Um apostila com várias informações disponibilizada pela Equipe de catequese junto a pessoa com deficiência da Arquidiocese de Londrina
CONCEITOS FUNDAMENTAIS E ASPECTOS
METODOLÓGICOS RELACIONADOS À CATEQUESE JUNTO À PESSOA COM DEFICIÊNCIA
n
O
QUE É DEFICIÊNCIA?
Deficiência é descrita como perda ou anormalidade de estrutura ou função
psicológica, fisiológica ou anatômica; traduz a ocorrência de defeito ou perda
de um membro, órgão, tecido ou outra estrutura do corpo, inclusive funções
mentais (OMS, 1980).
Ø É um fenômeno multifacetado variáveis biológicas,
variáveis sociais e variáveis psicológicas.
Ø No modelo
médico a deficiência é vista como problema do indivíduo, decorrente de doença,
trauma ou outra condição.
Ø No modelo
social a deficiência é atribuída às características da sociedade, que exclui a
participação de indivíduos afetados por tais condições.
Ø Concepção
biopsicossocial de deficiência considera o impacto dos fatores ambientais sobre
a saúde e funcionalidade; ao contrário da visão tradicional de incapacidade
como um atributo do indivíduo, esta concepção aponta para a incapacidade
socialmente construída;
considera a interação da pessoa com a sociedade;
Ø Excepcional?
Deficiente? Incapacitado? Portador de necessidades especiais?...
Como nos expressar quando nos referimos à pessoa com deficiência? Devemos
evitar termos pejorativos, depreciativos ou inespecíficos, por ex: “doentinho”,
“mongolóide”, “bobinho”, “excepcional”, “aleijado”...
Ø É preferível
usarmos o termo: Pessoa com deficiência... (especificar, ex:
Pessoa com deficiência física) Þ expressa
deficiência como uma característica do indivíduo, não como um adjetivo. Quando
dizemos deficiente ou aleijado Þ a
deficiência é expressa como um sinônimo/adjetivo do indivíduo.
Na
catequese, dizemos Þ CATEQUIZANDO ESPECIAL.
n
ONDE
ESTÃO ESSAS PESSOAS?
Historicamente, as pessoas com deficiências têm sido segregadas e
excluídas dos espaços comuns da vida nas comunidades.
Ø As
sociedades vêm se tornando progressivamente inclusivas desde a Antiguidade
(Omote, 2004).
Ø A INCLUSÃO
propõe um novo modo de interação social, no qual há uma revolução de
valores e atitudes que exige mudanças na estrutura da sociedade.
Ø JESUS se coloca do
lado de todos os marginalizados e oprimidos, aqueles que na sociedade de seu
tempo sofriam o desprezo social, a marginalização e a condenação religiosa...
(Formação Básica para Catequistas Iniciantes).
Ø JESUS CRISTO os convida
a se achegarem: “Levanta-te e vem para o meio” (Mt 3,3) Þ
Lema da Campanha da Fraternidade 2006.
n
QUAIS
OS TIPOS DE DEFICIÊNCIA?
Deficiência
Visual Þ Redução
significativa ou perda da capacidade de ver após a melhor correção ótica
(cegueira, visão subnormal).
Deficiência
Auditiva Þ Perda total
ou parcial da capacidade de perceber os sons e de compreender a fala por
intermédio do ouvido (surdez).
Deficiência
Física Þ Condições
não sensoriais que afetam o indivíduo em termos de mobilidade, coordenação
motora ou fala (ex: paralisia cerebral, epilepsia, espina bífida, lesão
medular, distrofia muscular, artrite, amputação).
Deficiência
Múltipla Þ Associação de
duas ou mais deficiências primárias (ex: mental e visual; física e mental...).
Deficiência
Mental (DM) (AAMR-1994):
Funcionamento intelectual significativamente abaixo
da média, manifestado antes dos 18 anos e associado à limitação em duas ou mais
áreas da conduta adaptativa: Comunicação; Cuidados pessoais; Autonomia em casa;
Habilidades sociais; Independência na locomoção; Desempenho na família e
comunidade; Habilidades acadêmicas funcionais; Saúde e segurança; Lazer;
Trabalho.
Na identificação da DM / Intelectual dá-se atenção a duas áreas:
Ø Funcionamento
intelectual (relacionado à área acadêmica, a capacidade de um indivíduo
resolver problemas e acumular conhecimentos);
Ø Comportamento
adaptativo (relacionado às capacidades necessárias para o indivíduo se adaptar
e interagir em seu ambiente de acordo com seu grupo etário e cultural).
Crianças com DM apresentam dificuldade em: aprender conceitos abstratos;
prestar atenção; memorizar (esquecem mais depressa); resolver problemas e
generalizar para novas situações as informações aprendidas. Conseguem
generalizar situações específicas utilizando um conjunto de regras. Podem
atingir objetivos escolares, mas de forma mais lenta.
Comunicação
Þ habilidade
de compreender e expressar informações. Crianças com DM podem apresentar
dificuldades de fala, compreensão e/ou ajustamento social.
Cuidados
pessoais Þ habilidades
de higiene corporal, alimentação, vestuário e uso do sanitário;
Saúde e
segurança Þ cuidar da
saúde, evitar perigos, respeitar as leis de trânsito;
Habilidades
sociais Þ cuidados com
seus pertences, participação nos trabalhos domésticos e relações familiares. A
discrepância entre as idades mental e cronológica levam à diminuição das
capacidades para interagir socialmente. A interação com pessoas da mesma idade
favorece a aprendizagem de comportamentos, valores e atitudes apropriados à sua
idade.
Desempenho
na família e comunidade Þ relações com
vizinhos, amigos, respeita limites, ordens, controla impulsos;
Independência
na locomoção Þ cumprir tarefas,
resolver problemas;
Habilidades
acadêmicas funcionais Þ conteúdos
curriculares relacionados com sua vida, como: ler, escrever, conhecimento sobre
sexualidade e outros;
Durante
muitos anos as pessoas que apresentavam deficiência mental foram classificadas
de acordo com os seguintes níveis de função:
Þ Deficiência
Mental Leve: discretamente vagarosos; conseguem alfabetizar-se e são
capazes de independência pessoal e vocacional.
Þ Deficiência
Mental Moderada: notadamente vagarosos em aprender AVDs, alguns não
conseguem se alfabetizar; são capazes de emprego supervisionado.
Þ Deficiência
Mental Severa: poucas habilidades de toalete, de fala e outras AVDs;
precisam de supervisão e cuidados permanentes dos pais e comunidade.
Þ Deficiência
Mental Profunda: Raramente aprendem a falar, a se alimentar, a executar
habilidades de toalete e outras AVDs. Precisam de cuidado permanente de
enfermagem (dependente).
Þ
Catequizandos com deficiência intelectual / mental que podem precisar de
adaptações e/ou estratégias que favoreçam sua interação com o conteúdo:
1-
Aqueles que apresentam deficiência mental moderada,
severa ou profunda;
2-
Catequizandos com deficiência múltipla, que envolve
comprometimento mental associado à outra área de deficiência (física, auditiva,
visual);
3-
Portadores de Condutas típicas, ex: autismo, outros
quadros psicológicos, síndromes que causam atraso no desenvolvimento e prejuízo
no relacionamento social.
COMO ACOLHER NOSSO CATEQUIZANDO E
FAVORECER SUA INTERAÇÃO COM O GRUPO E COM A COMUNIDADE?
Þ
Ser natural; cumprimentá-lo de maneira normal e respeitosa, dando-lhe
atenção e tentando manter o diálogo tanto quanto possível;
Þ
Lembrar que não se trata de DOENÇA, mas uma condição, não é contagiosa;
Þ
Evitar a superproteção: tratá-lo como criança enquanto criança; e
quando adulto, tratá-lo como tal;
Þ
Deixar que o catequizando faça sozinho tudo o que puder, ajudá-lo
quando realmente for necessário;
Þ
Enaltecer, nunca subestimar suas capacidades;
Þ
Ter firmeza de atitudes, tratando-o como os demais; estabelecer limites
de forma positiva;
Þ
Adaptar conteúdos, tarefas, materiais;
Þ
Envolver os colegas como “tutores” para auxiliarem nas tarefas, locomoção / transporte Þ promove a
sensibilização dos demais catequizandos quanto às necessidades do companheiro e
favorece a socialização;
Þ
Atenção quanto às barreiras arquitetônicas (ex: pisos escorregadios,
escadas, desníveis). Devem-se oferecer espaços adaptados que permitam livre
acesso e mobilidade aos catequizandos com dificuldades motoras: como
rampa/elevador, piso antiderrapante sem desníveis, mobiliário adaptado (na sala,
Igreja e sanitário), respeito à diversidade, ao direito de ir e vir.
JUSTIFICATIVA PARA O DESENVOLVIMENTO
DA CATEQUESE ESPECIAL:
ü
“Eu
te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos
sábios e entendidos e as revelaste aos pequenos” (Mt 11, 25).
ü
“Vinde
a mim , vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei, tomai meu
jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração
e acharei o repouso para as vossas almas. Porque meu jugo é suave e meu peso é
leve” (Mt 11, 28-30).
ü
“No
Senhor qualquer limite humano é resgatado e redimido. Graças a Ele, a
deficiência não é a última palavra da vida. O amor é a última palavra e dá sentido
à vida”
(João Paulo II, 2000).
ü
A
catequese é educação para a vivência na fé (Formação Básica para Catequistas
Iniciantes).
ü
A
Catequese Especial cumpre o processo de desenvolvimento e entrosamento dos
irmãos especiais na comunidade, tendo como direcionamento as Palavras de Jesus:
“IDE
POR TODO O MUNDO E PREGAI O EVANGELHO A TODA CRIATURA” (Mc
16, 15).
ü
Todos
somos FILHOS DE DEUS, portanto temos o direito de conhecer e
experimentar o seu AMOR: “TOMAI E COMEI TODOS VÓS, ESTE É O MEU
CORPO QUE É DADO POR VÓS” (Mt 26, 26-27). Todos somos convidados a participar da
CEIA DO SENHOR, portanto, somos todos iguais perante DEUS.
OBJETIVOS
DA CATEQUESE ESPECIAL:
Ø
Promover
a integração e a participação dos catequizandos na comunidade em que vivem;
Ø
Oportunizar
ao catequizando vivenciar o amor de Deus por meio do respeito ao próximo, da
união e da participação na Missa e festas litúrgicas da Igreja;
Ø
Despertar
os catequizandos para a oração e a caridade, estimulando-os a comunicar-se com
Deus cada qual de seu modo;
Ø
Proporcionar
aos catequizandos a Graça de conhecerem a Palavra de Deus e receberem os
Sacramentos para seu crescimento espiritual;
Ø
Evangelizar
os pais dos catequizandos e conscientizá-los da importância de sua participação
nas Missas e em casa com as orações, leitura da Palavra de Deus e tarefas,
acompanhando e dando exemplo aos filhos.
METODOLOGIA
A catequese
não pode ser confundida com “decoreba de doutrina e mera recepção
de sacramentos”. Ela faz parte da ação educadora da
Igreja.
O termo CATEQUESE
no Novo Testamento significa dar instrução a respeito da vida na Fé Þ
fazer escutar e
repercutir a PALAVRA DE DEUS (Formação Básica para Catequistas
Iniciantes).
n
Métodos
usados na Catequese (Formação Básica para Catequistas Iniciantes):
1-
Doutrinário Þ “decoreba”
Þ conhecimento teórico da Fé.
Preocupação com o nível intelectual, o conhecimento.
2- Empirista Þ
experiências pessoais. O mais importante é a maneira da pessoa viver, sem
embasamento teológico doutrinal.
3- Interação
Fé e vida Þ equilíbrio entre o saber e o viver.
Ligação entre catequese, família e comunidade, criando um espírito
de Fé e compromisso com a vida cristã concreta no mundo atual Þ
empregado também na
Catequese Especial.
A Catequese
especial procura seguir uma metodologia na qual os encontros são transmitidos
numa linguagem simples, com exemplos práticos por eles vivenciados de acordo
com a “pedagogia
de Jesus”:
Ele conhecia a realidade, a tradição das pessoas e era sensível a essa
realidade.
Aspectos
metodológicos que favorecem a aprendizagem do catequizando:
1-
Enfocar
os objetivos que realmente se quer ensinar;
2-
Criar
situações de aprendizagem positivas e significativas.
3-
Devido
à dificuldade na aquisição de conceitos abstratos e
generalização/transferências de comportamentos para situações novas, é
preferível que a aprendizagem ocorra em ambientes e situações o mais variados,
naturais e concretos possível.
4-
Dividir
tarefas em partes, ou conteúdos mais simples, buscando o sucesso e a motivação;
5-
Correlação
com a prática, experiência diária;
6-
Dar
importância às competências sociais: Iniciativa e respostas de interação, boa
postura e apresentação, otimismo, empatia, comunicação, comportamentos
adequados em diferentes situações.
7-
Para
favorecer a compreensão, alguns conteúdos podem ser desenvolvidos através de
dramatização com os catequizandos e/ou com fantoches, por exemplo: algumas
parábolas e alguns Sacramentos (Batismo, Crisma, Confissão, Eucaristia e
Matrimônio);
8-
Alguns
ensinamentos são transmitidos através de ensaios, repetição de gestos, treinamento
(principalmente o sinal da Cruz e a atitude de oração/reflexão; ensaio da
recepção da Eucaristia; da confissão);
9-
Outros
conteúdos podem envolver histórias/parábolas que ilustrem a mensagem a ser
transmitida;
10-
Quando
possível, os cânticos são escolhidos de acordo com o tema trabalhado,
favorecendo a assimilação (é interessante contextualizar o cântico explicando a
mensagem contida nele e repetir algumas vezes para que aprendam a
letra/refrão);
11-
Sempre
que possível, o (a) catequista leva os catequizandos na presença de Jesus
Eucarístico no Sacrário para rezarem (estimular a oração espontânea e o
louvor);
12-
Participar
da Santa Missa juntos. Combinar ao menos um domingo por mês Þ
A participação do
grupo reunido com o catequista na Santa Missa é de grande valor para orientar
os catequizandos quanto às partes da celebração e em relação à participação,
atenção e atitude de respeito, de forma a estimular sua comunhão com Jesus e os
irmãos;
13-
Materiais
ilustrativos como: Fotografias da família, figuras, cartazes, situação/material
concreto (vela, suco de uva, pão, terço, Bíblia; levar os catequizandos a
locais que tenham relação com o tema);
14-
Atividades
diversificadas em papel Þ substituir atividades escritas por
desenhos livres sobre o que o catequizando entendeu, pinturas de desenhos
fornecidos pelo catequista, colagem de figuras que tenham relação com o tema.
15-
Material
reproduzido por fotocópia para as tarefas, orações e trechos Bíblicos de modo a
envolver os pais na orientação de seus filhos em casa;
16-
Leitura
da Palavra de Deus Þ ler trechos curtos sobre o conteúdo
(diretamente da Bíblia), explicando que não é o catequista que está dizendo,
mas o próprio Cristo;
17-
Falar
de forma simples sobre a mensagem da leitura. O catequizando pode ser
estimulado a ler, mesmo que não saiba (ele imitará a atitude de leitura e
poderá verbalizar o que entendeu do conteúdo);
“TAL COMO A CHUVA E A NEVE CAEM DO CÉU E PARA LÁ NÃO VOLVEM SEM TER
REGADO A TERRA, SEM A TER FECUNDADO, E FEITO GERMINAR AS PLANTAS, SEM DAR O
GRÃO A SEMEAR E O PÃO A COMER, ASSIM ACONTECE À PALAVRA QUE MINHA BOCA PROFERE:
NÃO VOLTA SEM TER PRODUZIDO SEU EFEITO, SEM TER EXECUTADO SUA VONTADE E
CUMPRIDO SUA MISSÃO” (Is 55, 10-11).
n
É
perigoso e prejudicial para toda a ação catequética, o método tomar o lugar da
evangelização (Formação Básica para Catequistas Iniciantes);
n
Os
pais devem ser aliados do (a) catequista, favorecendo o conhecimento dos
hábitos, interesses dos filhos e a melhor forma de se comunicar com os mesmos,
contribuindo, assim, para sua evangelização.
AVALIAÇÃO: Os catequizandos não são avaliados
pelo “conhecimento”
do conteúdo teórico, mas por:
1) Seu
comportamento/atitude em relação à Santa Missa e à oração;
2) Sua
participação e envolvimento nos encontros catequéticos;
3) Seu
interesse, testemunho de vida (relatos dos pais) e desejo em receber Jesus na
Eucaristia e/ou o Sacramento do Crisma.
“PORQUE É GRATUITAMENTE QUE FOSTES
SALVOS MEDIANTE A FÉ. ISTO NÃO PROVÉM DE VOSSOS MÉRITOS, MAS É PURO DOM DE DEUS”
(Ef 2, 8).
“O VENTO
SOPRA ONDE QUER; OUVE-LHES O RUÍDO, MAS NÃO SABES DONDE VEM, NEM PARA ONDE VAI.
ASSIM ACONTECE COM AQUELE QUE NASCEU DO ESPÍRITO”(Jo 3, 8).
A TODOS OS
CATEQUISTAS
“... a
tribulação produz a paciência, a paciência prova a fidelidade e a fidelidade,
comprovada, produz a esperança. E a esperança não engana. Porque o amor de DEUS
foi derramado em nossos corações pelo ESPÍRITO SANTO que nos foi dado”
(Rom 5, 3-5).
CATEQUESE JUNTO À PESSOA COM DEFICIÊNCIA – ARQUIDIOCESE DE LONDRINA
06 de outubro de 2012
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