Sumário
1. A catequese no Brasil Colonial
2. As intervenções de Marquês de Pombal, expulsão dos Jesuítas e suas consequências
3. Catequese brasileira no século XIX: os bispos reformadores
4. A catequese no Brasil no período pré-conciliar
5. Do Vaticano II (1962-1965) ao final do século XX
6. A catequese a serviço da Iniciação à Vida Cristã: dimensão catecumenal
7. Um panorama fecundo de eventos e atividades catequéticas
Referências
Introdução
A história da catequese no Brasil[1], diferentemente da antiga cristandade
europeia, possui pouco mais que cinco séculos. No entanto, não podemos
considerá-la desligada de sua matriz. Igualmente, além de relatar a linha do
tempo, dos acontecimentos e seus protagonistas, é necessário situá-la no
próprio contexto cultural, político e eclesial dentro do qual se desenvolveram
práticas, conceitos e tendências teológicas que subjazem aos fatos. No entanto,
esse olhar sócio-histórico é acompanhado da visão da fé cristã, particularmente
católica.
O Diretório Nacional de Catequese (DNC), de
2006, assim se expressa:
A história é
lugar da caminhada de Deus com seu povo e do povo com Deus. Nela e por ela Deus
se revela e manifesta o que Ele quer ensinar e o que espera da humanidade.
Jesus Cristo, o Filho de Deus, encarnou-se na realidade humana e num
determinado contexto histórico, que condicionou sua vida, ensinamento e missão.
Viveu, ensinou e nos salvou a partir da história e do que ela comporta. A
história faz parte do conteúdo da catequese. O fiel, iniciado no mistério da
Salvação, é chamado a assumir a missão de ajudar a construir a história hoje,
segundo o Reino de Deus (DNC, 2006, nº 60).
Camões, com a visão de
cristandade vigente em seu tempo, afirma nos Lusíadas que os
portugueses se lançaram aos mares buscando “dilatar a fé e o império” (Canto 1,
estrofe 2). Entretanto, antes mesmo que na América chegassem portugueses ou
espanhóis, como afirmam os bispos do CELAM, em Puebla, “o Espírito que
encheu o mundo assumiu também o que havia de bom nas culturas pré-colombianas.
Ele próprio as ajudou a receber o Evangelho” (DP 201). Sem dúvida essas
“Sementes do Verbo” presentes nestas culturas (DP 401, 403), foram cultivadas e
incrementadas pela evangelização e catequese da Igreja. De fato, como
reconhecem os mesmos bispos em Santo Domingo, “as Sementes do Verbo,
presentes no profundo sentido religioso das culturas pré-colombianas, esperavam
o orvalho fecundante do Espírito” (SD 17). Essas considerações teológicas
permitem-nos avançar no tempo e espaço para aí analisar a história da
catequese no Brasil.
1 A catequese no Brasil colonial
Uma vez introduzido na história
ocidental e aberto para o mundo desenvolvido de então pela presença e ação dos
portugueses, a história do Brasil se entrelaça com a história da evangelização
e catequese. Em 1503 chegaram os dois primeiros missionários franciscanos, na
expedição de Gonçalo Coelho, em Porto Seguro, seguidos mais tarde por outros
frades. Em 1532 fundaram-se as primeiras paróquias, e de 1538 a 1541 a primeira
missão formal instalou-se em Santa Catarina por obra dos mesmos franciscanos.
Os jesuítas chegaram com o
primeiro governador geral Tomé de Souza, em 1549. Sua existência também se
confunde com história do Brasil, tornando-se os protagonistas principais que
acompanharam de perto o crescimento e desenvolvimento brasileiro. Nascidos pouco
antes dentro do espírito da Reforma, e com um enorme impulso missionário,
transmitiram a fé cristã aos indígenas, sobretudo os que habitavam fora dos
centros urbanos.
Com eles começou-se a implantação
de uma catequese mais organizada para os colonizadores
portugueses, seguindo o modelo tridentino; e para os indígenas, uma catequese mais missionária,
bastante criativa e com esforços para atingir aquilo que hoje chamamos de inculturação.
De fato, após as primeiras tentativas de catequizar os indígenas através
de intérpretes, os missionários aprenderam a língua local[2], escreveram catecismos nestas línguas e
usaram a música, o teatro, a poesia, os autos e a dança ritual para a obra
evangelizadora. Tanto nos colégios como na catequese indígena predominava a
metodologia da tradição oral: uma memorização da doutrina mais
mecânica e menos assimilada. Aliás, para os missionários “a questão da
conversão dos índios não era doutrinária, mas uma questão de costumes”,
no dizer do Pe. São José de Anchieta (Leite, 1923, p. 12; Anchieta, 1933, p.
419 e 435).
Dentre os missionários
distinguiram-se o Pe. Manoel da Nóbrega, provincial, e o Pe. São José de
Anchieta, que veio como noviço e se formou no Colégio da Baia,
desenvolvendo uma atividade que o coloca entre os gigantes da primeira
evangelização latino-americana. Fundou colégios (como o de São Paulo, que
originou a atual metrópole), escreveu textos catequéticos, peças de teatro,
gramáticas e poemas em quatro línguas: latim, português, castelhano e
tupi-guarani. Ao mesmo tempo foi evangelizador, catequista, médico, artífice,
pacificador, taumaturgo, mestre-escola, arquiteto: um missionário completo.
Novas levas de missionários
jesuítas chegaram ao Brasil nos anos seguintes, tendo no Pe. Antônio Vieira
(1608-1697) uma figura ímpar. Realizaram “uma obra sem exemplo na história”, na
expressão do historiador Capistrano de Abreu (Abreu, 1945, p. 105). Também
outras ordens religiosas, além dos franciscanos e jesuítas (capuchinhos,
beneditinos, carmelitas, mercedários) se associaram à obra empreendida por eles
na extraordinária tarefa da formação cristã do Brasil. Todos os missionários
enfrentavam inúmeras dificuldades por causa da ambição colonizadora da política
mercantilista, a ponto de o Papa Urbano VIII ter que escrever a bula Comissum
nobis, em 1638, em defesa dos índios, mantendo as disposições de seu
predecessor Paulo III: “proibiu e ordenou que as autoridades também proibissem
escravizá-los e privá-los de seus bens”, sob pena de excomunhão latae
sententiae, reservada ao Pontífice.
Apesar dessas dificuldades, os
missionários se preocupavam não somente com novos métodos e técnicas, mas
também com a superação da simples catequese doutrinal ou instrução (embora os
textos vão muito nesta linha). Estavam muito atentos àquilo que hoje chamamos
de promoção humana e social do indígena dentro de um contexto
hostil e avesso a um tipo de atividade deste gênero. Com menos intensidade, mas
igual zelo apostólico, fizeram esforços na evangelização dos negros que, numa
atitude anti-humana, sofriam a escravidão. Entretanto não tiveram voz para se
opor a tão execrável instituição escravagista.
Este gigantesco trabalho
evangelizador não pode ser atribuído só aos missionários, despojados, abertos à
cultura indígena e com uma alta consciência evangélica. Também os leigos,
especialmente mulheres, tiveram papel importante, infelizmente
esquecido pela história: estiveram sempre ao lado dos missionários, ora
assumindo mesmo a direção das aldeias, ora fazendo parte integrante do processo
catequizador. Ficou célebre a presença do negro José Lopes Espínola,
missionário leigo no Amazonas no fim do século XVII, a quem o próprio Conselho
Ultramarino de Portugal sugeriu uma medalha de ouro pelo seu trabalho de
catequese (cf. Vilela, 1998, p. 289).
Para a organização da Igreja e
principalmente para a história da catequese no Brasil, é de suma importância a
promulgação, já nos inícios do século XVIII, das Constituições do
Arcebispado da Bahia, capital e sede do arcebispo primaz do Brasil, na
época D. Sebastião Monteiro da Vide. Tais Constituições (1707)
orientaram a ordenação jurídico-teológico-catequética na Igreja do Brasil
durante dois séculos. Elas se compõem de 5 livros: no primeiro deles se trata
da obrigação de ensinar a doutrina cristã. O breve catecismo que
lhe é incorporado traz os traços dos catecismos doutrinais europeus. A
importância catequética deste documento é assim ressaltada:
As Constituições da Bahia trazem
à memória dos párocos, dos mestres-escolas e dos pais de família a obrigação de
ensinarem crianças e escravos, seguindo à risca as normas do Concílio de
Trento; oferecem ainda aos catequistas um catecismo abreviado para a instrução,
que denominam de Forma da doutrina cristã, e também um formulário mais
resumido ainda e adaptado para os escravos (Lustosa, 1992,59).
2 As intervenções de Marquês
de Pombal, expulsão dos Jesuítas e suas consequências
As ideias que transformavam a
Europa no século XVIII tinham sua repercussão no Brasil: o iluminismo,
os ideais da Revolução francesa, o mercantilismo,
o despotismo esclarecido. Este último movimento teve
enorme influência no Brasil, através de Sebastião José de Carvalho e Melo,
Marquês de Pombal. Nomeado primeiro-ministro de D. José II, de Portugal, suas
medidas políticas afetaram profundamente a ação da Igreja, particularmente por
causa da expulsão dos jesuítas (1759, reabilitados por Pio VII, em 1814).
Consequentemente perdeu forças a rede de escolas que eles mantinham ao longo do
território nacional. Atitude igualmente danosa à Igreja foi a imposição
do catecismo jansenista, chamado também de Catecismo de
Montpellier (1702, traduzido em português em 1765). Apesar de ter sido
condenado e colocado no Index, em 1721, sob acusação de
jansenismo e de tendências galicanas, o livro foi imposto pelo governo
português, com decreto régio de 30 de setembro de 1770 como texto oficial nas
escolas do Reino português e Colônias. Foi considerado o texto da educação da
fé no território brasileiro, na segunda metade do século XVIII e início do XIX.
Pombal não estava interessado nas questões teológicas desse catecismo, mas em
seu aspecto político, pois o jansenismo via com maus olhos o poder central da
Igreja (Papa, Cúria Romana); e era isso que lhe interessava: minar o poder e a
autoridade de Roma.
Muitos bispos brasileiros
protestaram diante de tal imposição, mas inutilmente; outros, ao invés,
oficializaram o texto em suas dioceses. Foi divulgado por toda parte,
influenciando tremendamente a catequese no Brasil até o início do período
imperial. Mais do que o jansenismo dogmático, teve
grande influência na formação religiosa brasileira o jansenismo moral, com
seu rigorismo ascético fanaticamente exacerbado, a busca da pureza legal sem
limites, a luta indiscriminada contra o espírito de tolerância e o laxismo,
visão negativa da sexualidade e a divulgação de um cristianismo triste (cf.
Lustosa, 1992, p. 67).
Desenvolveram-se, então formas
novas que vieram substituir a catequese oficial que, com essas medidas
pombalinas foi-se definhando. Assim pode ser considerada a catequese
popular que tinha essas características: simplicidade, sem
aprofundamento doutrinal, conhecimento daquilo que é mais importante para um
cristão, prática de um catolicismo bem popular e sem a linguagem e fórmulas
eclesiásticas. Do ponto de vista moral, emergiam costumes e práticas austeras
centradas no essencial, e carregadas de devocionismo, herança portuguesa e
medieval, quase que colocando a mediação dos santos acima do cristocentrismo
evangélico. Tal catequese tornava a transmissão da fé uma tarefa familiar, que
facilmente, e sem contestações ou dificuldades, era praticada.
O cristianismo era transmitido ao
lado dos valores humanos, impregnados dos valores evangélicos. Inevitavelmente
era forte e vigorosa a influência de elementos religiosos indígenas e africanos
na vida cristã. Tal mistura sincrética (diferente da tão proposta e
desejada inculturação) ainda hoje é visível e palpável em
diferentes ambientes brasileiros[3]. Nascia assim o fenômeno da religiosidade
popular, sempre se firmando e crescendo. Ela gerou consequentemente uma
transmissão da fé sem estruturas e formalidades. Era conduzida pelo povo: pais
e mães de família, pessoas simples sem grande instrução, pregadores do povo,
puxadores de terços e novenas, benzedeiras, rezadores, beatas e devotos,
carolas e ermitões. Nesse ambiente de cristianismo simples, mas válido e
sincero, tais figuras se destacavam e muitas vezes assumiam a liderança nas
comunidades.
Crescia concomitantemente
expressões rituais e celebrativas, bem diferentes dos livros litúrgicos
oficiais, orações, mesmo num latim estropiado, adulterado e não poucas vezes
com ressaibos de superstição. A popularidade dessas figuras da religiosidade popular
era tal que a seu redor se juntavam multidões de seguidores, líderes que
ditavam costumes e práticas religiosas populares. Sobreviveram e se
multiplicaram até hoje, manifestando, de um modo concreto junto às pessoas mais
simples, um modo concreto de sentir e viver a Igreja nas bases e no chão do
povo, marcando nossa cultura e folclore religioso.
3 Catequese brasileira no século XIX: os bispos
reformadores
O período imperial no Brasil
nasceu com a vinda da família real, em 1808, para o Rio de Janeiro. É marcado
pela reforma católica, conduzida pelos bispos chamados reformadores[4]. Eles pretendiam alinhar a Igreja do
Brasil com o já longínquo Concílio de Trento, ainda pouco vivenciado em
Portugal e nas colônias. Com isso, também ganha a pastoral catequética. Como em
toda grande reforma na Igreja, ela começa pelo clero, encaminhando-se depois
para a instrução cristã do povo, promovendo a renovação do ensino da
doutrina. Tal renovação torna-se ferramenta importe para a implantação da
reforma. Além de suas Cartas Pastorais, predecessoras dos
atuais Documentos da CNBB, que traçavam diretrizes e orientações,
as visitas pastorais eram ocasiões de os bispos realizarem suas catequeses mais
ortodoxas do que o Catecismo de Montpellier, imposto por Pombal.
Igualmente as Paróquias adotavam uma catequese, sempre de cunho doutrinal,
porém mais conforme o Concílio de Trento.
Novos catecismos começam a
surgir, sinal de vitalidade da renovação catequética a partir de 1840: são
marcados pela dimensão doutrinal e as diretrizes tridentinas. Eram traduzidos
de edições europeias, sobretudo francesas, ou elaborados e adaptados pelos
próprios bispos brasileiros. Foi a época áurea dos Catecismos da
doutrina cristã ou Catecismos teológicos. A multiplicação
de tais textos prepara o ensaio de busca por um texto único para todo o Brasil,
no início do século XX. Além da característica doutrinal, possuíam também o
viés apologético: combatem os erros do jansenismo, do galicanismo e do
liberalismo; são carregados do tom antiprotestante da reforma tridentina, da
qual a nossa reforma era tributária. Desde 1810, devido às cláusulas favoráveis
à liberdade religiosa dos anglicanos, contidas no Tratado do Comércio e
Navegação com a Inglaterra, inicia-se no Brasil a implantação de
igrejas não católicas. Além dos anglicanos, vários pastores protestantes e
imigrantes norte-americanos aportam no país, vindos da guerra de secessão
daquele país. Alguns fundam importantes escolas, como o colégio e a
universidade Mackenzie de São Paulo.
Como no período anterior, além da
catequese paroquial, mais formal e baseada em textos de catecismos doutrinais,
também ministrada em colégios católicos, há ainda uma significativa atividade
mais missionária, de caráter popular, que mantinha e alimentava a fé das
famílias; eram os pregadores leigos populares, que marcaram época,
como: Antônio Vicente Mendes Maciel (Antônio Conselheiro), líder
religioso-político da revolução de Canudos (1897); “São” João Maria, nome
mítico que engloba vários personagens envolvidos em pregações messiânicas,
medicina popular e política, na guerra do Contestado (Santa Catarina-Paraná);
Pedro Batista, na região de Paulo Afonso (Bahia), Ir. José da Cruz (Rio Juruá
no Acre) e Jacobina Meurer (Nova Hamburgo, RS). Junto com os textos de
catequese eram também amplamente difundidos os devocionários, manuais de
oração, novenários, livros de piedade, terços, horas marianas, missão abreviada
(textos para a continuidade das santas Missões) etc.
No final do século XIX e início
do XX realizaram-se alguns esforços de articulação pastoral. D. Antônio Macedo
Costa, bispo de Belém do Pará, nomeado depois Arcebispo da Bahia e Primaz do
Brasil, conseguiu, pela primeira vez na história da Igreja brasileira, reunir o
episcopado em março de 1890 (eram poucas as dioceses), discutir e promulgar
a Pastoral Coletiva do Episcopado Brasileiro. Combate
pretensos erros do momento, marcado pelo positivismo e pela presença maciça de
membros da maçonaria na nascente República, contra a qual se posiciona, assim
como contra a Constituição, Estado laico e liberdade religiosa.
Acontecimentos importantes desse
movimento de romanização foram o Concílio Plenário
Latino-americano (1899, em Roma!) e o Concílio Plenário
Brasileiro (1939), primeiro código jurídico-eclesiástico-pastoral
exclusivo para o Brasil. Entre esses dois acontecimentos realizaram-se outras
assembleias como o Concílio das Províncias Eclesiásticas do Sul, em
Nova Friburgo (RJ) de 12 a 17 de janeiro de 1915. Sua documentação aponta para
o esforço da construção de uma Igreja Católica Romana no Brasil, após a
separação do Estado. Publica uma célebre Pastoral Coletiva e o Catecismo
da Doutrina Cristã, cujas raízes remontam aos bispos “reformadores” do
final do século anterior.
Esse importante Catecismo teve
sua primeira edição em 1903, com grande aceitação e edições sucessivas,
espalhou-se não só pelo Sul, mas também por todo o território brasileiro.
Trata-se de um catecismo doutrinal-teológico, com fórmulas precisas e ao mesmo
tempo simples, dentro do padrão doutrinal, e por isso mesmo, memorizável.
Chegou-se a afirmar que, dentro de seu estilo e características próprias ele
supera até o famoso Catecismo de Pio XI, publicado em seguida.
Na verdade, era um catecismo em quatro níveis: Resumo da
Doutrina Cristã (extrato da doutrina elementar); Primeiro
Catecismo da Doutrina Cristã (catecismo elementar destinado aos
principiantes); Segundo Catecismo (catecismo básico); Terceiro
Catecismo (de nível avançado).
Impôs-se em todo o território
nacional, perdurando suas edições sucessivas até os dias de hoje, com muito
sucesso. Milhões de cristãos a partir de 1903 até às vésperas do Vaticano II,
bem ou mal, foram formados tendo como texto-base esses Catecismo da
Doutrina Cristã. Eram considerados por muitos o catecismo por
antonomásia. De um modo especial nos colégios, suas respostas eram memorizadas,
enquanto se adotavam outros textos, menos doutrinais e mais didáticos, para a
explicação daqueles formulários. As célebres maratonas ou certames promulgados
oficialmente tinham, em geral, como base, os textos do Catecismo da
Doutrina Cristã.
4 A catequese no Brasil no período pré-conciliar
O séc. XX foi o século da
renovação catequética em todos os sentidos, dando início ao movimento
catequético sob a influência do desenvolvimento da Psicologia e da Pedagogia,
ao mesmo tempo em que teologicamente a Igreja caminhava em direção do Vaticano
II. Esta renovação pedagógica, unida às descobertas da psicologia científica, desemboca,
em termos de catequese, nos Congressos de Viena (1912) e de Munique (1928). O
método psicológico de Munique propunha partir de um episódio bíblico,
explicar a verdade aí contida e aplicá-la à
vida. Dá-se grande valor à liturgia e à bíblia: é o incipiente método
querigmático. Na França, Joseph Colomb, François Coudreau, Françoise Derkene e
Maria Tecla Montessori assimilaram e aperfeiçoaram tais tendências,
divulgando-as pelo mundo, inclusive no Brasil.
O Papa São Pio X publicou a
encíclica Acerbo Nimis (1905) e o decreto Quam
Singulari (1910), em polêmica com o jansenismo, abrindo às crianças, a
partir dos 7 anos, o acesso à Comunhão Eucarística. Ao fazer isso, muito
impulsionou a catequese infantil, quase fixando nessa idade os destinatários
principais da catequese, embora prescrevesse também a catequese de
adultos. Seu Catecismo, diferentemente do movimento catequético
europeu, prossegue a tradição de preferência à dimensão doutrinal, mas inova e
avança na dimensão organizacional da catequese. De fato, institui as Congregações
da Doutrina Cristã, destinadas a zelar, estimular e apoiar a catequese
em todas as Paróquias. Tais orientações tiveram boa repercussão, aceitação e
influxo na organização da catequese no Brasil, mais do que seu Catecismo (1905,
1912), feito originalmente para a Diocese de Roma, espalhando-se depois pela
Itália e por todo o mundo católico, sem traços de um catecismo
universal. Aliás, no Brasil, já havia, como dito acima, um
excelente Catecismo da doutrina cristã desde 1901.
A partir da encíclica Acerbo
Nimis, os leigos que no Brasil sempre tiveram uma presença significativa na
catequese, serão valorizados mais ainda. Os párocos, que eram cada vez mais
conclamados a desempenharem com responsabilidade suas graves obrigações com
relação à catequese, buscam seus leigos auxiliares para o trabalho catequético
entre os membros das várias associações paroquiais (Apostolado da Oração,
Congregações Marianas, Vicentinos, Filhas de Maria, Corte de São José etc.).
Esta abertura em favor da participação das/os leigos/as foi reflexo também do
surgimento da Ação Católica na Europa e que se desenvolveu
muito no Brasil. A falta de clero obrigou os bispos e padres a recorrerem cada
vez mais aos leigos. Com isso, as/os catequistas receberam uma formação mais
sólida e profunda. Por tudo isso, São Pio X, papa da catequese, em alguns
países é padroeiro dos catequistas. No Brasil, foi proclamado padroeiro dos
catequistas São José de Anchieta.
Desde o final do século XIX o
chamado dos Bispos para uma maior atenção à catequese vinha da constatação da
crescente ignorância religiosa do povo, o que já apontava
também para uma opção doutrinal da mesma. Por outro lado,
pessoas atentas à eficácia da pedagogia da fé começaram a criticar os
catecismos doutrinais, à base de perguntas e respostas, privilegiando a
memorização das fórmulas concentradas da doutrina cristã. O progresso das
ciências pedagógicas e a evolução do movimento catequético europeu, já nas
décadas de 1920 e 1930, mostraram as fraquezas destes textos. A primeira
renovação significativa veio pela Ação Católica, sob o pontificado
de Pio XI. No Brasil, ela teve um enorme raio de ação, cujos efeitos
continuaram posteriormente, na virada antropológica, sobretudo a atenção aos
graves problemas sociais. Sem o trabalho eficaz e organizado da Ação
Católica, certamente não haveria clima para o surgimento das teologias
da libertação na América Latina, sobretudo no Brasil.
Seus cursos de cultura
religiosa primavam pelo aprofundamento da fé, fugindo, contudo,
daquele nocionismo que caracterizava a catequese
tradicional como doutrina. Leigos bem formados pela Ação Católica assumiam
a vocação de catequistas, alterando um pouco o monopólio da catequese por parte
do clero. Eles descobriam e viviam sua vocação cristã como leigos, marcando uma
presença muito grande de um modo especial na catequese. No entanto, o avançadíssimo
pensamento social cristão que permeava a Ação Católica e que
irá influir significativamente na sua militância concreta, não conseguiu mudar
muito o conteúdo da catequese tradicional. Este será um
trabalho para o movimento catequético após o Vaticano II, mas
aqui já estão suas sementes e bases.
Com a Ação Católica a
catequese se beneficiou com um valioso instrumento metodológico: a maneira de
proceder através da trilogia: ver, julgar e agir. Timidamente
praticado nos inícios, desenvolveu-se sempre mais, sob a influência do
pensamento de Josef-Léon Cardjin e Jacques Maritain, tornando-se depois não só
metodologia da catequese, mas de toda a pastoral. Hoje o DNC propõe
a terminologia: ver-iluminar-agir (DNC 157-162).
Muito contribuiu para a evolução
da catequese no Brasil o movimento querigmático, também de origem europeia.
A catequese querigmática, pedagogicamente construída a partir de
unidades didáticas, tem como espinha dorsal de seu conteúdo a História
da Salvação, cujo centro é Jesus Cristo, com um grande uso da Bíblia,
particularmente os Evangelhos, como também da Liturgia. É fruto da
convergência na catequese dos avanços dos movimentos bíblico,
litúrgico, da renovação da teologia querigmática, da escola ativa, e de
toda a efervescência pastoral que acontecia na Igreja às vésperas do Vaticano
II.
Entre os grandes animadores
brasileiros da catequese do período pré-conciliar, destaca-se o Pe. Álvaro
Pereira de Albuquerque Negromonte (1901-1964). Sobre ele assim se expressa O.
Lustosa:
Reconhecido
na vida como “mentor do catecismo no Brasil” e “um mestre brasileiro de
pedagogia do catecismo”, o Pe. Álvaro Negromonte foi lentamente esquecido após
sua morte (1964). Sua obra catequética merece, não apenas os agradecimentos dos
catequistas, mas um estudo sério de sua importância e de sua influência nos 30
anos de atuação (Lustosa, 1992, p. 113; cf. 120).
Criou e difundiu no Brasil o
chamado método integral de catequese: tinha como objetivo “formar
o cristão íntegro, firme na fé, forte no amor e pleno de esperança” (CR 22).
Entretanto os poucos autores que tratam da catequese no Brasil, colocam-no em
primeiro plano, como renovador da catequese, após a era dos catecismos
teológicos e com o advento da renovação querigmática. Depois de
intensa atividade em Belo Horizonte, de onde praticamente dirigia a catequese
em nível nacional, e no Rio de Janeiro, juntou-se a Dom Helder Câmara, na
fundação do Instituto Superior de Pastoral Catequética nacional
(ISPAC) e na publicação da Revista Catequética, editada durante 8
anos (1949-1956). Nessa ocasião foi o primeiro assessor nacional para
a catequese da nascente CNBB (1952), cujo departamento catequético se
intitulava Secretariado Nacional do Ensino de Religião (SNER)[5]. Deixou inúmeras publicações,
entre as quais se sobressai sua Pedagogia do Catecismo (1937), sendo
que as outras são obras mais didáticas, no estilo renovado dos textos de
catequese, cujo conteúdo e estilo renovou radicalmente.
Em muitas partes do mundo cristão
realizavam-se Congressos Catequéticos ou Semanas Internacionais de Catequese
(seis ao todo) sempre em vista de uma revitalização e novas perspectivas,
levadas adiante pelo jesuíta Pe. Johannes Hofinger (1903-1984), incansável
apóstolo da renovação catequética em base à teologia querigmática e o nascente
conceito de inculturação da fé, do qual foi um pioneiro. Pe.
Pedro Arrupe SJ, usou-o pela primeira vez oficialmente no Sínodo da Catequese
(1977) e depois São João Paulo II, também pela primeira vez usa-o na Exortação
Apostólica Catechesi Tradendae (CT).
Concluindo esse período
pré-conciliar no Brasil, é obrigatório referir-se à Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil, fundada sob a liderança de D. Helder Câmara, então simples
padre e Assistente Eclesiástico da Ação Católica, em cuja
organização e espiritualidade se inspirou para estruturar a CNBB. A partir de
tal fundação trouxe nova coordenação tanto paroquial como diocesana à
catequese, dando-lhe vigor e levando-a a um crescimento.
Em 1961 D. José Costa Campos,
Bispo de Valença (RJ), é nomeado presidente do SNER. Seu dinamismo, capacidade
de organização e liderança imprimiu um novo vigor ao movimento catequético
brasileiro, com inúmeras iniciativas. Reorganizou o SNER e convocou o Pe. Hugo
Paiva, (CM, padres da Missão), formado em catequética no Institut
Catholique de Paris, como assessor nacional. O novo assessor logo
elaborou um plano de reorganização da catequese no Brasil, cujas medidas mais
urgentes seriam a organização do ISPAC (Instituto Superior de Pastoral
Catequética) e a criação de um Centro de Informação e Documentação.
Criou ainda uma equipe nacional de assessoria que atuou em território nacional,
principalmente com cursos e acompanhando o andamento das atividades do SNER.
5 Do Vaticano II (1962-1965)
ao final do século XX
Os grandes movimentos de
renovação da primeira metade do século XX, como o movimento bíblico,
patrístico, litúrgico, querigmático e catequético do final do séc. XIX e início
do XX, incluindo aí a Ação Católica, renovam a Igreja e provocam o
Concílio Vaticano II com grande ganho para a catequese. O Concílio não quis
um Catecismo Universal ou Catecismo Fonte,
atribuindo aos bispos a responsabilidade pelos catecismos locais (cf.
CD 14), mas fez publicar o Diretório Catequético
Geral (1971). Precedido também por grandes movimentos,
como a Ação Católica, a Igreja se abre ao mundo moderno, às
questões sociais e à ação dos leigos. O método ver, julgar e agir, da
Ação Católica, domina a pastoral no Brasil. Desde 1962. Durante o Concílio, a
CNBB publica um plano orgânico de pastoral de 4 em 4 anos, as Diretrizes
Gerais da Ação Pastoral da Igreja (mudado depois para Ação
Evangelizadora). Nas Diretrizes, a dimensão catequética sempre
teve grande destaque, situando-a sempre mais no grande objetivo da evangelização cujas
características marcam sempre mais o conceito de catequese.
O Vaticano II ficou sendo
inicialmente conhecido e veiculado no Brasil, através, principalmente, da
reflexão catequética, muito fecunda nos anos 60 e 70, destacando-se o ISPAC.
Criado nos moldes do Institut Catéchètique de Paris, o ISPAC do Rio
de Janeiro durou pouco (1963-1969), mas formou a geração de catequetas que
impulsionaram a catequese nos anos 60 até o início do milênio…. Publicou várias
obras, em geral traduzidas do francês, que muito refletiam o pensamento
catequético alemão, e era o que havia na época de mais avançado em termos de
catequese. Além desse ISPAC nacional, foram fundados outros ISPACs em nível
regional (Curitiba, Salvador, São Paulo, Porto Alegre…).
Com a crise desses cursos,
somente em 1982 irá aparecer, em São Paulo, no Instituto Pio XI, dos
salesianos, um Curso Superior de Pastoral Catequética (CSPC).
O curso durou 16 anos, até 1997, sendo, em seguida, substituído pelos cursos de
Pós-Graduação, com reconhecimento do MEC. Em outras cidades também se abriram
cursos de pós-graduações lato sensu: Curitiba, Goiás, São Paulo,
Porto Velho, Salvador, Cuiabá, Sinop, Florianópolis, Castanhal (Norte II),
IRPAC (Leste II), Dourados, Marília, Lages… Tais cursos elevaram muito o nível
dos coordenadores de Catequese e dos próprios catequistas de base.
Na América Latina, a renovação
catequética se deu, sobretudo, através da Semana Internacional de
Catequese de Medellín (agosto de 1968), na qual os catequetas
brasileiros tiveram grande atuação. Foi seguida imediatamente da II Assembleia
do CELAM, na mesma cidade, em setembro de 1968. A situação sociopolítica exigia
da Igreja e da catequese, naquele momento histórico, uma resposta às
inúmeras injustiças institucionalizadas (expressão usada por
um dos documentos de Medellín). Nascia assim a opção pelos pobres,
os germens da teologia da libertação, as Comunidades Eclesiais de
Base (CEBs) e a consequente catequese libertadora e transformadora.
Esta corrente catequética se consolidou nos documentos da CNBB: Catequese
Renovada: Orientações e Conteúdo (CR, 1983), e outros textos
produzidos pelo Grupo Nacional de Reflexão Catequética (GRECAT) [6], com intensa participação de muitos
especialistas e dos catequistas em geral. Esse grupo, fundado no mesmo ano de
1983, por ocasião da confecção e publicação do documento CR (Catequese Renovada),
tem como finalidade acompanhar e assessorar a Dimensão Bíblico-Catequética da
CNBB, animar e impulsionar a catequese em nível nacional.
Em 1978 foi fundada a
Revista de Catequese, pelo Pe. Ralfy Mendes de Oliveira (1917 -2008),
com o apoio da Província Salesiana de São Paulo e da Editora Salesiana Dom
Bosco. Apesar das grandes dificuldades, ela se mantém até hoje como publicação
acadêmica do Centro UNISAL – Pio XI, de São Paulo. As quatro semanas
brasileiras de catequese (1986, 2001, 2009, 2018) têm sido momentos culminantes
da história recente da catequese no Brasil. É importante citar ainda as
Assembleias do CELAM de Puebla (1979), Santo Domingo (1992), Aparecida (2007)
e o documento Catequese na América Latina (1985; 1999),
publicado pelo CELAM para os países latino-americanos.
Em termos de Igreja mundial, esse
período pós-conciliar foi igualmente riquíssimo de orientações, publicações,
documentos, subsídios com estimulante aceitação e repercussão na catequese
brasileira. Embora algumas obras apresentadas a seguir não sejam temas
propriamente de História da Catequese no Brasil, é importante
citá-las devido ao grande influxo que suscitaram. Geralmente elas surgiram de
uma prática já existente, ou da grande Tradição da Igreja, mas ao mesmo tempo
abriram novos horizontes e caminhos, conforme as necessidades do momento.
Assim, foi publicado em 1971, como já foi dito, o primeiro Diretório
Catequético Geral, que entre outras coisas, insistia na necessidade de
volta aos adultos como interlocutores ou destinatários
primeiros da pastoral catequética e, como objetivo da catequese, a maturidade
da fé. A IV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos (27 de setembro
a 26 de outubro de 1977) foi dedicada à catequese: uma longa e profunda
análise, seguida das oportunas reflexões e tomadas de decisão, nunca realizada
na Igreja com tal amplitude e participação. Logo depois, São João Paulo II
escreveu a Exortação pós-sinodal Catequese Tradendae (CT,1979),
de tempestiva repercussão em toda a Igreja, abordando propriamente todos os
principais temas da pastoral catequética. Ele também fez publicar o Catecismo
da Igreja Católica (CIC), em 1992, modificando o mandato
conciliar que não prescrevia um texto universal de catequese.
Pode-se dizer que esse volumoso e oportuno texto, que expressa o autêntico
conteúdo da catequese doutrinal, conforme o atual magistério da Igreja, é um
lídimo fruto do longo pontificado do Papa São João Paulo II, embora de várias
partes houvesse sua solicitação, sobretudo dos países “de missão”. De fato, ele
se coloca entre as iniciativas do Papa Wojtyła de prover a Igreja com os
instrumentos aptos para uma nova evangelização do mundo de hoje.
Muito ligado ao CIC, foi
promulgado também o Diretório Geral para a Catequese (DGC)
em sua 2ª. edição (1997). É talvez o mais completo e profundo dos textos já
produzidos pela Igreja em favor da catequese. Como instrução, a catequese é,
muito corretamente, considerada em sua dimensão evangelizadora. Isso supõe que
ela seja sempre precedida pelo urgente primeiro anúncio, como a
essência e o resumo de todo Evangelho. Deste modo, um segundo momento
catequético poderá ampliar e consolidar a adesão a Jesus Cristo, usando, para
isso, a doutrina católica, que tanto caracterizou a catequese no passado e para
o qual foi criado o CIC. Hoje, num mundo em processos de
descristianização, devemos, antes da catequese, fazer valer esse primeiro
momento querigmático do primeiro anúncio.
O Congresso Internacional de
Catequese (08-12 de outubro de 2002), comemorando os 10 anos do CIC acentuou
a importância desse texto e dos catecismos nacionais, reforçando a necessidade
de se dar maior importância à dimensão intelectual e sistemática na
educação da fé: daí se explica por que a Congregação da Doutrina da Fé foi
a autora e promotora principal do Catecismo. Esta tendência
doutrinária ganhou maior importância com o Compêndio do Catecismo da
Igreja Católica, querido por João Paulo II e publicado por Bento XVI
(29-06-05), um resumo em perguntas e respostas, acentuando mais ainda apenas
a dimensão doutrinal! No entanto, tal dimensão intelectual, sempre
necessária na catequese, deve estar integrada e equilibrada com os outros
aspectos da educação da fé, como bem demonstrou todo o movimento catequético do
final do séc. XX, cujo ápice foi o DGC.
Como sintetizar o núcleo desta
renovação catequética sob o impacto do Vaticano II? Poderíamos relevar esses
aspectos: a comunidade de fé como principal lugar de
catequese; o valor da Bíblia como texto principal da educação da fé, acompanhado
da centralidade da Liturgia; o princípio de interação entre fé e vida,
relevando o mútuo influxo entre mensagem evangélica e situações concretas da
vida; a necessidade de inculturação das fórmulas (ou enunciados, doutrinas) da
fé; a importância da pessoa do catequista, como testemunha viva do que anuncia
e considerado como mistagogo (que conduz ao mistério de Cristo e da
Igreja) e sua esmerada formação; por fim, a recuperação da dimensão
catecumenal da catequese, que recebeu no período seguinte toda a atenção e
maior desenvolvimento.
6 A catequese a serviço da
Iniciação à Vida Cristã: dimensão catecumenal
O início do século XXI é marcado
no Brasil, pela atenção e reflexão sobre os adultos, com a redação e publicação
do Estudo da CNBB: Com adultos catequese adulta, fruto
da 2a. Semana Brasileira de Catequese (outubro de
2001). Nesse sentido, houve várias iniciativas em todo o país. É típico do
Brasil afirmar a “catequese com adultos” e não “de adultos”,
para reforçar a ideia de que eles são, mais que destinatários, interlocutores
da catequese. Se isso vale para todo tipo de catequese, muito mais para a
catequese realizada com pessoas adultas.
Outro tema que ocupou seriamente
a Igreja nesse início de milênio foi a catequese considerada como processo
de Iniciação à Vida Cristã (IVC). Sobre
essa expressão deve-se considerar que a tradição histórica, tanto teológica
como litúrgica, sempre usou a expressão “iniciação cristã” para indicar os
processos pelos quais a pessoa “torna-se cristã”, usando a expressão de
Tertuliano (século II): “as pessoas se tornam, não nascem cristãs!” (fiunt
non nascuntur christiani: Apologia, XVIII, 4). No Brasil e em
alguns países latino-americanos, usa-se a expressão “iniciação à vida cristã”,
para indicar que não se trata de algo somente místico e espiritual, mas deve
tocar as raízes da existência, de um modo muito experiencial, sobretudo no que
se refere aos graves problemas sociais do Brasil.
Como haviam determinado os
documentos conciliares Christus Dominus (13, 14 c), Ad
Gentes (14-15,17) e Sacrosanctum Concilium (64),
o Diretório Catequético Geral da Sé Apostólica (1971) já
estabelecera que “a instituição dos catecúmenos adultos fosse restabelecida”
(20b; cf. 19 b, c). Como fruto da Reforma Litúrgica do Concílio, foi publicado,
em 1971, o Ritual de Iniciação Cristã de Adultos (RICA),
importantíssimo para a catequese iniciática, mas ficara um texto desconhecido e
pouco usado. Somente no início do século XXI é que, em âmbito latino-americano
e depois brasileiro, começou-se a descobri-lo e estudá-lo, suscitando
inclusive, no Brasil, uma nova edição, com diagramação que melhor facilitasse
seu uso nos ritos de iniciação (2001).
Entretanto, foi em sua segunda
edição, de 1997, que o DGC reforçou, na catequese, a
restauração do catecumenato, uma vez que agora ela é
considerada dentro do quadro maior da evangelização. Assim, a
catequese retorna a seu lugar original, nascida, de fato, dentro dos processos
de IVC (catecumenato), como nos primeiros séculos do
cristianismo.
Diferentemente de certa concepção
tradicional de catequese, em que era privilegiado quase que somente o conteúdo
doutrinal, o catecumenato, segundo AG, “não é mera
exposição de dogmas e preceitos, mas uma educação de toda a vida cristã e um
tirocínio de certa duração com o fim de unir os discípulos com Cristo, seu
Mestre” (14a).
Esse processo de iniciação é
assim descrito: “sejam os catecúmenos convenientemente iniciados no mistério
da salvação. Através da prática dos costumes evangélicos e pelos ritos sagrados
que se celebram em tempos sucessivos, sejam introduzidos [iniciados!] na vida
da fé, da liturgia e da caridade do Povo de Deus” (AG 14a).
Seguem-se outras disposições (14b-e) que, no seu conjunto foram assumidas e
ampliadas no livro litúrgico Rito de Iniciação Cristã de Adultos (RICA,
1972).
Tais reflexões confluíram no
documento da CNBB Diretório Nacional de Catequese (DNC).
No início do milênio, ao invés de se fazer uma nova edição atualizada, de CR optou-se
por publicar esse Diretório, em continuidade com CR e
sem rupturas. Tal projeto vinha atender também a um pedido da Santa Sé a todas
as Conferências Episcopais, através do DGC (cf. nº. 9, 11,
139, 166 e 171). Foi um longo processo de reflexão e redação que durou de maio
de 2002 a outubro de 2006, quando foi aprovado e publicado, depois de três
Assembleias Gerais do episcopado e de dois Instrumentos de Trabalho. Muitos
catequistas, catequetas, biblistas, teólogos, liturgistas e outros estudiosos
foram envolvidos no processo de elaboração deste DNC. Ele trouxe
novo impulso e animação na pastoral catequética, um verdadeiro marco na
história da catequese brasileira. Propondo uma catequese com dimensão
catecumenal, intimamente ligada à Liturgia, o DNC apresenta
um novo paradigma de catequese. Tal tendência foi uma antecipação do que seria
refletido e proposto para toda a América Latina através da V Conferência do
CELAM, em Aparecida. Esse DNC, ao permitir a conferição do Ministério
do Catequista para leigos, adiantou em 15 anos o Motu Próprio Antiquum
Ministerium, do Papa Francisco, que o irá instituir em 10 de maio de
2021.
Em vista da magna assembleia da V
CELAM, em Aparecida (SP), a Secção de Catequese do mesmo CELAM reuniu em Bogotá
de 01 a 05 de 2006 a III Semana Latino-Americana de Catequese, com
cerca de 50 especialistas, entre os quais muitos brasileiros, para dar
contribuições a partir da catequese. Foi um importante momento catequético
latino-americano, liderado por Dom José Luís Chávez Botello, responsável pela
catequese no continente e seus assessores. Como fruto dessa III
SLAC foi publicado um documento em quatro capítulos[7], que acentua, sobretudo, os processos
de iniciação cristã e a dimensão catecumenal da
catequese. Tal contribuição, embora de maneira muito sucinta, faz parte do
Documento de Aparecida, que assume o catecumenato (286-300) realizado nos
processos de IVC para a formação dos discípulos missionários, grande
perspectiva dessa V Assembleia Continental (cf. nº. 284-285).
Os processos de IVC,
conforme o RICA, são compostos de quatro tempos e três
etapas. Os tempos são: pré-catecumenato (primeiro anúncio), catecumenato
propriamente dito (instrução, catequese, conversão), iluminação-purificação (tempo
quaresmal-pascal) e mistagogia (catequese após o recebimento dos
sacramentos da iniciação, própria do tempo pascal).
As etapas são as grandes
celebrações: entrada no catecumenato, purificação e iluminação (ritos de
entregas, escrutínios e outros) e celebração sacramental do Batismo, Crisma e
Eucaristia. Esse ritual deixa grande possibilidade de estruturação, nova organização
e, sobretudo, inculturação dos ritos catecumenais. Porém, as experiências e
propostas em geral são baseadas nos ritos tradicionais do mesmo RICA.
Conforme o DGC, da Sé Apostólica, e o DNC, da
CNBB (2006), o RICA dá o ritmo dos ritos e celebrações que
devem acompanhar a catequese entendida como educação e instrução na fé. Ad
Gentes (AG) releva ainda a grande importância da comunidade no
processo catecumenal: “a iniciação cristã não é apenas tarefa dos
catequistas e sacerdotes, mas de toda a comunidade dos fiéis, de modo especial,
dos padrinhos” (14d; cf. PO 6d).
No Brasil, como na América
Latina, essa guinada em busca de uma catequese de índole catecumenal é bem
recebida, inicialmente entre os orientadores da catequese e os ambientes
acadêmicos, para em seguida ser entusiasticamente acolhida pela maioria dos catequistas
de base. Cresce o interesse pela restauração do catecumenato, pois é nele, ou
seja, dentro do processo de IVC que a catequese encontra seu húmus e lugar onde
melhor exercer sua missão mistagógica e iniciático-pedagógica. Apesar dos
inúmeros cursos de atualização ou assembleias para o clero sobre a IVC,
proporcionados pela maioria das dioceses, do ponto de vista prático, a
instauração desse novo paradigma catequético-catecumenal encontra resistências
e questionamentos por parte daqueles que justamente deveriam liderar tal
renovação: os párocos! Muitos o julgam complicado, trabalhoso e preferem manter
a toada tradicional da catequese, apenas com alguma maquiagem nos subsídios e
métodos.
Um acontecimento de grande
impacto na catequese no Brasil e demais setores da Igreja, sem dúvida, foi a
eleição do Papa Bergoglio. O nome escolhido, Francisco, já
indica uma forte tendência de seu pontificado: surpreendeu o mundo com gestos
de simplicidade, pobreza, apelo à misericórdia, reforma nas estruturas
eclesiais e o retorno ao núcleo central do Evangelho. Invejável é também a
lista de seus escritos: além de uma encíclica sobre a Fé, Lumen
Fidei, que muito tem a ver com a catequese, escreveu quase que de
próprio punho a exortação apostólica Evangelii Gaudium (a
alegria do Evangelho), importantíssima para a evangelização e catequese,
recolhendo os frutos principais do Sínodo dos Bispos, de 2012. Outros grandes
documentos seus: Laudato sì, Amoris Laetitia, Querida
Amazonia, Fratelli tutti. Proclamou 2016 como Ano da
Misericórdia, convocou o Sínodo de 2018: os jovens e a fé, e
sua respectiva exortação Apostólica Christus vivit. Ele mesmo, em
suas catequeses, é um exemplo vivo de como fazer catequese hoje.
7 Um panorama fecundo de eventos e atividades
catequéticas
Entre 2012-2022, podemos elencar
onze acontecimentos e documentos em torno da IVC. Eles marcam a
história recente e apontam para esse novo paradigma catequético. Não se trata
apenas de nomes e dinâmicas inovadoras, mas constitui-se também como que um
novo caminho, que não tem retorno, para o futuro da catequese no Brasil:
1. O Sínodo dos
Bispos para a Nova Evangelização realizado, em outubro de 2012, com o
tema A Nova Evangelização para a transmissão da fé, no marco dos 50
anos do Vaticano II e 20 do Catecismo da Igreja Católica. O sínodo
reafirmou a importância da catequese para a nova evangelização, sublinhando
seu caráter catecumenal e a prioridade dos adultos. Pediu que fosse revista a
sequência da recepção dos Sacramentos da Iniciação, propondo:
Batismo, Crisma, Eucaristia, para que esse Santíssimo Sacramento se torne o
ápice da iniciação, e não a confirmação.
2. O III Congresso
Internacional sobre o Catecumenato, realizado em Santiago do Chile (20-25
de julho de 2014) sobre a IVC e a mudança de época.
3. O Seminário Nacional
sobre Iniciação à Vida Cristã, em São Caetano (SP), de 07 a 09 de
novembro de 2014: avaliação de experiências realizadas e prospectivas.
4. Publicação pelo Celam do
texto: A alegria de iniciar discípulos missionários numa mudança de
época. Novas perspectivas para a catequese na América Latina e Caribe[8]. É um texto breve, denso e provocativo;
apresenta-se com uma linguagem simples; sem ser acadêmica ou erudita, é
profunda, compreensível por um catequista de cultura média.
5. Lançamento, pela Comissão
Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética, da CNBB, do Itinerário
Catequético: iniciação à vida cristã – um processo de inspiração
catecumenal (Brasília: Edições CNBB 2016, 3ª. ed.). Nele, de maneira muito
esquemática, há itinerários de IVC para 4 idades: adultos não batizados,
adultos batizados, crianças, adolescentes e jovens, sempre a partir do RICA e
integrando os três grandes livros da IVC: Bíblia, CaIC, RICA.
6. Reunião do Pontifício Conselho
para Promoção da Nova Evangelização com os 18 Regionais da CNBB, para
conhecimento direto da catequese no Brasil por parte desse organismo romano,
realizado de 02 a 04 de setembro de 2015, em Aparecida (SP): foi a primeira vez
que um órgão da Cúria Romana se interessou por um maior conhecimento, in
loco, da nossa realidade catequética brasileira. Estabeleceu-se um diálogo
muito fecundo.
7. Aprovação, pela 55ª.
Assembleia Geral da CNBB, em 2017, do Documento 107, Iniciação à Vida
Cristã: itinerário para formar discípulos missionários (Brasília:
Edições CNBB, 2017). É o documento oficial mais importante da Conferência
Episcopal brasileira para a IVC, dentro da qual se situa a catequese. São 4
capítulos densos de doutrina e história: depois de um primeiro
capítulo, em que apresenta o ícone da IVC no episódio de Jesus
e a Samaritana, o segundo é um duplo olhar: para o passado
(a história da IVC) e para o presente (as necessidades atuais); só então,
no terceiro capítulo, procede-se a uma grande reflexão
teológico-pastoral sobre a IVC, tratando temas como mergulho no mistério de
Deus e de Cristo mediante o mistério da Igreja, contemplada como comunidade
querigmática e missionária, mistagógica e materna; reflexão sobre o RICA e os
sacramentos da IVC, concluindo com a visão da vida cristã como fruto da
Iniciação. Por fim, no quarto e maior capítulo, há a proposta
de caminhos metodológicos: o projeto diocesano responsável por todo o êxito
dessa prática pastoral-catequética, o querigma, o catecumenato com seus tempos
e etapas, orientações para a formação iniciática e sobre os principais atores
da IVC, concluindo com encaminhamentos para a revisão da ordem dos sacramentos
da iniciação: Batismo, Crisma e Eucaristia.
8. Promovido pelo Pontifício
Conselho para a Nova Evangelização, realizou-se no Vaticano, de 20 a 23 de
setembro de 2018, o II Congresso Internacional de Catequese, com
o tema: O Catequista, testemunha do Mistério. Teve o caráter mais
de festa e celebração, mas também momentos de reflexão sobre o catequista
testemunha e anunciador do mistério cristão.
9. IV Semana Brasileira de
Catequese, de 14 a 18 novembro de 2018, em Itaici (SP), com o
tema A Catequese a serviço da IVC. Foi preparada com um
subsídio próprio pelas duas comissões episcopais: da Catequese e da Liturgia. O
evento teve como lema “Nós ouvimos e sabemos que Ele é Salvador do mundo”
(Jo 4,42), contando com mais de quatrocentos participantes de todo Brasil, com
a totalidade da liderança catequética brasileira e representantes da maioria
das 278 dioceses e outras circunscrições eclesiásticas.
10. Publicação do novo Diretório
para a Catequese (DpC), pelo Pontifício Conselho para a
Promoção da Nova Evangelização e apresentado em 25 de junho de 2020. Repete as
grandes intuições e perspectivas do Diretório Geral para a
Catequese anterior, e integra os ensinamentos dos Papas Bento XVI e
Francisco. Retorna a falar de catequese escolar para atender a
necessidades das Igrejas do Leste Europeu, que muito valorizam a escola para
evangelizar (no Brasil se faz a distinção entre Catequese e Ensino
Religioso Escolar). Com relação ao Diretório anterior,
inova acrescentando a dimensão midiática da catequese, muito bem desenvolvida
no item Catequese e cultura digital (nº. 359-372):
características gerais, transformação antropológica, cultura digital como
fenômeno religioso, cultura digital e questões educativas, anúncio e catequese
na era digital. Para a América Latina, que já possui o grande documento
de Aparecida, com significativo avanço na IVC, o
novo Diretório não trouxe grandes novidades. Entretanto, para
a Europa e outros continentes, ele relembrou as conquistas da catequese nesse
último século e nem sempre colocadas em prática no antigo continente. Sua receptio (recepção)
foi intensa e calorosa, dada a facilidade das redes sociais, em fazer lives, seminários,
conferências, cursos. Grandes estudiosos, tanto da América Latina, como da
Europa, deram suas contribuições apresentando o texto e relevando sua grande
contribuição para a catequese hoje e no futuro.
11. Esse DpC, de
2020, não reconhece oficialmente o Ministério instituído do Catequista;
na verdade, nem é nomeado. De fato, há pessoas, também da Hierarquia da Igreja,
que não concordam com essa ideia, afirmando que oficialmente o termo Ministério se
aplica somente aos membros do clero. Mas, o Papa Francisco, em 10 de maio do
ano seguinte (2021), enfrentando oposições, colocou um ponto final nessa
discussão e, por própria iniciativa (motu próprio), instituiu
formalmente o Ministério Leigo da/o Catequista, através
do Motu Proprio Antiquum Ministerium (AM). É um grande
reconhecimento da Igreja pelo trabalho árduo, cansativo, penoso dos
catequistas. Embora já haja um Rito da CNBB para a instituição
do ministério do/a catequista, (Cnbb, Ministério do Catequista.
Coleção Estudos da CNBB 95. Paulus: 2007) a Conferência
Episcopal, obedecendo ao mandato do Papa em AM, publicou
também o Ritual para a instituição o Ministério Leigo da/o
catequista [9].
Conclusão
A História da catequese na Igreja
mostra que em seus inícios ela nasceu inserida no processo maior de Iniciação
Cristã, codificado numa das maiores organizações que a Igreja já
instituiu, o Catecumenato. A instrução e o ensino da doutrina cristã estavam
inseridos num âmbito maior que implicava celebrações, entregas, provas de
conversão cristã, escrutínios, acompanhamento de toda comunidade…
Com o avanço da evangelização e a
hegemonia do cristianismo no ambiente cultural ocidental, a catequese ficou
quase que reduzida à transmissão da doutrina, ou seja, no seu aspecto mais
intelectual e reflexivo, doutrinal, especulativo e não tanto experiencial, como
no catecumenato. No Brasil, pela intensa atividade missionária dos Jesuítas,
predominou esse tipo doutrinal da catequese, porém com grandes esforços daquilo
que hoje chamamos de inculturação e promoção humana. Nenhuma tentativa houve
que se aproximasse do antigo catecumenato, como acontecia em outras regiões. O
golpe desferido por Pombal com a expulsão dos Jesuítas, não conseguiu erradicar
o cristianismo, muito embora ele tenha imposto o Catecismo
Jansenista (ou Catecismo de Montpellier).
A fé mantida no meio do povo, por
leigos e associações religiosas, manteve acesa a fé. Entretanto, somente
com os Bispos Reformadores, o Concílio de Trento começou a ser
implantado no Brasil, nascendo assim a “era dos catecismos doutrinais”
(1850-1950), muitos deles, como o Catecismo da doutrina Cristã (1901),
verdadeiras pérolas de formulação doutrinal, dentro do estilo da época. Esse
esforço de alinhar a Igreja do Brasil com o centro da Igreja romana, teve seu
ponto alto nos Concílio Plenário Latino-americano (1899, em
Roma!) e o Concílio Plenário Brasileiro (1939), que muito
prescreveram sobre a catequese doutrinal.
À medida que o movimento
de renovação catequética surgia na Europa nos inícios do século XX, ia
sendo conhecido também no Brasil, embora com atrasos, por obra sobretudo do Pe.
Álvaro Negromonte. Permanecia ainda com o forte caráter doutrinal e mnemônico
herdado de tempos imemoriais. A influência da psicologia, sociologia, e de
outras ciências humanas, alavancavam o progresso também do ensino catequético.
Teologicamente, muito contribuiu o movimento querigmático, no esforço de um
cristocentrismo renovador na catequese. Finalmente, o Concílio Vaticano II e seu
poder renovador, acelerou a verdadeira renovação da catequese, sobretudo sua
nova eclesiologia, cristologia e renovada
concepção da Revelação Divina.
A Semana Internacional de
Catequese e a II CELAM (Conferência Episcopal
Latino-americana) ambas em Medellín (Colômbia), no mês de
agosto de 1968, representaram mudanças significativas para a catequese: a
preocupação já não era somente com a correta doutrina, mas
também com a situação, em geral de grande pobreza, dos catequizandos,
trazendo-lhes, em nome do Evangelho, melhores condições de vida e promoção
humana. Essa dimensão sociopolítica foi mitigada posteriormente pelos
movimentos que acentuavam mais o caráter espiritual, mistagógico, litúrgico e
orante da mensagem cristã. Entre idas e vindas, a Igreja, sobretudo no Brasil e
na A. Latina, encaminhou-se a largos passos, já no século XXI, para a
compreensão original da catequese, ou seja: ela está a serviço dos processos
de Iniciação Cristã (DGC 63-68; DNC 35-38), retornando, assim,
a seus inícios nos séculos II-IV. Fecha-se, assim, o ciclo histórico com a
volta às origens, adaptada à novas situações para a proclamação da Boa Nova de
Jesus Cristo e seu Evangelho.
Pe. Dr. Luiz Alves de Lima, sdb.
UNISAL – Centro Universitário Salesiano de São Paulo. Texto original português.
Enviado em 20/02/2023; aprovado em 20/10/2023; postado 31/12/2023.
Teologia Latino-americana –
Enciclopédia Digital. Disponível em https://teologicalatinoamericana.com/?p=2712
.
Referências
ABREU, Capistrano de. História
da Colônia. Rio de Janeiro: 1945, 4a. ed.
LIMA, Luiz Alves de. Catequese in
Passos J. Décio-Wagner Lopez Sanchez, Dicionário do Concílio Vaticano
II. São Paulo: Paulus-Paulinas 2015, pp. 86-91.
LIMA, Luiz Alves de. A
Catequese do Vaticano II aos nossos dias. São Paulo: Paulus, 2016.
LIMA, Luiz. Alves de. A face
brasileira da catequese: um estudo histórico-pastoral do movimento catequético
brasileiro das origens ao diretório “catequese renovada”. Faculdade de
Teologia da Universidade Pontifícia Salesiana, Tese de doutorado nº 346. Roma:
1995, edição acadêmica.
LIMA, Luiz Alves de. Diretório
Nacional de Catequese: entrevista in Revista de Catequese 28
(2005) outubro-dezembro, nº. 112, pp. 62-65.
LIMA, Luiz Alves de. Gênese
e desenvolvimento do Diretório Nacional de Catequese in Revista
de Catequese 29 (2006) nº 116, outubro-dezembro, pp. 06-25.
LIMA, Luiz Alves de. História da
Catequese no Brasil. In Belinquete José, História da Catequese nos
países de língua portuguesa. Lisboa: Gráfica Coimbra 2011. Vol. II, pp.
1443 -1505.
LIMA, Luiz Alves de.
Medellín e a Renovação da Catequese na A. Latina in Ney Souza de – Sbardelotti
Emerson (Org), Medellín: Memória, profetismo e esperança na América
Latina. Petrópolis: Vozes, 2018, pp. 257-273.
LIMA, Luiz Alves de. Novos
paradigmas para a catequese hoje in Revista de Catequese 30
(2007) nº 117, janeiro-março, pp. 06-17.
LIMA, Luiz Alves de. Paisagem,
gênese e significado do documento Catequese Renovada in Passos
Mauro. Uma história no Plural. São Paulo: Vozes. 1999, pp.
115-174.
ANCHIETA. José de. Diálogos
da Fé, edição fac-símile e crítica. São Paulo: Loyola, 1985.
ANCHIETA, José de. Cartas,
Informações. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira 1933.
AUTORES VÁRIOS. Dicionário
de Catequética. Paulus: 2004, vários verbetes.
BELINQUETE, José, História
da Catequese nos países de língua portuguesa. Lisboa: Gráfica
Coimbra 2011, 2 volumes.
BIANCARDI, G. – U.
Gianetto, Storia della Catechesi. 4°. Volume. Roma: LAS 2015,
820.
BRAGA, Antônio M. da Costa. Padre
Cícero: sociologia de um Padre, antropologia de um Santo. Bauru: EDUSC
2008.
BRAIDO, Pietro. Storia
della Catechesi. 3°. vol. Roma: Libreria Ateneo Salesiano (LAS), 2015.
CANSI, Bernardo. Fragmentos de la
história de la catequesis en Brasil in Actas del Congreso Internacional
de Catequesis: Del Vº Centenário al IIIº Milênio. Madrid, 1993.
CARDOSO, Armando. Um
carismático que fez história: vida do Pe. Jose de Anchieta. São Paulo:
Paulus: 1997.
COMISSÃO EPISPOPAL PARA A
ANIMAÇÃO BÍBLICO-CATEQUÉTICA. A Catequese no Brasil: memória,
celebração e perspectivas (celebrando os 40 anos do documento Catequese
Renovada de 1983). Brasília: Edições CNBB, 2023.
CNBB. Diretório Nacional
de Catequese. Instrumento de Trabalho I – Versão provisória. Brasília: CPP,
2003, nºs 92 a 128 (na edição definitiva e oficial do Diretório
Nacional de Catequese correspondem aos nºs 59-83).
CNBB. Diretório Nacional da
Catequese, Publicações da CNBB 1. Brasília: Edições da CNBB, 2006.
Documento da CNBB 84. São Paulo: Paulinas 2006.
CNBB. Iniciação à Vida Cristã:
um processo de inspiração catecumenal. Coleção “Estudos da CNBB 97”.
Brasília: Edições CNBB, 2009.
CNBB. Iniciação à Vida Cristã:
itinerário para formar discípulos missionários. Documentos da CNBB 107.
Brasília: Edições CNBB, 2017.
CNBB. Ministério do Catequista.
Coleção Estudos da CNBB 95. São Paulo: Paulus, 2007.
CNBB. Comissão episcopal pastoral
para a animação bíblico-catequética, Itinerário catequético: Itinerário
Catequético: iniciação à vida cristã – um processo de inspiração
catecumenal. 3ª. Ed. Brasília: Edições CNBB 2018.
CONSELHO EPISCOPAL
LATINO-AMERICANO. Conclusões da III Conferência Geral do Episcopado
Latino-americano. Evangelização no presente e no futuro da América Latina.
São Paulo: Paulinas, 1979. Aqui citado como Puebla.
CONSELHO EPISCOPAL
LATINO-AMERICANO. Conclusões da IV Conferência Geral do Episcopado
Latino-americano. Nova evangelização, promoção humana e cultura cristã. São
Paulo: Loyola 1992. Aqui citado como Santo Domingo.
FIGUEIREDO, Anísia. História do
Ensino Religioso no Brasil in Belinquete José, História da Catequese nos
países de língua portuguesa. Lisboa: Gráfica Coimbra 2011. Vol. II, pp.
1507-1547.
GRUEN, Wolfgang. O
Catecismo da Igreja Católica e a nossa Catequese: perspectivas. Petrópolis:
Vozes, 1995.
GUEEURICKX, José. A
catequese na comunidade cristã: pequena história da catequese. Petrópolis:
Vozes 1971.
LEITE, Serafim. Cartas do
Brasil. Coimbra 1955. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/270854155_Cartas_do_Brasil_e_mais_escritos_do_Pe_Manuel_da_Nobrega_Opera_Omnia.
Acessados em 01 Agosto 2022. Também em Páginas de História do Brasil.
São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1923, em https://bdor.sibi.ufrj.br/bitstream/doc/175/1/93%20PDF%20-%20OCR%20-%20RED.pdf.
Acessados em 01 Agosto 2022.
LUSTOSA, Oscar. Catequese
Católica no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1992.
MENDES DE OLIVEIRA, Ralfy. O
movimento catequético brasileiro no Brasil. São Paulo: Editora Salesiana D.
Bosco, 1980.
MIRA, João Manoel de Lima. A
Evangelização do Negro no período colonial brasileiro. São Paulo: Loyola:
1983.
MORAS, Francisco. As
correntes contemporâneas da catequese. Petrópolis: Vozes 2004, 110 pp.
NERY, José Israel. História da
Catequese no Brasil in Dicionário de Catequética. Paulus:
2004, pp. 573-585.
PAIVA, José Maria de. Colonização
e Catequese. São Paulo: Editora Cortez, 1983.
PASSOS, Mauro e outros. Uma
história no plural: 500 anos do movimento catequético brasileiro.
Petrópolis: Vozes, 1999.
SANTOS, Luiz Pereira dos. Catequese
ontem e hoje: dos primórdios a Medellín. São Paulo: Paulinas 1987.
TERRA, João Evangelista. História
da catequese, Loyola 1982.
TERTULIANO, Apologia.
Tradução de José F. VIDAL e Luiz F. K. PASQUOTTO in
https://docplayer.com.br/39099334-Tertuliano-apologia.html . Acessado em
01/08/2022.
VILELA, Magno. A tradição
da Catequese no Brasil in Antônio Bollin/Francesco Gasparini. A
catequese na vida da Igreja. Notas de História. São Paulo: Paulinas,
1998, p. 259-327.
[1] Siglas usadas nessa matéria: AG = Ad
Gentes; AM = Antiquum Ministerium; DAp = Documento de
Aparecida (CELAM: 2007); CaIC = Catecismo da
Igreja Católica; CD = Christus Dominus; CM = Congregação
da Missão (vicentinos); CR = Documento Catequese Renovada; CT
= Catechesi Tradendae; DGC = Diretório Geral para a
Catequese (1997; DNC = Diretório Nacional de Catequese (2006);
ISPAC = Instituto Superior de Pastoral Catequética; IVC = Iniciação à Vida
Cristã; PO = Presbiterorum Ordinis; DM = Documento de Medellín
(CELAM, 1968); DP = Documento de Puebla (CELAM: 1979); RICA
= Ritual de Iniciação Cristã de Adultos; SD = Documento de
Santo Domingo (CELAM: 1992); SC = Sacrosanctum
Concilium; SLAC = III Semana Latino-Americana de Catequese.
[2] As Regras comuns dos
jesuítas impunham a grave obrigação de conhecer e usar bem as línguas
indígenas, a ponto de poderem escrever livros e explicar a doutrina cristã; era
uma das condições para ser ordenado sacerdote. Muitas eram as línguas faladas
no Brasil, mas havia uma língua geral, dos tupinambás (nheengatu), mais
ou menos falado por todos.
[3] Sobre os valores indígenas e africanos
assimilados no catolicismo popular pela catequese nesta época, cf. Cansi, 1993,
p. 195-201.
[4] Podem ser citados: D. Antônio Viçoso
(Mariana), D. Antônio Joaquim de Melo (São Paulo), D. Antônio Macedo Costa
(Pará), D. Joaquim Manoel da Silveira (Maranhão), D. Pedro Maria de Lacerda
(Rio de Janeiro), D. Romualdo de Souza Coelho e outros. Alguns autores chamam
tal reforma de romanização, pois se pretendia superar o tradicional
catolicismo português, de raiz medieval, sob o espírito tridentino romano.
[5] É preciso notar que, no Brasil, não
havia muita distinção entre Catequese, como atividade paroquial em
vista do crescimento da fé, própria da Comunidade Eclesial (paróquia) e o Ensino
Religioso Escolar, próprio da Escola, como educação da religiosidade.
Pe. Álvaro Negromonte sempre trabalhou e escreveu sobre ambos. Tal distinção
vai se acentuar e ser esclarecida somente mais tarde com o documento Catequese
Renovada (1983).
[6] São muitos. Os mais importantes: Textos
e Manuais de Catequese: orientações para sua elaboração, análise e
avaliação = Estudos da CNBB 53, 1987; Formação de Catequistas:
critérios pastorais = Estudos da CNBB 59, 1990; Orientações para a
catequese de crisma = Estudos da CNBB 61, 1991; Catequese para
um mundo em mudança = Estudos da CNBB 73, 1994; O hoje de Deus
em nosso chão = Estudos da CNBB 78, 1998; Com adultos
catequese adulta = Estudos da CNBB 80, 2001; Crescer na
Leitura da Bíblia = Estudos da CNBB 86, Paulus 2003; Ler a
Bíblia com a Igreja: comentário didático popular à Constituição
dogmática Dei Verbum = Projeto Nacional de Evangelização
“Queremos ver Jesus…” nº 11, 2004, etc.
[7] Celam – Secção de Catequese, A
caminho de um novo paradigma para a Catequese. III SLAC. Brasília: Edições
CNBB, 2007.
[8] Celam. A alegria de iniciar
discípulos missionários numa época de mudanças. Brasília: Edições
CNBB, 2016.
[9] Cnbb, Critérios e Itinerários para a
Instituição do Ministério de Catequista. Brasília: Edições CNBB, 2022.
FONTE DO ARTIGO: Teologia
Latino-americana – Enciclopédia digital. Disponível em https://teologicalatinoamericana.com/?p=2712
. Acesso 19/09/2-24.
Além do artigo acima, um livro que ajuda a compreender a evolução da Catequese no Brasil:
O livro está disponível para compra na Edições CNBB e na Livraria Loyola.
Um comentário:
Parabéns , a todos quer buscam o conhecimento, para ter certeza da fé ,e saber como multiplicar a semente do semeador.
Postar um comentário