Ângela Rocha
“Na boca do catequista, volta a ressoar sempre o primeiro anúncio: ‘Jesus te ama, deu a sua vida para te salvar, e agora vive contigo todos os dias para te iluminar, fortalecer, libertar’.(...) Toda a formação cristã é , primariamente, o aprofundamento do querigma que se vai, cada vez mais e melhor, fazendo carne*, que nunca deixa de iluminar a tarefa catequética, e permite compreender adequadamente o sentido de qualquer tema que se desenvolve na catequese. ´E o anúncio que dá resposta ao anseio de infinito que existe em todo coração humano” (EG, nº 164-165).
Na missão de evangelizar, nós catequistas sempre nos
deparamos com novos desafios. Hoje, a Igreja nos convida a olhar com mais
carinho para duas grandes exigências: o querigma, que é o anúncio vivo e
apaixonado de Jesus, e a mistagogia, que nos ajuda a conduzir as pessoas
a mergulhar no mistério da fé. Pode parecer difícil num primeiro momento, mas é
justamente nesse caminho que a nossa catequese ganha mais vida e se torna
realmente transformadora.
A Evangelii Gaudium, nos números 163 a 168, apresenta
um ensinamento precioso sobre a catequese, destacando sua dimensão Querigmática
e Mistagógica. O Papa Francisco recorda que o coração da catequese é o querigma,
ou seja, o primeiro anúncio: Jesus Cristo te ama, deu a sua vida por ti,
ressuscitou e está vivo, caminhando contigo todos os dias. Esse anúncio é
chamado de “primeiro” não porque fica restrito ao início da vida cristã e
depois seja substituído, mas porque é o principal, o centro, aquilo que deve
sempre ser repetido e aprofundado em todas as etapas do caminho de fé. É ele
que dá sentido a todos os outros conteúdos da catequese e que vai, aos poucos,
“fazendo-se carne” na vida do cristão, transformando atitudes, escolhas e
comportamentos.
Francisco insiste que não existe nada mais sólido ou profundo
que esse anúncio. Ele precisa ser comunicado de maneira que manifeste, antes de
tudo, o amor de Deus, sem impor a verdade, mas convidando com liberdade e
transmitindo alegria, esperança e vitalidade. Por isso, o catequista é chamado
a adotar certas atitudes que tornam o anúncio mais fecundo: proximidade,
abertura ao diálogo, paciência, acolhimento cordial e ausência de julgamentos.
Além disso, a catequese deve assumir uma dimensão mistagógica,
isto é, um processo de iniciação progressiva, no qual toda a comunidade
participa. Essa iniciação valoriza os sinais litúrgicos da vida cristã e propõe
um caminho de crescimento que integra todas as dimensões da pessoa. O encontro
catequético, assim, não se limita a uma explicação racional de conteúdos, mas
envolve símbolos, ambientação, motivação atraente e inserção em um processo
comunitário de escuta e resposta à Palavra de Deus.
Outro aspecto essencial é a atenção à via da beleza (via
pulchritudinis). Seguir Cristo não é apenas uma questão de verdade e
justiça, mas também de beleza, capaz de encher a vida de alegria e sentido,
mesmo em meio às provações. Por isso, toda expressão de verdadeira beleza: na
arte, na música, na liturgia, nas culturas; pode ser um caminho para o encontro
com o Senhor. Cristo é a Beleza infinita que atrai e fascina. Cabe à catequese
valorizar e incentivar o uso das artes e de novas linguagens, inclusive não
convencionais, como meios eficazes para transmitir a fé de modo significativo
para as pessoas de hoje.
Por fim, ao tratar da dimensão moral da catequese, o Papa
destaca que a proposta não deve se reduzir a denúncias de erros ou a um tom de
julgamento. Mais importante é apresentar sempre o bem desejável, o estilo de
vida evangélico que leva à maturidade, à realização e à fecundidade. O
catequista deve ser reconhecido como mensageiro alegre de propostas elevadas e
guardião do bem e da beleza que brilham numa vida fiel ao Evangelho, e não como
alguém que apenas aponta falhas ou anuncia desgraças.
Assim, a catequese, para ser fiel ao Evangelho e fecunda no
mundo atual, deve ser querigmática, mistagógica, aberta à beleza e sempre
positiva em sua proposta moral. Esse caminho faz da transmissão da fé uma
experiência transformadora, que toca o coração, ilumina a inteligência e
desperta para uma vida nova em Cristo.
📌 *Quando “faz
carne”, o querigma encarna-se em nós: transforma nossa forma de
amar, perdoar, servir, rezar e até de olhar para os outros. Lembra a Palavra que
se encarnou: Jesus.
# Quando o Papa fala que o querigma vai “fazendo carne”, ele
quer dizer que a fé não pode ficar só na cabeça ou nas palavras. É como quando
você ouve algo bonito, mas aquilo começa a mudar sua vida de verdade.
# Se eu escuto que Deus me ama, isso não pode ser só
informação. Precisa se tornar atitude: acreditar em mim mesmo, amar os
outros, perdoar, ajudar.
É como se a fé “entrasse na pele”, virasse parte do meu jeito de
viver.
Em resumo: “Fazer carne” = deixar que Jesus e o seu amor se tornem
vida concreta em nós — nas escolhas, nos gestos, no coração.
Esse trecho (EG 163-168) é um dos mais ricos da Evangelii
Gaudium sobre a Catequese.
Resumo de estudo: Catequese Querigmática e Mistagógica (EG
163-168)
🌟 1. O ponto de partida: o Querigma (EG 164-165)
- O que é:
Primeiro anúncio da fé – Jesus Cristo te ama, deu a vida por ti,
ressuscitou e caminha contigo todos os dias.
- Qualidade:
É “primeiro” não porque vem antes e depois se esquece, mas porque é o mais
importante e permanente.
- Função:
- Centro da
evangelização e da catequese.
- Aprofunda-se
continuamente e “faz-se carne” na vida do cristão.
- Dá sentido a
todos os outros temas da catequese.
- Características do anúncio:
- Deve falar do
amor de Deus antes das exigências morais.
- Não impõe, mas
convida com liberdade.
- Deve ser alegre,
vital, motivador e integral.
- Atitudes do evangelizador: proximidade, diálogo, paciência, acolhimento
cordial e não condenatório.
🌟 2. Mistagogia: iniciação progressiva na fé (EG 166)
- Mistagogia
significa:
1. Caminho progressivo de iniciação, com toda a
comunidade envolvida.
2. Valorização dos sinais litúrgicos da iniciação cristã (Batismo, Eucaristia, Crisma).
- Prática na catequese:
- Palavra de Deus
no centro.
- Ambientação,
símbolos, motivação atraente.
- Processo de
crescimento comunitário, que integra todas as dimensões da pessoa.
🌟 3. A via da beleza (EG 167)
- A fé é também bela: Seguir Cristo não é só verdade e justiça, mas
algo que enche de esplendor e alegria.
- Beleza como caminho de encontro com Deus:
- Todas as
expressões autênticas de beleza ajudam a abrir o coração ao Evangelho.
- Cristo é a Beleza
infinita que atrai a todos.
- Aplicação catequética:
- Valorizar arte,
símbolos, música, expressões culturais e novas linguagens.
- Coragem de usar
sinais novos que falem ao coração das pessoas de hoje.
🌟 4. Proposta moral na catequese (EG 168)
- Não basta denunciar o mal: é preciso apresentar sempre o bem desejável,
o estilo de vida cristão.
- O catequista deve ser:
- Mensageiro alegre
de propostas altas.
- Guardião do bem e
da beleza que brilham numa vida fiel ao Evangelho.
- Não juiz sombrio
ou profeta de desgraças, mas testemunha que inspira.
Em resumo:
- O querigma é o coração da catequese.
- A mistagogia ajuda a viver a fé de forma
progressiva, comunitária e litúrgica.
- A beleza é caminho de evangelização.
- A proposta moral deve ser positiva,
atraente e motivadora.
O trecho em estudo (EG 163-168):
Uma catequese
querigmática e mistagógica
163. (...) Queria
deter-me apenas nalgumas considerações que me parece oportuno evidenciar.
164. Voltamos
a descobrir que também na catequese tem um papel fundamental o primeiro anúncio
ou querigma, que deve ocupar o centro da atividade evangelizadora e de
toda a tentativa de renovação eclesial. O querigma é trinitário. É o
fogo do Espírito que se dá sob a forma de línguas e nos faz crer em Jesus
Cristo, que, com a sua morte e ressurreição, nos revela e comunica a
misericórdia infinita do Pai. Na boca do catequista, volta a ressoar sempre o primeiro anúncio: “Jesus
Cristo ama-te, deu a sua vida para te salvar, e agora vive contigo todos os
dias para te iluminar, fortalecer, libertar”. Ao designar-se como primeiro
este anúncio, não significa que o mesmo se situa no início e que, em seguida,
se esquece ou substitui por outros conteúdos que o superam; é o primeiro em
sentido qualitativo, porque é o anúncio principal, aquele que sempre se
tem de voltar a ouvir de diferentes maneiras e aquele que sempre se tem de
voltar a anunciar, duma forma ou de outra, durante a catequese, em todas as
suas etapas e momentos. Por isso, também “o sacerdote, como a Igreja, deve
crescer na consciência da sua permanente necessidade de ser evangelizado” (João
Paulo II, 1992).
165. Não se
deve pensar que, na catequese, o querigma é deixado de lado em favor
duma formação supostamente mais “sólida”. Nada há de mais sólido, mais
profundo, mais seguro, mais consistente e mais sábio que esse anúncio. Toda a formação cristã é,
primariamente, o aprofundamento do querigma que se vai, cada vez mais
e melhor, fazendo carne, que nunca deixa de iluminar a tarefa catequética, e
permite compreender adequadamente o sentido de qualquer tema que se desenvolve
na catequese. É o anúncio que dá resposta ao anseio de infinito que existe em
todo o coração humano. A centralidade do querigma requer
certas características do anúncio que hoje são necessárias em toda a parte: que
exprima o amor salvífico de Deus como prévio à obrigação moral e religiosa, que
não imponha a verdade mas faça apelo à liberdade, que seja pautado pela
alegria, o estímulo, a vitalidade e uma integralidade harmoniosa que não reduza
a pregação a poucas doutrinas, por vezes mais filosóficas que evangélicas. Isto
exige do evangelizador certas atitudes que ajudam a acolher melhor o anúncio:
proximidade, abertura ao diálogo, paciência, acolhimento cordial que não
condena.
166. Outra
característica da catequese, que se desenvolveu nas últimas décadas, é a
iniciação mistagógica, que significa essencialmente duas
coisas: a necessária progressividade da experiência formativa na qual intervém
toda a comunidade e uma renovada valorização dos sinais litúrgicos da iniciação
cristã. Muitos manuais e planificações ainda não se deixaram interpelar pela
necessidade duma renovação mistagógica, que poderia assumir formas muito
diferentes de acordo com o discernimento de cada comunidade educativa. O encontro catequético é um
anúncio da Palavra e está centrado nela, mas precisa sempre duma ambientação adequada e duma
motivação atraente, do uso de símbolos eloquentes, da sua inserção num amplo
processo de crescimento e da integração de todas as dimensões da pessoa num
caminho comunitário de escuta e resposta.
167. É bom
que toda a catequese preste uma especial atenção à “via da beleza (via
pulchritudinis)”. Anunciar Cristo significa mostrar que crer n’Ele e segui-Lo
não é algo apenas verdadeiro e justo, mas também belo, capaz de cumular a vida
dum novo esplendor e duma alegria profunda, mesmo no meio das provações. Nesta
perspectiva, todas as expressões de verdadeira beleza podem ser reconhecidas
como uma senda que ajuda a encontrar-se com o Senhor Jesus. Não se trata de
fomentar um relativismo estético (IM, 6), que pode obscurecer o vínculo
indivisível entre verdade, bondade e beleza, mas de recuperar a estima da
beleza para poder chegar ao coração do homem e fazer resplandecer nele a
verdade e a bondade do Ressuscitado. Se nós, como diz Santo Agostinho, não
amamos senão o que é belo, o Filho feito homem, revelação da beleza
infinita, é sumamente amável e atrai-nos para Si com laços de amor. Por isso,
torna-se necessário que a formação na via pulchritudinis esteja
inserida na transmissão da fé. É desejável que cada Igreja particular incentive
o uso das artes na sua obra evangelizadora, em continuidade com a riqueza do
passado, mas também na vastidão das suas múltiplas expressões atuais, a fim de
transmitir a fé numa nova “linguagem parabólica” (Bento XVI, 2012). É
preciso ter a coragem de encontrar os novos sinais, os novos símbolos, uma nova
carne para a transmissão da Palavra, as diversas formas de beleza que se
manifestam em diferentes âmbitos culturais, incluindo aquelas modalidades não
convencionais de beleza que podem ser pouco significativas para os
evangelizadores, mas tornaram-se particularmente atraentes para os outros.
168.
Relativamente à proposta moral da catequese, que convida a crescer na
fidelidade ao estilo de vida do Evangelho, é oportuno indicar sempre o bem
desejável, a proposta de vida, de maturidade, de realização, de fecundidade,
sob cuja luz se pode entender a nossa denúncia dos males que a podem
obscurecer. Mais do que como peritos em diagnósticos apocalípticos ou juízes
sombrios que se comprazem em detectar qualquer perigo ou desvio, é bom que nos
possam ver como mensageiros alegres de propostas altas, guardiões do bem e da
beleza que resplandecem numa vida fiel ao Evangelho.
(Exortação apostólica Evangelii
Gaudium (o anúncio do evangelho no mundo atual), 163-168. Papa Francisco, 24 de
novembro de 2013).
OBS: O documento na íntegra encontra-se
em https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20131124_evangelii-gaudium.html
ROTEIRO DE ENCONTRO
DE FORMAÇÃO PARA CATEQUISTAS
Objetivo: Ajudar os catequistas a compreenderem a centralidade
do querigma, a importância da mistagogia, da via da beleza e da proposta moral
positiva na catequese.
1. Ambientação
- Colocar
no centro uma Bíblia aberta e uma vela acesa.
- Ao
redor, símbolos de beleza: uma imagem de Cristo, flores, uma música suave
de fundo.
- Cartaz
com a frase: “Jesus Cristo te ama, deu a vida por ti e caminha contigo
todos os dias” (síntese do querigma).
- Recepção
calorosa aos catequistas.
- Breve
dinâmica: cada participante
recebe um papelzinho dobrado com a frase “Jesus te ama” e, sem
abrir, troca com outra pessoa. Os dois abrem e mostram ao outro.
- Comentário:
“Jesus te ama e caminha contigo!”, esse é o anúncio central que
nunca pode faltar na catequese.
- Texto
sugerido: Jo 1,14 – “E a
Palavra se fez carne e habitou entre nós”.
- Breve
leitura orante em quatro passos:
1. Leitura –
escutar o texto.
2. Meditação –
o que significa para mim a Palavra se fazer carne?
3. Oração –
responder a Deus.
4. Contemplação
– acolher o convite de deixar a fé transformar a vida.
(Arquivo em powerpoint disponível ao final)
- Querigma: anúncio fundamental e permanente da catequese.
- Mistagogia: iniciação progressiva na fé, valorizando
liturgia, símbolos e comunidade.
- Via
da beleza: mostrar que a fé é
bela, usar arte, música, cultura e criatividade para evangelizar.
- Proposta
moral: não ser apenas denúncia,
mas apresentar o bem e a vida plena no Evangelho.
- Dividir
os catequistas em 4 grupos. Cada grupo recebe um tema:
1. Querigma
2. Mistagogia
3. Via da beleza
4. Proposta moral positiva
- Tarefa: pensar em como aplicar esse
aspecto num encontro de catequese com crianças/adolescentes.
- Depois,
cada grupo partilha em plenário.
- Cada
catequista escreve no papel: Como vou tornar o querigma mais presente
nos meus encontros?
- Guardar
esse compromisso no caderno ou Bíblia pessoal.
- Rezar
juntos:
“Senhor, faz de nós catequistas querigmáticos, capazes
de anunciar com alegria o Teu amor. Que nossa vida seja testemunho vivo, que
nossos encontros sejam experiências mistagógicas e belas, e que nossa proposta
de fé seja sempre positiva e atraente. Amém.”
- Cantar um refrão alegre (sugestão: “Onde reina
o amor, fraterno amor...” ou outro conhecido na comunidade).
👉 Esse roteiro
cabe em 1h30 a 2h de encontro.
LINK PARA O ARQUIVO EM SLIDES:
✨ “Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor.”
(Cl 3,23)
Catequistas, conheçam nossos materiais para apoiar sua
missão:
📘 Formação Humana – R$ 30
📗 Critérios para Formação – R$ 20
📙 As duas juntas: R$ 40
💳Pagto por PIX 41997470349 🙏💙
📲 Pedidos pelo
WhatsApp: (41) 99747-0348
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