DIVISÃO DA
CATEQUESE POR ETAPAS
A divisão da catequese em etapas
sacramentais — Primeira Eucaristia e Crisma — é uma estrutura comum na Igreja
Católica que surgiu ao longo dos séculos, à medida que a Igreja foi organizando
os sacramentos de iniciação cristã de maneira pedagógica e pastoral. Essa
divisão reflete a preocupação da Igreja em preparar os fiéis, em diferentes
momentos da vida, para a plena inserção na comunidade de fé e para a vivência
dos sacramentos de maneira consciente e comprometida.
Contexto Histórico
Os sacramentos da Iniciação
Cristã — Batismo, Eucaristia e Crisma — originalmente eram celebrados juntos,
especialmente nos primeiros séculos do cristianismo. Nas comunidades cristãs
primitivas, a iniciação era vista como um processo unitário, culminando na
recepção dos três sacramentos em uma única celebração, normalmente na Vigília
Pascal, tanto para adultos quanto para crianças. Famílias inteiras recebiam os
sacramentos de iniciação.
Com o tempo, especialmente a
partir da Idade Média, a celebração desses sacramentos foi sendo separada e
passou a acontecer em momentos diferentes da vida. Algumas razões para essa
divisão incluem: mudanças na prática do Batismo infantil, a dificuldade de tempo
dos bispos para administrar a Crisma e a preocupação da Igreja em garantir que
os fiéis estivessem devidamente preparados para receber cada sacramento de
forma mais consciente e madura.
Divisão por Etapas: Eucaristia
e Crisma
1. Primeira Eucaristia
A Primeira Eucaristia, também
conhecida como Primeira Comunhão, marca o momento em que a criança, (a
partir dos 7 anos), recebe pela primeira vez o Sacramento da Eucaristia,
ou seja, participa plenamente da Santa Missa, recebendo o Corpo e o Sangue de
Cristo. A idade de 7 anos é comumente referida como a "idade da razão",
quando a criança já tem capacidade de entender minimamente o mistério
eucarístico e de participar de forma ativa na celebração.
A organização da catequese com
foco na Primeira Eucaristia começou a ser consolidada no início do século XX,
principalmente com o Papa Pio X, que incentivou a prática da comunhão frequente
e determinou, em 1910, na encíclica "Quam Singulari", que as
crianças pudessem receber a Eucaristia a partir dos sete anos. Antes disso, era
comum que as pessoas recebessem a Eucaristia somente após a crisma ou na
adolescência.
2. Crisma (ou Confirmação)
O sacramento da Crisma,
também chamado de Confirmação, normalmente é administrado na
adolescência ou início da juventude, em torno dos 14 a 16 anos. Esse sacramento
é visto como o momento em que o jovem confirma, de forma pessoal e consciente,
os compromissos assumidos por seus padrinhos no batismo, recebendo o Espírito
Santo de maneira plena para ser fortalecido na fé e testemunhar o Evangelho.
A separação da Crisma e da
Eucaristia também se consolidou ao longo da Idade Média. O fato de a Crisma ser
um sacramento ministrado pelo bispo na maioria das tradições católicas (pelo
menos no rito latino) contribuiu para que ela fosse separada do batismo e da
Eucaristia, pois o bispo nem sempre podia estar presente em todas as paróquias.
A preparação catequética para a Crisma foi se desenvolvendo ao longo do tempo
como uma maneira de garantir que o jovem estivesse devidamente preparado para o
compromisso de ser um cristão maduro.
A Divisão Catequética por
Etapas
Com o passar dos séculos,
especialmente após o Concílio de Trento (1545-1563), que reafirmou a
importância dos sacramentos e da catequese, a Igreja foi estruturando a
formação cristã de forma mais organizada e sistemática. Contudo, foi somente no
século XX que essa organização ganhou a forma que conhecemos hoje, com a
catequese dividida em etapas ligadas a cada um dos sacramentos da iniciação
cristã:
1. Catequese de Primeira
Eucaristia: Normalmente realizada durante a infância, dos 7 aos 12 anos, essa
etapa visa introduzir a criança nos fundamentos da fé cristã e prepará-la para
a participação consciente e reverente na Missa.
2. Catequese de Crisma: Realizada na
adolescência, entre os 13 e 16 anos, foca no aprofundamento da fé, na doutrina
da Igreja e no compromisso pessoal de viver como cristão. Há uma ênfase na vida
em comunidade e no testemunho cristão no mundo.
Catecismo da Igreja Católica e
a Catequese Moderna
Após o Concílio Vaticano II
(1962-1965), houve uma renovação profunda na catequese. O Diretório
Catequético Geral de 1971 e o Catecismo da Igreja Católica de 1992
trouxeram diretrizes atualizadas para a catequese, reforçando a importância de
uma formação contínua, que não se limita apenas aos sacramentos, mas abrange
toda a vida cristã.
A divisão por etapas é uma forma
prática de ajudar os fiéis, especialmente crianças e adolescentes, a
vivenciarem sua fé de forma progressiva e adequada às diferentes fases de suas
vidas. No entanto, essa estrutura está sempre aberta a adaptações, dependendo
das realidades culturais e pastorais de cada lugar.
Conclusão
A divisão da catequese em etapas
sacramentais (Primeira Eucaristia e Crisma) é uma prática que surgiu de forma
gradual, como resposta às necessidades pastorais e litúrgicas da Igreja. Essa
divisão, que se consolidou a partir do século XX, reflete o desejo da Igreja de
preparar os fiéis de forma adequada e progressiva para a plena participação na
vida sacramental e comunitária da Igreja.
FONTES:
As informações sobre a divisão da
catequese por etapas (Primeira Eucaristia e Crisma) são baseadas em diversas
fontes históricas e doutrinárias da Igreja Católica, além de documentos
oficiais eclesiásticos. Algumas das principais fontes são:
Documentos Papais: "Quam
Singulari" (1910), do Papa Pio X: Este documento tratou da Primeira
Eucaristia e estabeleceu a idade da razão (por volta dos 7 anos) para a
recepção do sacramento.
Concílios:
§
Concílio Vaticano II (1962-1965): O
Concílio trouxe profundas reformas na catequese e nas práticas sacramentais, o
que levou à revisão da catequese como processo contínuo de formação cristã.
Documentos como Lumen Gentium e Sacrosanctum Concilium abordam a
importância dos sacramentos e da catequese.
§
Concílio de Trento (1545-1563): Embora
focado em responder à Reforma Protestante, o Concílio reforçou a importância
dos sacramentos e da formação catequética, o que mais tarde influenciou a
separação dos sacramentos de iniciação.
Catecismo da Igreja Católica
(1992): Este documento é uma das principais referências atuais para entender a
teologia sacramental, a catequese e as práticas relacionadas aos sacramentos da
Eucaristia e da Crisma. Ele detalha os fundamentos teológicos e as práticas
pastorais que embasam essas celebrações.
Diretório Catequético Geral
(1971) e Diretório Geral para a Catequese (1997): Esses documentos
oferecem orientações práticas e teológicas sobre como organizar a catequese,
incluindo as diferentes etapas ligadas aos sacramentos da iniciação cristã.
LIMA, Luiz Alves de. História
da catequese no Brasil in Teologia Latino-americana –
Enciclopédia digital. UNISAL – Centro Universitário Salesiano de São Paulo.
Texto original português. Enviado em 20/02/2023; aprovado em 20/10/2023;
postado 31/12/2023. Disponível em https://teologicalatinoamericana.com/?p=2712
. Acesso 19/09/2024.
Historiografia eclesial:
Diversos estudos e textos de historiadores e teólogos da Igreja abordam a
evolução da catequese e das práticas sacramentais ao longo dos séculos,
incluindo a Idade Média, o surgimento da Ação Católica e o impacto das reformas
pastorais do século XX.
A evolução da catequese é um tema
amplo, que abrange tanto o desenvolvimento histórico da educação religiosa
cristã quanto as mudanças nas metodologias e abordagens catequéticas ao longo
do tempo. Aqui estão alguns livros recomendados que tratam desse tema:
1. “Catequese Católica no
Brasil: para uma História da Evangelização” – Oscar F. Lustosa – Ed. Paulinas
(1992) - Este livro explora o
desenvolvimento da catequese no Brasil, desde o período colonial até os dias
atuais, abordando como a catequese evoluiu em diferentes contextos históricos e
culturais.
2. “Catequese e Doutrina:
História e Evolução" – José Manuel Alves – Ed. Vozes (2007) - Um
estudo sobre a evolução histórica da catequese, abordando o contexto europeu e
as mudanças que ocorreram no ensino da doutrina cristã, com foco nos Concílios
da Igreja e suas influências.
3. "Catequese Renovada:
Orientações e Conteúdo"– CNBB (1983) - (Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil) - Um documento
essencial para entender a renovação da catequese no Brasil, principalmente após
o Concílio Vaticano II. Aborda a renovação dos métodos catequéticos e sua
aplicação prática.
4. "Diretório Nacional de
Catequese: Subsídios para Estudo"– CNBB (2006) - Este livro oferece uma análise profunda das
diretrizes catequéticas no Brasil e as mudanças ocorridas em função dos
documentos da Igreja, oferecendo um olhar contemporâneo sobre a catequese.
5. "Educação e Catequese"
– Maria Clara Bingemer - Ed. Vozes
(2005). O livro analisa as intersecções
entre educação formal e catequese, propondo reflexões sobre como a catequese
pode dialogar com a educação e a cultura contemporânea.
6. "Catequese e Iniciação
à Vida Cristã" – Pe. Antônio Francisco Lelo - Ed. Paulinas (2008). Focado na iniciação cristã, o livro apresenta
reflexões e propostas para uma catequese mais integrada à vida da comunidade,
baseando-se em documentos recentes da Igreja Católica.
Esses livros oferecem uma ampla
visão sobre o tema, desde o aspecto histórico até as metodologias mais
recentes, ajudando a compreender como a catequese tem evoluído ao longo dos
séculos.
(Essas fontes, em conjunto, ajudam a explicar a evolução da catequese e da estrutura sacramental na Igreja Católica).
Adaptado por Ângela
Rocha – Catequistas em Formação.
Em tempo: Não podemos nos esquecer que a Igreja hoje, prima pela catequese de inspiração catecumenal, onde as "etapas" não tem nada a ver com o que estamos acostumados... Onde tudo acontece deste jeito:
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