HOMILIA DO 5º DOMINGO DA PÁSCOA – ANO B
Um modo de interpretar a
parábola de Jesus no Evangelho é afirmar que a Videira é a comunidade, como diz
o salmista: “Arrancaste do Egito esta videira, expulsastes as nações para
plantá-la (Sl 79)". Aqui o povo de Deus é comparado à videira. Assim, o primeiro
modo de estarmos unidos a Cristo é vivermos na comunidade, pois lá acontece
nosso encontro com o Senhor Ressuscitado. O cristianismo não é apenas uma
experiência pessoal e intimista, de um Deus que se acolhe na individualidade;
mas é uma experiência de uma comunidade de irmãos e irmãs, que juntos caminham
convocados pela Palavra de Deus. É o que percebemos na primeira leitura: São
Paulo se esforça para ser aceito e participar da comunidade; não basta para
Paulo a experiência do caminho para Damasco sem a participação na comunidade.
O Senhor permite que sejam
realizadas algumas podas na comunidade. Se um ramo atrapalha mais do que ajuda,
pode ser podado em benefício dos frutos que se deseja. Na lógica de Deus, não
importa tanto a quantidade de ramos, mas sim a existência de ramos que produzam
frutos. Precisamos reconhecer que nossa Igreja está repleta de discursos,
estruturas e pessoas, mas nem sempre isso é sinônimo de uma evangelização
eficaz, ardorosa, conduzida pelo amor ao anúncio da Boa-Nova de salvação. Os
bispos em Aparecida nos convidam a tirar fora o que não favorece uma verdadeira
evangelização.
Por outro lado, não podemos
fazer o papel do agricultor que é o Pai. Só Ele tem o poder e o direito de
fazer as podas necessárias. Por vezes, queremos podar tudo, com os nossos
critérios. Por vezes, desejamos interferir na comunidade do nosso modo,
enquanto que o nosso papel é simplesmente procurar frutos, apesar das
deficiências de alguns ramos. Pelos critérios humanos, o grande São Paulo não
teria vez dentro da comunidade dos cristãos. Diante do fechamento da Igreja,
Barnabé é sinal daquele que luta para que a comunidade não tenha preconceitos,
mas seja aberta e acolhedora.
Só Deus pode podar. E em
nossa vida, devemos estar abertos às podas. Deixar que Deus vá tirando aquilo
que não produz fruto, tornando-nos videiras mais firmes, mais vistosas.
Outra interpretação da
parábola toca o cultivo de nossa espiritualidade. Cada um de nós deve-se manter
unido a Cristo, zelando pelo diálogo aberto com o Senhor na oração, que gera a
comunhão. É desta comunhão que se cria a mística.
O motor que rege nossas ações e pauta nossos valores. Quando falta a intimidade
com o Senhor, fica ausente a seiva que dá vida aos ramos. Consequentemente, os
frutos desaparecem, ficando-se à mercê da poda. Por isso, se queremos fazer a
diferença na sociedade, precisamos estar bem alicerçados. Não há outra seiva
que será capaz de nos abastecer, somente aquela força que vem do coração da
Trindade, o amor e a graça de Deus, doado pela Videira Verdadeira – Cristo Jesus.
A missão dos ramos é dar frutos. São João nos alerta que devemos viver e não só
ficarmos na conversa. Os frutos devem
ser visíveis. A segunda leitura deixa claro que os frutos dependem do amor.
Da Videira veio vinho, o
vinho se fez sangue. E o sangue partilhado nos anima para que tenhamos coragem
de derramar a vida. A Eucaristia renova nossos ramos para que tenham novo
vigor, pela força do Espírito.
Pe. Roberto Nentwig
Arquidiocese de
Curitiba - PR
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