“Jesus cresceu no meio da
natureza com os olhos muito abertos para o mundo que o rodeia. Basta ouvi-lo
falar. A abundância de imagens e observações tomadas da natureza nos mostra um
homem que sabe perceber a criação e desfrutá-la. Jesus observou muitas vezes os
pássaros que revoam em torno da sua aldeia; não semeiam nem armazenam em
celeiros, mas voam cheios de vida, alimentados por Deus, seu pai. Entusiasmaram-no
as anêmonas vermelhas que em abril cobrem as colinas de Nazaré; nem Salomão em
toda a sua glória vestiu-se como uma delas. Observa com atenção os ramos das
figueiras: dia após dia vão brotando neles folhas tenras anunciando que o verão
se aproxima. Vê-se Jesus desfrutando o sol e a chuva e dando graças a Deus, que
“faz nascer seu sol sobre bons e maus e manda a chuva sobre justos e injustos”.
Observa as nuvens densas e escuras que anunciam a tempestade e sente em seu
corpo o vento úmido do sul, que indica a chegada dos calores. ¹
(...) Mais tarde convidará
as pessoas a ir além do que se vê nela. Seu olhar é um olhar de fé. Admira as
flores do campo e os pássaros do céu, mas intui por trás deles o cuidado
amoroso de Deus por suas criaturas. Alegra-se pelo sol e pela chuva, mas muito mais
pela bondade de Deus para com todos os seus filhos, sejam bons ou maus. Sabe
que o vento “sopra onde quer”, sem que se possa precisar “donde vem e para onde
vai”, mas ele percebe através do vento uma realidade mais profunda e
misteriosa: o Espírito Santo de Deus.² Jesus não sabe falar senão a partir da
vida. Para sintonizar com ele e captar sua experiência de Deus é necessário
amar a vida e mergulhar nela, abrir-se ao mundo e escutar a criação.”
¹
Mateus 6,26; 6,28; 24,32; 5, 45; Lucas 12,55
²
Mateus 6, 25-30; Mateus 5,45; João 3,8.
(PAGOLA, José
Antonio. Jesus: Aproximação histórica.
Petrópolis: Vozes, 2014.)
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