Tem
se falado muito sobre celebrações e ritos na catequese: Rito de acolhida,
entrega de símbolos, celebrações especiais, etc. e tal. Essas iniciativas são
louváveis, uma vez que elas vêm de encontro a um “novo” método de se “fazer”
catequese, que na verdade não é nada novo. Trata-se do catecumenato dos
primeiros tempos da nossa Igreja. E isso é o que pede nossa Igreja: a IVC –
Iniciação à Vida Cristã pelo processo catecumenal, tão discutida e estudada nos
últimos dez anos.
Mas,
fica aqui um alerta: NÃO SE FAZ CELEBRAÇÃO DE ENTREGA E RITOS SÓ POR FAZER,
porque é “bonito”, porque todo mundo está fazendo... As celebrações e ritos
marcam “etapas” na catequese e precisam, por isso, ser precedidos dela ou
sucedidos por ela. Ritos, celebrações e
símbolos só farão sentido se a comunidade e os catequizandos souberem “o que
está acontecendo”. E, temos visto e sentido, que isso nem sempre acontece.
Um pequeno histórico da catequese nos
primeiros tempos da Igreja
Um
dos principais problemas dos primeiros cristãos era o ingresso de novos membros na
comunidade eclesial (Igreja) e também a sua formação. Afinal, os cristãos eram
perseguidos, como saber então, quais eram aqueles que estavam, realmente,
dispostos a viver e morrer pela fé?
Os
primeiros discípulos de Cristo elaboraram então um processo para “iniciar” os
novos membros aos mistérios de Cristo e a nova vida em comunidade. A este
processo deram o nome de Catecumenato.
Daí vem a palavra “catecúmenos” que usamos até hoje para nos referirmos àqueles
que estão sendo preparados e ainda não receberam os sacramentos de iniciação à
vida Cristã.
Este
processo de “inclusão” na vida da Igreja recém criada era amplo e profundo. Dava-se
de forma gradual e era desenvolvido por “tempos”. Sendo quatro ao todo:
-
Pré-catecumenato, momento do
primeiro anúncio e da chamada a conversão, eram os primeiros contatos com a
comunidade cristã e se dava por meio de um “introdutor”, ou seja, uma pessoa
que fazia o querigma, a primeira evangelização;
- Catecumenato, que era o tempo destinado à catequese integral,
entrega dos Evangelhos, prática da vida cristã, celebrações e testemunho de fé;
-
Purificação e Iluminação, tempo de
preparação intensa do espírito e do coração para a verdadeira participação na
comunidade de Cristo, nesta fase se intensifica a conversão e a vida interior,
recebe-se os símbolos Pai-Nosso e o credo e também os Sacramentos da iniciação:
Batismo, Confirmação e Eucaristia;
-
Mistagogia, aqui era feita a
vivência dos sacramentos recebidos e o aprofundamento do mistério pascal,
começando a participação integral na comunidade e, assim, o cristão se preparava para buscar novos
cristãos.
Resumindo tudo: o Catecumenato era uma instituição
catequética-litúrgica (por aí se vê que a catequese e a liturgia estão
intimamente ligadas), constituído de práticas litúrgico-rituais, de uma série
de ensinamentos (catequese) e de exercícios de vida cristã.
Agora,
atentos ao detalhe: O Catecumenato dos
primeiros tempos era feito com ADULTOS.
E
esse processo iniciático era tão bom que, em quatro séculos, praticamente, o
cristianismo tornou-se a religião oficial do Império Romano e se espalhou pelo
mundo então conhecido.
A
partir do ano 380, iniciou-se um período histórico denominado CRISTANDADE, no
qual todas as pessoas professavam e viviam os valores e a fé Cristã. Por isso,
com o tempo, o catecumenato começou a definhar e quase desapareceu no século
VI. Todos já nasciam em uma família cristã e viviam num ambiente cristão, a
formação não era mais feita só pela comunidade religiosa, a família exercia o
papel de iniciar na fé. E a idade para se receber os sacramentos começou a
variar, não só os adultos eram batizados. Os Padres da Igreja começaram a
defender o batismo de crianças entre os anos 200 a 300 dC: “Aquele que não nascer de novo da água e do
espírito, não entrará no reino dos céus.” (Jo 3, 5). E o Papa Pio X, que
viveu no final do século IX e começo do XX, fomentou o acesso das crianças à
Eucaristia quando da chegada à chamada “idade da razão”, determinada como
aos sete anos.
Por que resgatar alguns elementos do
Catecumenato?
Tem-se
sentido nos dois últimos séculos, certo esvaziamento de sentido com relação à
fé e a vida sob os preceitos cristãos. Mesmo criados em meio a uma família e
comunidade cristã, muitos se “perdem” no meio do caminho e se afastam da vida
em comunidade e das práticas religiosas. O DNC – Diretório Nacional de
Catequese ressalta que o catecumenato deve
ser a base de todas as modalidades catequéticas: “... é a inspiração catecumenal que deve iluminar qualquer processo
catequético.” (DNC 45). A proposta da Igreja é a restauração do catecumenato
a fim de que se valorize a catequese como iniciação, entendendo que o principal
objetivo é a adesão a Cristo e à vida em comunidade.
Hoje,
o que se quer é o resgate desse meio de conversão da nossa Igreja, ou seja, não
só buscar aqueles que não aderiram ainda a Jesus Cristo, como também, trazer
aqueles que foram iniciados, receberam os sacramentos (ou algum deles), e não
se encontram devidamente evangelizados, pois, encontram-se afastados.
Muitos
são os motivos que pedem este resgate. Começa pela mudança da questão “Família”. A secularização e a
descristianização já não permitem que a família cumpra a função que exercia
durante a cristandade, de iniciar os filhos para a vida cristã. Na maioria das
vezes ela não é formada num ambiente cristão capaz de iniciar na fé.
A
Sociedade também é um desafio
constante. Antigamente a sociedade era profundamente ligada à Igreja, espontaneamente
a vivência em sociedade, levava à Igreja. Hoje já não se pode esperar isso
dela, o secularismo e o pluralismo cultural trouxeram debilidade à fé, hoje
ninguém é verdadeiramente “iniciado” na fé por tradição e sim, por opção
pessoal.
E
por último, hoje encontramos uma visão
distorcida dos sacramentos, que são encarados hoje mais como uma questão
“social” ou de pressão por parte das gerações mais velhas. A catequese é
meramente uma etapa que se cumpre só para receber determinado sacramento.
Assim,
esses desafios, e outros, aqui nem citados, pedem uma nova evangelização, uma catequese que aproxime mais o catequizando
de uma verdadeira experiência de encontro com Jesus e assim, de uma iniciação
cristã mais eficaz. Por isso, a importância de se resgatar alguns elementos do
catecumenato. Entre eles, os aspectos celebrativos da iniciação à fé cristã.
O
DNC, item 118, nos lembra que: “As festas
e as celebrações são momentos privilegiados para a afirmação e interiorização
da experiência da fé. O RICA (Ritual de Iniciação Cristã de Adultos, livro
litúrgico para a iniciação cristã), é o melhor exemplo de unidade entre
liturgia e catequese. Celebrações e festas contribuem para uma catequese
prazerosa, motivadora e eficaz que nos acompanha ao longo da vida. Por isso, os
autênticos itinerários catequéticos são aqueles que incluem em seu processo o
momento celebrativo como componente essencial da experiência religiosa cristã. É
esta uma das características da dimensão catecumenal que hoje a atividade
catequética há de assumir.”.
Então
vamos lá! Na próxima postagem, vamos falar das CELEBRAÇÕES e FESTAS na catequese!
Ângela Rocha
Catequista
Fontes de pesquisa:
RICA
– Ritual de Iniciação Cristã de adultos
Itinerário
Celebrativo para Iniciação Cristã de Crianças e Adolescentes, Arquidiocese de
Curitiba.
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