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domingo, 16 de julho de 2023

ANO LITÚRGICO: TUDO QUE VOCÊ PRECISA SABER!




Uma síntese do Ano Litúrgico...


ANO LITÚRGICO

Chama-se Ano Litúrgico o tempo em que a Igreja celebra todos os feitos salvíficos operados por Deus em Jesus Cristo. "Através do ciclo anual, a Igreja comemora o mistério de Cristo, desde a Encarnação ao dia de Pentecostes e à espera da vinda do Senhor" (NUALC nº 43 e SC nº 102).

Ano Litúrgico é, pois, um tempo repleto de sentido e de simbolismo religioso, de essência pascal, marcando, de maneira solene, o ingresso definitivo de Deus na história humana. É o momento de Deus no tempo, o "kairós" divino na realidade do mundo criado. Tempo, pois, aqui entendido como tempo favorável, "tempo de graça e de salvação", como nos revela o pensamento bíblico (2Cor 6,2; Is 49,8a).

As celebrações do Ano Litúrgico não olham apenas para o passado, comemorando-o. Olham também para o futuro, na perspectiva do eterno, e fazem do passado e do futuro um eterno presente, o "hoje" de Deus, pela sacramentabilidade da liturgia (Cf. Sl 2,7; 94(95); Lc 4,21; 23,43). Aqui, enfatiza-se então a dimensão escatológica do Ano Litúrgico.

O Ano Litúrgico tem como coração o Mistério Pascal de Cristo, centro vital de todo o seu organismo. Nele palpitam as pulsações do coração de Cristo, enchendo da vitalidade de Deus o corpo da Igreja e a vida dos cristãos.

QUANDO SE INICIA O ANO LITÚRGICO?

Diferente do ano civil, mas, como foi dito, não contrário a ele, o Ano Litúrgico não tem data fixa de início e de término. Sempre se inicia no primeiro Domingo do Advento, encerrando-se no sábado da 34ª semana do Tempo Comum, antes das vésperas do domingo, após a Solenidade de Cristo Rei do Universo. Esta última solenidade do Ano Litúrgico marca e simboliza a realeza absoluta de Cristo no fim dos tempos. Daí, sua celebração no fim do Ano Litúrgico, lembrando, porém, que a principal celebração litúrgica da realeza de Cristo se dá sobretudo no Domingo da Paixão e de Ramos.

Mesmo sem uma data fixa de início, qualquer pessoa pode saber quando vai ter início o Ano Litúrgico, pois ele se inicia sempre no domingo mais próximo de 30 de novembro. Na prática, o domingo que cai entre os dias 27 de novembro e 3 de dezembro. A data de 30 de novembro é colocada também como referencial, porque nela a Igreja celebra a festa de Santo André, apóstolo, irmão de São Pedro, e Santo André foi, ao que tudo indica, um dos primeiros discípulos a seguir Cristo (Cf. Jo 1,40).

ANO LITÚRGICO E DINÂMICA DA SALVAÇÃO

O Concílio Vaticano II (SC nº 6), fiel à tradição cristã e apostólica, afirma que o domingo, "Dia do Senhor", é o fundamento do Ano Litúrgico, pois nele a Igreja celebra o mistério central de nossa fé, na páscoa semanal que, devido à tradição apostólica, se celebra a cada oitavo dia.

O domingo é justamente o primeiro dia da semana, dia da ressurreição do Senhor, que nos lembra o primeiro dia da criação, no qual Deus criou a luz (Cf. Gn 1,3-5). Aqui, o Cristo ressuscitado aparece então como a verdadeira luz, dos homens e das nações. Todo o Novo Testamento está impregnado dessa verdade substancial, quando enfatiza a ressurreição no primeiro dia da semana (Cf. Mt 28,1; Mc 16,2; Lc 24,1; Jo 20,1; como também At 20,7 e Ap 1,10).

Como o Tríduo Pascal da Morte e Ressurreição do Senhor derrama para todo o Ano Litúrgico a eficácia redentora de Cristo, assim também, igualmente, o domingo derrama para toda a semana a mesma vitalidade do Cristo Ressuscitado. O domingo é, na tradição da Igreja, na prática cristã e na liturgia, o "dia que o Senhor fez para nós" (Cf. Sl 117(118),24), dia, pois, da jubilosa alegria pascal.

AS DIVISÕES DO ANO LITÚRGICO

Os mistérios sublimes de nossa fé, são celebrados no Ano Litúrgico, e este se divide em dois grandes ciclos: o Ciclo do Natal, em que se celebra o mistério da Encarnação do Filho de Deus, e o Ciclo da Páscoa, em que celebramos o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, como também sua ascensão ao céu e a vinda do Espírito Santo sobre a Igreja, na solenidade de Pentecostes.

O ciclo do Natal se inicia no primeiro domingo do Advento e se encerra na Festa do Batismo do Senhor, tendo seu centro, isto é, sua culminância, na solenidade do Natal. Já o ciclo da Páscoa tem início na Quarta-Feira de Cinzas, início também da Quaresma, tendo o seu centro no Tríduo Pascal, encerrando-se no Domingo de Pentecostes. A solenidade de Pentecostes é o coroamento de todo o ciclo da Páscoa.

Entremeando os dois ciclos do Ano Litúrgico, encontra-se um longo período, chamado "Tempo Comum". É o tempo verde da vida litúrgica. Após o Natal, exprime a floração das alegrias natalinas, aí aparecendo o início da vida pública de Jesus, com suas primeiras pregações. Após o ciclo da Páscoa, este tempo verde anuncia vivamente a floração das alegrias pascais. Os dois ciclos litúrgicos, com suas duas irradiações vivas do Tempo Comum, são como que as quatro estações do Ano Litúrgico.

O “SANTORAL” OU O “PRÓPRIO DOS SANTOS”

Em todo o Ano Litúrgico, exceto nos chamados tempos privilegiados (segunda parte do Advento, Oitava do Natal, Quaresma, Semana Santa e Oitava da Páscoa), a Igreja celebra a memória dos santos.

Se no Natal e na Páscoa, Deus apresenta à Igreja o seu projeto de amor em Cristo Jesus, para a salvação de toda a humanidade, no Santoral a Igreja apresenta a Deus os copiosos frutos da redenção, colhidos na plantação de esperança do próprio Filho de Deus. São os filhos da Igreja, que seguiram fielmente o Cristo Senhor na estrada salvífica do Evangelho. Em outras palavras, o Santoral é a resposta solene da Igreja ao convite de Deus para a santidade.

AS CORES DO ANO LITÚRGICO

Como a liturgia é ação simbólica, também as cores nela exercem um papel de vital importância, respeitada a cultura de nosso povo, os costumes e a tradição. Assim, é conveniente que se dê aqui a cor dos tempos litúrgicos e das festas. A cor diz respeito aos paramentos do celebrante, à toalha do altar e do ambão e a outros símbolos litúrgicos da celebração. Pode-se, pois, assim descrevê-la:

Roxo: Usa-se no Advento, na Quaresma, na Semana Santa (até Quinta-Feira Santa de manhã), e na celebração de Finados, como também nas exéquias.

Branco: Usa-se na solenidade do Natal, no Tempo do Natal, na Quinta-Feira Santa, na Vigília Pascal do Sábado Santo, nas festas do Senhor e na celebração dos santos. Também no Tempo Pascal é predominante a cor branca.

Vermelho: Usa-se No Domingo da Paixão e de Ramos, na Sexta-Feira da Paixão, no Domingo de Pentecostes e na celebração dos mártires, apóstolos e evangelistas.

Rosa: É usado no terceiro Domingo do Advento (chamado "Gaudete") e no quarto Domingo da Quaresma chamado "Laetare"). Esses dois domingos são classificados, na liturgia, de "domingos da alegria", por causa do tom jubiloso de seus textos.

Preto: Pode-se usar na celebração de Finados.

Verde: Usa-se em todo o Tempo Comum, exceto nas festas do Senhor nele celebradas, quando a cor litúrgica é o branco.

* Se uma festa ou solenidade tomar o lugar da celebração do tempo litúrgico, usa-se então a cor litúrgica da festa ou solenidade. Exemplo: em 8 de dezembro, celebra-se a Solenidade da Imaculada Conceição. Neste caso, a cor litúrgica é o branco, e não o roxo do Advento. Este mesmo critério é aplicável para a celebração dos dias de semana.

ESTRUTURA CELEBRATIVA E PEDAGÓGICA DO ANO LITÚRGICO


Como se vê no gráfico acima, o Ano Litúrgico se divide em dois grandes ciclos: Natal e Páscoa. Entre eles situa-se o Tempo Comum, não os separando, mas os unindo, na unidade pascal e litúrgica. Em cada ciclo há três momentos, de grande importância para a compreensão mais exata da liturgia. São eles: um, de preparação para a festa principal; outro, de celebração solene, constituindo assim o seu centro; e outro ainda, de prolongamento da festa celebrada. No centro do Ano Litúrgico encontra-se Cristo, no seu Mistério Pascal (Paixão, Morte e Ressurreição). É o memorial do Senhor, que celebramos na Eucaristia. O Mistério Pascal é, portanto, o coração do Ano Litúrgico, isto é, o seu centro vital. O círculo é um símbolo expressivo da eternidade, e o Mistério Pascal de Cristo, no seu centro, constitui o eixo fundamental sobre o qual gira toda a liturgia.

Há, no entanto, quem prefira o gráfico em espiral.  A representação gráfica em forma espiral sugere ao ano litúrgico significado de caminho progressivo sempre aberto ao que acontece na história presente. A linguagem simbólica e a riqueza dos elementos rituais permitem a cada pessoa, resignificar o seu próprio caminho. Trata-se de um itinerário existencial: a vida inteira envolvida no caminho litúrgico e iluminada por ele, sem reduzir tudo à liturgia, mas inserindo como fermento a celebração na vida.

Por isso, a melhor imagem para entender o Ano Litúrgico não é o círculo repetitivo, mas a espiral ascendente que jamais repete o mesmo círculo. Uma espiral salvífica que parte do Alfa da criação e vai girando para o alto em direção ao Ômega da nova criação em Cristo Ressuscitado. Assim, Deus nos salva dentro de nossa história e nos salva da nossa história, daquilo que ela traz de degeneração e morte.

O Ano Litúrgico é essa espiral ascendente de salvação que liberta o ser humano de seu destino fatídico e o leva em direção à comunhão com a vida divina e eterna. Por isso, cada Ano Litúrgico, mesmo celebrando as mesmas datas, atualiza uma nova intervenção da graça redentora da Santíssima Trindade em favor do seu povo caminhante.

O início do Ano Litúrgico não é o 1º de janeiro, mas no 1º Domingo do Advento, que nunca cai na mesma data do Ano Civil. O Ano Litúrgico se encerra na Festa de Cristo Rei, 34º Domingo do Tempo Comum, anterior ao Primeiro Domingo do Advento, que também muda a cada ano.

 

FONTES:

ADAM, Adolf. O Ano Litúrgico: Sua história e seu significado segundo a renovação litúrgica. São Paulo: Loyola, 2019.

CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia. São Paulo: Paulinas, 2002.

CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS. Instrução geral do missal romano. 3ª ed. Brasília: CNBB, 2023.

Guias Litúrgicos: Anos A, B, C. Petrópolis: Vozes, 2019.

KONINGS, John S.J. Liturgia dominical: Mistério de Cristo e formação dos fiéis – Anos A – B – C. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 2003.

ODORÍSSIO, Mauro. Missa: Mistério, celebração, organização. 10ª ed. São Paulo: Ave Maria, 2013.

 


segunda-feira, 12 de junho de 2023

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segunda-feira, 26 de novembro de 2018

COMO ADEQUAR A CATEQUESE AO TEMPO LITÚRGICO?



Uma das primeiras formas de se adentrar à Iniciação à Vida Cristã é a catequese, que não deve ser confundida como mera transmissão de dogmas e preceitos. E é isso que a IVC, catequese pelo Processo Catecumenal, pretende: Iniciação à vida cristã, muito mais que recepção de sacramentos. A catequese não pode mais ser um “cursinho”, com data para acabar, que dá diploma ao final, ela precisa ser um processo envolvente de iniciação à fé e à vida em comunidade.

Percebemos que hoje, a opção religiosa é muito mais uma escolha do que simplesmente tradição familiar. A nova geração de pais já está dando a liberdade dos filhos escolherem se querem ou não frequentar a Igreja, daí a exigência de formar cristãos firmes e conscientes de sua fé.

Ao assumirmos seriamente a iniciação cristã estaremos entre os primeiros beneficiados: fará crescer tanto evangelizados como evangelizadores em toda comunidade. Se tivermos pessoas verdadeiramente evangelizadas, teremos discípulos missionários e teremos catequistas. É preciso que a catequese ajude na vivência do mistério de Cristo, do qual os catecúmenos ou catequizandos, desejam participar plenamente pela iniciação. Para isso, a catequese deve ser distribuída por etapas, integralmente transmitida e relacionada com o Ano Litúrgicoapoiada em celebrações da palavra.

As celebrações da palavra, inseridas nos tempos litúrgicos e com um elenco próprio de leituras bíblicas, ajudam a assimilar os conteúdos da catequese (por exemplo o perdão, a solidariedade e todos os valores cristãos). As celebrações ensinam de forma prazerosa “as formas e os caminhos da oração”, aproximam dos “símbolos, ações e tempos do mistério litúrgico” e introduzem “gradativamente no culto de toda a comunidade”.

Hoje, numa tentativa de “abeirar-se” do Catecumenato como processo de iniciação à vida cristã, muitas comunidades estão adotando o Ano Litúrgico como Calendário para orientar a catequese. Inicia-se a catequese logo após a Páscoa e, num processo gradual e contínuo - dependendo da preparação dos catecúmenos e catequizandos -os sacramentos da iniciação são feitos ou no Sábado ou no Domingo de Páscoa. Outras comunidades adotam o Advento como início ou ainda o tempo Comum.

Por que essa mudança de data?

Ora, acontece que a catequese está estreitamente ligada ao tempo litúrgico pela Quaresma, que são os 40 dias de preparação que a Igreja nos traz para a conversão, jejum, penitência e caridade. E encontramos esta orientação no RICA (pg. 115, item 139): “...os sacramentos da iniciação devem ser celebrados nas solenidades pascais e sua preparação imediata é própria da Quaresma”.

Na Quaresma que precede os sacramentos da iniciação, realizam-se os Escrutínios e as Entregas, ritos que complementam a preparação espiritual e catequética dos “eleitos” e se prolongam por todo tempo quaresmal.

* Escrutínios são rituais que se realizam por meio de exorcismos (orações e bênçãos), e são de caráter espiritual. O que se procura por meio deles é purificar os espíritos e os corações, fortalecer contra as tentações, orientar os propósitos e estimular as vontades, para que os catecúmenos ou catequizandos se unam a Cristo e reavivem seu desejo de amar a Deus (RICA 154 a 159).

Uma coisa que nos passa despercebida é que toda a Liturgia Quaresmal foi feita para a catequese! Nada mais correto então, que, aqueles que estão sendo preparados para adentrar ao Mistério da Morte e ressurreição de Cristo, pela EUCARISTIA, o façam após este período de preparação. Observemos que todas as leituras dos cinco domingos da Quaresma são uma preparação para que os novos cristãos recebam os sacramentos da Iniciação.

A catequese no tempo da Purificação e Iluminação (Quaresma):

Todos os anos o Primeiro Domingo da Quaresma é dedicado à reflexão das tentações de Jesus (Lc 4,1-13). Apresenta o modo como o Mestre as enfrentou e tem como finalidade indicar aos catecúmenos e aos batizados qual é a tática usada pelo inimigo e como lhe resistir. Neste primeiro domingo o RICA (Ritual de Iniciação Cristã de Adultos), prevê o Rito da Eleição ou inscrição do nome dos candidatos a receberem os sacramentos.

Segundo Domingo de Quaresma, apresenta a transfiguração. Os cristãos devem estar conscientes de que seguir a Jesus significa dar a própria vida. O grão de trigo morre, mas ressuscita sempre numa forma nova e centuplicada. O destino último do homem não é a morte, mas a ressurreição, como mostra o sinal da transfiguração.

Do Terceiro Domingo em diante os temas variam conforme o ciclo litúrgico.

* Neste 3º domingo, conforme o RICA, realiza-se o 1º escrutínio, no 4º Domingo o 2º e no 5º domingo o 3º. As “Entregas” devem ser feitas depois dos escrutínios e podem ser feitas durante a semana: O Símbolo (Credo) deve ser entregue depois do 1º Escrutínio; a Oração do Senhor (Pai Nosso), depois do 3º. Estas entregas podem também ser feitas durante o catecumenato para enriquecer o mesmo, a maneira de “ritos de transição. (Rica, 53). O RICA recomenda que a Celebração do Batismo, da Confirmação e da Eucaristia sejam feitos na Vigília Pascal.
ANO A

As leituras do ano A, atualizam a celebração da Morte-Ressurreição de Cristo. Esta celebração é como o tecido de fundo de todas as leituras. Como todos os sacramentos cristãos estão ligadas de uma maneira ou de outra a esse Mistério Pascal, essas leituras vão constituir a melhor preparação aos “Sacramentos da iniciação cristã".

Temos então neste ano A, no 3º Domingo, a Samaritana no poço (João 4, 5-42), numa estreita correlação que é Cristo quem nos dá a água da vida. Pelo batismo nos é dado o amor de Deus derramado em nossos corações. No 4º Domingo, Jesus cura o cego de nascença (João 9,1-41). O dom da vida transmitido no batismo desenvolve-se em dom de luz. Por meio dos sacramentos nossos olhos abriram-se como os de o cego de nascença pois podemos ver as coisas segundo a visão de Deus. No 5º Domingo, Jesus ressuscitou Lázaro (João 11,1-45), ele é a Vida e dá a vida aos que acreditam n’Ele. Nos sacramentos da iniciação cristã recebemos a vida nova e somos transformados em criaturas novas.

ANO B

As leituras do Ano B, põem em evidencia o mistério da Aliança e a conversão necessária para entrar na amizade da Aliança.

Aqui vemos a Aliança selada com Noé (1º Domingo), com Abraão o antepassado do Povo escolhido (2º Domingo) e com o povo de Israel pela intermediação de Moisés (3º Domingo) são anuncio e prefiguração da Aliança nova e eterna selada por Deus com toda a humanidade em Cristo Jesus, selada no sacrifício da Cruz. Como a serpente elevada por Moisés no deserto é sinal de cura, igualmente a cruz de Cristo é sinal e realização da salvação: para ter acesso a essa salvação em Cristo é necessário converter-se, acreditar na luz e seguir a Cristo crucificado (4º Domingo). Deus, pelo profeta Jeremias, anuncia uma nova Aliança inscrita nos corações. Esta nova Aliança realiza-se em Cristo que vem reconstruir a humanidade e juntar tudo na unidade (João 12). Para fazer parte desta humanidade nova é necessário aceitar converter-se para viver da nova lei, o amor que inclui mesmo o inimigo (5º Domingo).

ANO C

Nas leituras do Ano C, o tema central é da paciência de Deus e da conversão. Deus chama o pecador à conversão e lhe oferece seu perdão quando volta a Ele.

Como para os anos A e B os dois primeiros domingos do ano C falam da tentação de Jesus (Lucas 4) e da transfiguração (Lucas 9). A tentação significa a escolha do homem diante o mistério de Deus e da fé. E uma opção a seguir Cristo para cumprir assim fielmente a vontade do Pai. Seguindo a Cristo, o Filho bem-amado, seremos transfigurados e teremos parte na sua glória.

Os três outros domingos da quaresma do ano C nos falam da teologia da paciência e do perdão de Deus. Jesus nos fala da conversão necessária: "Se não mudais de vida, morrereis todos" (Lc 13,1-9). Deus é paciente (a parábola da figueira que não dá frutos), se rejeitamos até o fim a graça que nos é oferecida não escaparemos ao juízo (3º Domingo).
Jesus propõe-nos a parábola do pai misericordioso (Lucas 15,11-31 ). Deus é paciente, Ele espera o homem pecador que se afastou dele como o pai da parábola espera o filho que abandonou a casa paterna. As leituras deste 4º Domingo são um hino à bondade de Deus e à reconciliação com Ele. Nas leituras do 5º Domingo diz-nos: “Não vos lembreis dos acontecimentos de outrora, nem penseis mais no passado, pois vou realizar algo novo” (Is 43,18-19). A mensagem que Deus nos dá é esta: Ele perdoa sempre, de forma incondicional, nunca condena, como prova a atitude de Jesus no Evangelho. Jesus acolhe e levanta a mulher adultera, ele diz-lhe: "eu não te condeno, vai e não peques mais" (João 8,1-11).

No Domingo de Ramos (ou sexto Domingo da Quaresma), todos os anos, é lido o relato da paixão: No Ano A, do Evangelho de Mateus; no Ano B, do Evangelho de Marcos; e Ano C é lido o Evangelho de Lucas.

Percebe-se então que, Catequese e Liturgia, tem uma estreita ligação. Uma não há de existir sem a outra, já que a catequese “educa” para a Liturgia e esta, por sua vez, não existirá se não houver catequese e orientação para ela. Adequar, portanto, os ritos e celebrações dos sacramentos ao Tempo Litúrgico é condição primeira para que esta possa ser chamada de Iniciação à Vida Cristã. No entanto, todo o processo se Iniciação ficará comprometido caso se faça ritos e celebrações apenas para cumprir “calendário” e obrigações, desta forma, toda a Liturgia que se pretende ser profunda e mistagógica, não passará então, de mero ritualismo de nossa parte.

Uma observação que se faz necessária, é de que, na catequese Infantil, é preciso adequação das celebrações e ritos do RICA, que foi feito para ADULTOS. Na catequese de crianças muita riqueza pode ser colocada usando-se, simplesmente, da mistagogia do processo catecumenal e das entregas dos símbolos.

Ângela Rocha



domingo, 7 de janeiro de 2018

ANÚNCIO DAS SOLENIDADES MÓVEIS DE 2018


Diz o Cerimonial dos Bispos sobre a Missa da Epifania: “[...] se tal for o costume local, após o canto do Evangelho, um dos diáconos, ou algum cônego ou beneficiado ou outra pessoa revestida de pluvial, subirá ao ambão e daí anunciará ao povo as festas móveis do ano corrente.” (CB, 240)
Na mesma linha, o Diretório Litúrgico da CNBB, também na anotação sobre a Epifania: “Depois da proclamação do Evangelho ou em seguida à Oração depois da Comunhão, faz-se o anúncio das solenidades móveis do ano.” É por esse motivo que, se sugere que se faça esse solene anúncio, se possível em ritmo de canto gregoriano:

"Irmãos caríssimos, a glória do Senhor manifestou-se, e sempre há de manifestar-se no meio de nós até a sua vinda no fim dos tempos. Nos ritmos e nas vicissitudes do tempo recordamos e vivemos os mistérios da salvação.
O centro de todo o ano litúrgico é o Tríduo do Senhor crucificado, sepultado e ressuscitado, que culminará no Domingo de Páscoa, este ano a 1º de abril.
Em cada Domingo, Páscoa semanal, a Santa Igreja torna presente este grande acontecimento, no qual Jesus Cristo venceu o pecado e a morte.
Da celebração da Páscoa do Senhor derivam todas as celebrações do Ano Litúrgico:
as Cinzas, início da Quaresma, a 14 de fevereiro;
a Ascensão do Senhor, a 13 de maio;
Pentecostes, a 20 de maio;
o Primeiro Domingo do Advento, a 02 de dezembro.
Também nas festas da Santa Mãe de Deus, dos Apóstolos, dos Santos e na Comemoração dos Fiéis Defuntos, a Igreja peregrina sobre a terra proclama a Páscoa do Senhor.
A Cristo, que era, que é e que há de vir, Senhor do tempo e da história, louvor e glória pelos séculos dos séculos.
Amém.


Fonte: Diretório Litúrgico da CNBB - 2018, p. 39.

Acompanhe o anúncio na missa do Papa Francisco na Solenidade da Epifania do Senhor de 2018. (O anúncio acontece aos 34 minutos no vídeo):

segunda-feira, 5 de junho de 2017

E FORAM 90 DIAS...

Isso, dentro do ritmo Cristão, ao qual chamamos "Ano Litúrgico", e tem sempre um significado muito especial chegar a este dia, depois de 90 dias vividos em processo de “mudança”. Como uma peregrinação. Dos 365 dias do ano, 90 são para fazermos uma peregrinação.


Isto quer dizer que, se interiorizamos este ritmo e apanhamos esta sabedoria de viver, um terço do nosso ano está tocado por uma Graça toda especial. É a gente pôr-se no caminho.

Os 40 dias de Quarentena pré-Baptismal, mais os 50 dias em Páscoa, formam um itinerário coeso para dar vigor à Esperança.
No centro, o Tríduo Pascal, eixo e nexo de tudo quanto existe.

Começamos com Cinzas e culminamos com Pentecostes. Fogo, fogo, fogo!!! Começamos como gente apagada, mortiça, naquela Quarta-Feira de Cinzas em que vamos como brasa que se deixou extinguir. Daí vamos marcados, assinalados, com a cinza a que nos deixamos chegar... Mas é aí, nesse "dia um" dos 90 que virão, que o cinzel da Palavra começa a funcionar nas mãos laboriosas e criativas do Espírito da Vida! E, dessa celebração das cinzas, saímos para sermos cinzelados, ajeitados, entalhados...

A peregrinação avança - irrompe por dentro de nós até - e vamos dar na celebração de Pentecostes, toda diferente, em que até as cinzas voltaram a ser fagulhas, de tal modo o Sopro do Espírito levantou aquele Fogo, ateou de novo o que estava extinto, e aqueles que tinham saído marcados com as cinzas, saem desta vez com a vida em brasa, rastilhos no mundo, gente acesa e inflamada.

São 90 dias para acontecer este Batismo, em cada ano, Batismo de FOGO!

Acabados, nunca estamos. A sermos perfeitos, não chegamos. Vamos aprontando, claro, que é o que nos compete. "A nós e ao Espírito Santo", como diz o livro das Suas Aventuras, os "Atos dos Apóstolos". Vamos aprontando, dizia eu, que gosto tanto das portas que se abrem nas palavras...

Aprontamos para outro e apontamos para outro. É a lição de João, o Profeta Batista, com quem estive ainda esta manhã. Um homem que aprontou e apontou para outro. "Mas quem és tu?!" perguntavam-lhe, três vezes quase desesperadas. E ele, sempre em paz com não ser quem não era (sabedoria rara!), insistia num desconcertante: "Eu não sou, eu não sou".

Sempre a aprontar. Para outro.

A nossa vida ainda se inscreve nesta necessidade de aprontarmos os caminhos do Senhor e, por isso, vamos repetindo os processos, ensaiando sempre de novo os passos simples que complicamos: aquele um-dois-três-quatro do Mandamento do Amor, mais o cinco-seis-sete-oito das Bem-Aventuranças.

Por isso, gosto de saborear estes 90 dias intensos que terminaram ontem. Hoje, recomeça o que chamamos "Tempo Comum". Que delícia termos um Tempo Comum, o tempo mais à minha medida.  Mais, a nossa medida.

(Texto de Pe. Rui Santiago... meio “abrasileirado” por Ângela Rocha)


E é num tempo, não tão "comum" assim, que vivemos a nossa fé...


 
 



sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

APRENDENDO MAIS SOBRE ANO LITÚRGICO: ANO A - MATEUS

São Mateus, padroeiro dos contadores, escreveu o primeiro dos três evangelhos sinóticos, originalmente escrito em aramaico, entre os anos de 60 e 90.
EVANGELHO DE SÃO MATEUS (ANO A - 2017)

Estamos iniciando o Ano Catequético e precisamos estar atentos às leituras do Evangelho Dominical. Este é o Ano Litúrgico A, com leituras do Evangelho de São Mateus. Vamos conhecer um pouco mais deste Evangelho e do Ano Litúrgico?

O que são as letras A, B e C do Ano litúrgico?

As leituras Bíblicas que ocorrem nas celebrações são determinadas de acordo com o Ano Litúrgico, criado para acompanharmos através das leituras dos textos bíblicos (evangelho e outros livros) a vida de Jesus em ordem cronológica do nascimento até a ascensão aos céus. Assim ouvimos nas celebrações textos que falam do anúncio do Messias, da encarnação, de seu ministério público, com seus milagres e curas, do chamado ao discipulado, discursos, parábolas até culminarmos com morte e ressurreição nos preparando para a Parusia, ou seja, do Cristo Rei do Universo no final do ano litúrgico. A ideia desta distribuição de textos bíblicos ao longo de três anos tem como objetivo se ter uma visão e leitura de toda a Bíblia.
  
O rito romano, utilizado nas celebrações da Igreja católica possui um conjunto de leituras bíblicas que se repetem a cada três anos perpassando os domingos e as solenidades. A cada ano, a liturgia das celebrações segue uma sequência de leituras próprias, divididas em anos A, B e C.

No ano “A” a leitura principal do evangelho na celebração segue o Evangelho de São Mateus;

No ano “B”, a leitura principal do evangelho segue o Evangelho de São Marcos;

No ano “C”, a leitura principal do evangelho segue o Evangelho de São Lucas.

Já o Evangelho de São João é reservado para as ocasiões especiais, principalmente as grandes Festas e Solenidades, para este evangelho não existe um ano litúrgico.

O ano litúrgico inicia-se no primeiro domingo do Advento (cerca de quatro semanas antes do Natal) e se encerra com a solenidade de Cristo Rei do Universo do ano seguinte. 

Como estamos prestes a voltar à catequese, já no ANO A, vamos saber mais sobre o Evangelho de Mateus, neste artigo de Frei Ildo Perondi, biblista.


ESTUDO DO EVANGELHO DE SÃO MATEUS


PLANO GERAL DO EVANGELHO DE MATEUS

1 - Evangelho da Infância de Jesus:1,1-2,23 -  Mateus narra infância de Jesus para proclamar que Ele é o Herdeiro das promessas feitas a Abraão e a David (Genealogia), é o descendente de David anunciado pelos Profetas (1ª passagem), reúne os traços de Salomão, o sábio (2ª passagem) e de Moisés, o salvador do povo (3ª passagem). Os pagãos vêm a Ele com presentes, como o tinham anunciado os profetas (2ª passagem).

2 - Anúncio do Reino do Céu: 3,1-25,46 - São Mateus mostra-nos o princípio do Reino dos Céus: Jesus é anunciado e proclamado como Filho de Deus, nas tentações cumpre a vontade do Pai como verdadeiro Filho e no sermão ensina-nos a cumprir essa mesma vontade de Deus, para podermos receber o Reino dos Céus (5, 20) e ser também filhos de Deus (5, 45). Os capítulos 8 e 9 do Evangelho mostra o poder do Reino dos Céus; Cristo é Aquele que tem esse poder e demonstra-o fazendo milagres e perdoando os pecados, no mesmo tempo que expulsa os demônios; mas logo a seguir, transmite este poder aos Doze, de modo que esse poder se perpetue na Igreja.

3 - Paixão e Ressurreição de Jesus: 26,1-28,20 -  Mateus apresenta Jesus como o Filho de David, o herdeiro do Reino (2 Samuel 7, 12-14), e também como o Emanuel (“Deus conosco”), da profecia de Isaías (7, 14). No entanto, o título que mais lhe interessa é o de Filho de Deus. A imagem de Cristo apresentada por Mateus é a do enviado de Deus, na qual se vão cumprir todas as expectativas do Antigo Testamento. Cristo é a realização de tudo o que fala o Antigo Testamento; dito de outra maneira, Mateus contempla todos os personagens do Antigo Testamento como figuras de Cristo, enquanto que Cristo é a realidade, na qual tudo se cumpre. É como se tudo o que dizia a Sagrada Escritura até então, fosse algo vazio que agora se enche, ou como um desenho que agora tem de se terminar de pintar.

Mateus fala frequentemente do “Reino de Deus”, ou do “Reino dos Céus”, dando preferência a esta última expressão, sem fazer aparentemente distinção entre as duas formas. Os outros evangelistas, ao contrário, usam mais a primeira. É notável a frequência com que Mateus se refere ao Reino: enquanto Mateus refere-o 50 vezes, Marcos refere-o somente 14 e Lucas 39.

Deve-se recordar que a “Boa Nova” consiste em Deus que vem reinar sobre o seu povo. O Reino dos Céus não é algo que está exclusivamente do outro lado (no Céu), mas sim, que vem a este mundo: Deus vem exercer a sua função de Rei, transformando tudo, tanto o mundo, como os homens. O Reino dos Céus vem a este mundo, começa a ganhar forma na terra, e terá a sua consumação nos Céus. São Mateus preocupa-se em mostrar que a boa nova da chegada do Reino dos Céus dá-se na pessoa de Jesus Cristo. O Reino dos Céus anunciado e preparado no Antigo Testamento já está presente em nós, porque Jesus é o cumprimento de todas as profecias. Jesus forma uma comunidade, na qual se começam a manifestar os sinais da presença do Reino. São Mateus é o único evangelista que dá o nome de “Igreja” a esta comunidade (Mateus 16, 18).

 DETALHES DO EVANGELHO DE MATEUS

Autor: Mateus significa “dom de Deus” (Matatias, no hebraico) é um dos Doze Apóstolos. Foi chamado enquanto estava sentado na sua banca, pois era cobrador de impostos (9,9). Depois do chamado ofereceu um almoço para Jesus e seu grupo (9,10-13). É o mesmo Levi de Lc 5,27 e era filho de Alfeu (Mc 2,14).

Local e data: Na Bíblia, é o primeiro Livro do NT (é o mais longo dos quatro Evangelhos). A maioria dos autores hoje concorda que foi escrito no norte da Galiléia; outros afirmam que foi na Síria (Antioquia). Foi escrito primeiro em hebraico ou aramaico. Não temos mais o original. A data deve ter sido por volta dos anos 80-90 dC. Seguramente depois que os romanos destruíram o Templo no ano 70, e quando os cristãos já não podiam mais freqüentar as sinagogas dos judeus.

Objetivo: O objetivo principal deste Evangelho é que Mateus quer responder a duas perguntas, que com certeza os cristãos se colocavam depois da vida, morte e ressurreição de Jesus:
Quem é Jesus? (conhecer). Jesus é o Emanuel, o Deus conosco, o Filho de Deus!;
Como seguir Jesus Cristo? (fazer o que Ele mandou). Mateus mesmo dá o exemplo. Jesus o chama: Segue-me! E ele, levantando-se, o seguiu! (cf. 9,9).

Destinatários: Mateus escreve para os judeus que se converteram ao cristianismo, por isso utiliza muito o AT e usa muitos termos hebraicos. Mas a mensagem de Jesus é universal e por isso o Evangelho termina afirmando: “fazei que todas as nações se tomem discípulos meus... (28,19).


CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DO EVANGELHO DE MATEUS

1. A certeza que Jesus é Deus presente no meio de nós: no início, meio e final:

- 1,23: “Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que quer dizer: Deus está conosco”;
- 18,20: “Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio de deles”;
- 28,20: “Eis que estarei convosco todos os dias, até a consumação dos séculos”.

2. É o Evangelho do Pai:

Enquanto que em Marcos Jesus aparece mais e é mais cristológico; em Lucas é o Espírito Santo que tem uma função especial; em Mateus é a primeira pessoa da Santíssima Trindade que tem destaque. Numerosas são as vezes em que Jesus fala de Deus como doPai nosso (21 vezes contra 5 de Lucas); o seu Pai (18 vezes, contra 6 de Lc e 3 de Mc). Passagens interessantes são: 10,29 (cf. Lc 12,6); 10,20 (cf. Lc 12,12); 20,23 (cf. Mc 10,40). Algumas parábolas, que se encontram exclusivamente em Mateus, são verdadeiras parábolas do “Pai”: a parábola do servo infiel (18,23-35, cf. v. 35), a parábola dos trabalhadores na vinha (20,1-12), a parábola das bodas reais (22,1-14; cf. Lc 14,16-24), a parábola dos dois filhos (21,28-31), a parábola do joio e do trigo (13,24-30; cf v.27).

3. É o Evangelho da Justiça:

(3,15; 5,6; 10,20; 6,1.33; 21,32, etc.)
- Jesus nasce no ambiente de um homem justo (1,19);
- As primeiras palavras de Jesus neste Evangelho são: “deixe como está, pois convém que cumpramos toda a justiça” (3,15);
- A busca fundamental nossa deve ser “o reino dos céus e sua justiça” (6,33);
- O julgamento de Deus será pela justiça e misericórdia que praticamos (25,31-46).
- O tema da “recompensa” aparece muitas vezes.

4. O projeto que Jesus anuncia é uma Boa Notícia, chamado de Reino dos Céus:

- O tema do Reino “dos céus” (ou “de Deus” – 5 vezes) aparece 54 vezes no Evangelho;
- Mateus prefere usar “reino dos céus”, para evitar a expressão “reino de Deus”, pois os judeus, por respeito, evitavam pronunciar o nome de Deus (YHWH – Javé).

5. A valorização da história e do Antigo Testamento:

- Jesus nasce da descendência do povo hebreu. São 14 vezes três gerações (1,17). 14 é a soma das consoantes hebraicas do nome David dwd (4 + 6 + 4 = 14). Jesus é três vezes Davi;
- Várias vezes encontramos “para se cumprir as Escrituras”, ou “o que foi dito pelos Profetas”; ou “também está escrito”; ou “ouviste o que foi dito aos antigos”, etc.

6. As mulheres:

- Na genealogia de Jesus aparecem 5 mulheres. Isso era incomum no ambiente judaico. Todas têm problemas: Tamar que perdeu o marido e se fez passar por prostituta (Gn 38);Raab é prostituta (Js 2,1-21); Rute é moabita, isto é, uma estrangeira (Rt 1,4); Betsabéiaera mulher de Urias, que Davi mandou matar para ficar com ela (2Sm 11 e 12); e Maria, que ainda não era casada com José;
- É uma mulher que unge Jesus e prepara seu corpo para a sepultura (26,6-13);
 - As mulheres são o grupo que é fiel até o fim (27,55-56.61) e são as primeiras as receberem a boa notícia da ressurreição de Jesus e serão as primeiras anunciadoras de que Jesus está vivo (28,1-10);
- Porém, a infância de Jesus é contada na ótica de José e não de Maria, como em Lucas.
                       
7. Aparecem fortes conflitos com os judeus, principalmente com os fariseus:

O Evangelho foi escrito depois da destruição de Jerusalém e do templo (70 dC). Era um momento de ruptura entre judeus e cristãos. Era o tempo da reestruturação do judaísmo formativo. Os cristãos nesta época eram expulsos das sinagogas, por isso Mateus fala das “suas/vossas sinagogas” ou “sinagogas deles” (4,23; 9,35; 10,17; 12,9; 13,54; 23,34).

8. Evangelho das Bem-aventuranças (Mt 5,1-12):

- São 7 ou 9, depende de como são contadas;
- A recompensa na primeira (aos pobres) e na sétima (aos perseguidos pela justiça) a promessa é no presente “deles é o reino dos céus”. As demais são no futuro: herdarão a terra; serão saciados…;
- Diferente de Lucas, os “Ai de vós” não vêm em seguida aos “felizes / bem-aventurados vós”.
Eles aparecem no capítulo 23;
- Deus quer o povo feliz! E essa felicidade começa logo para quem entra no Reino;
- Pessoas pobres, doentes, endemoninhadas, famintas, cegas, desempregadas, crianças, mulheres, multidões… Este é o povo que Jesus encontra e são as privilegiadas no anúncio do Reino.

9. Os números em Mateus:

Mateus usa muito os números, sobretudo 3, 5, 7 e 10. Ex.: narra 3 tentações de Jesus; 3 “quando…” (6,2.5.16); 3 súplicas no monte das Oliveiras; temos 3 negações de Pedro; 3 séries de 14 (7 x 2) gerações na genealogia de Jesus. Encontramos 7 discursos de Jesus, 7 parábolas sobre o Reino;
- O Evangelho está organizado em 5 livrinhos (igual ao Pentateuco, no AT);
- Devemos perdoar não 7 vezes, mas setenta vezes sete, isto é, infinitamente;
- Encontramos em Mateus 10 milagres (igual às 10 pragas ou aos 10 Mandamentos no AT).

10. Jesus é o novo Moisés:

- A matança dos meninos (2,13-18) recorda um fato semelhante com Moisés (Ex 1,15-22);
- Jesus é maior que Moisés, pois Ele cumpre toda a Lei (5,17) e lhe dá uma nova interpretação (5,21-48; 19,3-9.16-21);
- Várias vezes, Jesus sobe à montanha. Esta era o lugar privilegiado para o encontro com Deus. Jesus sobe à Montanha (5,1), assim como Moisés foi ao Sinai. O sermão na Montanha (5-7) e o envio dos Apóstolos pelo mundo (28,16-20) lembram as tábuas da Lei dadas a Moisés no Monte Sinai.

11. O verbo “ver”:

- Jesus “viu” os primeiros Apóstolos (4,18.21); “viu” Mateus (9,9); “viu” as multidões (5,1; 8,18; 9,36); “viu” a sogra de Pedro de cama (8,14); “viu” a mulher doente (8,22); etC.

12. É o Evangelho da Igreja:

- Duas vezes aparece a palavra ekklesía: Igreja / Assembléia (16,18; 18,17);
- Mateus procura corrigir certos problemas da comunidade: o perdão aos que erram, o bom comportamento (parábola do semeador, todo o capítulo 18, a questão da autoridade, o perdão etc.);
- Ele quer demonstrar que os cristãos são o novo Povo de Deus e a Igreja é o verdadeiro Israel;
- O batismo substitui a circuncisão. É o novo sinal de pertença ao povo de Deus;
- Foi o Evangelho mais usado na Igreja primitiva. Seu estilo é de Catequese.



Frei Ildo Perondi – ildo@sercomtel.com.br

Ildo Perondi é Frei Capuchinho, nascido em Romelândia (SC), com Mestrado em Teologia Bíblica pela Universidade Urbaniana de Roma. É Professor de Sagradas Escrituras na PUC-PR (Campus Londrina) e no Instituto Teológico Divino Mestre de Jacarezinho (PR). Assessor Bíblico da CRB, CEBI, CEBs e Escolas Bíblicas para leigos.