A celebração do Domingo de Ramos
nos traz duas ideias antagônicas que estão ao mesmo tempo unidas: a exaltação e
a humilhação. São duas realidades humanas experimentadas em várias ocasiões da
vida.
Jesus, como qualquer ser
humano, passou por estes dois extremos e as consequências foram decisivas para
a sua vida terrena. O mesmo povo que exaltou o Senhor em sua entrada triunfante
em Jerusalém, abandonou-O no seu momento
derradeiro, e até mesmo O condenou. O final da vida de Jesus nos mostra que o
aplauso fácil não nos garante absolutamente nada.
Aqueles que fazem algum
feito extraordinário, os que manifestam competência são aplaudidos. Mas nem
todo aplauso denota verdadeiro reconhecimento. Em muitos casos, os aplausos
significam bajulação, adulação interesseira. Assim, também os incompetentes são
ovacionados, se possuem algum poder. Ao carregar ramos nas mãos, podemos
refletir sobre as ocasiões que elogiamos de modo fácil os outros e quando
recebemos aplausos vazios.
Por outro lado, existe a
humilhação. Os mesmos lábios que elogiam podem insultar, as mesmas mãos que
aplaudem podem bater, a mesma presença alegre pode se transformar na tristeza
da solidão. Em muitas ocasiões nos sentimos derrotados, oprimidos, humilhados.
Como Jesus encarou estas
realidades? Jesus não escolheu o poder, não escolheu a fama, nem o elogio, não
assumiu uma atitude triunfalista. Seu desejo não era encabeçar uma revolta, mas
sim uma reforma radical. Jesus não tinha a intenção de mudar a realidade por
meio da violência: “Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser
igual a Deus uma usurpação, mas Ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a
condição de um escravo”(Fl 2, 6-7). Se a exaltação do povo foi o caminho para a
humilhação de Jesus, o esvaziamento humilde do Senhor foi o caminho para a sua
exaltação: “Por isso, Deus o exaltou sobremaneira” (Fl 2,9).
As escolhas de Jesus nos
levam a refletir sobre nossas escolhas. Também podemos escolher estar em
evidência, escolher o reconhecimento. Podemos aplaudir indevidamente ou sermos
aplaudidos. Podemos escolher uma atitude religiosa de êxtase, de gratificação
fácil. Podemos também projetar nossas esperanças em algum líder revolucionário
ou em um pregador. Outra possibilidade é escolher aquilo que não aparece e que
não tem valor. Podemos escolher a discrição, o serviço simples sem
reconhecimento. Podemos escolher o caminho doloroso da cruz para que o Senhor
nos exalte. As escolhas constituem um paradoxo: o triunfo fácil nos destrói,
enquanto o caminho da cruz nos leva à vida.
Jesus assume nossa vida e
nossa dor. Seu coração chagado não apenas sentiu a lança, mas o abandono.
Sentiu-se abandonado pela multidão, pelos discípulos, pelo próprio Deus. No seu
abandono tornou-se solidário nos maiores dramas do ser humano: o abandono da
morte. No total abandono do Senhor, no seu silêncio, alguém reconhece que Ele é
o filho de Deus. O Evangelho de Marcos narrou várias vezes Jesus se opondo
àqueles que reconheciam que que era Ele o Messias, pois o faziam de modo
indevido, sem entender o que realmente é o messianismo. Sua verdadeira messianeidade
se revela na cruz, na sua humildade, na sua kenosis,
no seu rebaixamento total, no enfrentamento da violência com o silêncio do
amor, na sua doação total. O Rei-Jesus verdadeiro não é reconhecido em uma
entrada triunfal sob aplausos da multidão, mas na sua capacidade de amar
revelada na Santa Cruz.
Hoje podemos continuar
aplaudindo o Senhor, enquanto somos passivos diante da dor humana, diante dos crucificados
que surgem diante de nós pedindo uma palavra, um consolo, um gesto de amor.
Também poderemos tentar encontrar o Filho de Deus sem cruz, sem o verdadeiro
significado de sua existência e missão. Os ostensórios dos altares correm o
risco de tornar a imagem de um Jesus aplaudido por uma multidão inconsciente
sobre a verdade mais profunda do Filho de Deus.
A atitude do filho de Deus
continua sendo desconcertante. O Senhor nos revela que as luzes do prestígio e
da fama são efêmeras, secundárias. Só pode montar num jumentinho quem é muito
consciente de sua grandeza interior, aquele que não se importa com as
aparências.
Pe. Roberto Nentwig
Arquidiocese de
Curitiba-PR
FONTE:
NENTWIG, Roberto. O Vosso Reino que também é nosso. Reflexões Homiléticas - Ano B. Curitiba; Editora Arquidiocesana, 2015. pg. 79.
NENTWIG, Roberto. O Vosso Reino que também é nosso. Reflexões Homiléticas - Ano B. Curitiba; Editora Arquidiocesana, 2015. pg. 79.
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