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domingo, 4 de setembro de 2016

CATEQUESE: SEMEAR E COLHER...

“Mais uma reunião de pais dos catequizandos de primeira Eucaristia e mais uma decepção. Cadê os pais? Será que nossas crianças foram fabricadas em laboratório? Será que são órfãs e sozinhas neste mundo, respondem por si mesmas? Não basta apenas colocar a criança na catequese; é preciso acompanhar, celebrar junto. Imagine se o catequista não comparece aos encontros, marca algum encontro com pais e não comparece, não avisa?  Todos vão achar o fim!. Por que então os pais não assumem o compromisso cristão de comparecer ao menos às reuniões preparatórias para a celebração do sacramento? No dia da missa da Crisma ou Primeira Comunhão estão lá, faltam derrubar o padre e os catequistas para tentar tirar foto do filho. Se a gente não permite, ai ai ai... Fica aqui a minha indignação pelos pais ausentes. Claro, nem todos são assim. Mas, a maioria é!”

Não sei bem quantos desabafos assim, ou parecidos, eu já li em minha vida de catequista. Só sei que, este assunto, bem como as queixas de modo geral, não mudam. E as soluções também parecem  não divergir:

Precisamos evangelizar as famílias. Elas estão perdendo a noção do sagrado, da importância de Deus na vida da família.”

“Jesus catequizava os adultos e acolhia as crianças... nós estamos no caminho inverso.”

 “Essa situação é muito parecida com muitas realidades que conhecemos, mas acho que o mais importante nós Catequistas fizemos, levamos Jesus para nossas crianças, e com certeza plantamos a sementinha...”

Sim, é isso: Precisamos evangelizar a família! Afinal de contas, ela é a PRIMEIRA CATEQUISTA DA CRIANÇA. E por que, afinal, a família não “catequiza” os filhos? Será que estes pais não frequentaram a catequese algum dia na vida? E, se frequentaram, que catequese foi essa? Pra mim isso só diz uma coisa: nosso fracasso não é coisa de hoje! A gente vem fazendo o “inverso” faz muito tempo. Nossa catequese é total e completamente ineficaz. Os pais de hoje não eram os filhos de ontem? Não tem gente aí que é catequista há trinta anos? Isso significa que já catequizaram muitas gerações... Cadê esses evangelizados?

E não estou dizendo que os catequistas de antigamente não sabiam evangelizar. É bom lembrar que os catequizandos de hoje serão os pais e avós dos catequizandos do futuro... Que vão reclamar da mesma coisa daqui a trinta ou quarenta anos. Com uma preocupante diferença: serão bem menos os católicos e bem mais os sem-religião ou multi-religião.

E esse é um fenômeno comprovado pelo último SENSO, não sou eu que estou inventando. A religião católica no Brasil, bem como o judaísmo aí pelo mundo afora, é mais uma questão de inculturação do que propriamente de religião. Essa é a explicação para o “atropelo” na hora das fotos. Até um tempo atrás, ai do católico(a) que não tivesse uma foto vestida de branco ou de “terninho” para comprovar que fez devidamente a “primeira (e muitas vezes última) comunhão”. Mas novas culturas vão surgindo. E a sociedade vai se adaptando. E o que podia ser considerado quase 100% há cem anos atrás, se transformou em pouco mais de 60% . E está ficando cada vez mais normal ser católico, ir ao culto evangélico, frequentar centro espírita e jogar umas flores pra Iemanjá de vez em quando.

Eu estive na catequese há quarenta anos. E posso dizer que não me lembro de muita coisa, exceto que era feito uma espécie de “arrastão” nas escolas, nas 3ª séries do primário (ano que as crianças completam nove anos) e a catequese era dada ali mesmo, depois do período de aula por cerca de seis meses. Como não me lembro de um encontro sequer, acho que nem isso. Só pra reforçar, não sou tão velha assim, isso foi em 1975. O Concílio Vaticano II  já tinha 10 anos.

Se sou religiosa hoje e catequista, devo isso a fé que me foi incutida pela minha mãe e pelas provações da vida. Claro, tive orientação dos meus pais, valores, aprendi a rezar assim que aprendi a falar; mas não lembro de ter ido á missa com eles mais do que umas três vezes na vida. E, infelizmente, é assim que se faz um católico na maioria das vezes... Se ele se tornar um bom fiel e frequentar a Igreja até o fim da vida, aleluia!

Agora vamos à história das tais “sementinhas”... Penso que deveríamos ler com mais atenção a Parábola do Semeador (Mc 4, 3-8).

Penso novamente que se estivéssemos nós na presença de Jesus, também lhe diríamos: Senhor, por que fala por parábolas? Não entendi nada... E novamente Jesus nos explicaria aquilo que qualquer semeador deveria saber: não se planta a beira de um caminho onde não se volta mais, não se planta nas pedras e nem entre espinhos. Não se quiser colher alguma coisa. A semente vai crescer um pouco, mas vai morrer. O solo precisa estar fértil e preparado e a semente precisa ser cuidada para dar trinta, sessenta, cem por um.  Trocando em miúdos, é a catequese com base familiar e a catequese permanente. É a catequese para quem tem maturidade e capacidade de escolha.

Mas nós, semeadores compulsivos, continuamos a semear por atacado... Sem se incomodar  se a terra é boa ou não. É lindo dizer que tenho 30 catequizandos. Que maravilha! Mas só uma meia dúzia sabe do que estou falando. Mas aí vem a pergunta: não devemos semear mesmo em todo lugar? Alguma semente deve vingar. Com muito estresse e perseverança, até vingam... Mas a que custo!

Finalizando minha analogia, nossos pais são sementes perdidas. Quiçá nossas crianças não as sejam. Mas os prognósticos não são bons. Pedras, espinhos e falta de preocupação onde se joga a semente; continuam a ser uma prática constante na catequese. Deveríamos, creio, passar a ser mais “preparadores de solo” do que propriamente “semeadores”.

A questão não é bem "semear", estamos precisando "preparar o solo antes".  Alguém tem que vir antes de nós, preparando o solo, tirando as pedras, arrancando os espinhos. Isso não está acontecendo. E também não se semeia e esquece o “cuidado”. Então, ainda vamos chorar muito por ver nossas plantações devastadas pelo nosso próprio descaso.
Por que nossas crianças estão desatentas e sem interesse? Porque este não é o "lugar" em que elas gostariam de estar. O que dizemos não faz parte do mundo delas. E elas estão ali por não ter escolha.

Não há evangelização que funcione sem "anúncio" prévio. Para que a Palavra seja ouvida e "bebida" é preciso que se tenha sede dela. Quem anunciou Jesus a estas crianças? E a Igreja vem nos alertando que a catequese, a evangelização, precisa voltar a ser com ADULTOS! Pouco se conquista evangelizando crianças que não encontram respaldo nenhum de fé em suas vivências diárias, que não tem maturidade para entender a fé e nem escolha para estar ou não na catequese.

A maioria das crianças é obrigada pelos pais. Que veem a catequese exclusivamente como "social", para se “adquirir” um sacramento. É "cultural" este desejo, não "espiritual". Não estamos sendo nada eficazes na evangelização porque simplesmente jogamos nossas sementes por aí... Esse pensamento de que "se salvar alguma já tá bom" me deixa doente. Porque muito tempo se perde, muito esforço, muita luta. Estamos enveredando por um caminho que não está dando certo e teimamos em continuar nele! Até quando?

Ângela Rocha
Catequista

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