Desde o começo do evangelho de João nos é dada uma chave de leitura
muito importante para entendermos o texto. É quando a Mãe de Jesus diz aos
servidores: Façam tudo o que ele vos disser! (João 2,5).
Assim, ao longo do Evangelho segundo João, Jesus vai fazendo longos discursos
em que vai repassando aos seguidores e seguidoras as suas propostas e seus
mandamentos. Neste capítulo 15, temos mais um destes discursos. Este inicia com
a parábola da videira (João 15,1-6). A parábola de abertura ressalta a estreita
ligação entre os ramos e o tronco. Quem estiver unido ao tronco,
produzirá frutos. Quem não estiver unido ao tronco, será cortando e
jogado fora. O que significa então estar unido ao tronco? E que
frutos são estes? Segue então o discurso catequético de Jesus aos discípulos.
A ligação entre a pessoa e Jesus se faz através da acolhida e da prática
da sua Palavra (João 15,7). Esta prática cristã a partir da Palavra de Jesus
são os frutos que demonstram o discipulado e o seguimento. Permanecer no amor
de Jesus, acolhendo e obedecendo às suas palavras, é estar no mesmo caminho de
Jesus em sua relação com o Pai: assim como eu venho cumprindo os
mandamentos de meu Pai e me mantenho no seu amor. Esta adesão dos
discípulos às palavras de Jesus não é forçada, como a antiga Lei era imposta
pelo sistema farisaico, mas na total liberdade. Esta liberdade em acolher as
palavras de Jesus e colocá-las em prática é demonstração da verdadeira amizade.
Jesus se revela o verdadeiro amigo. Ninguém tem maior amor do
que aquele que entrega sua vida por seus amigos. Amar é entregar-se.
Esta entrega aos outros vai gerar a verdadeira alegria. A vida em comunidade
torna visível este sinal de amizade. Permanecer no amor é perseverar na
proposta comunitária. O amor se concretiza em atos e gestos. Amor é serviço.
Assim como a abertura e o acolhimento das Palavras do Pai geram a estreita
união entre Pai e Filho, da mesma forma a comunidade cristã aberta e acolhedora
das palavras de Jesus deve unir-se em comunhão de amizade e de serviço. Por
isto mesmo, este discurso é colocado pelo evangelista depois do episódio do
lava-pés e da Ceia comunitária (João 13,1-30). Lá, Jesus tinha se apresentado
como Mestre e Senhor (João 13,13) lavando os pés de seus
amigos e suas amigas. Não existe amizade se na comunidade não houver humildade
e serviço mútuo.
Terminando estas palavras sobre amor, serviço e amizade, Jesus repete
novamente seu mandamento: Que vos ameis uns aos outros (João 15,17).
Este mandamento torna-se a condição para que alguém permaneça unido ao
tronco e produza frutos. O amor do Pai se manifestará nos frutos que a
comunidade (os ramos) apresentar em fidelidade aos mandamentos de Jesus. Jesus
ensina que a única maneira de permanecermos unidos e unidas a Deus está em
acolhermos seu mandamento de amor. Surge assim o verdadeiro rosto da comunidade
cristã: amigos e amigas, gente unida em Cristo, amando e servindo ao ponto de
entregar sua vida por amor. Vivendo assim a comunidade se tornará um sinal de
presença de Deus no meio do mundo. Este laço de amizade deve encorajar os
discípulos e discípulas de Jesus a enfrentar as incompreensões de um mundo que
rejeita esta proposta de amor com violência.
Texto de Francisco Orofino.
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