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sábado, 11 de janeiro de 2014

RITOS E CELEBRAÇÕES NA CATEQUESE – PARTE I

Tem se falado muito sobre celebrações e ritos na catequese: Rito de acolhida, entrega de símbolos, celebrações especiais, etc. e tal. Essas iniciativas são louváveis, uma vez que elas vêm de encontro a um “novo” método de se “fazer” catequese, que na verdade não é nada novo. Trata-se do catecumenato dos primeiros tempos da nossa Igreja. E isso é o que pede nossa Igreja: a IVC – Iniciação à Vida Cristã pelo processo catecumenal, tão discutida e estudada nos últimos dez anos.

Mas, fica aqui um alerta: NÃO SE FAZ CELEBRAÇÃO DE ENTREGA E RITOS SÓ POR FAZER, porque é “bonito”, porque todo mundo está fazendo... As celebrações e ritos marcam “etapas” na catequese e precisam, por isso, ser precedidos dela ou sucedidos por ela.  Ritos, celebrações e símbolos só farão sentido se a comunidade e os catequizandos souberem “o que está acontecendo”. E, temos visto e sentido, que isso nem sempre acontece.

Um pequeno histórico da catequese nos primeiros tempos da Igreja

Um dos principais problemas dos primeiros  cristãos era o ingresso de novos membros na comunidade eclesial (Igreja) e também a sua formação. Afinal, os cristãos eram perseguidos, como saber então, quais eram aqueles que estavam, realmente, dispostos a viver e morrer pela fé?

Os primeiros discípulos de Cristo elaboraram então um processo para “iniciar” os novos membros aos mistérios de Cristo e a nova vida em comunidade. A este processo deram o nome de Catecumenato. Daí vem a palavra “catecúmenos” que usamos até hoje para nos referirmos àqueles que estão sendo preparados e ainda não receberam os sacramentos de iniciação à vida Cristã.

Este processo de “inclusão” na vida da Igreja recém criada era amplo e profundo. Dava-se de forma gradual e era desenvolvido por “tempos”. Sendo quatro ao todo:

- Pré-catecumenato, momento do primeiro anúncio e da chamada a conversão, eram os primeiros contatos com a comunidade cristã e se dava por meio de um “introdutor”, ou seja, uma pessoa que fazia o querigma, a primeira evangelização;

- Catecumenato, que era o tempo destinado à catequese integral, entrega dos Evangelhos, prática da vida cristã, celebrações e testemunho de fé;

- Purificação e Iluminação, tempo de preparação intensa do espírito e do coração para a verdadeira participação na comunidade de Cristo, nesta fase se intensifica a conversão e a vida interior, recebe-se os símbolos Pai-Nosso e o credo e também os Sacramentos da iniciação: Batismo, Confirmação e Eucaristia;

- Mistagogia, aqui era feita a vivência dos sacramentos recebidos e o aprofundamento do mistério pascal, começando a participação integral na comunidade e, assim,  o cristão se preparava para buscar novos cristãos.

Resumindo tudo: o Catecumenato era uma instituição catequética-litúrgica (por aí se vê que a catequese e a liturgia estão intimamente ligadas), constituído de práticas litúrgico-rituais, de uma série de ensinamentos (catequese) e de exercícios de vida cristã.

Agora, atentos ao detalhe: O Catecumenato dos primeiros tempos era feito com ADULTOS.

E esse processo iniciático era tão bom que, em quatro séculos, praticamente, o cristianismo tornou-se a religião oficial do Império Romano e se espalhou pelo mundo então conhecido.

A partir do ano 380, iniciou-se um período histórico denominado CRISTANDADE, no qual todas as pessoas professavam e viviam os valores e a fé Cristã. Por isso, com o tempo, o catecumenato começou a definhar e quase desapareceu no século VI. Todos já nasciam em uma família cristã e viviam num ambiente cristão, a formação não era mais feita só pela comunidade religiosa, a família exercia o papel de iniciar na fé. E a idade para se receber os sacramentos começou a variar, não só os adultos eram batizados. Os Padres da Igreja começaram a defender o batismo de crianças entre os anos 200 a 300 dC: “Aquele que não nascer de novo da água e do espírito, não entrará no reino dos céus.” (Jo 3, 5). E o Papa Pio X, que viveu no final do século IX e começo do XX, fomentou o acesso das crianças à Eucaristia quando da chegada à chamada “idade da razão”, determinada como aos sete anos.

Por que resgatar alguns elementos do Catecumenato?

Tem-se sentido nos dois últimos séculos, certo esvaziamento de sentido com relação à fé e a vida sob os preceitos cristãos. Mesmo criados em meio a uma família e comunidade cristã, muitos se “perdem” no meio do caminho e se afastam da vida em comunidade e das práticas religiosas. O DNC – Diretório Nacional de Catequese ressalta que o catecumenato deve ser a base de todas as modalidades catequéticas: “... é a inspiração catecumenal que deve iluminar qualquer processo catequético.” (DNC 45). A proposta da Igreja é a restauração do catecumenato a fim de que se valorize a catequese como iniciação, entendendo que o principal objetivo é a adesão a Cristo e à vida em comunidade.

Hoje, o que se quer é o resgate desse meio de conversão da nossa Igreja, ou seja, não só buscar aqueles que não aderiram ainda a Jesus Cristo, como também, trazer aqueles que foram iniciados, receberam os sacramentos (ou algum deles), e não se encontram devidamente evangelizados, pois, encontram-se afastados.

Muitos são os motivos que pedem este resgate. Começa pela mudança da questão “Família”. A secularização e a descristianização já não permitem que a família cumpra a função que exercia durante a cristandade, de iniciar os filhos para a vida cristã. Na maioria das vezes ela não é formada num ambiente cristão capaz de iniciar na fé.

A Sociedade também é um desafio constante. Antigamente a sociedade era profundamente ligada à Igreja, espontaneamente a vivência em sociedade, levava à Igreja. Hoje já não se pode esperar isso dela, o secularismo e o pluralismo cultural trouxeram debilidade à fé, hoje ninguém é verdadeiramente “iniciado” na fé por tradição e sim, por opção pessoal.

E por último, hoje encontramos uma visão distorcida dos sacramentos, que são encarados hoje mais como uma questão “social” ou de pressão por parte das gerações mais velhas. A catequese é meramente uma etapa que se cumpre só para receber determinado sacramento.

Assim, esses desafios, e outros, aqui nem citados, pedem uma nova evangelização, uma catequese que aproxime mais o catequizando de uma verdadeira experiência de encontro com Jesus e assim, de uma iniciação cristã mais eficaz. Por isso, a importância de se resgatar alguns elementos do catecumenato. Entre eles, os aspectos celebrativos da iniciação à fé cristã.

O DNC, item 118, nos lembra que: “As festas e as celebrações são momentos privilegiados para a afirmação e interiorização da experiência da fé. O RICA (Ritual de Iniciação Cristã de Adultos, livro litúrgico para a iniciação cristã), é o melhor exemplo de unidade entre liturgia e catequese. Celebrações e festas contribuem para uma catequese prazerosa, motivadora e eficaz que nos acompanha ao longo da vida. Por isso, os autênticos itinerários catequéticos são aqueles que incluem em seu processo o momento celebrativo como componente essencial da experiência religiosa cristã. É esta uma das características da dimensão catecumenal que hoje a atividade catequética há de assumir.”.

Então vamos lá! Na próxima postagem, vamos falar das CELEBRAÇÕES e FESTAS na catequese!

Ângela Rocha
Catequista

Fontes de pesquisa:
RICA – Ritual de Iniciação Cristã de adultos
Itinerário Celebrativo para Iniciação Cristã de Crianças e Adolescentes, Arquidiocese de Curitiba.

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