Precisamos
compreender que há em todos os seres humanos um desejo imenso de se superar,
mostrar que é útil e que seu desempenho agrada a todos com quem ele convive. É
aquilo de “preciso ser amado”.
Nesta
visão nos envolvemos no mais alto grau de estresse por ocasião, por exemplo, de
“trocas” de lideranças ou coordenadores num grupo. Quem substitui certamente vai
procurar um desempenho melhor que do líder anterior, gerando um julgamento de
comparação. E esta comparação de “melhor” ou “pior” provoca abalo considerável
no grupo: inveja, fofoca, insatisfação. Não raras vezes, na busca pelo “melhor”
abandona-se planejamentos feitos e projetos em andamentos. Em situações como
essa é que se percebe quem tem dom de liderança, quem planeja e sabe as
consequências de seus atos. Nada causa mais insatisfação do que mudanças bruscas
de direção. O verdadeiro líder é aquele se sabe o seu potencial e valoriza o
trabalho deixado pelo outro, complementa o certo e corrige o errado, sem ferir
a ninguém. O líder não muda: reinventa. Inveja, nem pensar!
A inveja é um olhar amargurado sobre o brilho dos outros, que nasce da “comparação” daquilo que eu tenho e sou, em contraste com aquilo que outro tem e é! E como isso gera insatisfação quando a gente se vê “menos” e “menor”!
A inveja é um sentimento causado pela nossa incapacidade de conviver com aquilo de bom que os nossos olhos veem nos outros, mas que, no fundo, achamos que deveria ser e acontecer conosco.
Mas,
certamente que, para uma doença tão destrutiva como a inveja, deve ter uma
“cura”. Ou não? Claro que tem!
E
o que pode ser o contrário disso? Que sentimento nos fará satisfeitos com a
gente mesmo, sem inveja e comparação? É o...
CONTENTAMENTO!!!
O
CONTENTAMENTO é uma virtude que nasce da “saciedade”, da satisfação com aquilo
que somos e fazemos, é estar contente com a vida em suas múltiplas dimensões. O
contentamento não nos leva a comparação competitiva, mas sim, nos ajuda a ver
no sucesso do outro, uma inspiração para sairmos do lugar, para sermos
melhores! Este é um aspecto importante, uma vez que não se pode confundir
contentamento com uma acomodação, o ficar na “mesmice” sem fim. Eu não preciso
da inveja para crescer, pois, se sou feliz com o que já alcancei, posso me
inspirar no brilho do outro para ir além. O contentamento me ajuda a lançar um
olhar feliz sobre o outro e me livra de desejar a felicidade do outro, pois esta
felicidade já está em mim mesma!
Mas,
uma coisa bem difícil de acontecer é “assumir” a inveja, principalmente como
pecado, no contexto da liderança. Um escritor brasileiro definiu a inveja como
“o mal secreto”. De todos os sete pecados capitais, é o menos admitido
publicamente. Não é a toa que a palavra vem do latim envidare, que originalmente significa o “olhar de lado, de soslaio,
escondido”.
Se
isso é possível até no contexto da família, é especialmente verdadeiro no
contexto da liderança, onde a competição e comparação são ingredientes férteis
para fazer nascer a inveja no coração do líder. Admitir esta inveja publicamente é ter que
revelar também os níveis internos de insatisfação e os externos de ambição.
Isto é muito ruim para a nossa máscara social, especialmente a dos líderes que,
não raro, se escondem por trás de sua “persona publica”, que nem sempre
correspondente à pessoa que se é em particular.
Um
caso clássico de inveja na Bíblia é o de Saul, que tentou destruir Davi porque
tinha inveja deste e porque julgava que Davi queria lhe tirar o poder. Ainda
que bíblico, este é um assunto que se explora pouco nos nossos círculos, não é
mesmo? E por que isso acontece?
Além
das razões já expostas, a inveja está ausente das nossas discussões e pregações
porque, infelizmente, temos pouca orientação a respeito da nossa “vida
interior”. Na maioria das vezes nos são
oferecidas direções e formações para lidarmos com a vida “fora de nós”: nosso
comportamento moral, nossa vida social, financeira, etc. Vamos então deixando
de abordar as realidades próprias do nosso mundo interior e, como inveja é um
sentimento próprio da nossa interioridade, não gostamos muito de discuti-la em
público.
Agora
nos voltemos para a liderança na Igreja. O que causa a inveja numa pastoral? Quais
os sinais que indicam que um líder já está sendo acometido deste
sentimento? Na verdade as causas também são os sintomas:
- Competição e
comparação desenfreada com os outros;
- Profunda e
constante insatisfação com sua realidade, ainda que mudanças e conquistas
aconteçam;
- Idealização
constante da condição de liderança do outro;
- Construção
desenfreada de um império pessoal ao invés do Reino de Deus;
- Vaidade e
centralização no EU, que acaba insaciável no seu apetite de glória pessoal;
- Pequena raiva ou
forte ira quando ouve alguma coisa boa a respeito de outro líder;
- Incapacidade de
conviver com o fato de que existem outros líderes mais capazes e com resultados
visíveis maiores...
Agora
vamos analisar como fazer a “prevenção” deste mal. Muito mais que um antídoto,
o contentamento previne que a inveja aflore. Podemos ver na própria Bíblia que
o Contentamento veio antes da inveja. Contemplando a Criação, Deus disse:
"Está bom", e assim "inaugurou" a virtude do
contentamento. Portanto, contente consigo e sua criação, Deus descansa. E o
descanso é a consequência natural do contentamento, pois ele traz uma forte
serenidade interior que nos levar a entrar no descanso divino. A inveja veio
depois, é fruto do pecado humano. Portanto, mas do que um antídoto contra a
inveja, o contentamento vem, na ordem divina, em primeiro lugar e, sendo assim,
a inveja não terá lugar!
E
na liderança o contentamento, a inovação e a superação exigidas de um líder,
precisam conviver. O contentamento jamais pode se confundir com uma medíocre
acomodação. Inovar e superar são necessidades imperiosas para os líderes que
desejam crescer. O que vai importar aqui é qual a motivação orientadora desta
inovação e superação. Se estas atitudes estiverem atreladas ao sentimento de
inveja, de competição e de superação do brilho do outro, então, o contentamento
se foi. Porém, se forem fruto de uma autêntica busca de crescimento sem
comparações invejosas, então podem conviver harmonicamente com o contentamento!
Vou buscar ser melhor para fazer melhor. Essa é a premissa.
Nas
nossas conversas anteriores, falamos sobre a fofoca e como ela pode ser “detonada”.
O s sentimentos de inveja, quando percebidos numa equipe também podem ser
tratados da mesma forma. Problemas somente se resolvem quando resolvemos enfrentá-los. Eles
não passam automaticamente ou somem no ar. Assim, no primeiro sinal de inveja
numa equipe, o passo mais elementar é uma saudável tentativa de trazer a tona a
inveja escondida. Isto pode ser feito em conversas particulares com os
envolvidos, mostrando-lhes que o caminho do contentamento é sempre melhor.
E, porque em Deus estou tranquilo...
"Senhor, meu
coração não se eleva e nem meus olhos se alteiam;
não ando atrás de
grandezas, nem de maravilhas que me ultrapassem.
Antes me acalmo e
tranquilizo, como criança desmamada no colo da mãe,
como criança
desmamada estão em mim os meus desejos.
Israel, põe em Deus
tua esperança
Desde agora e para sempre!"
(Salmo do contentamento:131)
(Salmo do contentamento:131)
(Texto
foi baseado no livro “Inveja e Contentamento”, de Eduardo Rosa Pedreira, Doutor
em Teologia pela PUC-RJ, professor da FGV).
Apostila de Liderança
Cristã.
Ângela Rocha
Ilustrações: Dinha
Pinheiro
Grupo Catequistas em
Formação
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