Uma dúvida que surgiu em nosso grupo de catequistas...
“Maria Dores Meneses Eu
gostaria de saber como devo explicar para meus catequizando sobre o pecado
original. Idade entre 13 e 14 anos?”
Bom,
primeiro é necessário acrescentar que nem para adultos é fácil explicar o
conceito de “pecado original”; para
adolescentes, acredito, seja uma tarefa mais ingrata ainda. E esta pergunta, Maria,
pode ser encarada mais como de “metodologia catequética” do que exatamente de
formação “bíblica”. Mas, vamos lá, vamos tentar responder.
Comecemos
pelo conceito de PECADO, no CIC – Catecismo da Igreja Católica:
§1849 - A definição
do pecado: O pecado é uma falta contra a razão, a verdade, a consciência reta;
é uma falta ao amor verdadeiro para com Deus e para com o próximo, por causa de
um apego perverso a certos bens. Fere a natureza do homem e ofende a
solidariedade humana. Foi definido como "uma palavra, um ato ou um desejo
contrários à lei eterna".
§1850 - O pecado é ofensa a Deus: "Pequei contra
ti, contra ti somente; pratiquei o que é mau aos teus olhos" (Sl 51,6). O
pecado ergue-se contra o amor de Deus por nós e desvia dele os nossos corações.
Como o primeiro pecado, é uma desobediência, uma revolta contra Deus, por
vontade de tornar-se "como deuses", conhecendo e determinando o bem e
o mal (Gn 3,5). O pecado é, portanto, "amor de si mesmo até o desprezo de
Deus". Por essa exaltação orgulhosa de si, o pecado é diametralmente
contrário à obediência de Jesus, que realiza a salvação.
Estes
itens do nosso Catecismo, por si só, já explicam muita coisa, mas, falar sobre
o “pecado” na catequese, com certeza já não é uma tarefa fácil, e precisa
sempre ser visto como pecado maior “afastar-se de Deus” e das coisas que Jesus
nos ensinou. Ora, muitos catequistas sequer trabalham o “Sermão da Montanha”
com seus catequizandos. Dão uma rápida “pincelada” nas Bem Aventuranças e
esquecem o conteúdo maravilhoso que é todo este discurso que Jesus fez às
multidões. Acredito que mais válido do que falar sobre o pecado original é discutir
o Sermão da Montanha com nossos adolescentes. O Sermão da Montanha é
o sermão do Reino de Deus, um Reino que se opõe ao reino humano e às suas
perspectivas egoístas. Ali Jesus nos dá a direção exata que devemos seguir se
quisermos nos “santificar” e não nos afastarmos de Deus.
Mas,
vamos nos ater à pergunta, que podemos até acrescentar outras: Por que Jesus nos
salvou na Cruz? Como ele é o salvador da humanidade? Por que as pessoas têm
necessidade de serem salvos? Em que sentido os seres humanos são pecadores?
Os
primeiros 11 capítulos do Gênesis falam de um pecado das origens de Adão e Eva
e das consequências deste pecado. Porém, a narração do Gênesis não deve ser
entendida literalmente, mas como uma tentativa do autor do livro de explicar,
através das figuras simbólicas de Adão e Eva e segundo as categorias culturais
e literárias típicas do seu tempo; os problemas que fazem parte da existência
humana: a dor e a morte. Em poucas palavras, a narração do Gênesis quer dizer
que a desordem moral começou com a humanidade e é obra do ser humano.
Essencialmente esse é um estado de abandono e rejeição a Deus.
É
um tema muito difícil de entender, mas tem a ver com a revelação em Cristo, no
qual recebemos a salvação, fica claro também como o pecado entra no mundo por
meio de Adão. Gênesis revela um evento primordial, que aconteceu no início da
história humana. A história humana está marcada por uma culpa original cometida
pelos nossos progenitores. Por trás da desobediência deles está uma voz que se
opõe a Deus, que conduz à morte, por inveja. Tentado pelo demônio, o ser humano
abandonou a confiança no seu criador, abusando da própria liberdade. Esse foi o
primeiro pecado humano. Depois, cada pecado será uma repetição desse ato, uma
falta de confiança na bondade divina.
Este
pecado das origens na teologia cristã, nos livros do Novo Testamento, se torna um pecado ‘hereditário’. Cristo combate esse pecado universal, trazendo a justificação
que dá vida. É nesse sentido que precisamos entender que as criancinhas já
nascem com pecado. Mas não é uma mensagem negativa, pois o que fica é a “justificação”
em Cristo.
(Aqui
é interessante estudar um pouco sobre a “Justificação
em Cristo”, para se entender porque Ele, com a sua morte, “justificou” a
todos).
O
pecado cometido no início da história do ser humano dá origem a uma situação de
pecado para os primeiros seres humanos e para toda a humanidade, de modo tal
que toda pessoa, no momento em que nasce, é já marcado com o sinal do pecado (Romanos
5,18-19; 1 Cor 15,21-22). O pecado original é, portanto, uma condição, um
estado da pessoa já no seu nascimento. Somente Jesus Cristo, o Filho de Deus,
através sua morte, pode restaurar a comunhão original entre Deus e o ser humano.
Não sabemos mais porém, além da narração mitológica do Gênesis, como tudo isso
aconteceu. Simplesmente precisamos acolher como um dos mistérios da Fé.
Outra
coisa bastante interessante – principalmente na adolescência – é que o pecado
original costuma ser confundido com sexo. Em suma, o pecado original não tem
nada a ver com o sexo, mas é a rejeição do projeto divino por parte do ser
humano. A ligação do pecado original com o sexo, considerando a maçã (que nem aparece
na Bíblia), o fruto proibido, como sinônimo do sexo, trouxe um preconceito
muito grande relacionado à sexualidade humana, que é um dom para a humanidade e
não uma maldição. Deus é o Criador onipotente e a sexualidade entra na vontade
divina. O sexo desenfreado, casual, inconsequente, como fim em si mesmo; é uma
expressão de rejeição do projeto divino, do afastar-se de Deus, mas não é a
matéria do pecado original.
O
pecado de Adão e Eva atinge a todos. Paulo aos Romanos diz: "pela desobediência de um só, todos nos
tornamos pecadores" (Romanos 5,9). "Por meio de um só homem o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a
morte, assim a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram"
(Romanos 5,12). Cristo combate esse pecado universal, trazendo a justificação
que dá vida. É nesse sentido que precisamos entender que as criancinhas já
nascem com pecado. Mas não é uma mensagem negativa, pois o que fica é a
justificação em Cristo.
Se
há maturidade de nossos catequizandos, penso ser interessante trabalhar primeiro
os conceitos do “Reino de Deus”, insistindo naquilo que é correto e justo, para
depois trabalharmos o pecado do “afastado” de Deus, negando estes conceitos.
Lembrando que Jesus veio salvar a todos pelo seu sacrifício. Sacrífico esse que
não pode ser em vão já que nos leva à santificação.
Como
sugestão, trabalhe a leitura da Carta aos Romanos.
Romanos
5,18-19 resume o conceito da Salvação e justificação:
“Pois assim como, por uma só ofensa, veio o
juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de
justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida.
Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores,
assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos.”
Por
que esse pronunciamento de justiça é tão importante?
“Justificados, pois,
mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Romanos 5,1).
É
por causa da “justificação” (onde fomos declarados justos pelo sacrifício na
cruz) que a paz de Deus pode governar em nossas vidas. É por causa do FATO da
justificação que podemos ter a garantia de salvação. É o FATO de justificação
que deixa Deus começar o processo de santificação – o processo pelo qual Deus
torna realidade em nossas vidas a posição que já ocupamos em Cristo, de filhos
bem amados e objeto da sua misericórdia. Somos “justificados” pela nossa fé,
mas, sempre lembrando que a Doutrina Católica considera que a justificação se
dá pela FÉ e pelas OBRAS, advindas dela.
Um
abraço Maria!
Fontes:
- Anotações pessoais de estudos; Bíblia de Jerusalém; Pe.
Celso Kallarrari (abiblia.org); Catecismo da Igreja Católica.
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