HOMILIA 5º DOMINGO DA QUARESMA – ANO B
Jeremias nos diz que Deus
estabelecerá a casa de Israel e com a casa de Judá uma aliança nova. No Novo
Testamento temos a eterna aliança, chamada de testamento. A herança que nos é
trazida, o movo acordo é selado pela morte de Deus – Cristo, Deus encarnado dá
a sua vida na cruz. A Nova Aliança é a solidariedade de Deus. Sua morte é o ponto
mais alto desta solidariedade.
Cristo, mesmo sendo Filho de
Deus, foi um homem que experimentou a fragilidade e debilidade dos homens.
Sofreu, chorou, sentiu angustia e medo diante da morte, como qualquer ser
humano o faria. Por isso, Jesus é o
sumo-sacerdote capaz de entender as fraquezas e fragilidades dos homens. A
partir dessa compreensão, Ele será também capaz de dar-lhes remédio. O Senhor
partilhou as nossas dores, medos e incertezas. Ninguém está sozinho diante da
dor, do sofrimento. Cristo nos toma pela mão, sofre conosco, entende de dor.
Antes de se revoltar diante do sofrimento, lembremo-nos que Cristo também
sofreu.
Na Nova Aliança, a liberdade
do homem –Deus assume a vontade do Pai. Jesus orou com intensidade. A Carta dos
Hebreus alude, provavelmente, à oração de Jesus no Monte das Oliveiras, pouco
antes de ser preso: “Pai, afasta-me deste cálice, mas que não seja feita a
minha vontade” (Mc 14,36). Ele foi atendido em sua prece, pois sua oração não o
eximiu da vontade do Pai, da sua missão. Não aceitou a dor pela dor, não queria
morrer, mas aceitou a vontade de Deus. Pela oração conhecemos a vontade do Pai,
não simplesmente pedimos que se faça a nossa vontade, que muitas e muitas vezes
é egoísta.
A Nova Aliança é a cruz de
Cristo, abraçada por amor. Só o amor como dom total é gerador de vida: “Em
verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo caído na terra não morrer,
permanece só; se morrer produz muito fruto” (Jo 12,24). Quem quiser gerar a
vida, deve morrer. A vida é morte – eis o mistério da Páscoa! É a doação da mãe
que sofre pelos filhos, é tempo gasto, é vida investida. Quantos são os
exemplos de mortes que geram a vida para a comunidade e para a sociedade?
Quantos doam de seu tempo, de seu dinheiro da renúncia de sua comodidade?
Quantos foram mais longe, morrendo em nome de Cristo – os mártires, como Oscar
Romero? Quantos gastam a vida em nome do amor aos pequenos como o fez Tereza de
Calcutá?
Quem ama a si mesmo e se
fecha num egoísmo estéril, quem se preocupa apenas em com defender os seus
interesses e perspectivas, perde a oportunidade de chegar à vida verdadeira, à
salvação. O apego egoísta à própria vida levará ao medo de agir, à dificuldade
em comprometer-se, ao silêncio perante a injustiça.
Na Páscoa- nossa Páscoa, o
nosso morrer deve se transformar em vida. É por isso que cada domingo temos uma
nova Páscoa, ou seja, a memória da salvação oferecida por Deus: o Senhor se oferece, dá a vida. Sua morte e
ressurreição é o que celebramos. Este mistério deve configurar toda a nossa
vida. Que a Eucaristia seja a força renovadora de nossa existência.
Pe. Roberto Nentwig
Arquidiocese de
Curitiba-PR
FONTE: NENTWIG, Roberto. O Vosso Reino que também é nosso. Reflexões Homiléticas - Ano B. Curitiba; Editora Arquidiocesana, 2015. pg. 79.
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