REFLEXÃO DO EVANGELHO: JOÃO 20, 19-23
O envio do Espírito por Jesus é a culminância da experiência
pascal. Reunimo-nos como assembleia de chamados/as para pedir que o
Espírito renove em nós os prodígios que realizou no início do cristianismo,
esperando que o Sopro de Deus nos dê respiro e vida, nos ajude a testemunhar e
anunciar o Reino de Deus na língua das diversas culturas, nos ajude a derrubar
os muros que nossos medos e prepotências ergueram, abra as portas das nossas
Igrejas sitiadas pelas leis e dogmas, e nos empurre para fora, em ritmo de
missão.
O Espírito Santo atua e3m nós para q
ue não sejamos como papagaios, que repetem palavras e discursos que
não entendem. Um dos primeiros frutos da ação do Espírito Santo é uma palavra
nova e viva. Com a força do Espírito, as pessoas caladas vencem o medo e
começam a falar. São palavras de protesto que saem da boca dos marginalizados,
clamores que reivindicam reconhecimento e respeito; palavras proféticas que
denunciam as injustiças praticadas contra os oprimidos e anuncia uma nova ordem
social e rompe com as velhas lições.
Mas o Espírito suscita também palavras orantes e celebrativas, cânticos
novos que reconhecem e louvam a ação libertadora de Deus no coração das pessoas
e do mundo. São palavras despertadas por uma compreensão espiritual das
Escrituras, não mais lidas como coisa do passado ou simples doutrina, mas como Palavra
viva e plena de sentido para os homens e mulheres de hoje. Esta palavra nova,
suscitada pelo Espírito, assume a gramática das culturas e anuncia o Reino de
Deus de tal modo que os povos possam compreender na sua própria cultura.
O Espírito também nos livra da ameaça de sermos fragmentos
desarticulados, perdidos no tempo e no espaço. Ele cria vínculos de amor,
amizade e solidariedade. Onde o Espírito é acolhido e age, as pessoas isoladas
se reúnem, os membros formam um corpo, nasce um povo novo e peregrino. Cria-se
uma comunhão que transcende os indivíduos e o tempo, pois o Espírito une
pessoas e gerações diferentes numa unidade familiar, étnica e nacional, as
pessoas e culturas numa comunidade eclesial, centrada na memória de Jesus de
Nazaré.
A presença do Espírito Santo é força que nos livra do risco de sermos
sempre e apenas escravos, indivíduos que reproduzem, sob pressão e por
medo, as ações determinadas pelos senhores. Ele nos faz pessoas livres, capazes
de agir por iniciativa própria, inclusive na arena política. Aos macacos fica
bem a imitação e a repetição, mas não aos filhos e filhas de Deus! O Espírito
nos é dado para superar a condição de escravos e alcançar a condição de filhos
e filhas maiores, livres de todas as tutelas, herdeiros do Reino de Deus. Onde
está o Espírito, ali está a liberdade!
Esta liberdade não é apenas ‘liberdade de’ algo que oprime, mas
principalmente ‘liberdade para’ alguma coisa nova. O Espírito nos faz livres da
dependência das forças da natureza, dos condicionamentos inconscientes, do
poder de persuasão dos meios de comunicação social, do constrangimento das
instituições e sistemas políticos, econômicos, culturais e religiosos. O
Espírito nos assegura a liberdade radical e nos possibilita agir sem medos em
favor da vida dos outros, em vista da criação de uma realidade social nova,
baseada na liberdade e na cooperação.
O Espírito Santo impede ainda que sejamos mortos-vivos, pois ele
não se coaduna com os sistemas e instituições que impõem silêncio, com o
individualismo narcisista e com a passividade omissa. Ele é a força de Deus na
história, a força libertadora de Jesus Cristo. Aos cristãos ele é enviado como
dinamismo missionário, como capacidade de agir no plano do homem novo:
partilhar o pão, curar as doenças, perdoar e acolher os pecadores, anunciar a
Boa Notícia aos pobres, desarmar para amar, percorrer o êxodo missionário.
“Envias teu Espírito e assim renovas a face da terra…”
Vem Espírito Santo, e suscita em nós o desejo de sermos dom, de
engajar-nos na luta para que todos tenham vida. Não permita que te aprisionemos
na intimidade do coração ou no silêncio dos templos. Faz que nossa vida seja
semente de liberdade, solidariedade e eternidade. E que o Filho do Homem ungido
por ti, seja o Caminho que percorremos, a Verdade que acolhemos e a Vida que
aspiramos ardentemente e promovemos generosamente. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
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