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sexta-feira, 10 de abril de 2020

LITURGIA, TRADIÇÕES E QUARENTENA DA SEMANA-SANTA



No Domingo de Ramos, deu-se início à Semana Santa, o tempo mais forte de nossa fé cristã. Fiz algumas anotações sobre a Liturgia (leituras e ritos), tradições (gerais ou da paróquia na qual participo) e a forma de vivenciar essas importantes celebrações nesta quarentena (por causa da pandemia do corona vírus), para melhor vivenciar essas celebrações.

SEGUNDA-FEIRA SANTA

A leitura de Isaías 42,1-7 descreve "o eleito de Deus", "centro da aliança do povo, luz das nações, para abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas". O Salmo 26 (27) confirma o que diz a leitura: "O Senhor é minha luz e Salvação". No evangelho (João 12,1-11), Maria lava os pés de Jesus com suas lágrimas (seu sentimento mais profundo), seca-os com os seus cabelos (sua vaidade), banhando-os também com um precioso perfume. Como Maria, precisamos aprender a dar o melhor de nós para o Senhor. Começamos a recordar o caminho de Jesus até o calvário.

Há alguns anos, fazíamos a Procissão do Encontro. Arrumávamos um andor com a imagem do Senhor dos Passos (carregado pelos homens) e outro com a imagem de Nossa Senhora das Dores (carregado pelas mulheres). Saindo de duas comunidades diferentes, percorríamos as ruas da cidade, cantando e rezando... e nos encontrávamos e voltávamos para a matriz.

    

Neste ano, tivemos a missa online da Segunda-feira Santa, recordando que somos chamados a escolher sempre o melhor para dar para Deus. Como o gesto de Maria Madalena com o perfume, as lágrimas e os cabelos, busquemos sempre entregar e oferecer o melhor de nós a serviço de Deus e dos irmãos. Rezemos por todos os irmãos que estão trabalhando para que nós fiquemos em casa com segurança.

TERÇA-FEIRA SANTA

A leitura de Isaías 49,1-6 anuncia a vocação de profeta "Tu és o meu servo, Israel, em quem serei glorificado", bem como o Salmo 70 (71), "Minha boca anunciará vossa justiça!" No evangelho segundo João 13,21-33.36-38 Jesus anuncia a traição e sua morte, mas Pedro e os discípulos não compreendem como as coisas vão acontecer.


Na paróquia, costumamos fazer a celebração penitencial, com um bom exame de consciência e cantos que nos ajudam a refletir, rezar e nos reconciliar com Deus. Ao final, o padre atende confissões.

Neste ano, com a celebração penitencial online, não foi diferente. Fizemos um belo exame de consciência. Depois de cada reflexão, cantamos: "Piedade, Senhor! Tende piedade, Senhor! E liberta a minha alma para o amor!" Ao final, a música "Abraço de Pai" firmou nossa reconciliação com Deus e houve um momento de adoração online, onde tivemos que prestar mais atenção na celebração e perceber o sentido de cada parte: arrependimento, exame de consciência com pedido de perdão e o abraço do Pai (com o canto e a adoração). Desta maneira, centramo-nos mais na reflexão, na importância de obter o perdão de Deus para voltar à Sua presença. E o valor do perdão: perdoar também é amar. A consciência precisa denunciar nossos pecados, mas também nos acolher de volta, nos devolver a esperança.

QUARTA-FEIRA SANTA

A leitura de Isaías 50,4-9 explica que o discípulo do Senhor tem ouvidos atentos, língua afiada, coragem e resistência diante da violência e da humilhação, porque está com o Senhor. O Salmo 68 (69) vai confirmar essa confiança: "Respondei-me ó Senhor, pelo vosso imenso amor!" No evangelho segundo Mateus 26,14-25 Judas entrega Jesus à morte por trinta moedas de prata, o preço de um escravo.



Normalmente, fazemos a Via Sacra nas ruas ao redor da igreja, recordando o caminho do Calvário. Levamos os quadros das 14 estações, acompanhados de um carro de som.


Essas fotos são de uma Via Sacra transmitida "online" na semana passada. As duas catequistas mais a musicista da animação basearam-se no livrinho da Campanha da Fraternidade da CNBB e rezaram as 15 estações, apresentando as imagens e cantos que ajudaram na meditação.


 
Uma amiga minha mora no sítio e montou lá mesmo a Via Sacra e rezou com a família. 

Na minha turma de catequese, também fizemos este momento no 5º Domingo da Quaresma. Enviamos as imagens da Via Sacra e o canto de cada estação, para que os catequizandos refletissem e rezassem em família. Muitos deles nunca tinham rezado a Via Sacra. 

 
Fiz um pequeno altar em casa para este momento, com um tecido roxo (representando o tempo penitencial da Quaresma), uma cruz (recordando a Paixão de Cristo) e uma vela (lembrando que Cristo é a Luz que ilumina a nossa vida). 

Uma das famílias também enviou a foto do altar que fez para a oração. Como não tinham uma cruz, colocaram o terço.
  
QUINTA-FEIRA SANTA

Celebração da Manhã: SANTOS ÓLEOS

Na primeira leitura (Isaías 61,1-3a.6a.8b-9), recordamos que o profeta é ungido por Deus para proclamar a libertação e ser sacerdote, a serviço do povo de Deus. O Salmo 88(89),21-22.25.27 mantém o sentido de missão e envio, porque assim como naquele tempo o Senhor encontra em Davi seu servo e o unge com óleo para o proteger e salvar, hoje quer encontrar em nós a mesma disposição. "Ó Senhor, eu cantarei eternamente o vosso amor." Na Segunda Leitura (Apocalipse 1,4-8), compreendemos que Cristo é o Alfa e o Ômega, princípio e fim da liberdade e da vida eterna, para os quais fomos gerados. E por fim, o Evangelho (Lucas 4,16-21) confirma a Segunda Leitura, colocando a busca do "ano da graça do Senhor", em obras visíveis de fraternidade, justiça e partilha, em Cristo Jesus.

Essa missa é celebrada nas catedrais das dioceses, com a bênção dos óleos do batismo (ou dos catecúmenos) e da unção dos enfermos, da consagração do óleo do crisma e da renovação das promessas sacerdotais. Neste ano, com as missas ocorrendo de maneira privada, a renovação das promessas sacerdotais ocorrerá num outro dia, depois de passada a quarentena.

TRÍDUO PASCAL

É a maior celebração cristã. Inicia com a acolhida da missa da Quinta-feira Santa e termina com a bênção final do Sábado Santo. E na Sexta-feira, não é missa, pois não há consagração. Vamos ver uma a uma.

Celebração da noite: INSTITUIÇÃO DA EUCARISTIA, LAVA-PÉS

A leitura do Êxodo 12,1-8. 11-14 nos recorda a celebração da Páscoa dos judeus: a oferta do cordeiro, a refeição em família (comunidade), o sangue para marcação (sinal de proteção das casas), os pães ázimos (sem fermento), os rins cingidos e sandálias nos pés (indicando a pressa: não podiam esperar!).

No Salmo 115 (116), damos graças e nos unimos ao Cristo, pelo Seu Sangue derramado na Paixão, sinal de Amor e da nossa Salvação. "O cálice por nós abençoado é a nossa comunhão com o sangue do Senhor." 

Na Leitura da 1ª Carta aos Coríntios, ouvimos a instituição da Eucaristia "Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em minha memória." O evangelho João 13, 1-15 nos recorda a celebração do lava-pés e que "se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também deveis lavar os pés uns dos outros". É partilhando com os irmãos na humildade, na caridade e na misericórdia que mostramos quem é o nosso Mestre e o nosso Salvador.

Nesta missa, cantamos o Glória, porque é o início do Tríduo Pascal e há um prefácio próprio na Oração Eucarística. Não há bênção final, pois as celebrações de Quinta a Sábado estão unidas numa única liturgia. A missa se encerra com a Oração depois da Comunhão, após a qual o padre costuma fazer a transladação do Santíssimo para uma capela, onde normalmente fazemos a Adoração ao Santíssimo até as 23h, recordando que Jesus se retirou para rezar no Monte das Oliveiras, antes de ser entregue à morte. Na igreja, o Santíssimo é retirado do altar principal (e do sacrário) e cobrimos as imagens, porque Jesus foi condenado à morte. Às vezes, o padre atende confissões.

Neste ano, haverá a missa online, sem o rito do lava-pés e o canto será mantido. A proposta do padre é que os fiéis separarem um jarro com água, uma bacia e façam o rito do lava-pés com os seus familiares. (É interessante que, no ano passado, o outro padre já havia sugerido esse mesmo gesto.) Uma catequista postou a sugestão de colocar um jarro de água e uma toalha num local de destaque da casa desde cedo, simbolizando a celebração que vivenciaremos à noite.

SEXTA-FEIRA SANTA (15 horas - CELEBRAÇÃO DA PAIXÃO DO SENHOR)

A Primeira Leitura (Isaías 52,13-53,12) traz a figura do servo sofredor, sobre o qual "o Senhor fez recair o pecado de todos nós", antecipando a imagem do próprio Salvador. O Salmo 30(31),2.6.12-13.15-17.25 canta a confiança de que Deus que vem salvar o seu servo: "Ó Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito!". A leitura de Hebreus 4,14-16. 5,7-9 confirma esta confiança em Cristo, nosso Salvador. Por fim, o evangelho (João 18,1-19,42) relata a Paixão do Senhor, desde a condenação injusta até a morte de cruz! O mesmo povo que ora o aclamava o condena. Esse povo somos nós, quando nos afastamos de Deus.

A celebração inicia em silêncio. O padre faz a reverência e se prostra no chão (de bruços) por um breve momento. Aqueles que podem se ajoelham, unindo-se ao padre, em sinal de adoração e entrega a Deus. Em seguida, todos se levantam e fazem uma oração:

Ó Deus, foi por nós que o Cristo, vosso Filho, derramando o seu sangue, instituiu o mistério da Páscoa. Lembrai-vos sempre de vossas misericórdias e santificai-nos pela vossa constante proteção. Por Cristo, nosso Senhor.

Segue-se a liturgia normalmente (e sem o Glória) até a homilia. No lugar da Oração da Assembleia, reza-se a Oração universal, na qual a igreja apresenta suas intenções (dez) e suas orações, encerrando esse momento com a adoração da cruz. Onde é possível, temos a comunhão.

A celebração se encerra com esta Oração sobre o Povo: “Que a vossa bênção Senhor desça copiosa sobre o vosso povo, que acaba de celebrar a morte do vosso Filho, na esperança da sua ressurreição. Venha o vosso perdão, seja dado o vosso consolo; cresça a fé verdadeira e a redenção se confirme, por Cristo Senhor nosso”.

A tradição aqui em Ferraz de Vasconcelos é fazer a Procissão do Senhor Morto e Nossa Senhora das Dores de uma paróquia a outra, ambas as paróquias ficam no centro da cidade, mas uma em cada lado da linha do trem que divide a cidade. É uma procissão bem grande e também participam pessoas da cidade toda, visto que essas duas são as paróquias mais antigas da cidade (as outras seis surgiram há menos de 20 anos).

Procissão com teatro da Paixão

Neste ano, é claro, não haverá a procissão. Lembramos do jejum e abstinência de carne. Podemos colocar uma cruz no centro da sala ou num lugar de destaque e ficar um pouco ajoelhado e em adoração silenciosa, lembrando a Paixão e morte de Jesus. Se você não tiver uma cruz, faça-a com dois pedaços de madeira ou qualquer material firme. Numa paróquia aqui da região, haverá “procissão” sem povo com as imagens de Nossa Senhora e de Jesus por todos os bairros da paróquia.

SÁBADO SANTO (também chamada VIGÍLIA PASCAL)

É a celebração mais importante e mais solene da Igreja.

Na Leitura do Gênesis 1,1. 26-31 temos o relato da Criação e do compromisso do homem para cuidar dela. No Salmo 103 (104), também rezado no dia de Pentecostes (fim do tempo Pascal), pedimos ao Espírito que o homem e a mulher se recordem de sua responsabilidade com a Criação e com os irmãos. Envia o vosso Espírito, Senhor, e da terra toda a face renovai!” Na Epístola (Romanos 6,3-11), Paulo nos alerta que “aquele que vive, é para Deus que vive”. Com o Salmo 117 (118), 1-2. 16-17. 22-23 (também rezado no Domingo) cantamos a alegria e a confiança na ressurreição do Senhor. “Aleluia, aleluia, aleluia!” E, por fim, no Evangelho (Mateus 28,1-10) ouvimos o relato da ressurreição e o nosso envio. “Não tenhais medo. Ide anunciar aos meus irmãos que se dirijam para a Galileia. Lá eles me verão”.

Neste dia, tudo é ritual e solene: Bênção do fogo (fora da Igreja), procissão para dentro da Igreja, Proclamação da Páscoa (canto “Exulte, pela equipe de animação), Liturgia da Palavra (com oito leituras e salmos), Liturgia Batismal, Renovação das Promessas do Batismo, Liturgia Eucarística e Ritos Finais. Normalmente, iniciamos a celebração fora da igreja e celebramos todos esses ritos.



Neste ano, haverá a missa online. Numa paróquia aqui da região, as famílias que são do ECC, Dízimo e Pastoral Familiar receberam o Círio da Família e poderão acendê-lo em suas casas durante a Vigília Pascal.

PÁSCOA DO SENHOR

Na Primeira Leitura (Atos 10,34. 37-43), Pedro relata a ressurreição de Cristo como razão de sua fé. Com o Salmo 117 (118) respondemos que nós cremos. “Este é o dia que o Senhor fez para nós! Alegremo-nos e nele exultemos!” Na Carta aos Colossenses 3,1-4, Paulo nos exorta “esforçai-vos para alcançar as coisas do alto”, pois a nossa vida “está escondida, com Cristo, em Deus”. E o Evangelho traz testemunho de Maria Madalena sobre a ressurreição do Senhor.

Nesta Missa, após a Segunda Leitura, cantamos a Sequência Pascal. Na paróquia, também costumamos fazer o Batismo de crianças, jovens e adultos da catequese.

Neste ano, não haverá os Batismos. Na paróquia, remarcaremos para outra data festiva da Igreja. A Missa será completa e online. Após a Missa, o padre sairá com o Santíssimo, a percorrer as ruas da cidade.

Em outra paróquia da região, junto com essa “procissão” sem povo (que também foi feita no Domingo de Ramos), haverá arrecadação de alimentos numa outra caminhonete, como gesto concreto desta Quaresma e da quarentena. Em outra, junto com a “procissão”, vão distribuir saquinhos com água benta para o povo abençoar suas casas no Domingo de Páscoa.

Sugestão: Jarra com água

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Meu nome é Rossana Suzuki e sou catequista na Paróquia Nossa Senhora da Paz, em Ferraz de Vasconcelos, Diocese de Mogi das Cruzes - SP.

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