José de Anchieta (1534
- 1597)
Nascido no ano de 1534 em
Tenerife, Ilhas Canárias (arquipélago Espanhol). Filho de mãe judia,
mudou-se para Coimbra, em Portugal, aos 14 anos a fim de receber sua formação
intelectual longe dos domínios espanhóis em função da perseguição do Tribunal
do Santo Ofício. Aos 17 anos ingressou na Companhia de Jesus, cuja principal
missão era a difusão do cristianismo no então recém descoberto continente
americano.
Temendo por sua saúde, seu superior enviou-o ao Brasil, por acreditar que os ares do novo continente seriam benignos para o padre. Ao chegar em terras brasileiras, foi acolhido pelo padre Manoel da Nóbrega, chefe da primeira missão jesuítica na América, que já se instalara em São Vicente. Anchieta veio ao Brasil na armada de Duarte Góis que trazia consigo Duarte da Costa (1553-1558), o segundo governador-geral do Brasil.
Os primeiros jesuítas que se
instalaram, ainda durante o governo de Tomé de Sousa (1549-1553), foram
responsáveis pela fundação do primeiro colégio estabelecido no Brasil, em
Salvador. Mais tarde, em 1554, Anchieta participou da fundação do Colégio São
Paulo, no Planalto de Piratininga, região onde atualmente se encontra a cidade
de São Paulo.
Em 1563, José de Anchieta e
Manuel da Nóbrega participaram do conflito conhecido como a Confederação
dos Tamoios como mediadores da paz entre os portugueses e os índios
tamoios que ameaçavam a segurança da região. Anchieta foi feito refém dos
índios de Iperoig (região onde se encontra a cidade de Ubatuba) e lá permaneceu
durante cinco meses. O episódio gerou o primeiro tratado de paz entre
colonizadores e indígenas, graças às intervenções de Nóbrega e Anchieta e dos
acordos entre os padres e os líderes indígenas e ficou conhecido como a Paz de
Iperoig, evitando que os índios, enfurecidos, destruíssem as cidades e as vilas
portuguesas.
Compôs o Poema à Virgem,
poema de 4.172 versos, enquanto estava no cativeiro dos tamoios e, diz a lenda,
que o havia escrito nas areias da praia e que, graças a sua memória
excepcional, somente mais tarde teria transcrito o poema para o papel.
Tela
de Benedito Calixto de Jesus (1853-1927) em que retrata Anchieta escrevendo
seus poemas na areia
Em 1566, Anchieta é ordenado
sacerdote e em 1569 funda o povoamento de Reritiba, localizado no estado do
Espírito Santo. Nesse mesmo período, dirige, durante alguns anos, o colégio dos
Jesuítas no Rio de Janeiro. Em 1577, Anchieta foi promovido a Provincial, maior
cargo da Companhia de Jesus da época, sucedendo o padre Manuel da Nóbrega
(falecido no ano de 1570), viajando pelo país e orientando as missões ao longo
do território brasileiro.
Falece no ano de 1597 em
Reritiba, cidade posteriormente renomeada de Anchieta. O padre ficou conhecido
como “o apóstolo do Novo Mundo” por levar adiante a missão de evangelização dos
gentios e pelos serviços prestados à Companhia de Jesus no continente
americano.
Sua vida serviu de
inspiração para que muitos artistas retratassem diversos episódios em
forma de telas como, por exemplo, a missa rezada em ocasião da fundação do
colégio São Paulo, a marcha realizada do litoral até a cidade de Vitória em
decorrência de um naufrágio, entre outros. No ano de 1980, Anchieta foi
beatificado pelo papa João Paulo II, pois, segundo investigação histórica
conduzida pelo Vaticano, o padre operou o milagre da conversão de três
indivíduos ao cristianismo de uma vez.
Obras
As principais obras do
jesuíta estão divididas entre poemas, peças de teatro, sermões e, claro, na
elaboração de uma gramática que facilitasse o ensino e o aprendizado da
religião pelos indígenas. Seus poemas, carregados de subjetividade, mostram um
Anchieta empenhado no louvor à religião católica, na busca pelo consolo das
adversidades da vida que é encontrado apenas por meio da entrega e do amor
divino e, claro, na vida dos santos.
Suas peças de teatro (autos),
de cunho pedagógico, são voltadas para a catequização dos indígenas, escritos
ora em português, ora em tupi, transformando o imaginário e os costumes daquelas
sociedades “pagãs” em entidades “do Mal”, contrárias às imagens do
cristianismo, que representam “o Bem”, criando dois pólos de oposição entre os
dois mundos. Na Festa de São Lourenço é considerado seu auto mais importante,
pois, embora não haja uma unidade narrativa nos quatro atos que o compõe, há a
descrição de cenas da vida nativa e demais aspectos da vida dos indígenas.
Suas principais publicações
são O De Gestis Mendi de Saa,
impresso em 1563, poema épico em homenagem ao governador Mem de Sá que chefiou
os primeiros levantes contra os franceses que invadiram as colônias
portuguesas. É considerado o primeiro poema épico da América e anterior ao “Os
Lusíadas” de Luís de Camões.
No entanto, críticos e
antropólogos contemporâneos chamam a atenção para o aspecto da violência
contida no poema que, segundo a visão dos jesuítas, legitimaria a conquista, a
subordinação e o extermínio dos indígenas em face de um objetivo “maior”, a
evangelização, assemelhando-se às cruzadas medievais. Além disso, o imaginário
pagão dos indígenas é considerado diabólico e seus rituais, principalmente o
antropofágico, são vistos como algo bestial e animalesco, desprovido de
significação cultural. Logo, o texto mostra, acima de tudo, que a vinda dos
jesuítas, embora com objetivos diferentes dos conquistadores de terras, também
se deu de maneira violenta, de um povo sobre outro e que a instalação dos
redutos missionários não foi tão pacífica como se supunha, expondo as chagas da
história brasileira; e A arte de
gramática da língua mais usada na costa do Brasil, impresso em 1595,
constitui-se no primeiro registro dos fundamentos da língua tupi.
Bibliografia:
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira.
São Paulo: Cultrix, 2006.
GINZBURG, Jaime. A origem como inferno (a representação
da guerra na poesia de José de Anchieta). In: BERND, Zilá. CAMPOS, Maria do
Carmo (orgs). Literatura e americanidade. Porto Alegre: Editora da
Universidade/UFRGS, 1995.
Nenhum comentário:
Postar um comentário