O mês de junho está aí e com ele as
famosas Festas Juninas, que animam e
mexem com a comunidade, seja na escola, ou na Igreja. E já perdemos a de Santo
Antônio que foi no dia 13 de junho, mas, vem aí a de São João e de São Pedro!
Originalmente, estas festas que
surgiram na Europa, eram chamadas Joaninas
pela estreita relação que tem com o Dia de São João, único dos Santos que é
festejado no dia do seu nascimento e não no dia da sua morte. Estas festas
chegaram ao Brasil no século XVI e foram progressivamente mudando o nome para Junina. Elas representam hoje,
principalmente no nordeste do país, uma das mais expressivas manifestações
culturais brasileiras. Nelas são festejados três grandes santos católicos: São
João, dia 24, São Pedro, dia 29 e Santo Antonio, dia 13.
Muitas tradições estão relacionadas
com estas festas que hoje, em muitos lugares, já se estenderam para o mês de
julho, chamadas então de Julinas. Elas
tem origem nas Quermesses (do flamengo Kerkmisse,
que quer dizer festa de igreja) europeias, que eram realizadas primeiramente
para celebrar os santos padroeiros das igrejas. O primeiro registro de uma
festa assim é de 1391. Com o tempo elas se estenderam para fora da igreja
perdendo um pouco do caráter religioso e se tornando profanas. Ainda hoje se
realizam em algumas regiões da Europa e em praticamente todas as paróquias do
Brasil.
São
João, o mais festeiro dos Santos
A Igreja católica festeja o nascimento
de João, primo de Jesus, conforme o relato do Evangelho de Lucas (Lc 1, 26-56),
que narra a Anunciação feita pelo Anjo Gabriel como acontecida no sexto mês de
gravidez de Izabel, mãe de João. Portanto, João nasceu seis meses antes de
Jesus, fixando-se assim o dia 24 de junho como data da festa do nascimento daquele
que anunciaria a vinda do Salvador. Segundo o relato de Lucas (Lc. 1, 57-58), o
nascimento de João foi motivo de grande alegria para vizinhos e parentes, o que
nos leva a crer que aquele tenha sido um dia muito festivo.
A fogueira junina é uma das maiores
tradições católicas. Conforme a tradição ela tem origem em um trato feito pelas
primas Maria e Isabel: para avisar Maria do nascimento de João, Isabel mandou
acender uma fogueira sobre um monte. Significando a boa nova do nascimento.
A comemoração do nascimento de João,
assim como do natal, nascimento de Nosso Senhor Jesus, coincidem com os
solstícios de inverno e de verão. Os dias de solstício (do latim solstitium,
que significa parado, imobilizado), marcam a época do ano em o Sol “imobiliza” seu
movimento gradual para o sentido sul e passa a dirigir-se na direção do pólo
norte. No hemisfério Sul os dias se tornam mais curtos e mais frios, razão pela
qual as fogueiras das festas juninas fazem tanto sucesso.
Ao
contrário do que se possa imaginar as festas ligadas às mudanças de estação não
eram privilégio dos povos pagãos. A tradição judaica e cristã sempre tiveram
uma forte ligação com o mundo natural e os ciclos do Sol e da Lua. Apesar de
alguns festivais e costumes ligados ao solstício de verão serem anteriores ao
Cristianismo, a tradição judaica e a inculturação da fé católica os absorveu e
valorizou, respeitando e mantendo diversos aspectos culturais dessas manifestações
nas festas juninas.
As
festas juninas assim tornaram-se motivo de festejo e alegria. Diferente do
natal e páscoa que reúne as pessoas em suas casas ou do carnaval e
independência que reúne pessoas nos centros das cidades. As festas juninas
reúnem as pessoas da rua e do bairro, da escola, da pequena comunidade ou da
paróquia. São organizadas quermesses e arraiais ao lado da Igreja, no pátio da
escola, em terrenos baldios, sendo assim, muito mais populares. Todos são
convidados, não é preciso pagar ingresso.
Na
região nordeste do Brasil, no semi-árido, os agricultores agradecem a São João
e São Pedro as chuvas e o sucesso nas colheitas. Nos estados de São Paulo,
Minas Gerais, Goiás e Paraná é a festa do Brasil caipira, onde as comunidades
relembram suas origens sertanejas.
O
coração dos fiéis fica mais fervoroso, além de terços, rosários e ladainhas o
tempo é propício para as novenas e até mesmo para a Trezena de Santo Antonio
(de 01 a
13 de junho). Segundo a tradição, os santos disputam entre si para saber quem
teve mais orações.
Grandes
arraiais são montados, uma “vila” temporária com bandeirolas, barracas de
guloseimas, brincadeiras, fogueiras, música, dança e muita diversão. É tempo de
quentão (bebida para esquentar e animar). As comidas típicas, feitas a base de
milho (tempo de colheita no nordeste) e amendoim (tempo de colheita no
sudeste), aliam-se ao leite, açúcar e ovos da tradicional cozinha portuguesa.
De São Paulo para o Sul do Brasil, acrescenta-se o pinhão, fruto da araucária.
Das cinzas da fogueira vêm a batata doce servida assada.
Compadres
e comadres se encontram, um casamento caipira sempre acontece. Uma fogueira
diferente para cada santo. A dança ao redor da fogueira purifica, ilumina e
diverte. Pula-se a fogueira, caminha-se sobre brasas numa simbologia de
purificação e coragem, queimando-se energias negativas e experiências más. O
pau-de-sebo, brincadeira de origem profana, símbolo do vigor e da fertilidade,
desafia os jovens a realizar a proeza de chegar ao topo e ganhar as prendas ali
colocadas.
Segundo a tradição cada fogueira tem a
sua geometria: A de Santo Antonio tem a base quadrada, simbolizando os quatro
elementos e a fecundidade. A de São Pedro deve ser triangular, ela lembra a
simbologia da trindade. A de São João deve ser arredondada (hexágono ou
heptágono), simbolizando o cosmos, a ascensão, as labaredas e as nuvens.
A
quadrilha, dança de salão, é levada para o terreiro em homenagem aos santos
padroeiros. Na voz ritmada do marcador mais de 20 passos são executados. A luz
das fogueiras vence as trevas e esquenta os amores e os corações o que faz com
que a comunidade sinta a necessidade de festejar e que muitas moças, peçam em
suas orações a Santo Antonio um abençoado casamento.
Ângela Rocha
Fonte de consulta:
Amaral,
Antropologia Brasileira: Festas Juninas.
2008.
Miranda,
Guia de Curiosidades Católicas. Rj.
Vozes, 2007.
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