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terça-feira, 16 de maio de 2023

A RETÓRICA E A CATEQUESE

Imagem: Paulinas.org

 Interiorizar a palavra é mais do que explicar o sentido das coisas. Use a retórica na catequese. Falar bem, ajuda a mensagem a fazer  eco junto ao interlocutor.

Mas afinal, o que é retórica?

Sabe aquele professor ou professora que você adorava ouvir falar? Ou aquele palestrante que prende a plateia com suas palavras? Ou então aquele político que discursa como ninguém? Ou ainda aquele padre cuja homilia é simplesmente maravilhosa? Ou aquele escritor que você sente que diz tudo que você gostaria de dizer?

Todas essas pessoas podem ter aquilo que chamamos de “o dom da palavra”. Ou então, dominar aquilo que chamamos de “retórica”. Que nada mais é do que a arte ou técnica de usar a linguagem para comunicar de forma eficaz e persuasiva a mensagem que quer transmitir.

E para entender um pouco o que é retórica, precisamos voltar no tempo e na história e discutir um pouco de filosofia.

A Retórica nasceu no século V aC, tendo se desenvolvido nos círculos políticos e jurídicos da Grécia Antiga. Originalmente a retórica visava persuadir uma audiência dos mais diversos assuntos, mas acabou virando sinônimo da arte de bem falar. Aristóteles, na obra  “Retórica”, lançou as bases para sistematizar o estudo desta arte, tornando-a um dos elementos chave da filosofia junto com a lógica e a dialética.

A retórica foi uma das três chamadas “artes liberais” ensinadas nas universidades da idade média, junto com a lógica e a gramática. Até o século XIX foi parte central da educação ocidental, cujo objetivo era a necessidade de treinar oradores e escritores para convencer audiências mediante argumentos bem constituídos.

A retórica apela à audiência em três frentes: a pessoa do orador, o assunto a ser falado e quem vai receber a mensagem. Se analisarmos cada uma destas frentes, veremos que ela tem muito a ver com nosso trabalho como disseminadores da Palavra.

Comecemos pelo orador ou o Ethos, que diz respeito ao caráter da pessoa que fala, que se for íntegro, honesto e responsável conquistará mais facilmente o público. O orador deve possuir certas competências para ter sucesso como a capacidade de dialogar (tanto de comunicar como de ouvir), de pensar e de se comprometer, por isso, se o orador for uma pessoa cuja opinião se atribui algum valor, uma pessoa idônea – como deve ser o catequista - já é metade do sucesso. 

Outra coisa é a consideração pelo conteúdo do discurso (Logos ou palavra) por parte do orador. Se este quer que a mensagem convença tem que apresentar claramente o conteúdo e as ideias (teses) que vai defender. Deve selecionar bem os argumentos que fundamentam a tese, ou seja, selecionar argumentos que diminuam as hipóteses de rejeição ou réplica, apresentando os mais fortes no início e repetindo-os no fim. É preciso também, antecipar objeções às ideias ou tese, para desvalorizar os contra-argumentos e procurar recursos estilísticos, artísticos mesmo como; o bom humor, citações, exemplos.

Por último temos a sensibilidade do público, o Pathos, que é variável em função das características dele. É preciso perceber, por mera intuição, o que move o público, a que ele é sensível, numa expressão: quebrar o gelo. O orador tem que selecionar as estratégias adequadas para provocar nele (público) as emoções e as paixões necessárias para suscitar a adesão (conversão) e levá-lo a mudar de atitude e de comportamento. O orador mesmo servindo-se de ideias já conhecidas, não pode deixar de usar seu carisma e a sua habilidade na oratória.

Pensa que é fácil fazer um discurso/encontro? Que basta ler o material e pedir a intercessão do Espírito Santo? Sim. É preciso contar com ajuda da fé, mas, a fala precisa ser bem elaborada.

Segundo o estudo da retórica, a elaboração do discurso e sua exposição exigem atenção a cinco dimensões:

1.   A escolha dos conteúdos do discurso; 

2.   A organização dos conteúdos num todo estruturado; 

3.   A expressão adequada dos conteúdos;

4.   A memorização do discurso e;

5.   A declamação do discurso, onde a modulação da voz e gestos devem estar de acordo com o conteúdo.

No início, a retórica ocupava-se mais com os discursos políticos falados, ou seja,  a oratória. Mais tarde se alargou e passou a se  ocupar também de textos escritos e, em especial, aos literários, disciplina hoje chamada “estilística”. A retórica enfim,  é uma ciência, no sentido de um estudo estruturado, e uma arte no sentido de uma prática que vem de uma experiência que utiliza uma técnica. 

A oratória é um dos meios pelos quais se manifesta a retórica, mas não o único. Há retórica na música, por exemplo: "Para não dizer que não falei das Flores", de Geraldo Vandré, que possuía claramente uma retórica musical contra a ditadura; ou então, na pintura com  o quadro “Guernica” de Picasso, onde se vê uma retórica contra o fascismo e a guerra e, mais obviamente ainda, vê-se muito de retórica na publicidade com todos os apelos consumistas que são utilizados. Logo, a retórica, enquanto método de persuasão, pode se manifestar por todo e qualquer meio de comunicação.

E aí? Deu para entender a importância da retórica na catequese?

Um bom orador, com certeza, saberá converter e fazer discípulos missionários de Jesus.

Para finalizar nossa exposição, um pensamento:

“Quem deseja ter razão decerto a terá com o mero fato de possuir língua.” (Goethe).




Ângela Rocha
Catequistasemformacao.com
angprr@gmail.com.br




 

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