O JOIO E O TRIGO
A parábola do joio e do trigo revela
uma profundidade antropológica: o bem o mal coexistem em nosso coração. Não
podemos negar isso, nem seria diabólico admitir tal realidade. E mais: não
podemos arrancar o mal. Fazemos, portanto, coisas boas e coisas não tão boas,
ainda que desejemos dividir a realidade em dois grupos: de um lado os bons
(onde nós estamos), de outro lado os maus.
Jesus nos ensina que o trigo cresce
com o joio. Ele não deseja arrancar o joio antes do tempo. Nós carregamos o bem
e o mal, pois ainda não somos santos, plenos. A plenitude virá por graça, para
além desta história. Precisamos aprender a conviver com o mal, sem se conformar
com ele. Não podemos ficar frustrados por ainda não sermos perfeitos, pois não
chegamos à plenitude do Reino. Precisamos integrar o mal, ou seja, aprender com
ele, não dar tanta força para nosso lado sombrio, aceitando o fato de que somos
pecadores. A psicologia analítica corrobora com esta linha de pensamento. Este
modo de conduzirmos a vida é muito mais humano. Desumano é ficar se culpando
por qualquer falha, é tentar, com as próprias forças e com propósitos inúteis,
alcançar uma perfeição inatingível.
Outro equívoco seria não compreender que
as pessoas carregam o seu joio. Assim, não é justo julgar os que não agem ou
pensam como nós ou fazer justiça, condenar todo o mal deste mundo. Apenas Deus
pode fazer a justiça, só ele vai separar o joio do trigo no fim dos tempos,
isso não cabe a nós.
As parábolas de Jesus nos ensinam a
termos uma paciência histórica diante da realidade do já e ainda não.
Poderíamos perder a esperança diante dos males do mundo, poderíamos nos
revoltar contra Deus diante das injustiças da história. A parábola nos ensina a
esperar, pois o Reino de Deus cresce gradativamente. Às vezes não tão
gradativamente assim, pois há retrocessos históricos no âmbito global, social e
pessoal. O importante é que sejamos fermento na massa, sinais do Reino,
cultivadores de boas sementes, ainda que tenhamos sementes estragadas…
São Paulo afirma que o Espírito Santo
ora em nós com gemidos inefáveis. Já vimos, no domingo anterior, que o gemido
do Espírito é uma ânsia positiva, pois geme a expectativa da plena liberdade
dos filhos de Deus e da libertação integral de todo o Universo. É isso que
desejamos – um mundo sem males, sem dor, sem lágrimas, sem morte. É isso que o
Espírito anseia, mas também nos ensina, ao trabalhar em nosso interior, que
isso não vem de uma hora para outra, que ainda não chegou o tempo, que não
podemos saciar no agora todos os nossos desejos.
Por isso, São Paulo nos orienta que
não sabemos pedir o que convém. Presos em nosso egoísmo, pediríamos milagres e
a cura definitiva de todo mal. Mas com o auxílio do Espírito, ansiamos tudo
isso na paciência da história, na certeza de que Deus vai nos guiando em cada
vitória e em casa derrota da jornada. A oração do Espírito geme para que o
Reino venha: Venha a nós o Vosso Reino, enquanto caminhamos neste mundo de
ambiguidades, nós que somos povo santo e pecador, nós que em nossa miséria
somos dignos, pela misericórdia, de trabalhar para que o Reino seja já, ainda
que por antecipação. Amém!
Pe. Roberto Nentwig
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