“Mais
uma reunião de pais dos catequizandos de primeira Eucaristia e mais uma
decepção. Cadê os pais? Será que nossas crianças foram fabricadas em
laboratório? Será que são órfãs e sozinhas neste mundo, respondem por si
mesmas? Não basta apenas colocar a criança na catequese; é preciso acompanhar,
celebrar junto. Imagine se o catequista não comparece aos encontros, marca
algum encontro com pais e não comparece, não avisa? Todos vão achar o fim!. Por que então os pais
não assumem o compromisso cristão de comparecer ao menos às reuniões
preparatórias para a celebração do sacramento? No dia da missa da Crisma ou
Primeira Comunhão estão lá, faltam derrubar o padre e os catequistas para
tentar tirar foto do filho. Se a gente não permite, ai ai ai... Fica aqui a
minha indignação pelos pais ausentes. Claro, nem todos são assim. Mas, a
maioria é!”
Não sei bem quantos
desabafos assim, ou parecidos, eu já li em minha vida de catequista. Só sei
que, este assunto, bem como as queixas de modo geral, não mudam. E as soluções
também parecem não divergir:
“Precisamos evangelizar as famílias. Elas estão perdendo a noção do
sagrado, da importância de Deus na vida da família.”
“Jesus
catequizava os adultos e acolhia as crianças... nós estamos no caminho
inverso.”
“Essa
situação é muito parecida com muitas realidades que conhecemos, mas acho que o
mais importante nós Catequistas fizemos, levamos Jesus para nossas crianças, e
com certeza plantamos a sementinha...”
Sim, é isso: Precisamos evangelizar a família! Afinal
de contas, ela é a PRIMEIRA CATEQUISTA DA CRIANÇA. E por que, afinal, a família
não “catequiza” os filhos? Será que estes pais não frequentaram a catequese
algum dia na vida? E, se frequentaram, que catequese foi essa? Pra mim isso só
diz uma coisa: nosso fracasso não é coisa de hoje! A gente vem fazendo o
“inverso” faz muito tempo. Nossa catequese é total e completamente ineficaz. Os
pais de hoje não eram os filhos de ontem? Não tem gente aí que é catequista há
trinta anos? Isso significa que já catequizaram muitas gerações... Cadê esses
evangelizados?
E não estou dizendo que os
catequistas de antigamente não sabiam evangelizar. É bom lembrar que os catequizandos
de hoje serão os pais e avós dos catequizandos do futuro... Que
vão reclamar da mesma coisa daqui a trinta ou quarenta anos. Com uma preocupante
diferença: serão bem menos os católicos e bem mais os sem-religião ou
multi-religião.
E esse é um fenômeno
comprovado pelo último SENSO, não sou eu que estou inventando. A religião
católica no Brasil, bem como o judaísmo aí pelo mundo afora, é mais uma questão
de inculturação do que propriamente de religião. Essa é a explicação para o
“atropelo” na hora das fotos. Até um tempo atrás, ai do católico(a) que não
tivesse uma foto vestida de branco ou de “terninho” para comprovar que fez
devidamente a “primeira (e muitas vezes última) comunhão”. Mas novas culturas
vão surgindo. E a sociedade vai se adaptando. E o que podia ser considerado
quase 100% há cem anos atrás, se transformou em pouco mais de 60% . E está
ficando cada vez mais normal ser católico, ir ao culto evangélico, frequentar
centro espírita e jogar umas flores pra Iemanjá de vez em quando.
Eu estive na catequese há
quarenta anos. E posso dizer que não me lembro de muita coisa, exceto que era
feito uma espécie de “arrastão” nas escolas, nas 3ª séries do primário (ano que
as crianças completam nove anos) e a catequese era dada ali mesmo, depois do
período de aula por cerca de seis meses. Como não me lembro de um encontro
sequer, acho que nem isso. Só pra reforçar, não sou tão velha assim, isso foi
em 1975. O Concílio Vaticano II já tinha 10 anos.
Se sou religiosa hoje e
catequista, devo isso a fé que me foi incutida pela minha mãe e pelas provações
da vida. Claro, tive orientação dos meus pais, valores, aprendi a rezar assim
que aprendi a falar; mas não lembro de ter ido á missa com eles mais do que
umas três vezes na vida. E, infelizmente, é assim que se faz um católico na
maioria das vezes... Se ele se tornar um bom fiel e frequentar a Igreja até o
fim da vida, aleluia!
Agora vamos à história das
tais “sementinhas”... Penso que deveríamos ler com mais atenção a Parábola do
Semeador (Mc 4, 3-8).
Penso novamente que se
estivéssemos nós na presença de Jesus, também lhe diríamos: Senhor, por
que fala por parábolas? Não entendi nada... E novamente Jesus nos
explicaria aquilo que qualquer semeador deveria saber: não se planta a beira de
um caminho onde não se volta mais, não se planta nas pedras e nem entre
espinhos. Não se quiser colher alguma coisa. A semente vai crescer um pouco,
mas vai morrer. O solo precisa estar fértil e preparado e a semente precisa ser
cuidada para dar trinta, sessenta, cem por um. Trocando em
miúdos, é a catequese com base familiar e a catequese permanente. É a catequese
para quem tem maturidade e capacidade de escolha.
Mas nós, semeadores
compulsivos, continuamos a semear por atacado... Sem se incomodar se
a terra é boa ou não. É lindo dizer que tenho 30 catequizandos. Que maravilha!
Mas só uma meia dúzia sabe do que estou falando. Mas aí vem a pergunta: não
devemos semear mesmo em todo lugar? Alguma semente deve vingar. Com muito
estresse e perseverança, até vingam... Mas a que custo!
Finalizando minha analogia,
nossos pais são sementes perdidas. Quiçá nossas crianças não as sejam. Mas os
prognósticos não são bons. Pedras, espinhos e falta de preocupação onde se joga
a semente; continuam a ser uma prática constante na catequese. Deveríamos,
creio, passar a ser mais “preparadores de solo” do que propriamente
“semeadores”.
A questão não é bem
"semear", estamos precisando "preparar o solo antes". Alguém tem que vir antes de nós, preparando o
solo, tirando as pedras, arrancando os espinhos. Isso não está acontecendo. E
também não se semeia e esquece o “cuidado”. Então, ainda vamos chorar muito por
ver nossas plantações devastadas pelo nosso próprio descaso.
Por que nossas crianças
estão desatentas e sem interesse? Porque este não é o "lugar" em que
elas gostariam de estar. O que dizemos não faz parte do mundo delas. E elas
estão ali por não ter escolha.
Não há evangelização que
funcione sem "anúncio" prévio. Para que a Palavra seja ouvida e
"bebida" é preciso que se tenha sede dela. Quem anunciou Jesus a
estas crianças? E a Igreja vem nos alertando que a catequese, a evangelização,
precisa voltar a ser com ADULTOS! Pouco se conquista evangelizando crianças que
não encontram respaldo nenhum de fé em suas vivências diárias, que não tem
maturidade para entender a fé e nem escolha para estar ou não na catequese.
A maioria das crianças é
obrigada pelos pais. Que veem a catequese exclusivamente como
"social", para se “adquirir” um sacramento. É "cultural"
este desejo, não "espiritual". Não estamos sendo nada eficazes na
evangelização porque simplesmente jogamos nossas sementes por aí... Esse
pensamento de que "se salvar alguma já tá bom" me deixa doente.
Porque muito tempo se perde, muito esforço, muita luta. Estamos enveredando por
um caminho que não está dando certo e teimamos em continuar nele! Até quando?
Ângela Rocha
Catequista
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