SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM: João 1, 29-34
O Evangelho deste segundo domingo da
Epifania nos fala sobre o anúncio de João e a confiança. Ao ver Jesus, João
Batista exultou “Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo” (Jo
1,29). Acompanha esta leitura o texto de Isaías 49,1-7, em que Deus fala a seu
povo, pessoas pobres e escravizadas, que ainda havia esperança. Vamos dividir
nossa reflexão em duas partes, a primeira para pensarmos sobre o texto de
Isaías e a segunda para refletirmos sobre o Evangelho.
Temos uma visão bastante equivocada
sobre o termo “hebreu”. Não é raro pensarmos que se trata de um povo ou uma
raça, mas, na verdade, é bem mais que isso. Na idade antiga os povos construíam
suas cidades próximas às águas, é essa característica que marcou a formação das
populações da Mesopotâmia, que significa justamente isso, terra entre rios.
Nesta região se desenvolveram babilônicos, assírios, sumérios e muitas outras
civilizações. Como esta porção de terra em que se formaram estava cercada de
rios, aquelas mais empobrecidas, que não tinham terras dentro deste espaço,
precisavam cruzar os rios, se afastar das cidades e buscar algo além, em terras
desertas. Toda a pessoa que precisava ir tentar a vida em outro lugar,
independente de qual povo pertencesse, era chamada de hebreia, ou seja, aquela
que atravessa o rio. Longe de suas casas, não raramente, eram escravizadas e
exploradas, sofrendo todo tipo de violência. São estas pessoas as
quais Isaías se refere como “almas desprezadas, abominadas pelas nações, servas
dos que dominam” (Is 49,7) que Deus promete “cobrir com sua sombra (…) guardar
como flecha em sua caixa (Is 49,2).
O Evangelho retorna ao lugar das águas,
é preciso cruzar o rio, agora o Jordão, para encontrar o povo de Deus. Por meio
da travessia pelas águas a pessoa batizada se propõe a ir de encontro das
miseráveis, que sem alimento e lugar para viver, perderam seus nomes, chamadas
apenas de “hebreias”, mas Deus não esqueceu delas, e na pessoa de Jesus, cruzou
também o rio para encontrá-las. Certamente as pessoas que optaram por seguir
João Batista, que não tinha casa nem alimento, eram aquelas que nesta vida não
tinham mais esperança, largaram tudo para esperar em Deus. Ao verem o Messias,
diferente dos sacerdotes e poderosos que o ignoraram, estas pessoas o seguiram,
e Ele l as levou para a sua morada (Jo 1,37-39).
Para concluir, podemos pensar que Deus
não está nos lugares seguros, como Mãe Amorosa, a Divindade está onde seus
filhos precisam d’Ela, e para encontrá-la é preciso atravessar esta faixa que
nos separa das mais necessitadas. O pecado do mundo, que o Cordeiro veio para
tirar, pode ser entendido como a exclusão. Nós nos obrigamos a olhar para as
pessoas necessitadas porque Deus, que andou entre nós, não ficou no Palácio de
Herodes, mas desceu até a multidão de pessoas empobrecidas que acompanhavam
João Batista. Deus está conosco nos momentos mais difíceis, é preciso confiar e
segui-lo, para encontrarmos também aquelas que carecem de nós.
Texto: Ruan Isnardi
Fonte: cebi.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário