Isso, dentro do ritmo Cristão,
ao qual chamamos "Ano Litúrgico", e tem sempre um significado muito
especial chegar a este dia, depois de 90 dias vividos em processo de “mudança”.
Como uma peregrinação. Dos 365 dias do ano, 90 são para fazermos uma peregrinação.
Isto quer dizer que, se
interiorizamos este ritmo e apanhamos esta sabedoria de viver, um terço do
nosso ano está tocado por uma Graça toda especial. É a gente pôr-se no caminho.
Os 40 dias de Quarentena pré-Baptismal, mais os 50 dias em
Páscoa, formam um itinerário coeso para dar vigor à Esperança.
No centro, o Tríduo Pascal, eixo e nexo de tudo quanto
existe.
Começamos com Cinzas e
culminamos com Pentecostes. Fogo, fogo, fogo!!! Começamos como gente apagada,
mortiça, naquela Quarta-Feira de Cinzas em que vamos como brasa que se deixou
extinguir. Daí vamos marcados, assinalados, com a cinza a que nos deixamos
chegar... Mas é aí, nesse "dia um"
dos 90 que virão, que o cinzel da Palavra começa a funcionar nas mãos
laboriosas e criativas do Espírito da Vida! E, dessa celebração das cinzas,
saímos para sermos cinzelados, ajeitados, entalhados...
A peregrinação avança -
irrompe por dentro de nós até - e vamos dar na celebração de Pentecostes, toda
diferente, em que até as cinzas voltaram a ser fagulhas, de tal modo o Sopro do
Espírito levantou aquele Fogo, ateou de novo o que estava extinto, e aqueles
que tinham saído marcados com as cinzas, saem desta vez com a vida em brasa,
rastilhos no mundo, gente acesa e inflamada.
São
90 dias para acontecer este Batismo, em cada ano, Batismo de FOGO!
Acabados, nunca estamos. A sermos
perfeitos, não chegamos. Vamos aprontando, claro, que é o que nos compete.
"A nós e ao Espírito Santo", como diz o livro das Suas Aventuras, os
"Atos dos Apóstolos". Vamos aprontando, dizia eu, que gosto tanto das
portas que se abrem nas palavras...
Aprontamos para outro e
apontamos para outro. É a lição de João, o Profeta Batista, com quem estive
ainda esta manhã. Um homem que aprontou e apontou para outro. "Mas quem és tu?!" perguntavam-lhe,
três vezes quase desesperadas. E ele, sempre em paz com não ser quem não era
(sabedoria rara!), insistia num desconcertante: "Eu não sou, eu não sou".
Sempre a aprontar. Para outro.
A nossa vida ainda se inscreve
nesta necessidade de aprontarmos os caminhos do Senhor e, por isso, vamos
repetindo os processos, ensaiando sempre de novo os passos simples que
complicamos: aquele um-dois-três-quatro do Mandamento do Amor, mais o
cinco-seis-sete-oito das Bem-Aventuranças.
Por isso, gosto de saborear
estes 90 dias intensos que terminaram ontem. Hoje, recomeça o que chamamos
"Tempo Comum". Que delícia termos um Tempo Comum, o tempo mais à
minha medida. Mais, a nossa medida.
(Texto de Pe. Rui
Santiago... meio “abrasileirado” por Ângela Rocha)
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