HOMILIA DO 19° DOMINGO DO
TEMPO COMUM
A primeira leitura do livro
dos Reis nos traz uma parte da história de Elias. Avida deste profeta é muito
interessante e cheia de lições. Sua ida para o monte Horebe tem dois
significados. Primeiramente é uma fuga, pois a rainha Jesabel queria matá-lo
depois do episódio com os profetas de Baal; mas o êxodo para o Herobe também
representa uma busca espiritual: Elias procura o seu encontro com o Senhor no
mesmo local em que Moisés havia tido sua experiência transcendente.
Lembremos que Elias estava
no fundo do poço. Em nome da verdade,
enfrentou o rei Acab e sua esposa, condenou a idolatria e os pecados do reino.
Em troca ganhou a perseguição e a ausência de sua terra. No texto deste
domingo, o profeta encontra-se em fuga, perdido, sozinho e sem saber o que
fazer. No meio do seu caminho de desterro no deserto, Elias quase sucumbiu.
Pediu que Deus lhe tirasse a vida. É interessante perceber que um dos grandes
profetas da Bíblia e, portanto, um homem santo, chegou a um momento de dor, de
desespero e reclamou para Deus, pedindo o fim da sua vida. A vida dos santos não pode ser idealizada,
pois não é uma ausência de sentimentos. O mais importante, porém, é que no meio
do caminho, Deus não o abandonou. O Senhor veio até o profeta por um anjo que
ofereceu o pão e disse: “Levanta-te e come, tens ainda um longo caminho a
percorrer” (1Rs 19, 7).
Alguns momentos de nossa
vida se assemelham a esta experiência de Elias. Nossa vida carrega momentos de
dor, de vazio, de angustia. Existem momentos em que não vemos mais sentido em
continuar, então fugimos ou buscamos o encontro desesperado com Deus. Também o
nosso grito de desabafo exagerado nem sempre é inadequado, pois Deus está
disposto a escutar o nosso lamento. Tempos de êxodo e vazio são oportunidades
para ouvir a voz do Senhor que nos alimenta. Ele não nos dá uma comida mágica que
resolve a dor, mas um alimento que procura nos saciar verdadeiramente, um
alimento que nos fortalece para continuarmos caminhando – o pão da sua Palavra e
da Eucaristia. Deus não nos quer prostrados na estrada, sem reação; Por isso,
Ele nos diz: “Coragem levanta-te, come, pois tens um longo caminho a percorrer”
(Rs 19,17). Deus nos quer caminhando, como peregrinos; sustenta-nos parta
seguir adiante.
Para percorrer a estrada
devemos reconhecer Jesus como o Messias, deixando de lado nossas resistências.
No Evangelho, o os judeus que ouviram o discurso do Pão da Vida, murmuraram e
não aceitaram que um pobre filho de carpinteiro pudesse descer do céu. Negaram,
portanto, a humanidade de Deus em Cristo Jesus. Os interlocutores se consideravam
sábios na procura de Deus, mas não puderam contemplar o modo simples e concreto
de Deus se rebaixar a vir até nós com seus gestos e palavras simples e tão humanas:
sua ternura, seu perdão, sua pobreza, sua acolhida, sua vida. Hoje podemos
tomar muitas atitudes diante do Senhor: a indiferença, a recua, a murmuração, a
adesão hipócrita, a aceitação de ideias superficiais sobre a religião, ou decisão
firme de seguir o seu caminho. Também nós, como judeus, somos livres em nossas
escolhas.
Jesus também nos ensina que
não podemos confiar apenas em nossas forças: “Ninguém pode vir a mim se o Pai
não atrair” (Jo 6,44). Não significa uma escolha de vida arbitrária, pois Deus
não exclui ninguém. O que está em jogo é a necessidade de nossa abertura para o
Pai, o abandono da autossuficiência. Sem a graça, sem reconhecer o primado do
Senhor em nossas vidas, o caminho não será apenas difícil, como também sem
sentido. O caminho não está pronto, mas se faz caminhando: “Caminhante não
existe caminho, faz-se o caminho ao andar” (Anibal Machado). Estamos dispostos
a partir quais peregrinos?
Pe. Roberto Nentwig
Arquidiocese de Curitiba-PR
FONTE:
NENTWIG, Roberto. O Vosso Reino que também é nosso. Reflexões Homiléticas - Ano B. Curitiba; Editora Arquidiocesana, 2015. pg. 79.
NENTWIG, Roberto. O Vosso Reino que também é nosso. Reflexões Homiléticas - Ano B. Curitiba; Editora Arquidiocesana, 2015. pg. 79.
Nenhum comentário:
Postar um comentário