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quarta-feira, 26 de outubro de 2016

ENCONTROS DE FORMAÇÃO PARA CATEQUISTAS: COMO FAZER?


Um dos principais objetivos do nosso grupo é proporcionar "formação" aos catequistas, complementando aquelas que já temos em nossas paróquias. Mas, surgiu no grupo uma constatação: "E quando as formações não tem sentido nenhum e servem apenas para “encher linguiça”?

E por que isso acontece afinal de contas? Já é tão difícil achar espaço na lotada agenda dos catequistas para formação e, quando conseguimos a presença deles... acabamos estragando a coisa? É, mas acontece!

Quero deixar claro aqui que o que estamos tratando é da “Formação Continuada” de catequistas, ou seja, das formações que devem constar do planejamento anual da equipe. Não confundir com a formação “Básica” ou a formação das Escolas Catequéticas, constituídas em muitas dioceses. Estas, evidentemente, têm um conteúdo programático e uma estrutura “escolar” de ensino-aprendizado, voltadas mais ao catequista iniciante.

Voltemos às nossas “formações para encher linguiça”. Penso que várias são as causas disso. Primeiro é o...

1) PLANEJAMENTO

E aqui temos a "falta" dele e ele próprio como causa!
Explicando: Muitas e muitas equipes não fazem planejamento formativo para os catequistas. Elas acontecem a esmo ou são direcionadas somente pelas equipes setoriais ou diocesanas. Esse é um problema. Outro é que, preocupados em fazer o tal “planejamento” do ano, muitas equipes se preocupam em estabelecer no calendário formações para catequistas, agendando várias datas e escolhendo vários temas ou deixando para ver o tema um dia antes...
No primeiro caso, está certo, desde que haja uma preocupação verdadeira com os tais TEMAS. No segundo, a coisa está fadada a ser uma sessão típica de "encher a linguiça" sem nem ter matado o porco.

Ideal é que se faça uma análise da real necessidade de formação e conhecimento da equipe. Vejam só: nós fazemos isso aqui no grupo perguntando o que os catequistas gostariam de ver discutido. Obviamente temos poucas manifestações, se contarmos o montante de pessoas que está no grupo. Mas, quem responde, imagino que acompanhe os assuntos (Será? assim espero).

Feito este levantamento é necessário pensar se há “espaço” para acontecer os encontros ou reuniões. E não estou falando de espaço físico não. Estou falando de “espaço tempo” na agenda e na vida conturbada da maioria dos nossos catequistas. Sem contar a falta de disposição mesmo, já que muitos se acreditam "formados" e muito bem formados pelo "tempo" e não precisam saber mais nada... Imagine então se uma pessoa assim vai numa formação de “encher linguiça”? Pronto acabou! Nunca mais você pega a criatura.

Vejamos então com a equipe qual é a disponibilidade deles no ano: dois encontros, três encontros, quatro encontros? Marcado na agenda com antecedência, quem não for é porque não quer ir mesmo, não é? Aqui temos aquela velha máxima: “Quem quer arruma jeito, quem não quer arruma desculpa”. E vamos parar de nos preocupar com quem só arruma desculpa, vamos nos preocupar com aqueles que sempre estão lá!

Agendadas as datas ao longo do ano, vamos aos ASSUNTOS das formações e encontros. Primeiro que ninguém aceita um convite para ouvir alguma coisa que não é do seu interesse, então, as formações precisam ser necessárias e interessantes! Tanto do ponto de vista da coordenação quanto da equipe. Nada como perguntar aos interessados ou ter uma visão bem apurada do que pode ser melhorado no trabalho pastoral.

Feito o planejamento com formações com temas interessantes, vamos ao próximo passo...

2) ASSESSORIA

É um nome bonito para dizer quem vai conduzir a formação ou direcionar os trabalhos. E se o assunto foi escolhido com carinho, a data foi marcada com bastante antecedência e os catequistas aguardam ansiosamente... A formação tem tudo pra dar certo!
É. Tem mesmo, mas...

E quando a pessoa que direciona o trabalho mata todo o empenho para que ela acontecesse? Pessoas despreparadas, sem domínio completo do assunto, sem noção de “tempo”, que não conhecem o público alvo, enfim, sem “conhecimento de causa”, acaba por fazer de uma formação um suplício.

Certa vez isso aconteceu comigo. Trabalho o CREIO na catequese, tanto com as crianças do 3º ano quanto com os pais, por conta da Entrega do Símbolo. E estava agendada uma formação diocesana a respeito, em duas etapas, duas tardes de sábado. Oito horas de formação com um padre que entendia muito do assunto. Fiquei animada e esperei ansiosamente por ela. Afinal ia aprimorar meus conhecimentos e conseguir embasamento para a minha missão. Só que... O padre em questão era um professor de seminário, sem qualquer vivência catequética. Falou numa linguagem difícil e de uma maneira pra lá de aborrecida. As primeiras quatro horas de formação foram o calvário sem a cruz pra mim. E estas horas que “perdi”, pediram ansiosamente também, que eu não fosse à segunda tarde de sábado lá.

Resultado: aprendi mais sobre o Creio lendo o CIC e o “Eu creio: Pequeno Catecismo Católico”.

Não vou aqui criticar padres e freiras que nos dão formação, mas, é preciso pensar que estes precisam ter CONHECIMENTO CATEQUÉTICO também. Não se dá formação a catequistas como se dá aula de teologia no seminário ou se fala do trato com crianças e adolescentes se nunca se teve esse relacionamento. Então muita atenção: se queremos formação espiritual, teológica ou litúrgica; os religiosos sabem muito... Mas, sabem transmitir numa linguagem que os catequistas entendam? Outra coisa, quem fala com catequistas precisa, no mínimo, ter sido catequista um dia. A teoria a gente consegue nas inúmeras publicações da Igreja e livros. Precisamos é do conhecimento prático, das experiências que nos levarão a ser catequistas melhores.

Então, ao chamar um palestrante ou assessor para a formação, assegurem-se de que a pessoa vai “fazer a diferença” e que, além de saber do que está falando, tenha “feito” alguma catequese na vida. Essa pessoa precisa ter uma oratória adequada, conhecimento do público, do assunto e do contexto em que este público vive. Um bom assessor faz com que o tempo “voe”. Um ruim faz com que nosso relógio tenha minutos de 600 segundos.

3) ACHISMO

Este com certeza é um dos motivos dos fracassos das formações. Falei acima da questão de se consultar os interessados sobre o tema a ser tratado (e necessário para a formação da equipe) ou ter um visão sistêmica e bem acurada da catequese e da equipe para saber o que está “faltando” ali.

Mas, alguns coordenadores e até padres, trocam esta “visão sistêmica” da catequese pelo ACHISMO: “Eu acho que os catequistas precisam ter formação sobre escatologia e exegética”. Ou então algum coordenador acha que tá faltando “rezar” e dá-lhe adoração ao Santíssimo, encontro sobre “Maria”, devoção... Sendo que o que pega é o próprio “relacionamento” entre as pessoas da equipe. Vamos rezar junto? Sim vamos. Mas, primeiro, vamos aprender a “viver” e “conviver” juntos.

Outra coisa é o “achar” que o catequista tem obrigação de estar nas formações, sejam elas quando for, e não se preocupar em adequar o tempo da catequese ao tempo dos catequistas. Obviamente que haverá catequistas que não terão tempo nunca, mas, reitero: não nos preocupemos com estes, vamos nos preocupar com quem está interessado em participar de verdade.

Enfim, eu não posso “achar” nada sozinha. Preciso ter conhecimento do contexto e da necessidade real de formação dos catequistas. Lembram-se da “liderança participativa”? É essa!

4) NÃO SABER A DIFERENÇA...

Realmente é preciso saber a diferença entre: Reunião, encontro, celebração, momento orante, espiritualidade, formação...

a) Reunião: Um momento rápido para se colocar os membros da equipe a par dos acontecimentos, para discutir assuntos de ordem administrativa ou um assunto específico que tenha surgido inesperadamente. Uma reunião pode (e deve) começar com um “momento orante”, mas que não tome metade do tempo disponível, pois reuniões onde os assuntos são polêmicos (tomada de decisões principalmente), tendem a ser longas. O momento orante é apenas para nos lembrarmos de que estamos reunidos em nome do Pai e pela causa do Filho.

b) Encontro: Um encontro normalmente, tem um tema a ser explorado e um tempo de duração pré-definido. Intercala momentos de leitura, oração, reflexão. Assemelha-se ao “encontro de catequese” propriamente dito.

c) Celebração: As celebrações são momentos mais profundos e trazem vários aspectos da liturgia: Ritos, símbolos, Palavra, Comunhão. Tem um roteiro a ser seguido e um tempo determinado.

d) Momento Orante: pode ser, simplesmente, um abaixar a cabeça escutando uma música, dar as mãos para uma oração, ler uma passagem bíblica, rezar o Pai Nosso ou a Oração do Espírito Santo. Deixa de ser “momento” e passa a ser celebração quando se estende.

e) Espiritualidade: Normalmente se dá este nome aos momentos de oração ou momentos celebrativos que acontecem antes de um Encontro, uma Formação ou reunião. A “espiritualidade” é mais elaborada que um momento orante, mas, não chega a ser uma celebração. Na verdade, a “espiritualidade” do catequista precisa ser exploradas em encontros somente com este fim: apenas de oração, reflexão bíblica, adoração.

f) Formação: No nosso caso, da catequese, a formação pode ser um “encontro”, pode ser uma “celebração”, pode ter “momento orante” e pode ter “momento celebrativo”, mas, sobretudo, traz um tema a ser estudado e conhecido para a FORMAÇÃO do catequista. Uma coisa que não pode acontecer nunca é trazer a “reunião” para a formação. E aqui todos os aspectos podem estar envolvidos: o Ser, o Saber e o Saber fazer do catequista. As formações tem um tempo maior para serem realizadas e precisam ser organizadas de maneira a não serem cansativas, intercalando música, dinâmicas, brincadeiras, intervalos (cafezinho, lanche), etc. No entanto, se elas vão acontecer num espaço de tempo pequeno (1 ou 2 horas), os momentos de oração e espiritualidade precisam ser breves.


PARA FINALIZAR O ASSUNTO... O que deve e não deve acontecer numa formação para catequistas:

SEMPRE:
- Fazer sempre um “Convite” bem elaborado e chamativo;
- A formação precisa ser planejada e estar prevista no calendário, nada de marcar formação em cima da hora;
- O ambiente precisa ser adequado, confortável e “temático” (Bíblia, cruz, vela...) ;
- Começar e terminar no horário estipulado;
- Fazer um cartão/lembrança do encontro é um “carinho” que valoriza o participante;
- O material do encontro precisa ser disponibilizado aos participantes durante a formação ou depois;
- Sempre fazer uma avaliação dos pontos positivos e negativos observados para melhorar na próxima formação.

NUNCA:
- Assunto desinteressante, fora da realidade e contexto da comunidade (aqui se pode fazer uma consulta aos catequistas sobre o assunto que gostariam e “precisam” que seja tratado);
- Tempo muito curto ou demasiadamente longo;
- Assessores/palestrantes sem formação adequada, que não conhecem o público ou não sabem explanar o assunto de maneira interessante;
- Misturar assuntos do dia a dia, administrativos, com a formação, ou seja, fazer reunião na formação;
- Desviar o assunto/tema;
- Lamentar quem “não veio” (Trate disso depois, com quem não veio);
- Fazer momentos de espiritualidade e reflexão que ocupem muito tempo: se a intenção é desenvolver a espiritualidade do catequista ou fazer reflexão bíblica, marcar outro encontro com esta finalidade. Todo momento orante ou leitura bíblica de uma formação tem que estar ligados ao tema da formação, fazendo “introdução” ao tema.


Ângela Rocha
Catequista - Catequistas em Formação.



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