Reflexão: Liturgia da Quarta-feira de Cinzas, ano B – 17/02/2021
A Quarta-feira de Cinzas é a porta de entrada da Quaresma rumo à Páscoa da Ressurreição. No Brasil, também, damos início à Campanha da Fraternidade. Entramos, assim, no grande tempo em que se vive, de maneira mais intensa, o programa que Jesus nos propõe: oração, jejum e caridade.
A cinza na cabeça é usada em sinal
de penitência, de conversão, de luto pelo pecado. Ao receber as cinzas,
expressamos, com humildade e sinceridade de coração, que desejamos nos
converter e crer de verdade no Evangelho. As cinzas simbolizam o nosso nada diante
do Criador. Fomos criados do pó da terra e ao pó voltaremos.
A Quarta-feira de Cinzas marca o
início dos 40 dias da Quaresma. A Bíblia usa, com frequência, o período de 40
dias ou 40 anos para indicar períodos especiais, que criam um clima adequado
para algo que vai acontecer:
- O Dilúvio durou 40 dias e 40
noites para purificar a humanidade corrompida, foi a preparação para uma nova
humanidade.
- Durante 40 anos passou Israel no
deserto a caminho da Terra Prometida. Foi uma experiência de purificação dos
falsos deuses, de adesão aos mandamentos (Aliança) e de solidariedade.
- Durante 40 dias fizeram
penitência os habitantes de Nínive antes de receber o perdão de Deus.
- Durante 40 dias e 40 noites,
caminhou Elias até chegar à Montanha de Deus.
- Durante 40 dias e 40 noites,
Moisés e Jesus jejuaram no início da Missão.
Assim, os 40 dias da Quaresma são
também um tempo especial de conversão e renovação interior, em preparação da
nossa Páscoa.
A Liturgia nos aponta o espírito
que deve animar esse tempo
Na Liturgia desta Quarta-feira de
Cinzas, veremos, na 1a Leitura (Jl 2,12-18), que o profeta Joel
exorta todo o povo à conversão, ele diz que não basta só o rito externo de
penitência, mas é necessário que a pessoa inteira, do mais íntimo de seu ser,
se volte para Deus. Somente confiando em sua misericórdia, pode, o pecador,
estar certo do perdão. A conversão do próprio coração deve ser o primeiro passo
para uma mudança de vida. A Quaresma é esse tempo oportuno de retomar o caminho
de se abrir à graça de Deus, que nos ama e nos socorre, não obstante nossas
infidelidades, nossas fraquezas, nossas indecisões.
Na 2ª Leitura (2Cor
5,20-6,2), o Apóstolo Paulo nos convida a reconciliar-nos com Deus, com os
irmãos e conosco mesmos, pois é este o momento favorável em que a salvação nos
é oferecida.
No Evangelho (Mt
6,1-6.16-18), Jesus nos convida à conversão e à prática da justiça e nos
apresenta três atitudes importantes que os cristãos são chamados a viver
durante a Quaresma: a caridade, a oração e o jejum. Estas três práticas
religiosas e sociais devem visar ao agrado de Deus e não, necessariamente, aos
aplausos humanos; devem ser realizadas com autenticidade, sem exibicionismo,
este é o conselho de Jesus aos seus discípulos e a todos nós: que, se possível,
só o Pai veja e saiba o bem que é realizado.
Jesus não nega o valor dessas
práticas em relação ao próximo (caridade), a Deus (oração) e a si mesmo
(jejum), mas ele mostra como devem ser feitas para que se tornem autênticas.
- A Caridade: deve expressar
o compromisso com a vida do outro. Qualquer outra motivação transforma esse
gesto em promoção de quem oferece, desvirtuando seu sentido. Deve ser em
segredo e não uma ocasião para se exibir, para ser elogiado ou tirar vantagens
publicamente. Ela não se reduz à oferta de dinheiro, alimentos, roupas e outros
objetos: “Misericórdia, eu quero e não sacrifícios”. Deus espera que tiremos
algo de nós mesmos para Lhe oferecer. A oferta exterior precisa simbolizar e
significar essa doação interior: tiramos algo de nós, um pedaço mesmo, para
oferecer a Deus que vive em nossos irmãos. A caridade deve nos levar a um gesto
de doação aos nossos irmãos, no serviço fraterno, na solidariedade e na
partilha.
Para a Quaresma, propõe-se 15 simples atos de caridade como manifestações
concretas de amor:
1. Sorrir, um cristão é sempre
alegre!
2. Agradecer (embora não precise
fazê-lo).
3. Lembrar ao outro o quanto o
amamos.
4. Cumprimentar com alegria as
pessoas que você vê todos os dias.
5. Ouvir a história do outro, sem
julgamento, com amor.
6. Parar para ajudar. Estar atento
a quem precisa de você.
7. Animar a alguém.
8. Reconhecer os sucessos e
qualidades dos outros.
9. Separar o que você não usa e
dar a quem precisa.
10. Ajudar a alguém para que ele
possa descansar.
11. Corrigir com amor; não calar
por medo.
12. Ter delicadezas com os que
estão perto de você.
13. Limpar o que sujou, em casa.
14. Ajudar os outros a superar os
obstáculos.
15. Telefonar ou visitar mais seus
familiares, parentes e amigos.
- A Oração: deve nos levar a
uma experiência pessoal com Deus, não deve ser uma repetição monótona de
fórmulas, nem mesmo uma lista de petições. Deve ser um diálogo com Deus para
entender e aceitar o seu projeto. Essa oração é escuta e abertura do coração
para nos dispor a acolher os planos de Deus em nós. Requer tempo e ambientes
adequados.
- O Jejum: vai muito além da
abstenção de alimentos, deve nos levar a um gesto concreto de conversão:
privar-se de algo para uma maior liberdade interior. Não é expressão de luto e
de dor, mas sim expressão de alegria pela presença do Reino de Deus no mundo.
Jejuar é criar espaço em nós para que a graça de Deus nos refaça e nos
preencha.
Qual é, então, o melhor jejum?
Algumas dicas:
• Jejum de palavras negativas;
dizer palavras bondosas.
• Jejum de descontentamento;
encher-se de gratidão.
• Jejum de raiva; encher-se com
mansidão e paciência.
• Jejum de pessimismo; encher-se
de esperança e otimismo.
•Jejum de preocupações; encher-se
de confiança em Deus.
• Jejum de queixas; encher-se com
as coisas simples da vida.
• Jejum de tensões; encher-se com
orações.
• Jejum de amargura e tristeza;
encher o coração de alegria.
• Jejum de egoísmo; encher-se com
compaixão pelos outros.
• Jejum de falta de perdão;
encher-se de reconciliação.
• Jejum de palavras; encher-se de
silêncio para ouvir os outros.
Boa reflexão e que possamos
produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Pe. Leomar
Antônio Montagna
Presbítero
da Arquidiocese de Maringá – PR
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