E por mais que os catequistas tenham suas opiniões, infelizmente não são eles que decidem. São as comissões diocesanas ou os próprios bispos. Claro que se leva em conta as questões psicopedagógicas, mas, não se costuma "ouvir" os catequistas a este respeito. Fato é que "idade" e "tempo" de catequese são os mais diversos país afora. Até parece que somos vários países dentro de um só. E nem vou falar dos diferentes itinerários e roteiros...
Uma questão que é bastante relevante com relação à idade para iniciar a catequese infantil, é a alfabetização. Por mais que saibamos que "catequese não é aula", ainda precisamos de "leitura", afinal usamos a Bíblia, "livro" por excelência da catequese. Poderíamos até dispensar a alfabetização, mas, com turmas abarrotadas de crianças é bem complicado para um(a) catequista dar conta de todos, se estes não tiverem o mínimo de desenvoltura (maturidade) para entender do que se está falando.
E alfabetização tem muito a ver, também, com o aspecto funcional. Estatísticas alertam que uma boa parte dos adultos são "analfabetos funcionais", ou seja, leem as palavras e frases, mas, não compreendem o signifcado delas. Segundo o IBGE, além de 16 milhões de analfabetos, o Brasil tem aproximadamente 38 milhões analfabetos funcionais. O analfabetismo funcional é quando a pessoa reconhece letras e números, mas não consegue compreender textos simples nem realizar operações matemáticas. E quantas crianças, que já deveriam estar alfabetizadas, vemos assim em nossa catequese? E quantos adultos?
Há muito a catequese do Brasil abandonou a "idade da razão" para se iniciar a catequese. Os sete anos já não dá condição de "alfabetização" para as crianças. Isso que vivemos numa era tecnológica sem precedentes. O mundo digital não é exatamente um ambiente de "leitura". As ciências também alertam para o fato de que a primeira infância é tempo de descobertas e não de "maturidade" para se ler e entender a Bíblia. Cabe aos catequistas esta mediação. E eles e elas estão preparados(as)?
Sendo assim, baseado na psicopedagogia das idades, decidiu-se na maioria das Igrejas particulares que os 8 ou 9 anos é a idade ideal para se iniciar a catequese infantil. E o tempo de duração? Ah, Isso é outra conversa! Vai de longos cinco anos a seis meses. Isso rende outra conversa bem mais longa.
Abaixo trazemos um artigo de D. Juventino Kestering (bispo já falecido em 2021 em decorrência da Covid 19) publicado no Jornal "Missão Jovem" no ano de 2014 quando então era Bispo da Diocese de Rondonópolis MS. Apesar dos quase 20 anos do texto, ele não deixa de ser atual e reflexivo. Será que a catequese deveria ser "nivelada" pela idade? Não seria mais interessante uma catequese baseada na iniciação à vidaa cristã que a criança teve na família e na comunidade?
QUAL
A MELHOR IDADE PARA INICIAR A CATEQUESE?
“Aqui
em nossa comunidade estamos cuidando bem da catequese, mas temos um problema
sobre o qual gostaria de receber um esclarecimento: Qual é a idade ideal para
iniciar a catequese? Faço esta pergunta porque em nossa comunidade existem
opiniões diversificadas que estão gerando uma certa confusão.”
Geralmente
surge esta preocupação porque a nossa mentalidade e prática de catequese está
voltada para as crianças e adolescentes. Nesta perspectiva, a idade é tema de
discussão de catequistas, pais e párocos.
Não
existe idade para iniciar a catequese.
O colo da mãe, do pai, dos avós é o primeiro ambiente propício para a iniciação
da catequese, já que a catequese é um processo que se inicia com o nascimento e
perdura toda a vida. O ambiente familiar e a participação na comunidade são
importantes para a iniciação na vida cristã.
A
questão fundamental não se trata de quando iniciar a catequese das etapas
organizadas pela comunidade ou paróquia. O eixo da preocupação refere-se à
idade para celebrar a Primeira comunhão (Eucaristia).
Infelizmente
ainda existe uma mentalidade de que o importante é a primeira comunhão e não a
catequese como iniciação à fé, à vida comunitária, ao seguimento de Jesus Cristo
e à vivência da fraternidade.
Para
o início da catequese das crianças e adolescentes usamos o critério da idade.
Tem vantagens e desvantagens. De um lado cria uma certa unidade, mas, por outro
lado, valorizamos mais a idade do que a experiência de fé e a iniciação à vida
comunitária. Muitas crianças e adolescentes tem uma linda participação na
comunidade eclesial que, por vezes, a catequese não leva em consideração.
O
critério “idade” nivela a todos como um grupo. E dentro do grupo podem ter
crianças e adolescentes sem nenhuma iniciação à fé e à vida comunitária. Estes,
mais do que catequese, necessitam de evangelização, do primeiro anúncio e da
iniciação à vida comunitária e celebrativa.
O
critério da experiência de fé e iniciação à vida comunitária respeita a
caminhada gradativa que a criança já faz na sua família e/ou na comunidade.
Mais do que discutir idade, precisamos insistir na iniciação à fé, na leitura
orante da bíblia, na experiência e vivência comunitária, nos primeiros sinais
de solidariedade, justiça e partilha com os pobres e excluídos da sociedade.
Estes são alguns critérios que devem orientar a catequese e nortear toda a
discussão com referência à idade.
Dom Juventino Kestering
Jornal - "MISSÃO JOVEM"
Ângela Rocha
Catequistas em Formação
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