Iconografia: Dom Ruberval Monteiro, OSB.
Uma antiga
meditação sobre a frase do Creio: "Desceu à mansão dos mortos". É o mistério que celebramos hoje no Sábado
Santo. O narrador nos apresenta o significado salvífico da morte de Jesus e de
sua descida à mansão dos mortos por meio de um diálogo de Jesus Cristo com Adão
A descida
do Senhor à mansão dos mortos
Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a
terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o
Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito
homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e
despertou a mansão dos mortos.
Ele vai antes de tudo à procura de Adão, nosso primeiro pai,
a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e
na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos,
agora libertos dos sofrimentos. O Senhor entrou onde eles estavam, levando em
suas mãos a arma da cruz vitoriosa. Quando Adão, nosso primeiro pai, o viu,
exclamou para todos os demais, batendo no peito e cheio de admiração:
- “O meu Senhor está no meio de nós”. E Cristo respondeu a
Adão:
- “E com teu espírito”. E tomando-o pela mão, disse:
- “Acorda, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e
Cristo te iluminará. Eu sou o teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho;
por ti e por aqueles que nasceram de ti, agora digo, e com todo o meu poder,
ordeno aos que estavam na prisão: Saí!; e aos que jaziam nas trevas: ‘Vinde
para a luz!’; e aos entorpecidos: ‘Levantai-vos!’.
Eu te ordeno: Acorda, tu que
dormes, porque não te criei para permaneceres na mansão dos mortos. Levanta-te
dentre os mortos; eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos;
levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança.
Levanta-te,
saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa. Por ti,
eu, o teu Deus, me tornei teu filho; por ti, eu, o Senhor, tomei tua condição
de escravo. Por ti, eu, que habito no mais alto dos céus, desci à terra e fui
até mesmo sepultado debaixo da terra; por ti, feito homem, tornei-me como
alguém sem apoio, abandonado entre os mortos. Por ti, que deixaste o jardim do
paraíso, ao sair de um jardim fui entregue aos judeus e num jardim,
crucificado. Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi, para restituir-te o
sopro da vida original. Vê na minha face as bofetadas que levei para restaurar,
conforme à minha imagem, tua beleza corrompida. Vê em minhas costas as marcas
dos açoites que suportei por ti para retirar de teus ombros o peso dos pecados.
Vê minhas mãos fortemente pregadas à árvore da cruz, por causa de ti, como
outrora estendeste levianamente as tuas mãos para a árvore do paraíso. Adormeci
na cruz e por tua causa a lança penetrou no meu lado, como Eva surgiu do teu,
ao adormeceres no paraíso. Meu lado curou a dor do teu lado. Meu sono vai
arrancar-te do sono da morte. Minha lança deteve a lança que estava dirigida
contra ti.
Levanta-te, vamos daqui. O inimigo te expulsou da terra do paraíso;
eu, porém, já não te coloco no paraíso mas num trono celeste. O inimigo afastou
de ti a árvore, símbolo da vida; eu, porém, que sou a vida, estou agora junto
de ti. Constituí anjos que, como servos, te guardassem; ordeno agora que eles
te adorem como Deus, embora não sejas Deus. Está preparado o trono dos
querubins, prontos e a postos os mensageiros, construído o leito nupcial,
preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os
tesouros de todos os bens e o reino dos céus preparado para ti desde toda a
eternidade”
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