Um
tema muito forte na Bíblia é o chamado de Deus e sua relação com a própria
Palavra. Palavra de Deus e vocação são duas realidades profundamente ligadas. Toda
a Escritura manifesta um chamado radical que Deus dirige ao homem para que ele
seja, na sua vida, aquilo que já é na sua essência: imagem de Deus e filho de
Deus!
A
Escritura é o lugar em que se gera uma relação com Deus e se aprofunda a
relação gerada. É por isso que chamamos a Bíblia de “Palavra de Deus”. Seguindo
essa linha de pensamento, fica bem mais fácil entender o que significa “ser chamado”. O profeta Isaías descreve
com estas palavras todo o mistério do “chamado”, da “relação nova” que Deus deseja
estabelecer com alguém sobre o qual pousa o seu olhar:
“Eu te escolhi, te
chamei pelo teu nome e te pus um nome novo, ainda que não me conheças” (Isaías 45,4).
Apenas
com um versículo, o Profeta nos indica tudo o que acontece quando nos sentimos
envolvidos por um mistério profundo que chamamos “vocação”. A primeira coisa
que percebemos nesse mistério é que Deus dá início a um novo relacionamento: “EU te escolhi...”. Quem é chamado
precisa sempre reconhecer o privilégio de ter sido envolvido num relacionamento
com Deus de modo diferente.
O
segundo elemento que deve sempre ficar claro a quem se percebe escolhido está
contido nesta outra expressão: “chamei
pelo nome”. Não se trata apenas de um “convite”. Nunca na Escritura o verbo
usado tem essa característica, pois o Senhor não “convida alguém”, mas sim o
“convoca”.
O
que isso significa? Significa que não é apenas uma solicitação, mas um apelo
que Deus faz a quem “Ele considera capaz para a missão que Ele conhece”. É o
maravilhoso e encantador agir de Deus que deseja “precisar do homem” para
salvar o homem. “Eu preciso de você; não de outro! Apenas você pode ser para os
outros aquilo que Eu desejo dar-lhes! ”.
O
terceiro elemento que fica claro em toda vocação autêntica é que Deus não nos
pede para sermos algo diferente daquilo que já somos. “Eu te chamei pelo nome” indica o respeito profundo que Deus tem
para com aquilo que nós somos; Ele respeita o nosso “nome”, a nossa
personalidade, a nossa cultura, história, dramas, expectativas etc. Ele não
pediu a Pedro para ser “marceneiro”, mas sim para continuar sendo “pescador”. Apenas
o objetivo da vida mudaria. Isso é o sinal de que um chamado é autêntico. Todos
os apelos da Escritura refletem esse respeito profundo de Deus por aquilo que
somos. Ele não pede para “substituir” a nossa vida por outra coisa que, às
vezes, existe apenas na nossa imaginação. Deus respeita tudo aquilo que somos,
mas pede que usemos tudo o que somos para unir nossa vida à beleza do projeto
de Deus.
Por
último, para poder apreciar e acolher a maravilhosa escolha que Deus faz e que
chamamos “vocação”, consideremos a última parte do mesmo versículo: “...um nome novo, ainda que não me conheças”.
É o encantador e aventuroso caminho da vocação que não esgota o seu potencial,
apenas no momento de responder “sim”; é um longo processo de assimilação entre
a vontade de Quem convoca e de quem é convocado; Paulo dirá: “Não sou mais eu quem vive, é Cristo que vive
em mim” (Gálatas 2,20). Não se trata de substituição de personalidade,
trata-se apenas de “sintonia de corações”, “com participação”, “fusão de
sentimentos”, do mesmo modo que Jesus dirá sobre o Pai: “Eu e o Pai somos um”. É sentir o que o outro sente, é viver o que o
outro vive. Enfim, é permitir que Deus aja livremente em nossa vida “para que o
mundo creia” no amor e na bondade de Deus.
A
vocação implica sempre numa escolha específica que apenas Deus faz! Ser chamado
por Jesus implica uma escolha que Ele faz de alguém, por mistérios da sua
vontade. É um privilégio do qual não podemos nos envergonhar, como dizia João
Paulo II:
“Quão grande privilégio
é conferido àqueles que são chamados a serem consagrados a Deus, a serem
anunciadores do Evangelho! Quão extraordinária satisfação se descobre quando
respondemos ao apelo de comunicar Cristo ao outro! ” (23/02/1981).
Toda
vocação é relacionada a uma missão: o catequista é chamado a educar e conduzir
o discípulo para a experiência profunda de encontro com o Senhor, escutando e
refletindo em si a pessoa de Jesus vivo.
Partilhando com o grupo:
•
O que mais lhe chamou atenção na reflexão sobre vocação?
•
Como essa realidade está presente em sua vida?
FONTE: Apostila Catequese Diocese
de Ponta Grossa – PR.
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