2º. Domingo do Tempo Comum – Ano A
“Eis
o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.” (Jo 1,29). Esta expressão
usada por João Batista é muito familiar. Repete-se em todas as missas, quando
apresentamos o pão e o vinho consagrados antes da comunhão. De fato, o Cristo,
o ungido pelo Espírito, veio ao mundo para ser o Cordeiro que tira o pecado.
O
cordeiro era um animal sacrifical no Antigo Testamento. Na Páscoa, o Cordeiro
era imolado e o sangue era espalhado nas casas. No Novo Testamento, não são
mais necessários os sacrifícios de cordeiros e de nenhum outro animal, pois o próprio
Deus ofereceu a sua vida, o Cristo Senhor tornou-se o Cordeiro imolado (cf. Hb
9,11-14).
O
sangue dos sacrifícios santificava as pessoas e objetos aspergidos. O sangue de
Jesus tem um poder muito maior. Mas não se trata de um poder mágico. Se muito
ainda gritam com tons fundamentalistas que o “sangue de Jesus tem poder”, não é
porque o mesmo traz uma força mágica, nem porque as feridas de Jesus verteram
tanto sangue que agradaram ao Pai que assistia tudo de camarote. De modo nenhum,
a intensidade da dor foi responsável pela redenção do mundo.
Onde
está então o verdadeiro sentido da dor do Filho de Deus? Cristo veio ao mundo
para oferecer a sua vida em prol da vida de todos nós. Sua existência doada até
a morte é sinal do amor eterno de Deus que deseja destruir todo mal e amenizar
toda dor.
No
Cordeiro de Deus entendemos o sentido da dor humana, sobretudo aquela que é
causada conscientemente pela entrega de si mesmo: “Sofrer com o outro, pelos
outros; sofrer por amor da verdade e da justiça; sofrer por causa do amor e
para se tornar uma pessoa que ama verdadeiramente: estes são elementos
fundamentais de humanidade, o seu abandono destruiria o mesmo homem” (Spe Salvi
39). Ainda que pareça inútil doar algo de si em um mundo que parece caminhar
perdido ao vento, ainda que grande parte das pessoas se preocupe apenas consigo
mesmos, ainda que aparentemente seja melhor cuidar de si mesmo e procurar
apenas o máximo de prazer possível, Jesus nos ensina que vale a pena doar algo
de si mesmo para que o mundo tenha menos dor, para que o ser humano seja mais
humano, para que a lágrima seja enxugada, para que o Reino esperado seja visto
e nos anime a continuar...
Cada
um de nós é convidado a ser também cordeiro...
O
Cordeiro de Deus é o sinal vivo da compaixão divina. A partir da Paixão de
Cristo “entrou em todo o sofrimento humano alguém que partilha o sofrimento e a
sua suportação; a partir de lá se propaga em todo o sofrimento a con-solatio,
a consolação do amor solidário de Deus, surgindo assim a estrela da esperança”
(Spe Salvi 39). No rebaixamento de Deus se encontra a nossa redenção. Nas dores
do Cordeiro temos a cura para a dor do mundo. Nós que fomos chamados a ser
santos, o seremos pela compaixão e pela solidariedade.
Para
tanto, precisamos reconhecer que o pecado alheio está em meu próprio coração,
que as alegrias e tristezas do outro são as mesmas que tocam o meu coração, que
a fraqueza do próximo é a minha fraqueza. Enfim, devemos ter consciência que
participamos da mesma condição de dor e de pecado. Se soubermos olhar o mundo
deste ponto de vista, seremos mais compreensíveis com os outros, mais pacientes
e mais humanos. Afinal, o Céu não é tomado de assalto, mas dado como um dom.
Somos apenas colaboradores de Deus na missão de participarmos das dores dos
irmãos e de lutarmos contra o pecado que é a condição de cada ser humano.
Neste
domingo, a exclamação de João Batista é um convite à imitação do Cristo. Quando
o Cordeiro de Deus for elevado, vamos olhar fixamente e repetir: “Senhor, eu
não digno de que entreis em minha morada...” Não sou digno, porque minha vida
não é todo dom; não sou digno porque ainda o egoísmo me destrói; não sou digno
porque ainda esqueço de que sou tão pecador como tantos outros; não sou
digno... Mas quero alimentar-me daquele que me anima a oferecer a própria vida:
“Mas dizei uma palavra e serei salvo!”
Pe.
Roberto Nentwig
Arquidiocese de Curitiba
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