3º DOMINGO DO ADVENTO: Lucas 3,10-18
O apelo à igualdade, a abaixar e elevar, ressoou como toque de sino no
segundo domingo do advento. Hoje, quando se nos abre a terceira semana dessa
bela e exigente caminhada espiritual, somos chamados à alegria profunda e
duradoura e a mudanças práticas e concretas em nossas relações. Na preparação
para o Natal é preciso afastar a inquietação com presentes e festas e focar
nossas energias na alegria agradecida pelo presente maior, o Filho de Deus, e
na conversão das nossas relações com as pessoas e coisas.
Somos parte de uma comunidade de pessoas que preparam fervorosas a
celebração do nascimento de Jesus e esperam ansiosas a manifestação do Reino de
Deus, que desejam provar as alegrias de crescer em humanidade, ou alcançar a
salvação, e celebrá-la com júbilo intenso. O profeta Sofonias vem em nossa
ajuda, pedindo-nos que cantemos de alegria, que nos alegremos e exultemos de
todo o coração, que não tenhamos medo nem caiamos no desânimo. E nos assegura
que Deus já está ou continua no meio de nós, que também ele, movido unicamente
pelo amor e porque nos quer bem, exultará de alegria por nós.
Mas essa exultante e jubilosa alegria tem sua razão de ser naquilo que
Deus faz por nós, em nós e através de nós. O que nos motiva é a experiência de
sermos amados/as e capacitados/as a contribuir de modo efetivo com a libertação
que está em curso na história, vontade e obra incansável de Deus. “Alegrai-vos
sempre no Senhor! Alegrai-vos! Que a vossa bondade seja conhecida por todos! O
Senhor está próximo”, insiste o apóstolo Paulo. Somos convocados a alegrar-nos
em Deus e a perceber que Deus se alegra conosco!
Mas temos que nos perguntar se esta insistência na alegria e no júbilo
não é exagerada, e se não é insuficiente como preparação para o Natal. De fato,
as coisas ruins – que não faltam em nosso país neste momento, e nada faz crer
que não sejam mais abundantes e letais no futuro – só começam a mudar realmente
quando as pessoas singulares começam a se confrontar com a própria verdade e
com o Evangelho e, dispostas a transformar suas relações, perguntam: o que
posso e devo fazer? Essa é a pergunta que o testemunho de João Batista suscitou
no seu povo e que a vida de Jesus deve suscitar em nós.
Mesmo tendo tomado a decisão de viver no deserto e de modo austero, não
é isso que João Batista pede aos seus interlocutores. Mesmo pertencendo ao
judaísmo, ele sabe que, para acolher a vinda de Deus e o seu Reino, não basta
peregrinar ao templo ou cumprir as leis. Na sua interação com pessoas e grupos
que detém algum poder ou gozam de um status acima do remediado, João Batista
ensina que o caminho para Deus supõe a mudança das estruturas de relacionamento
e de poder e a organização de uma sociedade menos injusta e violenta, mais
solidária e fraterna. A comunidade cristã jamais esqueceu três exemplos
deixados por João.
Às pessoas e grupos que gozam de certa comodidade, que não sentem falta
do básico em termos de comida, vestuário e habitação, João pede que não pensem
apenas no próprio bem-estar, e que se engajem na correção das desigualdades
sociais. Aos cobradores de impostos, que extorquem, com o amparo da lei, o povo
cansado e abatido, João pede que não abusem dos pobres e não enriqueçam às
custas deles. Aos soldados, que usam de violência para proteger os poderosos e
oprimir os dominados, pede que não acusem ou condenem ninguém recorrendo à
mentira, nem usem de sua autoridade para roubar os indefesos.
Como os cobradores de impostos, os soldados e o povo em geral, também
nós precisamos perguntar: e eu, o que devo fazer para viver bem o Natal e
acolher o Evangelho do Reino? A resposta não pode ser um sentimento difuso ou
um pensamento abstrato. Não valem também constatações cínicas e ofensivas do
tipo “como é difícil ser patrão no Brasil”, ou “os pobres não precisam de
ajuda, mas de oportunidade”. Nada muda se não conseguirmos olhar para além dos
interesses de classe ou do mito da meritocracia. Nosso critério de vida não são
as leis do mercado ou a falsa piedade, mas a prática e o Evangelho de Jesus!
Deus pai e mãe, fonte de alegria e movente de
toda mudança, vem em nosso auxílio para que saibamos descobrir alegremente o
que devemos fazer para preparar os caminhos do Senhor, combater o mal que fere
teus filhos filhas e construir o teu Reino. Não permitas que caiamos na
tentação de resumir tudo na montagem de presépios, na distribuição de
presentes, na promoção de ceias faustosas ou nos difusos e fugazes sentimentos
religiosos. Possamos todos/as aprender as lições de Maria e de José, que
começaram aprofundando os próprios vínculos, abrindo espaços para os outros e
inventando novos caminhos. Assim seja! Amém!
Texto de Itacir Brassiani
Fonte: cebi.org.br
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