Vou contar falando de um tema interessante: A missa!
O assunto da semana era “Um Rito necessário para celebrar”, ou seja, a
Celebração Eucarística ou “A Missa”. Os recursos normalmente são um tanto
limitados. Em uma das paróquias onde trabalhei, tínhamos uma missa
passo-a-passo montada com desenhos num Flipchart, que é um tipo de quadro num
cavalete, usado geralmente para exposições didáticas ou apresentações, em que
fica preso um bloco de papéis em tamanho grande, assim, quando o quadro está
cheio, o apresentador simplesmente vira a folha (em inglês, flip). Por mais que
falar da missa "passo a passo" não seja o ideal, os desenhos ajudam
bastante. Podemos falar das partes da missa, mas, lembrando sempre que no meio
disso tudo é preciso "celebrar" e não só dar o "ponto".
Mas aqui pude contar só com o folheto da missa mesmo. E, em uma hora de
encontro, cheguei no... tcham, tcham, tcham: Ato Penitencial!
Lá encalhamos nós. Estamos no último ano de preparação para a primeira
eucaristia. E o sacramento da reconciliação causa nas crianças mais receio e
expectativa que a própria comunhão em si. E quando falei que o ato penitencial
na missa é o momento do exame de consciência, do reconhecimento dos erros e do
pedido de perdão; novamente nos transportamos para o assunto Confissão... “E
se a gente esquecer algum pecado?”, “Posso escolher o padre?”, “Se eu faço ato
penitencial não preciso confessar?”, “Quando eu tenho que me confessar
de novo?”. E por aí afora.
Agora, a pergunta que mais me chocou foi a seguinte: “Tia, posso
ser a primeira a confessar?” Aí eu perguntei por quê... não devia ter
perguntado! “Porque tenho aula de pintura neste dia!”.
Mas nosso assunto “reconciliação” rendeu algumas reflexões muito boas.
Fomos lembrando do que é pecado, dos dez mandamentos, do que pode o Ato
penitencial nos libertar e do perdão de Deus. Num determinado momento,
falávamos sobre os erros que as pessoas cometem, como no caso de um ladrão que
entra na casa da gente. Aí eu falei que a gente precisa, antes de julgar essa
pessoa como um “condenado a danação eterna”, ver em que realidade vive essa
pessoa. Ela, provavelmente, não possui em sua vida os valores de um bom
cristão. E quando eu disse que não podemos simplesmente “crucificá-la” como
fizeram com Cristo, uma das minhas menininhas disse: “Porque crucificaram
Jesus afinal? Ele não fez nada!”. Esse foi o gancho para um debate incrível
com eles.
Pedi a cada um que tentasse responder essa pergunta. E vieram as mais
diversas respostas: porque Judas o entregou, para salvar a humanidade, para que
a gente não morresse, para redimir nossos pecados. Tudo uma “decoreba” sem fim.
Só que pedi a eles que tentassem explicar, com o entendimento “deles”, como
Jesus, com sua morte, redimiu nossos erros. Tá bom! Vocês vão dizer que exigi
demais dos meus anjinhos de 10 anos. Mas não estamos exigindo que eles entendam
toda a mistagogia da Eucaristia??
A coisa ficou complicada. Como alguém pode simplesmente morrer e salvar
todo mundo? Porque nós continuamos morrendo do mesmo jeito um dia... O que
significou verdadeiramente a morte de Cristo? E que tipo de “morte” foi aquela?
E chegamos à chave do processo salvífico: A Ressurreição! Porque Jesus
ressuscitou? Qual o sentido disso para nós, cristãos? Qual é o mistério
envolvido em tudo isso?
Depois de muitos “micos”, respostas esdrúxulas, conjecturas,
“adivinhações”, veio um comentário que começou a dar uma luz a nossa discussão: “Tia,
as pessoas não se importavam umas com as outras, ninguém liga pra salvar
alguém...”. Quando eu disse que essa resposta era a ponta do fio que ia
desfazer nossos nós, as crianças começaram então a entender o que aquele
“Morreu para nos salvar...” significa.
Aí elas conseguiram ir ligando a “morte” de Cristo com a “morte” dos
nossos pecados. A Ressurreição de Cristo com a “vida nova” proposta por Ele. E
aí também foram chegando à simbologia da comunhão eucarística. No que significa
verdadeiramente a “fração do pão”, a comunhão depois do arrependimento, do
perdão, da reconciliação verdadeira com Deus. E isso, claro que não com essas
palavras, foram eles mesmos que me disseram.
Durante a nossa uma hora e meia de encontro, bati a cabeça muitas vezes
na parede (de brincadeirinha claro!). A cada resposta equivocada eu ia lá e
dizia que eles ainda iam me matar... Mesmo falando de um assunto tão sério, eu
permiti risadas e brincadeiras... E a cada resposta que me fazia “bater a
cabeça na parede” eles buscavam com afinco a resposta correta ou o verdadeiro
entendimento.
Ao final senti que aquelas oito cabecinhas pensam agora diferente sobre
a reconciliação e a Eucaristia. Não sou ingênua a ponto de achar que “mudei a
vida” deles. Mas tenho certeza absoluta que a expressão “Jesus, Salvador”,
agora vai provocar neles uma reflexão mais demorada. E outra coisa, não podemos
pensar que crianças de 10, 11 anos não tem maturidade suficiente para refletir
sobre um assunto tão complexo. Hoje em dia elas vivem num mundo repleto de
informações. Suas mentes processam essas informações a uma velocidade
espantosa. Acho que nós, catequistas, é que somos meio “devagar”...
Pensem só: Eu precisei de um encontro de uma hora só para falar de uma
pequena parte da Missa. Quantas partes tem a missa? Precisaria de todos os 32
encontros do ano só para conseguir explicar toda a simbologia envolvida numa
celebração. Ou seja, só para ligar um pouco a Liturgia à catequese. E pensando
que, a cada parte, precisamos celebrar também, levá-los a "viver" o
momento.
E tem gente que diz ainda que o tempo de catequese que temos, é
suficiente. Isso porque a nossa, no regional Sul II, é de três anos para a
Eucaristia e dois para a Crisma. E onde é UM ano pra cada sacramento? Com uma
hora de encontro? Ou nem isso se considerarmos catequese de março a outubro...
Ângela Rocha - Catequista
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