Uma síntese do Ano Litúrgico...
ANO
LITÚRGICO
Chama-se Ano Litúrgico o tempo
em que a Igreja celebra todos os feitos salvíficos operados por Deus em Jesus
Cristo. "Através do ciclo anual, a Igreja comemora o mistério de
Cristo, desde a Encarnação ao dia de Pentecostes e à espera da vinda do Senhor"
(NUALC nº 43 e SC nº 102).
Ano Litúrgico é, pois, um
tempo repleto de sentido e de simbolismo religioso, de essência pascal,
marcando, de maneira solene, o ingresso definitivo de Deus na história humana.
É o momento de Deus no tempo, o "kairós" divino na realidade do mundo
criado. Tempo, pois, aqui entendido como tempo favorável, "tempo de graça
e de salvação", como nos revela o pensamento bíblico (2Cor 6,2; Is 49,8a).
As celebrações do Ano
Litúrgico não olham apenas para o passado, comemorando-o. Olham também para o
futuro, na perspectiva do eterno, e fazem do passado e do futuro um eterno
presente, o "hoje" de Deus, pela sacramentabilidade da
liturgia (Cf. Sl 2,7; 94(95); Lc 4,21; 23,43). Aqui, enfatiza-se então a
dimensão escatológica do Ano Litúrgico.
O Ano Litúrgico tem como
coração o Mistério Pascal de Cristo, centro vital de todo o seu organismo. Nele
palpitam as pulsações do coração de Cristo, enchendo da vitalidade de Deus o
corpo da Igreja e a vida dos cristãos.
QUANDO
SE INICIA O ANO LITÚRGICO?
Diferente do ano civil, mas,
como foi dito, não contrário a ele, o Ano Litúrgico não tem data fixa de início
e de término. Sempre se inicia no primeiro Domingo do Advento, encerrando-se no
sábado da 34ª semana do Tempo Comum, antes das vésperas do domingo, após a
Solenidade de Cristo Rei do Universo. Esta última solenidade do Ano Litúrgico
marca e simboliza a realeza absoluta de Cristo no fim dos tempos. Daí, sua
celebração no fim do Ano Litúrgico, lembrando, porém, que a principal
celebração litúrgica da realeza de Cristo se dá sobretudo no Domingo da Paixão
e de Ramos.
Mesmo sem uma data fixa de
início, qualquer pessoa pode saber quando vai ter início o Ano Litúrgico, pois
ele se inicia sempre no domingo mais próximo de 30 de novembro. Na prática, o
domingo que cai entre os dias 27 de novembro e 3 de dezembro. A data de 30 de
novembro é colocada também como referencial, porque nela a Igreja celebra a festa
de Santo André, apóstolo, irmão de São Pedro, e Santo André foi, ao que tudo
indica, um dos primeiros discípulos a seguir Cristo (Cf. Jo 1,40).
ANO
LITÚRGICO E DINÂMICA DA SALVAÇÃO
O Concílio Vaticano II (SC nº
6), fiel à tradição cristã e apostólica, afirma que o domingo, "Dia do
Senhor", é o fundamento do Ano Litúrgico, pois nele a Igreja celebra o
mistério central de nossa fé, na páscoa semanal que, devido à tradição
apostólica, se celebra a cada oitavo dia.
O domingo é justamente o
primeiro dia da semana, dia da ressurreição do Senhor, que nos lembra o
primeiro dia da criação, no qual Deus criou a luz (Cf. Gn 1,3-5). Aqui, o
Cristo ressuscitado aparece então como a verdadeira luz, dos homens e das
nações. Todo o Novo Testamento está impregnado dessa verdade substancial,
quando enfatiza a ressurreição no primeiro dia da semana (Cf. Mt 28,1; Mc 16,2;
Lc 24,1; Jo 20,1; como também At 20,7 e Ap 1,10).
Como o Tríduo Pascal da Morte
e Ressurreição do Senhor derrama para todo o Ano Litúrgico a eficácia redentora
de Cristo, assim também, igualmente, o domingo derrama para toda a semana a
mesma vitalidade do Cristo Ressuscitado. O domingo é, na tradição da Igreja, na
prática cristã e na liturgia, o "dia que o Senhor fez para nós" (Cf.
Sl 117(118),24), dia, pois, da jubilosa alegria pascal.
AS
DIVISÕES DO ANO LITÚRGICO
Os mistérios sublimes de nossa
fé, são celebrados no Ano Litúrgico, e este se divide em dois grandes ciclos: o
Ciclo do Natal, em que se celebra o mistério da Encarnação do Filho de
Deus, e o Ciclo da Páscoa, em que celebramos o mistério da Paixão, Morte
e Ressurreição do Senhor, como também sua ascensão ao céu e a vinda do Espírito
Santo sobre a Igreja, na solenidade de Pentecostes.
O ciclo do Natal se inicia no
primeiro domingo do Advento e se encerra na Festa do Batismo do Senhor, tendo
seu centro, isto é, sua culminância, na solenidade do Natal. Já o ciclo da
Páscoa tem início na Quarta-Feira de Cinzas, início também da Quaresma, tendo o
seu centro no Tríduo Pascal, encerrando-se no Domingo de Pentecostes. A
solenidade de Pentecostes é o coroamento de todo o ciclo da Páscoa.
Entremeando os dois ciclos do
Ano Litúrgico, encontra-se um longo período, chamado "Tempo Comum".
É o tempo verde da vida litúrgica. Após o Natal, exprime a floração das
alegrias natalinas, aí aparecendo o início da vida pública de Jesus, com suas
primeiras pregações. Após o ciclo da Páscoa, este tempo verde anuncia vivamente
a floração das alegrias pascais. Os dois ciclos litúrgicos, com suas duas
irradiações vivas do Tempo Comum, são como que as quatro estações do Ano
Litúrgico.
O
“SANTORAL” OU O “PRÓPRIO DOS SANTOS”
Em todo o Ano Litúrgico,
exceto nos chamados tempos privilegiados (segunda parte do Advento, Oitava do
Natal, Quaresma, Semana Santa e Oitava da Páscoa), a Igreja celebra a memória
dos santos.
Se no Natal e na Páscoa, Deus
apresenta à Igreja o seu projeto de amor em Cristo Jesus, para a salvação de
toda a humanidade, no Santoral a Igreja apresenta a Deus os copiosos frutos da
redenção, colhidos na plantação de esperança do próprio Filho de Deus. São os
filhos da Igreja, que seguiram fielmente o Cristo Senhor na estrada salvífica
do Evangelho. Em outras palavras, o Santoral é a resposta solene da Igreja ao
convite de Deus para a santidade.
AS
CORES DO ANO LITÚRGICO
Como a liturgia é ação
simbólica, também as cores nela exercem um papel de vital importância,
respeitada a cultura de nosso povo, os costumes e a tradição. Assim, é
conveniente que se dê aqui a cor dos tempos litúrgicos e das festas. A cor diz
respeito aos paramentos do celebrante, à toalha do altar e do ambão e a outros
símbolos litúrgicos da celebração. Pode-se, pois, assim descrevê-la:
Roxo:
Usa-se no Advento, na Quaresma, na Semana Santa (até Quinta-Feira Santa de
manhã), e na celebração de Finados, como também nas exéquias.
Branco:
Usa-se na solenidade do Natal, no Tempo do Natal, na Quinta-Feira Santa, na
Vigília Pascal do Sábado Santo, nas festas do Senhor e na celebração dos
santos. Também no Tempo Pascal é predominante a cor branca.
Vermelho:
Usa-se No Domingo da Paixão e de Ramos, na Sexta-Feira da Paixão, no Domingo de
Pentecostes e na celebração dos mártires, apóstolos e evangelistas.
Rosa: É
usado no terceiro Domingo do Advento (chamado "Gaudete") e no
quarto Domingo da Quaresma chamado "Laetare"). Esses dois domingos
são classificados, na liturgia, de "domingos da alegria", por causa
do tom jubiloso de seus textos.
Preto:
Pode-se usar na celebração de Finados.
Verde:
Usa-se em todo o Tempo Comum, exceto nas festas do Senhor nele celebradas,
quando a cor litúrgica é o branco.
* Se uma festa ou solenidade
tomar o lugar da celebração do tempo litúrgico, usa-se então a cor litúrgica da
festa ou solenidade. Exemplo: em 8 de dezembro, celebra-se a Solenidade da
Imaculada Conceição. Neste caso, a cor litúrgica é o branco, e não o roxo do
Advento. Este mesmo critério é aplicável para a celebração dos dias de semana.
ESTRUTURA CELEBRATIVA E PEDAGÓGICA DO ANO LITÚRGICO
Por isso, a melhor imagem para
entender o Ano Litúrgico não é o círculo repetitivo, mas a espiral ascendente
que jamais repete o mesmo círculo. Uma espiral salvífica que parte do Alfa da
criação e vai girando para o alto em direção ao Ômega da nova criação em Cristo
Ressuscitado. Assim, Deus nos salva dentro de nossa história e nos salva da
nossa história, daquilo que ela traz de degeneração e morte.
O Ano Litúrgico é essa espiral
ascendente de salvação que liberta o ser humano de seu destino fatídico e o
leva em direção à comunhão com a vida divina e eterna. Por isso, cada Ano
Litúrgico, mesmo celebrando as mesmas datas, atualiza uma nova intervenção da
graça redentora da Santíssima Trindade em favor do seu povo caminhante.
O início do Ano Litúrgico não
é o 1º de janeiro, mas no 1º Domingo do Advento, que nunca cai na mesma data do
Ano Civil. O Ano Litúrgico se encerra na Festa de Cristo Rei, 34º Domingo do
Tempo Comum, anterior ao Primeiro Domingo do Advento, que também muda a cada
ano.
FONTES:
ADAM,
Adolf. O Ano Litúrgico: Sua história e seu significado segundo a
renovação litúrgica. São Paulo: Loyola, 2019.
CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia. São Paulo: Paulinas, 2002.
CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS. Instrução geral do missal romano. 3ª ed. Brasília: CNBB, 2023.
Guias Litúrgicos: Anos A, B, C. Petrópolis: Vozes, 2019.
KONINGS, John S.J. Liturgia dominical: Mistério de Cristo e formação dos fiéis – Anos A – B – C. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 2003.
ODORÍSSIO, Mauro. Missa: Mistério, celebração, organização. 10ª ed. São Paulo: Ave Maria, 2013.
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