HOMILIA
DO 31º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C
Neste domingo, o Evangelho
nos apresenta a perícope do encontro de Jesus com Zaqueu. Trata-se de um
cobrador de impostos, considerado impuro pelos judeus. Zaqueu era um ladrão,
desonesto em suas cobranças, além de ser um homem de muitas posses.
Para este homem é destinada a
misericórdia de Deus, pois o Senhor não despreza nenhuma de suas criaturas,
como nos diz o livro da Sabedoria: “Sim, ama tudo o que existe e não desprezas
nada do que fizeste, porque, se odiasse alguma coisa, não a teria criado” (Sb
11, 24). Deus não deseja a condenação de ninguém, mas, a felicidade de seus
filhos: “Acaso eu quero a morte do pecador – oráculo do Senhor – e não que se
converta e tenha vida?” (Ez 18, 23). A misericórdia manifestada em Jesus nos
revela a gratuidade divina, fundamentada no amor que ama acima de qualquer
pecado. Esta gratuidade ainda é mal compreendida por muitos em nossos dias.
Zaqueu fez o caminho da
conversão. Queria ver Jesus, havia um desejo intenso de ver o Salvador, e de
vê-lo de longe. Não queria ser descoberto, identificado. Por isso, estava
escondido na árvore. Não é incomum a atitude de Zaqueu: aqueles que se escondem
porque têm baixa autoestima, acham-se incompetentes, insignificantes; há
aqueles que se escondem porque não querem compromisso (na comunidade); há aqueles
que têm medo de encontrar a salvação e preferem se esconder, não dão o passo;
há aqueles como Zaqueu que se envergonham do próprio pecado.
Subir na árvore revela
também uma atitude empenhativa. O que faria um homem rico, reconhecido, subir
numa árvore para ver o Mestre Jesus? Não pode ser apenas a sua baixa estatura, mas o
desejo real de encontrar salvação. Ou seja, Zaqueu dá o passo, tem uma atitude
real em prol da reconstrução de sua identidade e de sua vida. Sem esta atitude
proativa, não há salvação, pois a graça de Deus é um convite para que demos o
nosso passo.
A atitude de Jesus é de
acolhimento: “Hoje quero estar em sua casa!” (Lc 19,5). Seu primeiro passo não
é condená-lo, dar lições de moral, falar da sua vida de cobrador de imposto.
Nem mesmo relutou por ele ser um homem de “má índole”. Jesus vai a sua casa, de
um modo despojado, sem preconceitos. Esta deve ser a nossa atitude hoje: uma
Igreja que não tenha medo de ir ao encontro, que não se deixa conduzir por
rótulos e preconceitos. Precisamos proporcionar a experiência do Senhor que
começa pela acolhida, atitude de verdadeiro amor. Há muitos Zaqueus escondidos,
olhando o Senhor de longe. Eles esperam só um convite, uma oportunidade, uma
atitude de acolhida. Quem irá chamá-los?
Zaqueu experimentou uma
atitude de amor gratuito. A consequência foi a sua mudança de vida: “Senhor, vou dar aos pobres a metade dos meus
bens e, se causei qualquer prejuízo a alguém, restituirei quatro vezes mais”
(Lc 19,8). O que comoveu o coração de Zaqueu foi a misericórdia, a grandeza de
Jesus, não os moralismos falsos. Este amor provocou mais do que um sentimento,
causou, sim, uma nova atitude.
“Hoje a salvação entrou em sua casa” (Lc 19,9). Lucas gosta desta
expressão “hoje”. A salvação não é só um lugarzinho no céu, como esperavam os
tessalonicenses preguiçosos com a comunidade. A salvação é uma nova atitude
diante da vida, arraigada na experiência do amor. Hoje a salvação pode entrar
na tua casa e na minha. Basta que mais uma vez deixemo-nos amar pelo Senhor.
Ele bate a porta; se permitirmos sua entrada, Ele entrará e fará conosco a refeição!
Pe. Roberto Nentwig
Arquidiocese de Curitiba – PR.
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