkkkk sem entender alguns pontos
Deus abençoe 🙌🏾🙏🏾
Gostei muito de sua explicação Ângela. É que cada formador, quer dar uma informação diferente. Acaba confundindo tudo. Obrigada!
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