Dom Elder Câmara
INFORMAÇÕES NORTEADORAS
O termo “deficiência” indica falta de algo, um déficit. É registrada pela
comparação a semelhantes, ao costumeiro e usual, ao dito “normal”. Toda pessoa humana é limitada, isso é um denominador comum
entre nós, no entanto, quando a falta ultrapassa certos limites demarcado pela
ciência, chamamos “deficiência”.
Hoje, a tendência é considerar
a deficiência do ponto de vista funcional, dinâmico, em um relacionamento centrado
na pessoa. Por isso, o termo utilizado atualmente, é “pessoa com deficiência”,
o que dá ênfase à pessoa e ao valor que lhe é próprio, mesmo sabendo que esse
termo pode ter suas limitações. Sendo assim, os termos: deficiente, pessoa
portadora de deficiência, pessoa portadora de necessidade especial, o autista,
o síndrome de Down, não são mais usados. A pessoa não porta nada, ela tem a deficiência,
mas antes de tudo é uma pessoa. Em outras palavras: ela não é a deficiência,
ela é uma pessoa com deficiência.
No que se refere à Catequese,
por muito tempo usou-se o termo Catequese Especial, mas atualmente a terminologia
orientada pela Igreja é Catequese junto à pessoa com deficiência ou Catequese
Inclusiva.
PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA E AS SAGRADAS ESCRITURAS
O Texto Base da Campanha da
Fraternidade de 2006, como o Tema “Catequese e pessoa com deficiência” apontou
para o risco de se querer explicar a deficiência do ponto de vista da Teologia
da Retribuição, muito presente no Antigo Testamento. Esta Teologia procurar mostrar
um Deus que cumula os seus fiéis com riqueza e saúde, enquanto castiga os
infiéis com miséria e enfermidades (Jó 11,13-20).
Neste sentindo, percebemos que
são identificadas como benção as situações de felicidade: bem-estar, saúde, longevidade,
fecundidade, boa fama e prosperidade; são consideradas maldições as situações
de infelicidade: desconforto, enfermidade, empobrecimento, humilhação,
esterilidade, angústia (Dt 7,9-10). As deficiências, na medida em que foram
encaradas como situações geradoras de infelicidade, entraram na lista das
maldições (Dt 28,28).
No Novo testamento existem
vários textos que relatam o encontro de Jesus com as pessoas com deficiência. Os
Evangelhos relatam a atitude humana e inclusiva de Jesus, retomando o
verdadeiro sentido da Lei. Ele resgata o valor e o sentido da defesa da vida.
CATEQUESE JUNTO À
PESSOA COM DEFICIÊNCIA
Algumas considerações para o trabalho
“Queremos sentir membros da
Igreja de Cristo”: o grande trabalho da catequese inclusiva é fazer com que a pessoa
com deficiência sinta-se Igreja. Para isso, é preciso criar espaço para elas,
oportunizar sua de participação efetiva na comunidade, promovendo-a como
sujeito ativo de sua história.
O documento recente da CNBB
sobre Iniciação à vida cristã nos orienta sobre a formação de discípulos-missionários,
mas para que isso aconteça, por primeiro os sujeitos precisar ter acesso à uma
comunidade, à Palavra, à experiência com a pessoa Jesus. Só assim é possível
traçar este itinerário para formar discípulos-missionários. No entanto, ainda
são muitas as barreiras que impedem o acesso dos nossos irmãos com deficiência,
sejam elas arquitetônicas, de comunicação e, a principal e pior delas, as
atitudinais.
Não é raro em nossas
comunidades as pessoas com deficiência serem dispensadas da catequese, a
começar por uma iniciativa da família, muitas vezes o primeiro espaço social
gerador de preconceitos. Isentá-las significa muitas vezes “menos trabalho”
e/ou considerá-las incapazes. Envolvê-los exige esforço, dedicação, inspiração.
A definição da incapacidade é
gerada principalmente num contexto em que a catequese tem caráter centrado no
conteúdo e na doutrina e menos catecumenal e mistagógico. Ainda são comuns
discursos como: “Ela receberá a Eucaristia e nem consegue fazer o sinal da cruz
direto? Mal sabe ainda rezar a oração do Pai-nosso”.
"Toda pessoa é capaz de Deus!"
É necessário nos
questionarmos: a admissão aos sacramentos contempla uma dimensão puramente
intelectual ou é sinal da presença de Deus na vida da pessoa?
Muitos catequistas também se sentem
incapazes de conduzir crianças, jovens e adultos com deficiência. Nem sempre se
sentem “à vontade” e os sentimentos são os mais diversos: dó, compaixão, medo,
aflição, afastamento, emotividade. A maioria deles são naturais e possivelmente
relacionados ao desconhecimento ou falta de convivência com pessoas com
deficiência. Existe também uma questão psíquica/emocional, em outras palavras,
o catequista não está preparado interiormente, consciente ou inconsciente, pois
a diferença do outro pode destacar as nossas deficiências.
Os catequistas ideais para
este trabalho são aqueles que se sentem a chamados a esta vocação se colocam à serviço.
A constante experiência com a pessoa de Jesus e o estudo são dois pilares
importantes para os catequistas que se dispõem a servir na Catequese Inclusiva
como indica o Diretório Nacional de Catequese (2005): “É necessário levar em
consideração as descobertas e avanços das ciências humanas e pedagógicas e assumir
a pedagogia do próprio Cristo, que privilegiou os cegos, mudos, surdos, coxos,
aleijados.”
A catequese inclusiva pode e
deve desempenhar um papel de ponte entre a sociedade e a igreja, de modo que as
mesmas conquistas na sociedade repercutam no seio da Igreja e suas experiências
tenham um impacto social.
“As pessoas com deficiência não devem ser levadas ao coração da
Igreja, como se fossem de fora, exteriores a esse coração. Ao contrário, de
imediato, elas nos mostram onde está esse coração.”
(Jean-Marie
Lustiger- cardeal emérito de Paris).
Michele Toso
Fonoaudióloga e
Psicopedagoga
Intérprete de
Libras/Português
Coord. Diocesana da
Pastoral da Inclusão da Diocese de São Carlos-SP
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