EVANGELHO: LUCAS 10, 38-42
Enquanto a hierarquia católica insiste na necessidade do magistério eclesiástico para instruir e guiar os fiéis, importantes setores de cristãos orientam hoje em dia suas vidas sem ter em conta as suas diretrizes. Onde é que este fenômeno nos pode conduzir? A questão inquieta cada vez mais.
Alguns teólogos acreditam ser necessário recuperar a consciência do
«magistério interior», tão esquecido entre os cristãos. Diz-se isto: de pouco
serve insistir no magistério hierárquico se os crentes – hierarquia e fiéis –
não ouvirmos a voz de Cristo, o Mestre interior que continua a instruir através
do seu Espírito aqueles que realmente o querem seguir.
A ideia de Cristo «Mestre interior» começa do próprio Jesus: «Não
chameis a ninguém mestre, pois um é o vosso Mestre: Cristo» (Mateus 23,10). Mas
foi sobretudo Santo Agostinho que o introduziu na teologia, reivindicando
fortemente a sua importância: «Temos um só Mestre. E sob ele somos todos
condiscípulos. Não nos tornamos professores pelo fato de vos falar a partir de
um púlpito. O verdadeiro Mestre fala de dentro».
A teologia contemporânea insiste nesta verdade demasiado esquecida por
todos, hierarquia e fiéis: as palavras que se pronunciam na Igreja servem
apenas como um convite para que cada crente escute dentro de si a voz de
Cristo. Isto é o decisivo. Só quando se aprende com o próprio Cristo se produz
algo novo na vida de crente.
Isto traz consigo várias exigências. Em primeiro lugar para aqueles que
falam com autoridade dentro da Igreja. Não são os donos da fé ou da moral
cristã. A sua missão não é processar e condenar pessoas. Ainda menos atirar
fardos pesados e insuportáveis aos outros. Não são mestres de ninguém. São
discípulos que devem viver aprendendo de Cristo. Só então poderão ajudar outros
a «deixarem-se ensinar» por ele.
É assim que Santo Agostinho interpela os pregadores: «Por que gostas
tanto de falar e tão pouco de ouvir? O que verdadeiramente ensina está dentro;
por outro lado, quando tentas ensinar sais de ti mesmo e andas por fora. Ouve
primeiro o que fala por dentro e desde dentro fala depois aos de fora».
Por outro lado, todos devemos lembrar que o importante, ao ouvir a
palavra do magistério, é sentirmo-nos convidados a voltar-nos para dentro para
ouvir a voz do único Mestre. Santo Agostinho também nos lembra: «Não andes por
fora. Não te espalhes. Mergulha na tua intimidade. A verdade reside no homem
interior». É instrutiva a cena em que Jesus elogia a atitude de Maria, que,
«sentada aos pés do Senhor, escuta a sua palavra». As palavras de Jesus são claras:
«Só uma coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte».
José Antonio Pagola
Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez
Fonte: cebi.org.br
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