FOTO: reprodução ANEC |
A escolha do tema, lema e demais fases de organização da Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE) 2021 foi feita essencialmente de forma remota, a pandemia impediu que os encontros presenciais fossem realizados o que evidenciou ainda mais o valor de podermos nos reunir também durante os dias da Quaresma, para entre outros, falar de Campanha da Fraternidade. O que já é um hábito entre os católicos brasileiros afinal desde 1964 a CNBB propõe temas e lemas a serem refletidos nas comunidades.
Especificamente as Campanhas Ecumênicas tiveram início no ano de 2000, apesar de ter sido sonhada desde a década de 1980. De lá para cá tivemos ao todos quatro Campanhas da Fraternidade Ecumênicas, recordemos quais são os temas e o lema de cada uma:
- Ano 2000: DIGNIDADE HUMANA E PAZ - Por um novo milênio sem exclusões.
- Ano 2005: SOLIDARIEDADE E PAZ - Felizes os que promovem a paz
- Ano 2010: ECONOMIA E VIDA - Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro
- Ano 2016: CASA COMUM, NOSSA RESPONSABILIDADE - Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca.
A Comissão da CFE 2021 (foto abaixo) é formada por representantes das igrejas-membro do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil - CONIC, além da Igreja Betesda de São Paulo como igreja observadora, e o Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e à Educação Popular (CESEEP), como membro fraterno.
Foto:
Reprodução Portal CONIC
Foi essa Comissão que em 7 de janeiro de 2020 escolheu para a CFE 2021 o Tema: "Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor" e Lema: "Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade" (Ef 2,14a), após receber inúmeras sugestões nesse sentido oriundas de inúmeras pessoas e grupos. Esta decisão se caracteriza então como uma resposta ao clamor do povo de Deus diante de tudo o que vivemos nesses últimos tempos e que culminou por fracionar ou mesmo inviabilizar o diálogo nos mais diversos setores da sociedade e infelizmente até em alguns lares.
O texto base sempre nos possibilita conhecer o tema e este ano ele trouxe novidades em sua estrutura e método. A mudança reflete a necessidade de um zeloso debate ao redor do tema e inicia com a exposição das causas sociais que nos trouxeram a este atual cenário como a disseminação de conflitos, o aumento da violência e seu uso como forma de solução para conflitos além das desigualdades e preconceitos do racismo e xenofobia.
Para que o Espírito Santo nos mova na direção de possibilidades condizentes com a Boa Nova de Cristo é preciso construir pontes de diálogos de amor e paz. Assim foi estabelecido como objetivo geral deste CFE 2021 através do diálogo amoroso e do testemunho da unidade na diversidade, inspirados e inspiradas no amor de Cristo, convidar comunidades de fé e pessoas de boa vontade para pensar, avaliar e identificar caminhos para a superação das polarizações e das violências que marcam o mundo atual. Sendo os objetivos específicos:
- Redescobrir a força e a beleza do diálogo como caminho de relações mais amorosas;
- Denunciar as deferentes violências praticadas e legitimadas indevidamente em nome de Jesus;
- Comprometer-se com as causas que defendam a casa comum, denunciando a instrumentalização da fé em Jesus Cristo que legitima a exploração e a destruição socioambiental;
- Contribuir para superar desigualdades;
- Animar o engajamento em ações concretas de amor ao próximo;
- Promover a conversão para a cultura de amor como forma de superar a cultura do ódio.
- Fortalecer e celebrar a convivência ecumênica e inter-religiosa;
- Estimular o diálogo e a convivência fraterna como experiências humanas irrenunciáveis, em meio a crenças, ideologias e concepções, em um mundo cada vez mais plural;
- Compartilhar experiências concretas de diálogo e convívio fraterno.
Um importante item da Apresentação do Texto Base é conversão ao diálogo e ao compromisso de amor. A conversão não ocorre de forma instantânea ou mágica pois não é um ato único. A conversão é processo, ou seja, uma sequência de atos diária e permanente.
Nesse processo somos questionados a todo
momento como estamos nos portando na vida e na sociedade, estamos agindo corretamente
como discípulos de Cristo diante dos desafios da sociedade atual, seus
conflitos e transformações sociais, econômicas, espirituais, individuais ou
coletivas?
- João 8, 3-13: Jesus ao propor a autocrítica ensina que ninguém está livre do pecado e que o pecador pode ter a chance de continuar a viver livre de julgamentos e acusações após a opção pelo amor e não pela lei, eis que a lei pode ser manipulada para oprimir e o amor sempre gera compaixão, empatia e convivência.
É nesse sentido que o texto-base procura provocar em nós o real e completo significado do seguimento a Jesus, se relacionamos o seu nome mais ao amor ou à intolerância e se vivemos voltados a uma postura de acolhida e compromisso com os mais pobres, vulneráveis e excluídos.
A Quaresma é tempo propício de reflexão e conversão. O jejum proposto pela CFE é o que agrada à Deus apresentado em Isaías 56, 6-8 “desatar os laços provenientes da maldade, desamarrar as correias do julgo, dar liberdade aos que estavam curvados, em suma, que despedaceis todos os jogos? Não é partilhar o teu pão como faminto? E ainda? Os pobres sem abrigo tu albergarás; se vires alguém nu, cobri-lo-ás: diante daquele que é a tua própria carne, não recusarás. Então a tua luz despontará como a aurora, e o teu restabelecimento se realizará bem depressa. Tua justiça caminhará diante de ti e a glória do Senhor será a tua retaguarda”.
Assim a Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE) convida para que possamos jejuar em busca de superar a violência, racismo, preconceitos, e todas as mazelas do mundo atual, com o objetivo de estruturar diálogos de amor e compromissos com a paz.
A caminhada quaresmal, comprometida com uma sociedade justa e amorosa, seguirá como os passos dos caminhantes de Emaús como narra Lucas 24, 13-35 e que o Texto Base traz no item redescobrindo cristo no caminho: a paz do ressuscitado que nos une.
A partir deste item, a leitura do texto base traz uma novidade e foi conduzida pela equipe da Campanha para nos levar ao caminho de Emaús e lado a lado com Cristo, esta caminhada foi dividida em quatro momentos denominados e estruturados como a seguir:
1) VER: TROCANDO IMPRESSÕES SOBRE ACONTECIMENTOS RECENTES
2) JULGAR: CARTA PARA PESSOAS DE BOA VONTADE EM UM MUNDO CHEIO DE BARREIRAS E DIVISÕES
3) AGIR: CRISTO É A NOSSA PAZ: DO QUE ERA DIVIDIDO FEZ UNIDADE
4) CELEBRAR: COLETA DA SOLIADRIEDADE E GESTO CONCRETO
Nesta fase que encerra o Texto Base temos à nossa frente o exemplo primoroso de São Paulo que através de sua conversão foi de perseguidor a apóstolo, portanto deixou a violência contra as primeiras comunidades cristãs para buscar o entendimento entre judeus e gentios com a superação de preconceitos, buscou ainda a existência harmoniosa entre as diferentes comunidades cristãs de sua época.
É com a esperança dentro do coração que percebemos a necessária escolha do Tema para a CFE 2021, assunto atual e que pode ser instrumentalizado para, através das igrejas cristãs e trabalho do CONIC, encontrarmos caminhos de diálogo que nos leve à sociedade justa e pacífica que é capaz de responder à Deus e viver o Reino de Deus.
Fontes:
-
Texto Base da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021
-
Portal do CONIC – Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil
(https://www.conic.org.br/portal/) acesso em 4 de fevereiro de 2021.
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