22º DOMINGO DO TEMPO COMUM: Marcos 7,1-23
O amor
solidário e compassivo de Deus, manifestado e atestado definitivamente em Jesus
Cristo, não muda jamais. E não muda também o amor como único caminho possível
para construir outro mundo. O apóstolo Tiago insiste: “Ele nos gerou por meio
da Palavra da verdade para que nos tornássemos as primeiras dentre as suas
criaturas”. E acrescenta: “Religião pura e sem mancha diante de Deus, nosso
Pai, é esta: socorrer os órfãos e as viúvas em aflição e manter-se livre da
corrupção do mundo.” Nosso batismo expressa esta vocação dos cristãos: ser os
primeiros a viver o amor como princípio, meio e fim.
Quando
falamos em amor não estamos nos referindo a um vago sentimento interior,
mas a um dinamismo envolvente, que encontra em Jesus sua
máxima expressão e concretude: trata-se de reconhecer os outros em sua
dignidade, de valorizar sua verdade e atender suas necessidades. E isso
comporta decisões e ações concretas que passam longe do medo
de não sujar as mãos, que nos envolvem em lutas, que nos levam a compartilhar
os sofrimentos e humilhações que decorrem disso. É isso que significa
manter-se livre da corrupção, socorrer os órfãos e as viúvas, como diz o
apóstolo Tiago.
É
lamentável observar que inda hoje alguns cristãos, inclusive consagrados e
ordenados, estejam mais preocupados com a limpeza das mãos ou com a roupa
adequada daqueles que se aproximam da eucaristia que com as fraturas, divisões
e injustiças que ferem o corpo de Cristo no corpo dos homens e mulheres
humilhados e excluídos da mesa da vida. Eles priorizam a limpeza das toalhas,
patenas e cálices, dão a máxima importância a panos e hábitos vistosos, mas
pouco se importam com as atitudes verdadeiramente anti-evangélicas que precisam
ser combatidas e mudadas.
É esta a
“lei” que os legistas e fariseus defendem diante da liberdade de Jesus e dos
seus discípulos. “Por que os teus discípulos não seguem a tradição
dos antigos, pois comem o pão sem lavar as mãos?” A eles não interessa a
partilha dos pães e peixes que alimentara uma multidão, mas o fato de que os
discípulos e todo o povo haviam comido sem lavar as mãos! E o pior é que eles
têm seguidores/as hoje, inclusive fora do âmbito religioso: pessoas que querem
salvar as leis do mercado à custa da fome que mata milhões. O caminho trilhado
e proposto por Jesus de Nazaré é bem outra coisa!
A verdade
é que alguns costumes irrelevantes e hábitos perniciosos vão conquistando uma
importância cada vez maior, e acabam aparecendo à nossa consciência como
expressões da vontade de Deus. Quanta discussão sobre se é permitido receber a
hóstia na mão ou não, e quanta polêmica em torno da prática de chamar leigos e
leigas a proclamar o Evangelho numa celebração eucarística! E sem falar na
comunhão aos casais separados ou recasados. Tradições humanas que ocupam o
lugar da vontade de Deus!
Jesus
estabelece um princípio que “crava” o discernimento de cada dia, e em todos os
casos: “O que vem de fora e entra na pessoa não a torna impura; as coisas que
saem de dentro da pessoa é que a tornam impura”. O que nos torna dignos ou
indignos não é nossa condição social, nosso grau de estudo, nossos recursos e
bens, nossa orientação sexual ou nossa pertença religiosa, mas as ações e
decisões que tomamos, as relações que estabelecemos. “Pois é de dentro do
coração das pessoas que saem as más intenções, como a imoralidade, roubos,
crimes, adultério, ambições sem limites, maldades…”, esclarece Jesus.
Jesus, Palavra viva e libertadora do Pai, tu nos
pedes que não confundamos a Boa Notícia que liberta com nossas doutrinas, medos
e interesses. Tu nos ensinas que não são os aspectos externos que nos fazem
bons ou ruins aos olhos do teu Pai. Abre nossos olhos, nossos ouvidos e nosso
coração à tua Boa Notícia. Ajuda-nos a reinventar evangelicamente tua Igreja,
tão devedora de tradições fossilizadas. E ajuda-nos a distinguir, entre nossas
lideranças, os trapaceiros daqueles que tem compromisso com o povo. Assim seja!
Amém!
Texto do Itacir Brassiani
Fonte: cebi.org.br
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