CORAÇÃO DE CATEQUISTA
Nome
completo: ANGELA ROCHA
Idade:
48 anos
Paróquia:
N. Sra. Rainha dos Apóstolos – Shangri-lá – Londrina PR
Tempo
de catequista: 09 anos
Agente da Pascom, Catequista e formadora de catequistas com Especialização
em Catequética pela Faculdade Vicentina de Curitiba –Pr.
I. Fale um pouco de sua vida:
1.
Por
que quis se tornar catequista?
Na verdade eu não quis, foi mais ou menos como Elias: me escondi numa
“caverna” o máximo que pude, mas, chegou uma hora que não dava mais... rsrsr...
Comecei minha missão pastoral aos 34 anos na Pastoral da Comunicação.
E considero que meu chamado foi para “profetizar” não exatamente como
catequista, mas, como comunicadora . Comecei na Pascom e fui para a catequese
porque nossa Igreja é cheia de nuances que só Jesus entende ... digamos que a
catequese veio como uma “brisa” em minha vida.
II. Algumas
perguntas:
1. O que é ser
catequista?
É ser mais que “ser de Deus”... é ser
do mundo e das pessoas que vivem nele, é
ser, de certa forma, co-responsável pelos filhos de Deus. Algumas pessoas dizem
que é ser profeta, anunciador, educador da fé... eu diria que é ser a “voz” de
Deus e a ação de Deus entre os homens e mulheres.
Para isso o catequista precisa ter
consciência de que só se “comunica” pela boca, aquilo que sai do coração e é
aprimorado pelo intelecto.
2. Quais os principais
desafios de um catequista?
Hoje os desafios são os mesmos que dos
primeiros profetas, só que, em diferentes contextos. Tal qual os primeiros
apóstolos, o evangelizador se vê num mundo aparentemente hostil, mas cheio da “necessidade”
de fé, de transcendência. As pessoas andam perdidas pelo caminho, e a Palavra é
entendida como resposta para tudo, só que no mundo de hoje, precisamos pensar o
Evangelho como “pergunta”. Temos nos dedicado demais a dar respostas a
perguntas que ninguém faz, o Papa Francisco na EG, afirma isso. O ser humano
precisa “se perguntar” mais: A que veio? Qual é sua missão aqui? O que se
espera dele? Recentemente li uma entrevista em que o Pe. Antonio Spadaro,
pergunta: “O homem de hoje tem necessidade de perguntas. A Igreja sabe
envolver-se com as dúvidas e as perguntas dos homens? Sabe despertar as
perguntas que estão no coração deles sobre a existência?”.
Sem que o catequista entre em diálogo
com o catequizando, compreenda suas expectativas e suas esperanças, entenda
suas motivações e conheça o contexto em que ele vive, não há evangelização. E
aqui eu falo de um catequizando com maturidade para entender os aspectos da fé,
não de crianças.
Penso que o maior desafio, hoje, para
a catequese ainda é deixar o “conteúdo” de lado e partir para o “relacionamento”.
Deixar de pensar no sacramento como “fim” e fazê-lo acontecer como “etapa” na
caminhada de conversão e seguimento. O catequista de hoje precisa pensar em
evangelizar o adulto muito mais do que a criança. Ela não é mais educada na
infância pelo testemunho dos pais, já não vivemos mais um cristianismo de
“berço”, existe pluralidade religiosa dentro até de uma mesma família.
3. Como a catequese é
vista e compreendida pelos pais? Como é feito o encontro dos pais e catequese?
Com raríssimas exceções, os pais pensam a catequese como uma “escola” onde
se ensina o “catecismo” e se recebe a primeira comunhão (com poucas chances de
se receber uma segunda) e o sacramento da Crisma, de preferência no menor tempo
possível. Na verdade, é essa a catequese que receberam e o modelo que conhecem.
A catequese nem sempre é entendida como um processo gradual e contínuo,
que se prolonga por toda vida. Ela é fragmentada: com algumas noções de oração
dada pelos mais velhos, normalmente os avós, na infância; uma catequese entre
os 9 e 13/14 anos para os sacramentos da Eucaristia e Crisma; a volta à Igreja
quando se pretende o matrimônio e depois quando se deseja batizar o filho e,
finalmente, um retorno bem superficial ao trazer os filhos à catequese. Isso
faz com que não haja um comprometimento dos pais com relação à educação na fé
dos seus filhos.
Quantos aos encontros com os pais temos que mudar o conceito de “reunião”
que muitos ainda têm. É difícil trazer os pais à Igreja para um encontro, para
a missa. Infelizmente temos pouca participação dos pais na catequese dos
filhos, o papel da família como “primeira catequista” tem deixado a desejar. A
catequese, como “segunda” etapa da evangelização, tem tomado para si a
“primeira” (anúncio/querigma) também... etapa esta que caberia aos pais e ao
contexto social que a criança ou adolescente está inserida: família, avós,
escolinha infantil, amizades.
Estamos agora vivendo um tempo em que a evangelização precisa atingir, não
tanto as crianças, como os pais, os adultos. Existe um grande esforço da Igreja
em retomar o modelo Catecumenal de Iniciação à Vida Cristã, reevangelizando e
trazendo de volta aqueles que receberam uma catequese ao estilo “cursinho para
receber sacramento”, no entanto ainda há uma longa caminhada nesse sentido, que
começa pela conscientização e formação do próprio clero e dos agentes de
pastoral. Algumas paróquias tem tentado a experiência da catequese familiar e a
inserção do modelo catecumenal na catequese com as crianças e adolescentes.
4. Como o catequista
traduz a teologia catequética – presente em tantos documentos bonitos da Igreja
– em linguagem que se preste à comunicação com os catequizandos?
Esse é um assunto bastante delicado. Nos processos formativos com os
catequistas eu vejo muita gente com anos de caminhada, que não conhece, por
exemplo, os documentos do Papa. O próprio Diretório de Catequese – DNC, com
quase 10 anos, ainda é desconhecido por muitos catequistas. O Catequese
Renovada, marco da catequese no Brasil, com mais de 30 anos, é ainda uma
surpresa para muitos.
E assim, o catequista conta, na verdade, com sua própria interpretação das
Escrituras Sagradas, sem base teológica. Quase não temos estudos bíblicos. Ele
se apoia, quase sempre, nos conteúdos de manuais, em roteiros já construídos, sem
um estudo aprofundado dos temas. Posso dizer, sem medo de errar, que não existe
exatamente uma teologia catequética “traduzida” numa linguagem que o catequista
entenda e possa, desta forma, levar para o seu “fazer” catequético e comunicar
aos seus catequizandos. È mais uma prática daquilo que vêm sendo feito pela
geração anterior sem muito questionamento.
5. Como a catequese deve
falar realmente ao coração das pessoas?
Pelo testemunho da “experiência de Deus”. Eu diria que ela “fala”
exatamente como “deve”... rsrrrs... Pela ação do Espírito Santo, presente na
vida e no testemunho de tantas pessoas. Vemos tanta carência de formação e
apoio que é surpreendente que ainda existam tantas pessoas dispostas a assumir
o papel de catequista nas paróquias. Aqui eu parafraseio Ir. Nery: a catequese
só resiste mesmo na Igreja, por absoluta “rebeldia do Espírito Santo”. Penso
que, se fosse aliada a essa “rebeldia” - que aqui troco por “disposição” - um
empenho verdadeiro da Igreja em formar seus agentes, teríamos uma catequese bem
mais eficaz.
6. O que é preciso ter
além da formação?
Aqui podemos citar o tripé da metodologia catequética: SER, SABER e SABER
FAZER. Antes de aprender, adquirir conhecimentos que embasem o “ensinar” a fé, o catequista precisa SER
uma pessoa de fé, testemunhar com sua vida e exemplo a fé em Jesus Cristo e a
pertença na Igreja instituída por Ele e construída pelos seus discípulos. É
preciso Vocação e Dom, sem essas coisas a catequese se transforma em mera
transmissão de doutrina. O catequista precisa mostrar a “experiência de Deus”
em sua vida e uma intimidade com a Palavra, além dos conhecimentos que adquire
nas formações.
7. Como educar para o
amor, transmitindo valores humanos e cristãos, nesse mundo plural e
fragmentado?
Relacionamentos. Não tenho outra palavra. Precisamos conhecer e entender as
pessoas e nos tornarmos mais “disponíveis” a elas. Não vamos transmitir valores
e nem “ensinar” a amar sem amarmos aqueles que nos são confiados. E não apenas
a eles como seres independentes. Eles vêm de uma família que precisa ser
conhecida, entendida e amada. Apesar de sermos tão plurais em nossas crenças,
atitudes e valores, somos seres oriundos de um mesmo Criador e temos as mesmas
necessidades: amor, reconhecimento, atenção e aceitação das nossas diferenças e
erros.
E há que se considerar também, nestes tempos em que a tecnologia e as
informações dominam praticamente todos os espaços, que o catequista precisa
estar no meio digital também. È neste mundo que as pessoas estão vivendo e
“convivendo” mais uns com os outros. Temos agora o desafio de evangelizar na
era da cultura digital. Nesse sentido, o mundo pede uma Nova Evangelização voltada
para mais um espaço que toma forma na vida das pessoas, cada vez mais.
Entrevista para matéria da
Revista Digital Sou Catequista – 6ª Edição
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