É estranho que ainda hoje, muitos ainda expliquem o Batismo de crianças dessa forma: “Por nascerem com uma natureza humana decaída e manchada pelo pecado original (...)”, por este motivo as crianças precisam ser batizadas. Entristece o meu coração que o sacramento mais importante de nossas vidas seja simplificado desta forma. Por mais que tenhamos este conceito no nosso Catecismo (CIC 1250), é bom que se tenha um conhecimento mais aprofundado da doutrina para, então, entender o caráter dela.
O CIC (Catecismo da Igreja
Católica, 1997) cita como origem desta expressão, o DS (1854)
(Denzinger-Schönmetzer - Enchiridion Symbolorum et Definitionum), que é um Manual
de credos e definições comumente chamado de “Denzinger” por ter sido organizado
pelo teólogo dogmático católico, Heinrich Denzinger, que viveu no século 19 na Alemanha. O manual contém uma coleção dos principais decretos e definições dos
concílios, a lista de proposições condenadas e todas as formas dos credos
Apostólicos. Ao longo do tempo o Manual
foi sofrendo acréscimos de outros autores, um deles foi Adolf Schönmetzer, que
explica a sigla "DS" (para "Denzinger-Schönmetzer"). Nas
últimas edições foram adicionados declarações da segunda metade do século XX,
incluindo os ensinamentos do Concílio Vaticano II e dos papas recentes. De
longe, nem todos os cadastros são conciliares ou papais definições ex cathedra,
mas todos eles são considerados de alta autoridade para conhecer a doutrina da
Igreja Católica. É bom salientar que Denzinger deu ao manual o caráter da escola alemã de teologia,
ou seja, a exata investigação do desenvolvimento histórico da teologia, e não
especulações filosóficas sobre os corolários (afirmação deduzida de uma verdade
já demonstrada) do dogma.
Longe de
desrespeitar a Doutrina da nossa Igreja, penso que, ao fazer a catequese do
Batismo, tanto às crianças quanto aos adultos não batizados, precisamos trazer
“luz e alegria”, dando o caráter de “ressurreição” (vida nova) ao sacramento e
não de culpa e arrependimento por um “pecado” cometido por todos os pais.
Quando fazemos a catequese
do Batismo é necessário que primeiro compreendamos o significado da “Cruz” para
a vida cristã. Inicialmente a cruz era instrumento de tortura e morte, ao
enfrentá-la, movido por amor e por decisão, Jesus destruiu o sistema de morte e
de injustiça e deu um novo significado à cruz: transformou o que recebeu
(rejeição, condenação, tortura, sofrimento, morte), em oferta gratuita de vida
e de salvação. Assim, a condenação de Jesus foi transformada pela sua
ressurreição, pela sua inocência, pelo seu amor e sua capacidade de entregar a
sua vida para por fim à maldade, ao pecado e a morte.
Na Exortação Apostólica
pós-sinodal Christifideles Laici, do
Papa João Paulo II (1988), encontramos a seguinte definição de Batismo: “(...) O Batismo significa e realiza
uma incorporação, mística, mas, real, no corpo crucificado e glorioso de Jesus. Através do
sacramento Jesus une o batizado à Sua morte para uni-lo à Sua ressurreição (Rom 6,
3-5), despoja-o do “homem velho” e reveste-o do “homem novo”, isto é, de Si
mesmo: “Todos os que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo” (Gal 3, 27;
cf. Ef 4, 22-24; Col 3, 9-10).” ( CL 12).
As crianças ao
serem assinaladas com a cruz de Cristo no batismo, estão intimamente unidas a
Cristo, mesmo que não o saibam ou compreendam naquele momento. Elas, tal
como Jesus, que foi condenado sem ter culpa, participam desde o nascimento da
batalha árdua entre a vida e a morte, realizando a difícil adaptação à vida, fora da proteção do útero materno, muitas vezes enfrentando doenças e
infecções. O bebê ou a criança, nos braços dos pais, lembra a entrega confiante
que Jesus fez de si mesmo ao Pai. O amor de Cristo que somos chamados a exercer
em nossa vida, elas aprenderão dos adultos: do amor entre os pais, do amor dos
irmãos, do amor gratuito e sincero dos padrinhos, do amor do catequista e de
todos aqueles que o ajudarão em sua educação cristã.
Para se compreender
verdadeiramente o batismo, precisamos também conhecer o Significado do Rito
Batismal (que pode ser conhecido no CIC 1234 a 1245). Cada uma das partes da
celebração tem o seu significado mistagógico: A Acolhida, com a assinalação da cruz; a Liturgia da Palavra, que revela o sentido do sacramento; a Oração dos fiéis que invoca a graça de
Deus; a Invocação dos Santos, lembrando o exemplo que eles nos deram e o Exorcismo que, longe do que considera o
imaginário coletivo, é uma oração que pede que a criança tenha força para lutar
contra o mal e a Unção com o óleo do
Batismo, que é a “couraça” de Cristo para lutar pela vida toda contra tudo
que virá do mal.
A Liturgia Sacramental traz a água e a
renovação das promessas do batismo, realizada pelos pais e padrinhos. Aqui
acontece o rito essencial do Batismo: pelas águas do Batismo a criança entra na
vida trinitária, morrendo para o pecado. A água também é o símbolo da vida, sem
ela não podemos viver. São Paulo, na carta aos Romanos fala do batismo como
identificação com Jesus Cristo em sua morte e ressurreição. Sem o simbolismo da
água não é possível entender o que ele quis nos dizer, pois as palavras batismo, batizados, batizar tem o
sentido de mergulho, mergulhados,
mergulhar. Mas, ninguém vive embaixo d’água senão os peixes, mergulhar é um
risco de vida e sair da água, é livrar-se da morte pelo afogamento. Por isso
São Paulo ensina que o Batismo nos leva a tomar parte na morte e na
ressurreição de Cristo. A água do Batismo, santificada pelo Espírito Santo é
graça e fecundidade, ponte para que cada pessoa batizada participe da vida nova
em Cristo.
Da mesma forma,
os ritos complementares nos ajudam a compreender ainda mais o mistério deste
sacramento. A Unção pós-batismal com
o óleo perfumado da Crisma que confirma que o novo batizado participa da tríplice missão de Cristo: Sacerdotal, que significa a
participação na liturgia e o oferecimento da própria vida nos serviço; Profética, pela missão de anunciar a
Palavra de Deus; e Régia, diferente
dos reis deste mundo, o cristão é chamado a servir no mundo e responsabilizar-se
pela proteção do mundo. Tal como Cristo somos então: sacerdotes, profetas e
reis. A Veste branca que significa
que o batizado é revestido de Cristo, sendo revestido do homem novo. O Rito da Luz onde as velas acendidas no
Círio Pascal significam que a luz de Cristo é agora a luz dos batizados que tem
a missão de iluminar o mundo. A Entrega
do Sal significa que o batizado deve dar sabor à vida e o Rito do Éfeta (abre-te) que significa que o
cristão deve ter ouvidos abertos para a Palavra de Deus e proclamar com a boca a
sua fé. A Oração do Pai Nosso insere
o novo batizado como filho ou filha de Deus e este deverá rezar sempre a oração
dos filhos de Deus. E a Bênção, que
conclui a celebração lembrando que pais e padrinhos não devem abençoar seus filhos
e afilhados somente nesta celebração, e sim em todas as outras ocasiões da
vida.
O Batismo precisa
ser lembrado sempre como um sacramento, “sinal” de união com Jesus. Por ele
nos tornamos “Cristãos”, deixamos morrer o que não é de Deus, o que nos
desfigura como filhos de Deus, o que nos tira a identidade com Jesus. Recordar
o batismo e nossa vocação batismal (tríplice múnus) nos recoloca no caminho do
Evangelho, da filiação divina, do amor que dá vida nova.
Por isso a
nenhum catequista é dada a missão e a liberdade de “simplificar” este
sacramento tão nobre, este rito tão profundo e importante da nossa fé,
classificando-o, pura e simplesmente como uma expiação da culpa de nossos pais.
Quem assim o faz, de modo algum pode ser dito “catequista” ou mesmo Cristão, já
que não está, de forma alguma exercendo sua missão sacerdotal, profética e
régia.
Aos catequistas
eu recomendo: façam uma catequese sobre o batismo sempre, mas, aprofundada
teológica e pastoralmente, fruto de leitura e estudos pertinentes. O ideal é se
fazer esta catequese um pouco antes do Sacramento da Eucaristia, recordando as
promessas do batismo e renovando-as. Na catequese para o sacramento da Crisma,
este tema deverá ser mais aprofundado ainda, pois os jovens receberão o
Sacramento da Confirmação, assumindo agora, por si mesmos, o tríplice múnus que
o batismo lhes concedeu: sacerdotes, profetas e reis. Sacerdotes responsáveis por
ligar o céu à terra e pelo serviço pastoral; profetas anunciadores da Palavra;
e “reis”, regentes não de poder, mas de responsabilidade pelo bem estar do “povo”
a ele confiado, ou seja, todas as pessoas do mundo.
É o batismo que
nos aproxima de Cristo, que nos faz pertencentes a mesma fé. Façamos dele o início de uma vida cheia de graça e bênçãos.
Ângela Rocha
Catequista
Ser
batizado é...
Tornar-se herdeiro do céu
Membro do povo de Deus
Caminhante da glória
Filho de Deus
Irmãos de Jesus Cristo
Templo da Trindade
Apto para outros sacramentos
Matricular-se na universidade de Jesus Cristo
Adquirir direitos de filho
Andar entre as coisas que passam
Em direção as que não passam
Caminhar na terra com endereço do céu
Olhar para o céu, não como ficção e ideia, mas como realidade
Poder chamar Deus de Pai
"Já não ser eu que vivo, mas Cristo que vive em mim"
Escutar a voz do Pai: "Tu és meu filho, Eu hoje te gerei"
Nascer para morrer, morrer para reviver
Ser da família dos santos
Estar no colo de Maria mãe
Combater o mal com o bem
Ser missionário
Abraçar a cruz com Jesus na certeza da ressurreição
Estar num perene clima de páscoa
Nascer para as coisas do alto.
Tornar-se herdeiro do céu
Membro do povo de Deus
Caminhante da glória
Filho de Deus
Irmãos de Jesus Cristo
Templo da Trindade
Apto para outros sacramentos
Matricular-se na universidade de Jesus Cristo
Adquirir direitos de filho
Andar entre as coisas que passam
Em direção as que não passam
Caminhar na terra com endereço do céu
Olhar para o céu, não como ficção e ideia, mas como realidade
Poder chamar Deus de Pai
"Já não ser eu que vivo, mas Cristo que vive em mim"
Escutar a voz do Pai: "Tu és meu filho, Eu hoje te gerei"
Nascer para morrer, morrer para reviver
Ser da família dos santos
Estar no colo de Maria mãe
Combater o mal com o bem
Ser missionário
Abraçar a cruz com Jesus na certeza da ressurreição
Estar num perene clima de páscoa
Nascer para as coisas do alto.
Monsenhor
Guedes
FONTES DE
CONSULTA:
Batismo de Crianças –
Subsídios teológico-litúrgico-pastorais – CNBB (1980).
Catequese Batismal:
Encontros catequéticos para a preparação de pais e padrinhos – Subsídio Catequético
da Arquidiocese de Curitiba (2013).
Christifideles Laici (1988)- Exortação Apostólica
pós-sinodal de sua santidade o Papa João Paulo II, sobre vocação e missão
dos leigos na Igreja e no mundo.
CIC –
Catecismo da Igreja Católica (1997)– 1213 a 1283.
Ritual do Batismo - Batismo de
Crianças – Ritual Romano - Aprovado na 36ª Assembleia Geral da CNBB e
confirmado pela Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos na
Páscoa de 04 de abril de 1999.
Um comentário:
Encinamento muito bom
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