cebi.org |
“Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (16,23).
Este texto é uma continuação do Evangelho em que Pedro, embora tivesse usado os termos certos para descrever quem era Jesus, os entendia de modo errado (Mt 16,16-20). Para Jesus, ser o Cristo (ou Messias) significava assumir a missão do Servo de Javé, descrita pelo profeta Segundo-Isaías, nos Cantos do Servo de Javé (Is 42,1-9; 49,1-9a; 50,4-11; 52,13–53,12). Jesus deixa claro que ser o Messias não significava triunfo nos termos desse mundo, mas o contrário: “sofrer muito nas mãos dos anciãos, dos chefes dos sacerdotes e doutores da Lei, ser morto e ressuscitar no terceiro dia” (Mt 16,21).
Essa visão que Jesus tinha da missão do Messias, não era comum. Em geral, o povo esperava um Messias triunfante e glorioso. Mateus mostra-nos que Pedro partilhava essa visão equivocada, a ponto de tentar corrigir Jesus. Por isso, ganha dele uma admoestação dura: “Vai para trás de mim, Satanás! És um escândalo para mim, porque não pensas as coisas de Deus, mas as coisas dos homens” (Mt 16,23).
Não basta usar os termos certos. Porém, é preciso ter a compreensão certa do que eles significam. A Bíblia conta-nos que Deus criou homens e mulheres à sua imagem e semelhança. Na verdade, porém, muitas vezes nós criamos Deus à nossa imagem e semelhança, para que não nos incomode. A nossa tendência é de seguir um Messias triunfante e não o Servo Sofredor. Mas, para Jesus, não há meio termo. O discípulo tem que seguir o mestre, tem que andar nas suas pegadas: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e siga-me” (Mt 16,24).
O seguimento de Jesus leva à cruz, pois a vivência das atitudes e opções dele vai colocar-nos em conflito com os poderes contrários ao Evangelho. Carregar a cruz não é aguentar qualquer sofrimento passivamente. Se fosse assim, a religião seria masoquismo. Carregar a cruz é viver as consequências de uma vida coerente com o projeto do Pai, manifestado em Jesus. Segui-lo não é tanto fazer o que Jesus fazia no seu tempo, mas o que ele faria se estivesse aqui hoje. Como ele foi morto, não pelo povo, mas por grupos de interesse bem definidos: os romanos, os anciãos, os chefes dos sacerdotes e os doutores da Lei (a elite dominante em termos políticos, econômicos, religiosos e ideológicos), os seus seguidores serão perseguidos pelos grupos que hoje representam os mesmos interesses. Por isso, sempre haverá a tentação de criarmos um Jesus “light”, sem grandes exigências, limitando a religião a uma prática intimista e individualista, sem consequências sociais, políticas, econômicas ou ideológicas.
A nossa resposta à pergunta “E vocês, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16,15) se dá, não tanto com os lábios, mas com as mãos e os pés. Respondemos quem é Jesus para nós na nossa maneira de viver, nas nossas opções concretas, na nossa maneira de ler os acontecimentos da vida e da história. Tenhamos cuidado com qualquer Jesus não exigente, que não traz consequências sociais, que não nos engaja na luta por uma sociedade mais justa. Pois o Jesus real, o Jesus de Nazaré, o Jesus do Evangelho, não foi assim. E deixou claro: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me. Pois, quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la. Mas, quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la” (Mt 16,24-25).
Tomaz Hughes
Congregação Sociedade do Verbo Divino
FONTE:
https://cebi.org.br/noticias/a-missao-do-discipulo-e-a-mesma-do-mestre-mt-1621-27/
Nenhum comentário:
Postar um comentário