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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

BOM SAMARITANO OU SAMARITANO MISERICORDIOSO

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“Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34).

Este ano, a parábola do Bom samaritano é inspiração para a Campanha da Fraternidade 2020. Acompanhe esta bela reflexão!

A parábola do “Bom Samaritano” ou “Samaritano Misericordioso” (Lc 10, 25-37) é contada por Jesus após o primeiro debate sobre uma pergunta de um entendido da Lei sobre o que era necessário para ganhar a vida eterna (cf. Lc 10,25-28). O legista não se dá por vencido e lança outra questão: “Quem é meu próximo?” (10,29). Jesus responde com uma parábola que ilustra muito bem a nova proposta de vida que Ele veio inaugurar.

Tudo acontece na estrada que ligava Jerusalém a Jericó, esta encontra-se a 270 metros abaixo do nível do mar e a Cidade Santa Jerusalém está 760 metros acima do mar. Jericó era uma cidade habitada por sacerdotes que, periodicamente, de acordo com seu turno, subiam à Jerusalém. Eles ficavam uma semana no Templo a “serviço do altar”. No entanto, para fazer esse serviço, os religiosos judeus deveriam estar “limpos”. O sacerdote da parábola já havia exercido seu serviço divino, ele não estava em perigo de ficar impuro porque “estava descendo de Jerusalém”.

A vítima que caiu nas mãos dos bandidos não é conhecida, mas era bem provável que fosse judeu. Ele (como o sacerdote e o levita) descia pelas estradas em direção a Jericó. Jesus não descreve o pobre homem com particularidade porque Nosso Senhor queria, nele, representar todos os que estavam e estão na mesma situação.

Jesus continua sua história e diz que um religioso “Um sacerdote tendo visto ... passou do outro lado”. O sacerdote não teve dúvidas: entre a observância da lei de Deus e acudir o homem caído, ele escolheu a lei de Deus, pois era prescrito que se alguém tocasse um ferido (por causa do sangue), a pessoa se tornava “impura”. Para o sacerdote, Deus e a Lei sempre vêm diante do bem dos homens. Para ele, a religião (isto é, Deus e a Lei) deve prevalecer sempre (ficar acima de tudo e de todos).

O sacerdote não é uma pessoa insensível ou uma pessoa cruel, ele é um observador da Lei. Para ele havia dois lados da estrada: um lado era da lei e o outro a da pessoa (do ferido). O sacerdote escolheu o lado da lei: “quando ele viu, ele passou do outro lado”. O sacerdote faz o mal convencido de fazer o bem e não faz o bem para não ir contra a Lei.

“Igualmente também um Levita”. Os levitas também estavam envolvidos em tudo relacionado ao culto ao Templo, de modo que ele também precisava permanecer em condições de pureza ritual, no entanto, também ele já tinha terminou os seus serviços no Templo. Ele, infelizmente, fez o mesmo que o sacerdote: “ele viu o homem e passou do outro lado”. Importante notar que são pessoas religiosas! Os bandidos machucaram, mas os religiosos judeus estavam fazendo o mesmo mal em não ajudar o homem caído na rua. O sacerdote e o levita estavam tomados pelo respeito da lei de Deus, que não percebem que esta lei causava sofrimento às pessoas.

“Um samaritano, em sua viagem, veio até ele”. Para os judeus da época, o terceiro personagem (samaritano) era o pior tipo de pessoa que um judeu poderia imaginado. Com o sacerdote e o levita havia a esperança de que eles pudessem ajudar o infeliz homem à beira da estrada, mas nada fizeram; Com o samaritano nada de bom se poderia esperar. Ademais imperava um ódio entre os judeus e os samaritanos; Os samaritanos eram considerados inimigos do povo de Israel. Jesus nada diz se o samaritano era ou não religioso, mas um simples comerciante (tinha dinheiro e um animal); Ele estava na terra da Judeia e não no seu território (Samaria); Os samaritanos eram considerados impuros, pecaminosos, heréticos, etc. O samaritano estava em uma viagem, ocupado com seus negócios. Os outros dois já tinham completado seus serviços, mas na realidade não tinham feito nada.

“E tendo o visto, ele teve compaixão”. O verbo “ter visto” junto com “ter compaixão” é uma terminologia usada no AT, exclusivamente, para indicar uma função de Deus, enquanto no NT é aplicado exclusivamente para Jesus: é, portanto, uma ação divina. Assim, para os homens, a expressão que se usava é “ter misericórdia” (Tg 2,13); Para Deus, em vez disso, a expressão é “ter compaixão”. Em Lucas reserva o termo “compaixão” e usa somente em três passagens: o filho da viúva de Nain (Lc 7, 11-17); o bom samaritano (Lc 10, 25-37) e o filho pródigo (15: 11-32). Jesus não conseguiu encontrar uma pessoa mais afastada da religião oficial do que um samaritano que é descrito como sendo o mais próximo de Deus (“teve compaixão”): o único que se comporta como o próprio Deus. Compaixão é o terceiro movimento que descreve muito bem quem é Deus. O samaritano (como Jesus) vê (1º movimento), mas não fica somente neste estágio (o sacerdote e o levita também veem): ele muda seu caminho, entrega-se complemente a serviço do próximo e gasta seu tempo com o pobre homem. Ele vai em direção (2º movimento). O samaritano vê e faz algo (3º movimento): isto é compaixão!

“Ele se aproximou dele, juntou suas feridas, derramou óleo e vinho e carregou-o em seu animal”. O samaritano entrega sua montaria a um estranho e, assim, coloca-se em posição de servo. O servo que anda a pé e o cavalheiro é que vai no animal. O samaritano se comporta como Deus, porque Deus é o amor que se coloca a serviço dos outros.

Com Jesus o conceito de “crer” muda radicalmente. O crente é aquele que assemelha ao Pai, praticando um amor semelhante ao seu. Não é mais uma Lei a obedecer, mas um amor a que assemelhar. São a Lei e a religião que dividem as pessoas em “observantes” e “não observantes”, “puros” e “impuros”. O amor não! O amor une as pessoas. Para muitos o amor de Deus depende dos méritos da pessoa; com Jesus o amor de Deus se encontra no sofrimento e nas necessidades do próximo. Amar não é praticar Lei, mas envolver-se a tal ponto que o outro passa a ser o centro. O caminho mais curto para Deus – segundo Jesus – é o próximo e suas necessidades.

Nesta parábola, Jesus muda dois conceitos importantes: conceito de próximo – Próximo não é quem é amado, mas quem ama. Não é aquele que eu escolho e vou em direção, mas quem Deus coloca na minha estrada. Não é alguém que interrompe o meu caminho, mas aquele que dá sentido à minha jornada. Com o próximo não se gasta ou perde, mas se ganha, pois em cada um, Deus está presente. A Lei, segundo Jesus, jamais deve ser colocada à parte ou em oposição ao próximo, mas observar a Lei no amor ao próximo.

Outro conceito é sobre a fé (religião). Nossa fé e a nossa religião jamais devem ser usadas para separar ou discriminar as pessoas (o mundo sem Deus assim, o faz). Acreditar em Deus e observar seus preceitos devem nos abrir ao próximo e, principalmente, acudir suas necessidades. Os dois religiosos, cheios de regras e preceitos, não conseguiram enxergar a pessoa necessitada . O samaritano, desprovido das regras e normas, não teve dificuldade de exercer toda compaixão que uma pessoa poderia colocar em prática em relação ao próximo.

A interrogação não pode ser colocada a partir de mim (v.29: quem é o meu próximo?), mas quem se coloca diante de mim como necessitado, ele é quem faz de mim o próximo. “Ser próximo” não é o outro que está diante de mim, mas cada um que deve se “aproximar” do outro. O próximo é que “necessita de mim”, e não somente quem está “diante de mim”: não é o próximo que cria o amor, mas o amor que cria o próximo!

Dois personagens são desprezados: “o quase morto” e o samaritano (conforme mentalidade da época). O samaritano demonstra que entre os últimos é possível aprender algo tão grande e divino que é a compaixão. Ao final, Jesus conclui: “Vai e tu também faze o mesmo!”

Dirlei Abércio da Rosa 
Pároco da Comunidade de Nossa Senhora Aparecida - Cambuí MG
Arquidiocese de Pouso Alegre 



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