Hoje é um dia especial: Domingo do Cristo Rei do Universo,
fechamento do ano litúrgico. E não há, em muitas paróquias, a presença de
catequizandos na missa. Isso porque a catequese já decretou “férias”. E quem
tinha que receber os sacramentos, já recebeu.
Não consegui nem tirar minha
filha da cama. Eita Mãe e catequista incompetente! “Ah Mãe! A catequese já acabou”. E assim é com muitos pais. Já é um
tanto difícil levar os filhos à missa normalmente, que dirá quando a catequese
já promoveu as festinhas de despedida e os catequistas já deram “adeus” às
turmas até o próximo ano.
E a partir do próximo domingo
viveremos um dos tempos mais fortes da liturgia: o Advento. E onde estarão nossas crianças? De férias, é claro! E é
possível que só voltem a “viver” Igreja somente lá pelo mês de março, já que o
carnaval é no final de fevereiro em 2017. Até começarmos de fato, será meio da
quaresma.
Fico pensando como explicar ou
justificar essa “organização” da catequese. O fato é que nem é preciso. Ninguém
estranha. Afinal a catequese sempre foi dissociada da Liturgia. O ano litúrgico
é apenas “ponto” do conteúdo da catequese. As crianças e jovens aprendem o que
é, quais os tempos, cores, etc., mas, viver,
praticar, é outra história. Exigiria muito mais que o comodismo e a ineficácia
de nossa catequese.
Estou sendo dura eu sei, mas,
explico: É extremamente difícil aos catequistas estender a catequese do ano
para algo mais além daqueles 28 ou 30 encontros anuais. É de praxe que se tenha
pelo menos três meses de parada no final do ano - coisa que nem a escola formal
faz mais - e mais um mês no meio do ano. Não, não dá para dedicar mais que oito
meses a missão. É demais! Isto para mim parece um tanto “preguiçoso” da nossa
parte.
E também, como explicar aos
pais que não se tira férias de Deus? Difícil. Aí a gente se agarra aquelas
velhas desculpas:
- De que as crianças precisam
descansar... Descansar do que? De ir à Igreja durante uma hora uma vez por
semana?
- De que os pais querem tirar
férias logo... Como? Eles também deixam de ir à Igreja nas férias?
- De que as famílias viajam
nas férias... Sinceramente, por mais abastadas que sejam, duvido que uma
família fique viajando de férias durante três meses. Muito menos que as
crianças fiquem três meses na casa dos avós! São caso raros.
Ah, poderíamos sim - se
quiséssemos de verdade - viver o Domingo do Cristo Rei e o Advento na
catequese. Mas, falta COMPETÊNCIA para isso, isso sem falar na falta de vontade
mesmo. O padre manda a gente parar? Duvido. Ele não para!
Agora, estranho mesmo, é
perceber nas paróquias onde se vive a Catequese em estilo Catecumenal, que isto
também acontece! Sim, isto mesmo! Em muitas dioceses já se vive uma catequese
orientada pelo Calendário Litúrgico. Que começa e termina no Tempo Pascal. O
início da catequese se dá logo após o Domingo de Páscoa. E, teoricamente, acaba
depois da Quaresma, no tempo pascal ainda. Mas isso é “teoricamente”. Os pais,
acredito, nem sabem disso. É complicado demais explicar a eles. Isto porque, os
pais viveram, também, uma catequese onde o Ano Litúrgico era só teoria!
Fico aqui pensando onde e
quando se viverá, neste novo estilo de catequese, o tempo da Iluminação e Purificação. Porque eles
são vividos nos domingos da Quaresma e tem seu ápice na Semana Santa. Outro
período de “folga” da catequese. Será que a catequese vai criar sua própria
“Semana Santa” em outra data?
Sei que muitos de vocês vão
querer me “pegar pelo pescoço”, afinal, os catequistas precisam de “férias” e
descanso da lida. Ah, sim, claro que precisam. Mas, tiram férias da Igreja e
das celebrações também? E deixemos por conta do pais este tempo... Afinal os
pais também são “catequistas dos filhos”. Ah, claro! Pais que estão precisando mais
de catequese que os próprios filhos...
Estamos de passagem na vida
deles, é verdade. Mas, essa passagem precisa ser de uma longa “viagem” e não
apenas aquela que a gente faz de alguns minutos num ônibus urbano.
Preguiça e falta de competência
soa muito duro, sim. A preguiça eu até retiro e troco por comodismo. Mas a
incompetência eu deixo e ainda reforço! E mais, nem é preciso
"vincular" catequese à missa. Este vínculo é implícito! Ora, então eu
faço catequese para que os catequizandos participarem da missa se quiserem ou
se os pais quiserem? Então viver comunitariamente a comunhão e a Palavra é
opção? Na catequese estou "educando" para a Eucaristia e a vida em
comunidade. Se os catequizandos declinam dessa vivência, que catequese estou
fazendo? Os pais nos trouxeram suas crianças, elas estão ali, resta-nos fazer
um bom trabalho, inclusive de catequese familiar!
As palavras, às vezes, soam
duras, mas são necessárias. Neste nosso “sistema” de evangelização, achamos que,
quem menos tem culpa somos nós, catequistas. Porque não está em nossas mãos
muitas das decisões que, realmente, seriam eficazes para uma catequese que
consiga tocar família e catequizando. Porém, muitas vezes nos omitimos em
nossas paróquias e reuniões para evitar bater de frente com as lideranças,
outras vezes não procuramos nos reciclar e nem entender e muito menos analisar
a eficácia que está tendo a nossa evangelização. A verdade é que, quando não
conseguimos criar vínculo entre
homem/Jesus/Eucaristia (que acontece na missa!), não atingimos o objetivo maior
que é a “pertença” e o “seguimento” ao projeto do Reino. Certamente falhamos
aí, como falham os pais, como falham os padres, como falha a comunidade.
E aí, já nem penso em
"culpa". É como as coisas são e vem vindo ao longo do tempo. O que
acontece é que nos "acostumamos", nos acomodamos a pensar que não
vamos conseguir mudar as coisas. E, assim como temos catequistas comprometidos
que veem tudo isso, que lutam para mudar, para interferir na organização da
catequese; temos também aqueles que sequer tem consciência de que as coisas
podiam ser diferentes. E enquanto isso caminhamos em busca da nossa santidade, errando
e acertando. Mas, nunca deixando de “pensar” que esta missão é nossa.
Festejemos o REI! Mas, não
podemos esquecer que Ele precisa de nós para ajudar a construir o Seu REINO.
Um excelente início de Ano
Litúrgico para todos!
Ângela Rocha
Catequista
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